MEDIÇÕES DE DESCARGA LÍQUIDA: MÉTODO CONVENCIONAL x MÉTODO ACÚSTICO. COMPARAÇÃO DE RESULTADOS

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Transcrição:

MEDIÇÕES DE DESCARGA LÍQUIDA: MÉTODO CONVENCIONAL x MÉTODO ACÚSTICO. COMPARAÇÃO DE RESULTADOS Irani dos Santos 1, Júlio Gomes 1 e Homero Buba 2 Resumo - Na tentativa de acompanhar a evolução que vem acontecendo no processo de aquisição de dados hidrológicos, o presente trabalho faz uma comparação entre medições de descarga líquida realizadas pelos métodos convencional com molinete e acústico com ADCP. Os resultados apresentados não indicaram tendenciosidade devido ao uso do ADCP. Destaca-se as facilidades técnicas e operacionais do uso do método acústico. Abstract - Trying to follow the development that has happened in hydrological data acquisition, this article presents a comparison of discharge measurements produced by conventional method, using the current meter, and acoustic method, using the ADCP. The results didn t indicate bias with the use of the ADCP. Technical and operational facilities of the use of the ADCP are emphasized. Palavras-chave - medição de vazão, método convencional, método acústico, ADCP INTRODUÇÃO Atualmente, um dos campos que mais tem evoluído em Hidrologia é o de aquisição de dados hidrológicos. Especificamente, no caso de medições de descarga líquida, o método convencional, que utiliza o molinete hidrométrico, têm sido complementado pelo método acústico, que baseado no conceito do efeito Doppler, permite a obtenção de descargas líquidas de modo consideravelmente mais rápido e seguro. No presente artigo, são apresentados os resultados de algumas campanhas de medição de vazão pelo método acústico, realizadas pela Companhia Paranaense de Energia (COPEL) em postos fluviométricos de algumas bacias do estado do Paraná. Os resultados obtidos são analisados em relação a campanhas simultâneas com o método convencional e em relação às curvas chaves existentes nos postos fluviométricos. MÉTODOS PARA MEDIÇÃO DE DESCARGA LÍQUIDA Método Convencional O método convencional de medição de descarga líquida, conhecido como área-velocidade, consiste na utilização de um molinete hidrométrico para a determinação da velocidade e na representação da seção transversal, segundo um número adequado de verticais. O número de verticais de medição de velocidades e profundidades varia entre 20 e 25 e depende basicamente da largura do rio na seção de medição. O número de pontos de medição da velocidade em cada vertical depende do método de medição. Segundo Carvalho (1976), adota-se, por hipótese, que a distribuição de velocidades na vertical apresenta valores nulos próximo ao leito e cresce rapidamente até um valor praticamente constante. Essa distribuição teórica permite um menor número de amostras por vertical. No presente artigo, as medições convencionais foram obtidas através do método dos dois pontos ou método americano, onde mede-se somente dois pontos na vertical: um a 20% da profundidade total e outro a 80%. Para profundidades inferiores a um metro, mede-se apenas um ponto, situado a 60% da profundidade. O posicionamento das verticais foi definido utilizando-se cabo de aço nas seções com até 200 m de largura. Para seções com largura superior a 200 m, o posicionamento das verticais foi obtido através de um distanciômetro. Para o cálculo da vazão, adotou-se o método da meia-seção, descrito em Carvalho (1976). No referido método, supõe-se que a velocidade média em cada vertical representa a velocidade média em uma área retangular parcial. A largura do retângulo é dada pela distância entre o ponto médio da vertical em análise e da vertical anterior e o ponto médio da vertical em análise e da vertical posterior. A altura do 1 Centro de Hidráulica e Hidrologia Professor Parigot de Souza, Convênio COPEL/UFPR, Caixa Postal 1309, CEP 80001-970, Curitiba, PR, Fone: (041) 366-2020 (r. 6312), Fax: (041) 266-2935 2 Companhia Paranaense de Energia (COPEL), Rua Padre Agostinho, 3500, CEP 80710-000, Curitiba, PR, Fone: (041) 331-4133, Fax: (041) 335-7788, e-mail: irani@cch.copel.br - julio@cch.copel.br - homero@mail.copel.br XII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 1

retângulo é dada pela distância entre a superfície da água e o fundo na vertical em análise, ou seja, é a própria profundidade medida. Método Acústico O método acústico fundamenta-se no efeito Doppler para, principalmente, determinação do perfil de velocidade da corrente e, por conseqüência, cálculo da descarga líquida total. As medições pelo método acústico foram realizadas utilizando-se o aparelho ADCP (Acoustic Doppler Current Profile). O referido aparelho utiliza técnicas de sensoriamento remoto, através do efeito Doppler, para medição de vazão. A velocidade do escoamento é calculada a partir de sinais acústicos enviados pelo aparelho e refletidos pelas partículas sólidas naturalmente presentes na água. Em Gordon (1989), descreve-se o funcionamento básico do ADCP, que consiste em emitir pulsos acústicos ao longo de feixes estreitos em uma freqüência conhecida. A diferença das freqüências dos sons emitidos e refletidos é proporcional a velocidade relativa entre o barco e as partículas imersas na água. Como apresentado em Gordon (1989), o som é refletido, primeiramente, pelo zooplâncton e por pequenas partículas de sedimento em suspensão. Na freqüência de 1200 khz, a dimensão dominante das partículas em suspensão é cerca de 0,2 mm. Partículas desta dimensão tendem a se mover junto com a água, fornecendo uma estimativa da velocidade do fluxo. O equipamento básico é composto de: um transdutor, responsável pela emissão dos pulsos acústicos e pela detecção do som refletido pelas partículas sólidas; um processador, responsável pela coleta e armazenamento das leituras e um deck box, responsável pela interface entre o processador, um microcomputador e a alimentação. Pode-se acoplar um microcomputador ao processador para acompanhamento das medições em tempo real. No processo de medição, a seção transversal é dividida em células de dimensões z (profundidade) e L (largura). A dimensão L é função da velocidade do barco. A medida efetuada pelo ADCP é uma média sobre cada elemento de área definido por z e L. Gordon (1989), discute as principais fontes de erros das medições de descarga líquida no uso do ADCP, destacando a necessidade de utilização de funções de extrapolação para representação da parcela de vazão junto à superfície, às margens e ao leito do rio. COMPARAÇÃO ENTRE AS MEDIÇÕES COM O ADCP E PELO MÉTODO CONVENCIONAL Em 15 estações fluviométricas foram realizadas medições simultâneas de vazões com o ADCP e com método convencional, apresentadas na Tabela 1. Procurou-se realizar as medições pelos dois métodos sempre nas mesmas seções transversais. Destaca-se que nas campanhas com o ADCP são feitas cerca de 10 travessias, cada uma resultando em uma medição. Assim, nas medições com o ADCP, para comparação com as medições convencionais e com as vazões das curvas de descarga, determinou-se a cota e a vazão média de cada campanha. Esta simplificação não introduz erros já que, para as estações analisadas, a variação de cotas durante as medições foi muito pequena. Para avaliação dos resultados obtidos, procurou-se analisar as diferenças relativas (desvios) entre as vazões medidas pelo método convencional e pelo ADCP. Dois testes estatísticos foram aplicados: a) para a média dos desvios e b) para correlação entre os desvios e alguma característica das medições. As características analisadas foram: vazão, área da seção, profundidade média, velocidade média e porcentagem da vazão medida pelo ADCP em relação à vazão total. Os resultados dos testes indicaram que a hipótese de média dos desvios igual a zero é aceita para um nível de significância de 5%. Para o mesmo nível de significância, a hipótese de correlação nula entre os desvios e cada uma das características das medições também situou-se na região de aceitação. Adicionalmente, a Figura 1 apresenta a correlação entre as vazões medidas pelo ADCP e pelo método convencional. Testou-se estatisticamente o coeficiente angular da reta de regressão. A hipótese adotada foi a de que o mesmo fosse igual a 1, que representa igualdade entre as medições. Novamente, para um nível de significância de 5%, a hipótese adotada situou-se na região de aceitação. Destaca-se que o número de medições simultâneas ainda é pequeno (15 medições). COMPARAÇÃO ENTRE MEDIÇÕES DE DESCARGA E CURVAS DE DESCARGA Os dados utilizados são referentes a 48 campanhas de medição de vazão com ADCP, apresentadas na Tabela 1, realizadas em 22 estações fluviométricas localizadas nas bacias dos rios Tibagi, Ivaí e Iguaçu. Para avaliação dos resultados obtidos, procedeu-se como no item anterior, procurando analisar as diferenças relativas (desvios) entre as vazões medidas pelo método convencional e as vazões fornecidas pelas curvas chave das estações fluviométricas. Os resultados dos testes estatísticos indicaram que a hipótese de média dos desvios igual a zero é aceita para um nível de significância 5%. Para o mesmo nível de significância, foi aceita a hipótese de correlação nula entre os desvios e as variáveis: vazão, área da seção e velocidade média. Quanto à profundidade média e à porcentagem da vazão medida pelo ADCP 2 XII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos

em relação à vazão total, a hipótese de correlação igual a zero foi rejeitada ao nível de significância de 5%. Os valores de coeficiente de correlação (r) calculados, respectivamente, foram: -0,312 e -0,315, que sugerem que quanto maiores, a profundidade média e a porcentagem da vazão medida pelo ADCP em relação a vazão total, menores os desvios. Adicionalmente, a Tabela 2 apresenta os desvios das medições de vazão pelo método convencional e pelo ADCP em relação às vazões fornecidas pelas curvas de descarga dos postos analisados. COMPARAÇÃO DE MEDIÇÕES DE VAZÃO PELO MÉTODO CONVENCIONAL E COM ADCP EM UMA SEÇÃO ATÍPICA A estação fluviométrica Salto Caxias (65975000), devido às características geológicas da região, não oferece as condições hidráulicas ideais para a instalação de uma seção de medição através do método convencional. Entretanto, instalou-se em 01/10/1976, a referida estação em função dos estudos relativos à U. H. Salto Caxias. Nesta estação, a última mudança de controle ocorreu na cheia de maio/junho de 1983, assim, houve a necessidade de determinação de uma nova relação cota x descarga, utilizando-se medições convencionais realizadas após 1983. Nos anos de 1996 e 1997, foram realizadas 17 campanhas, totalizando 123 medições com ADCP, obtendo-se valores de vazões sistematicamente menores que as vazões obtidas através da curva-chave do período mais recente. Nestas medições, verificou-se que a seção apresenta pontos de refluxo, além de componentes de velocidade com desvios horizontais não perpendiculares à seção e desvios verticais. Pelas características dos métodos, o método convencional tende a superestimar as velocidades neste tipo de seção, pois não identifica a direção do escoamento. Já o ADCP considera as componentes de velocidades perpendiculares a seção medida, corrigindo também os desvios verticais. A Figura 2 apresenta uma comparação entre as medições convencionais, realizadas entre 08/1983 e 12/1995, e as medições com o ADCP. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES O método acústico apresenta vantagens técnicas e operacionais em relação ao convencional para uma ampla faixa de condições, tendo eliminado algumas sérias limitações dos molinetes, como a não identificação da direção das velocidades. Para profundidades pequenas, entretanto, continua sendo indispensável o método convencional, em função do decréscimo da percentagem de vazão diretamente medida pelo ADCP em relação à vazão total, o que influi na qualidade dos resultados. Os testes estatísticos não mostraram tendenciosidade das vazões medidas com o ADCP em relação ao método convencional. Destaca-se que o número de campanhas simultâneas realizadas é ainda pequeno. Em uma seção atípica (Salto Caxias), onde as condições são desfavoráveis para medição com molinetes, o ADCP permitiu que se realizasse um grande número de medições, inclusive, de modo inédito, com vazões muito altas, que dificilmente seriam medidas pelo método convencional, permitindo obter a curva de descarga e a sua extrapolação com maior segurança. AGRADECIMENTOS Às equipes de hidrometristas da SUDERHSA e da COPEL, pela dedicação no rotineiro trabalho de realização das campanhas de medição de vazão convencionais e com o ADCP. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CARVALHO, N. O. Medição de descarga líquida com molinete. In: Saneamento. Rio de Janeiro, out./dez., p. 260-266. 1976. GORDON, R. L. Acoustic measurement of river discharge. In: Journal of Hydraulic Engineering. Vol. 115, No. 7, July, p. 925-936. 1989. XII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 3

Tabela 1- Campanhas de Medição de Descarga Código Nome da Data Cota Vazão Vazão Vazão Porcentagem Area Profundidade Estação (m) (m 3 /s) (m 3 /s) (m 3 /s) medida (m²) Média (1) (2) (3) pelo ADCP (m/s) 64.465.000 Tibagi 14/10/96 2,25 361 353 398 74 458 4,18 64.491.000 Barra Rib. das Antas 17/10/96 3,30 421 429 448 80 322 5,03 64.498.550 São Gerônimo 18/10/96 2,60 453 442 448 80 340 5,43 64.506.001 Chácara Ana Cláudia 18/10/96 3,22 412 450 446 83 990 7,10 64.655.000 Ubá do Sul 15/10/96 3,26 NR 1283 1281 85 1362 8,52 64.660.500 Vila Rica 15/10/96 3,01 NR 1479 1400 72 972 4,18 64.675.002 Porto Bananeiras 16/10/96 2,14 1055 1165 1188 71 1084 4,20 64.685.000 Porto Paraíso do Norte 16/10/96 3,88 1189 1347 1338 71 935 4,13 65.035.000 Porto Amazonas 04/09/96 1,96 120 109 108 55 170 2,33 30/01/97 4,92 NR 354 352 77 384 4,15 65.060.000 S. Mateus do Sul 18/03/97 2,30 NR 164 140 68 230 3,07 65.100.000 Rio Negro 03/04/97 1,11 NR 41 44 60 80 1,49 05/09/96 3,26 155 147 143 68 202 3,36 28/01/97 5,49 NR 235 257 80 353 4,41 65.175.000 Divisa 03/04/97 1,53 NR 95 87 64 192 2,77 05/09/96 3,42 252 239 222 77 333 4,30 06/02/97 5,96 NR 488 460 82 542 6,15 65.208.000 Pontilhão 31/03/97 0,95 NR 16 16 65 88 2,65 02/08/96 1,29 NR 21 22 66 100 2,85 03/02/97 5,13 NR 116 122 82 300 3,90 65.220.000 Fluviópolis 01/04/97 1,05 NR 202 202 52 415 1,97 02/08/96 1,26 NR 255 258 58 455 2,16 27/06/96 2,16 498 521 524 67 650 3,05 17/04/96 2,33 NR 587 574 67 690 3,22 03/02/97 4,20 NR 1206 1180 78 1140 4,20 65.255.000 Irineópolis 01/08/96 2,32 NR 303 300 55 414 2,24 26/06/96 3,89 679 691 690 70 731 3,92 05/02/97 6,20 NR 1347 1390 80 1300 6,84 65.310.000 União da Vitória 01/04/97 2,04 NR 262 245 67 690 2,80 31/07/96 2,43 NR 394 370 68 790 3,20 18/04/96 3,35 NR 710 688 73 1020 4,05 25/06/96 3,72 839 876 832 75 1110 4,42 13/03/96 3,78 NR 882 857 72 1130 4,50 17/11/96 4,03 NR 871 960 77 1200 4,70 65.285.000 Santa Clara 09/12/96 0,77 NR 67 60 53 250 2,25 21/03/97 0,93 NR 96 88 57 265 3,39 65.960.000 Águas do Verê 15/04/97 0,76 NR 45 45 72 480 3,35 08/01/97 1,16 NR 167 167 72 540 3,73 65.962.000 Flor da Serra 15/04/97 0,76 NR 47 47 43 265 1,72 08/01/97 1,27 NR 201 201 52 343 2,18 65.986.000 Estreito Novo 07/05/96 2,68 NR 1301 1156 55 2050 2,44 20/08/96 3,05 1444 1596 1540 61 2273 2,62 65.987.000 Porto Capanema 07/05/96 2,54 NR 1310 1400 86 4570 10,39 20/08/96 2,68 1454 1457 1576 86 4681 10,60 65.993.000 Salto Cataratas 09/05/96 1,00 NR 1225 1180 75 3700 4,32 22/08/96 1,04 1442 1359 1284 75 3740 4,36 09/04/97 1,04 NR 1254 1284 90 3740 4,36 10/04/97 1,06 NR 1403 1336 77 3765 4,40 (1) - Metodo Convencional; (2) - ADCP; (3) - vazão da curva de descarga NR - Não foram realizadas campanhas simultâneas 4 XII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos

Tabela 2 - Comparação dos desvios (%) da vazão obtida pelo ADCP e pelo método convencional em relação à curva-chave Código da Vazão Vazão Vazão Desvio de (1) Desvio de (2) Estação (m 3 /s) (m 3 /s) (m 3 /s) em relação à em relação à (1) (2) (3) curva-chave curva-chave 64465000 361 353 397-9,0-11,2 64491000 421 429 447-5,7-3,8 64498550 453 442 448 1,1-1,3 64506001 412 450 446-7,6 0,9 64675002 1055 1165 1206-12,5-3,4 64685000 1189 1347 1338-11,2 0,6 65035000 120 109 108 10,7 0,6 65100000 155 147 143 8,1 2,7 65175000 252 239 222 13,7 7,7 65220000 498 521 537-7,3-2,9 65255000 679 691 609-1,6 0,1 65310000 839 876 832 0,9 5,3 65986000 1444 1596 1522-5,1 4,9 65987000 1454 1457 1538-5,5-5,3 65993000 1442 1359 1284 12,3 5,8 (1) método convencional; (2) ADCP; (3) curva-chave da estação Vazão - ADCP (m 3 /s) 1600 1400 y = 0.9554x 1200 R 2 1000 = 0.9855 800 600 400 200 0 0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 Vazão - Método Convencional (m 3 /s) Figura 1 - Correlação entre os valores de vazão medidos pelo método convencional e pelo ADCP XII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 5

6,5 6,0 5,5 5,0 4,5 cota (m) 4,0 convencional adcp 3,5 3,0 2,5 2,0 1,5 0 2000 4000 6000 8000 10000 vazão (m 3 /s) Figura 2 - Medições pelo ADCP e pelo método convencional na Estação Salto Caxias (65975000) 6 XII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos