A EXPERIÊNCIA DA CAESB EM RECUPERAÇÃO DE ÁGUA DE LAVAGEM DE FILTROS E DESIDRATAÇÃO DE LODO DE ETA

Documentos relacionados
Alexandre Pontes& Wagner Carvalho

UTILIZAÇÃO DE RESÍDUO DE DECANTADOR DE ETA COMO AUXILIAR DE FLOCULAÇÃO

I-014 ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE LODO GERADO PELA ETA CAPIM FINO

CLARIFICAÇÃO DA ÁGUA DE LAVAGEM DE FILTROS DE SISTEMAS DE FILTRAÇÃO DIRETA ASCENDENTE E DESAGUAMENTO DO LODO POR CENTRIFUGAÇÃO

TRATAMENTO FISÍCO-QUÍMICO DE EFLUENTES COM AUXÍLIO DE PRODUTO NATURAL (QUIABO PÓ)

VIABILIDADE ECONÔMICA DA REGENERAÇÃO DO SULFATO DE ALUMÍNIO DE LODOS DE ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ÁGUAS

Max Demattos (1) Engenheiro Civil pela Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais,

XXVI CONGRESO INTERAMERICANO DE INGENIERIA SANITÁRIA Y AMBIENTAL

Projeto Águas Novas. Alexandre Pontes

EFLUENTES LÍQUIDOS INDUSTRIAIS

II-149 CARACTERIZAÇÃO E CLARIFICAÇÃO DA ÁGUA DE LAVAGEM DO FILTRO DE UMA ETA QUE UTILIZA COMO COAGULANTE O SULFATO DE ALUMÍNIO

CARACTERIZAÇÃO E CLARIFICAÇÃO DA ÁGUA DE LAVAGEM DOS FILTROS DE UMA ETA QUE UTILIZA CLORETO FÉRRICO COMO COAGULANTE PRIMÁRIO

ALTERNATIVA DE TRATAMENTO DO LODO DA ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ÁGUA ETA QUEIMA PÉ NO MUNICÍPIO DE TANGARÁ DA SERRA/MT.

ASPECTOS GERAIS DA PRODUÇÃO, TRATAMENTO E DESTINAÇÃO DO LODO GERADO NO DECANTADOR DA ETA CUBATÃO

TRATAMENTO DE LODO GERADO EM ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ESGOTO SANITÁRIO

O USO DE ESPESSADORES DE LAMELAS NA RECUPERAÇÃO DE ÁGUA DE PROCESSO NA MINERAÇÃO

VIABILIDADE TÉCNICA DA REGENERAÇÃO DE COAGULANTE POR VIA ÁCIDA A PARTIR DO LODO DA ETA DE UMA INDÚSTRIA DE CORANTES

REDUÇÃO DE VOLUME DE LODO GERADO EM DECANTADORES DE ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ÁGUA, UTILIZANDO ESPESSAMENTO POR FLOTAÇÃO E POR GRAVIDADE

05/06/2012. Petróleo e Gás Prof. Sabrina

MODERNIZAÇÃO DO SISTEMA DE TRATAMENTO DE LODO

I-158 AUTOMATIZAÇÃO DA DOSAGEM DE SULFATO DE ALUMÍNIO NA ETA I DE BRUMADO COM UTILIZAÇÃO DE BOMBA DOSADORA E PH- METRO ON-LINE.

SERVIÇO AUTÔNOMO DE ÁGUA E ESGOTOS DE ITAPIRA

I ENCONTRO DAS ÁGUAS. 13 a 15 de maio de Campo Grande MS

ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE LEITOS DE SECAGEM TRADICIONAL E MODIFICADO NA DESIDRATAÇÃO DE LODOS DE ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ÁGUA

I DIAGRAMA DE COAGULAÇÃO E OTIMIZAÇÃO DE MISTURAS PARA ÁGUA COM TURBIDEZ ELEVADA UTILIZANDO CLORETO DE POLIALUMÍNIO

I CLARIFICAÇÃO E ADENSAMENTO DE RESÍDUOS GERADOS EM ETA DE DUPLA FILTRAÇÃO COM O USO DE POLÍMEROS SINTÉTICOS

AMPARO RELATÓRIO DE FISCALIZAÇÃO TÉCNICA DOS SISTEMAS DE ÁGUA E ESGOTO DO MUNICÍPIO DE. Relatório R2 Não Conformidades

3.6 LEOPOLDINA Sistema Existente de Abastecimento de Água

PRÉ-CONDICIONAMENTO DE LODOS DE ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ÁGUA VISANDO O SEU ADENSAMENTO POR GRAVIDADE

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO TECNOLÓGICO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL

ESTUDO DE TRATABILIDADE DA ÁGUA DO CÓRREGO DOS MAYRINK, MUNICÍPIO DE PONTE NOVA - MG

Saneamento Ambiental I. Aula 15 Flotação e Filtração

I - Solução Ambiental para os Rejeitos da ETA Guaíra/SP através de Leito de Drenagem e Sedimentador

VIBROPAC UNIDADE COMBINADA

I OTIMIZAÇÃO DE ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ÁGUA COM REUSO DE EFLUENTES NO BALNEÁRIO SÃO MIGUEL, BIGUAÇU/SC

Saneamento Ambiental I. Aula 14 Sedimentação e Decantação

16 Tratamento e disposição de lodos

Uso do Quiabo como Auxiliar de Floculação

APLICAÇÕES AMBIENTAIS

PROCESSO DE TRATAMENTO

I POTABILIZAÇÃO DE ÁGUA UTILIZADA NA RETROLAVAGEM DE FILTROS CONVENCIONAIS DE ETAs POR MEIO DE ULTRAFILTRAÇÃO (ESTUDO PILOTO)

03 - EFLUENTES LÍQUIDOS

DESEMPENHO DE UMA ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ESGOTO PELO PROCESSO DE LODOS ATIVADOS OPERANDO POR BATELADA

ESTUDOS DE CASO PRODUÇÃO MAIS LIMPA

Palestrante: Eng Josuel Batista dos Santos

ADENSAMENTO POR GRAVIDADE DE LODO DE ETA GERADO EM DECANTADOR CONVENCIONAL E DECANTADOR LAMINAR

AVALIAÇÃO DE UM SISTEMA COMPACTO DE TRATAMENTO DE ÁGUA UTILIZANDO DIFERENTES COAGULANTES

Aula 4: Química das Águas

GESTÃO SUSTENTÁVEL DOS RECURSOS HÍDRICOS DO AEROPORTO INTERNACIONAL DO RIO DE JANEIRO - GALEÃO. Pedro Masiero Jr.

ESCOLA POLITÉCNICA DA USP DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA HIDRÁULICA E SANITÁRIA PHD SANEAMENTO I. Floculação

QUALIDADE DA ÁGUA DECANTADA EM FUNÇÃO DO TEMPO DE OPERAÇÃO DE DECANTADORES CONVENCIONAIS

Decantação. João Karlos Locastro contato:

Sistema de desidratação de lodos e sedimentos MacTube. Necessidades e Soluções

AUTOMAÇÃO DA ETA RIO DESCOBERTO

Dessecagem de lodo de ETA através de Geofôrmas Lineares

I-091 DESAGUAMENTO MECÂNICO POR FILTRO PRENSA DE PLACAS DE LODOS GERADOS EM ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ÁGUA

FERRAMENTA COMPUTACIONAL

Estação de Tratamento e Reúso de Água (ETRA) do CENPES

Paulo Sérgio Scalize. ORIENTADOR: Prof. Dr. Luiz Di Bernardo

RELAÇÃO ENTRE O CONSUMO DE PRODUTOS QUÍMICOS E A QUALIDADE DA ÁGUA DISTRIBUÍDA EM DIVERSOS SISTEMAS DE TRATAMENTO DE ÁGUA DO PARANÁ

INFLUÊNCIA DO TIPO E DA DOSAGEM DE POLÍMERO NA CAPACIDADE DE PRÉ-ADENSAMENTO DE LODOS GERADOS EM ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ÁGUA

RELATÓRIO ANUAL DO SISTEMA DE TRATAMENTO DE ESGOTOS 2015

ARGAL QUÍMICA DESDE Especializada em serviços e programas relacionados ao tratamento de águas e processos industriais;

ESCOLA POLITÉCNICA DA USP DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA EM SANEAMENTO BÁSICOB. Prof. Dr. Sidney Seckler Ferreira Filho

RELATÓRIO ANUAL DO SISTEMA DE TRATAMENTO DE ESGOTOS 2016

THUANNE BRAÚLIO HENNIG 1,2*, ARLINDO CRISTIANO FELIPPE 1,2

RELATÓRIO ANUAL DO SISTEMA DE TRATAMENTO DE ÁGUA 2015

Estudo da Arte da Coagulação. Nome(s) do(s) Autor(es) Francisco Oliveira Rinaldo Lima

Coagulantes nas Estações de Tratamento de Água de Campinas: Vantagens do uso do PAC Engº Sinezio Ap. de Toledo - SANASA Campinas

23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

Rua Nereu Ramos, 580, Centro, São Lourenço do Oeste CEP FONE (0xx)

XX Encontro Anual de Iniciação Científica EAIC X Encontro de Pesquisa - EPUEPG

RELATÓRIO ANUAL DO SISTEMA DE TRATAMENTO DE ESGOTOS

OTIMIZAÇÃO DA DOSAGEM DE COAGULANTE NAS ETAS DE VIÇOSA-MG

CARACTERIZAÇÃO E TRATAMENTO DE ÁGUA DE LAVAGEM DE FILTROS DE ETA, COM O USO DE POLÍMEROS SINTÉTICOS E AMIDO DE BATATA

Tratar os efluentes significa reduzir seu potencial poluidor através de processos físicos, químicos ou biológicos, adaptando-os aos padrões

ASPECTOS CONSTRUTIVOS E OPERACIONAIS DA ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ESGOTOS DA CIDADE DE ARARAQUARA

TRATAMENTO DE LODO PRODUZIDO PELA ETA FONTE TEMA I: ÁGUA AUTORES:

23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

Reuso da água. 1º semestre/2007. Grupo: Cindy Minowa Débora Iwashita Juliana Setuguti Letícia Mori Lilian Chuang

Paul Anthony Woodhead e David Charles Meissner Centroprojekt do Brasil Outubro 2008

I- 083 ÁGUAS DE MANANCIAIS DIFERENTES: ESTUDO DAS PROPORÇÕES DE MISTURA PARA TRATAMENTO ATRAVÉS DA FILTRAÇÃO DIRETA

FLOCO DECANTADOR DE MANTA DE LODO NO TRATAMENTO DE ÁGUA DE ABASTECIMENTO

1 SISTEMAS DE TRATAMENTO

ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental II - 010

Sistema de tratamento e aproveitamento de resíduos gerados em estação de tratamento de água

TRATAMENTO DE ÁGUA DE ABASTECIMENTO UTILIZANDO FILTRO DE AREIA GROSSA COM ESCOAMENTO ASCENDENTE COMO PRÉ-TRATAMENTO À FILTRAÇÃO RÁPIDA DESCENDENTE

Avaliação da Etapa de Tratamento Físico-Químico da Água do Mar com Vistas à Dessalinização Para Uso em Usinas Termoelétricas

ENSAIOS DE TRATABILIDADE DE RESÍDUOS DE ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ÁGUA - UM PASSO INDISPENSÁVEL PARA O EQUACIONAMENTO DE UM PROBLEMA NA ORDEM DO DIA

Tratamento e disposição de lodo de esgoto. TH029 - Saneamento Ambiental II - Prof. Regina Tiemy Kishi

Recuperação de fósforo de efluentes através da precipitação de estruvita MAP

4 MATERIAIS E MÉTODOS

Agradecimento Abril de 2017

Contaminação das águas subterrâneas

TERMO DE COOPERAÇÃO TÉCNICA. Nº. 016/ 2012 CREA/MG E FUNASA Setembro/2013

II DESAGUADORES ESTÁTICOS VERTICAIS PARA REMOÇÃO NÃO MECANIZADA DA ÁGUA LIVRE DE LODOS DE REATORES UASB

Estações de Tratamento de Efluentes Caderno de Aplicações Linha de Produtos e Tecnologia para Aplicação em Diferentes Áreas.

Procedimento Operacional Assunto: Estação de Tratamento de Efluentes Depotce Base 1

I CARACTERIZAÇÃO DO LODO GERADO NOS DECANTADORES DA ETA-BOLONHA

Aproveitamento de água de chuva Cristelle Meneghel Nanúbia Barreto Orides Golyjeswski Rafael Bueno

Transcrição:

A EXPERIÊNCIA DA CAESB EM RECUPERAÇÃO DE ÁGUA DE LAVAGEM DE FILTROS E DESIDRATAÇÃO DE LODO DE ETA Ângela Biaggini Diniz Barbosa (1) Bacharel em Química pela Universidade de Brasília (1981); Química Analista Industrial pela Universidade Federal da Bahia (1983); Química da Companhia de Água e Esgotos de Brasília - CAESB desde 1984. Endereço (1) : AOS 08 - bloco E - apto. 508 - Área Octogonal Sul - Brasília - DF - CEP: 70660-085 - Brasil - Tel: (061) 234-1429 - Fax (061) 325-7337. RESUMO Este trabalho relata a experiência da CAESB no reaproveitamento da água de lavagem dos filtros da ETA-RIO DESCOBERTO, em Brasília - DF, após sua clarificação em adensadores e na desidratação do lodo adensado em decanters centrífugos. Os primeiros quatro meses de operação desse sistema mostraram que o retorno do sobrenadante dos adensadores à estação não comprometem o desempenho da ETA-RD, desde que sejam realizadas algumas manobras operacionais periódicas. Foi também verificada uma ótima performance do processo de desidratação do lodo. PALAVRAS-CHAVE: Água de Lavagem, Desidratação de Lodo, Decanters Centrífugos. INTRODUÇÃO O reaproveitamento da água de lavagem dos filtros da ETA-RIO DESCOBERTO teve como fundamentos básicos dois aspectos: a questão ambiental, ligada ao controle da poluição da bacia do Rio Descoberto, e o energético, já que o sistema permite a reutilização de cerca de 170 l/s de água, evitando-se que esta mesma quantidade de água seja bombeada de um ponto significativamente distante e com elevado desnível geométrico. O tratamento de resíduos de estações de tratamento de água vem sendo objeto de atenção dos projetistas e dos responsáveis pela operação destes sistemas tanto pelo aspecto ambiental, como pelo econômico. Para a Estação de Tratamento de Água Rio Descoberto a recuperação de sua água de lavagem foi prevista já na primeira etapa implantada em 1986(4 m 3 /s). Nesta primeira etapa o Sistema de Recuperação de Água de Lavagem (SRAL) era constituído de dois adensadores e vinte leitos de secagem. O projeto inicialmente previa o bombeamento da água de lavagem da ETA-RIO DESCOBERTO (ETA-RD) para a ETA-TAGUATINGA (ETA-TG), uma estação convencional vizinha à ETA- RD, onde, em conjunto com a água do sistema Currais/Pedras, sofreria tratamento completo. Já o lodo dos decantadores e a água de lavagem da ETA-TG seriam encaminhados aos adensadores. O lodo adensado seria 19 o Congresso Brasileiro de Eng enharia Sanitária e Ambiental 1501

descartado para os leitos de secagem e o sobrenadante aduzido à caixa de chegada da ETA- RD. Figura 1: Fluxograma SRAL, primeira etapa ETA_RD ETA TAGUATINGA SOBRENADANTE ETA RD ADENSADOR AGUA DE LAVAGEM DOS FILTROS TANQUE DE EQUALIZAÇÃO AGUA LAVAGEM DOS FILTROS ADENSADOR LODO ADENSADO LEITOS DE SECAGEM TANQUE DE ARMAZENAMENTO DE AGUA DE LAVAGEM Na época de implantação deste sistema a ETA-TG encontrava-se desativada para obras de melhorias. Foram então realizadas tentativas de recuperar-se a água de lavagem da ETA-RD encaminhando-a direto aos adensadores, mas vários problemas, entre eles construtivos nos leitos de secagem, inviabilizaram esta operação. Posteriormente, o projeto de Melhorias e Ampliação da ETA-RD previu a construção de novos adensadores providos de raspadores mecanizados para a remoção e espessamento de lodo e a instalação de prensas desaguadoras para desidratação do lodo adensado. Todavia, durante a implantação desse projeto, a CAESB optou pela substituição das prensas desaguadoras por centrífugas, tendo em vista estudo realizado por técnicos do Departamento Municipal de Água e Esgotos, de Porto Alegre - RS (LERSCH et al., 1992), na ETA Belém Novo, que aponta as vantagens das centrífugas em relação às prensas para desidratação de lodo de estações de tratamento de água, não só no custo inicial de aquisição, como também, simplicidade de instalação, menor manutenção e mão de obra para operação do sistema e, de maneira marcante, no custo operacional dos equipamentos. Obteve-se ainda a informação (CAESB, 1995) de que as prensas adquiridas pela CAESB para Estação de Tratamento de Esgotos Sul vinha apresentando elevado custo de operação e de manutenção, tais como: alto consumo de polieletrólito; desalinhamento freqüente das telas, causando descontinuidade operacional; substituição de peças de alto custo, principalmente rolamentos com freqüência bastante superior àquela prevista inicialmente. Além disso constatou-se na prática os problemas ocasionados pelo spray gerado pelas prensas em operação. A estes aspectos, soma-se o baixo teor de sólidos da torta, na faixa de 12 A 15%. 19 o Congresso Brasileiro de Eng enharia Sanitária e Ambiental 1502

CARACTERÍSTICAS DA ÁGUA BRUTA E DA ESTAÇÃO DE TRATAMENTO A ETA - RIO DESCOBERTO é abastecida pela água do Lago Descoberto, principal manancial do Distrito Federal. As características principais da água desse manancial, conforme os boletins operacionais da ETA-RD, no período de fevereiro de 1986 a maio de 1997, encontram-se na tabela 1: Tabela 1: Características da Água Bruta. CARACTERÍSTICAS FAIXA DE VARIAÇÃO Turbidez (NTU) 2,0-105 Cor Aparente (UC) 5-120 ph 6-7,2 Coliformes Totais (nmp/100 ml) 50? 1600 A estação, com capacidade instalada de 6m 3 /s, tem como processo de tratamento a filtração direta auxiliada pela pré-floculação. Como coagulante é utilizado o Sulfato de Alumínio, além da cal para correção de ph em complemento da alcalinidade da água bruta. A dosagem desse coagulante varia na faixa de 2,0 a 11,0 mg/l. É também utilizado polímero não iônico ou aniônico de baixa carga, como auxiliar de floculação. Após a pré-floculação e filtração a água passa para as etapas de cloração, fluoretação e correção de ph. Caso haja necessidade de pré-cloração, está prevista também a aplicação de amônia (cloroamoniação). Figura 2: Fluxograma de Processo da ETA-RD. 19 o Congresso Brasileiro de Eng enharia Sanitária e Ambiental 1503

DESCRIÇÃO DO SISTEMA DE RECUPERAÇÃO DE ÁGUA DE LAVAGEM A água de lavagem dos filtros é encaminhada a tanques de acumulação dotados de agitadores tipo turbina para evitar a precipitação de sólidos. Destes tanques a água de lavagem é bombeada para dois adensadores com diâmetro de 18m, cada um, (taxa de aplicação de 40m 3 /m 2 x dia), equipados com mecanismo de adensamento de lodo. O sobrenadante desses adensadores é encaminhado a dois tanques de equalização que, posteriormente, retorna a caixa de chegada da ETA-RD para seu reaproveitamento. O lodo adensado é encaminhado a dois tanques-pulmão dotados de agitadores tipo turbina e, em seguida, através de bombas de deslocamento positivo dotadas com inversor de freqüência levado a dois decanters centrífugos, um com capacidade de 26 m 3 /h para processar a produção máxima prevista (17,27m 3 /h) e outro de 8,5 m 3 /h em condições de operação para processar a produção média de lodo (7,39 m 3 /h). Os decanters centrífugos são dotados de sistema automático de variação da velocidade diferencial rosca/tambor, auto-regulável. Na linha de alimentação das centrífugas é realizada a aplicação de polieletrólito utilizando-se também bombas de deslocamento positivo com inversor de freqüência. O efluente clarificado pode ser bombeado para os adensadores ou descartado para a rede de águas pluviais. O lodo desidratado é encaminhado através de rosca transportadora a caçambas de 6 ton. e, posteriormente, descartado em uma cascalheira desativada onde, agregado ao solo auxiliará na recuperação do mesmo. Existe, ainda, uma lagoa de lodo como alternativa de descarte para o caso de excesso de produção de lodo, ou em caso de necessidade de paralisações para manutenção dos equipamentos. As figuras 3 e 4 a seguir ilustram o SRAL. 19 o Congresso Brasileiro de Eng enharia Sanitária e Ambiental 1504

Figura 3: Sistema de recuperação de Água de Lavagem. Figura 4: Sistema de desidratação de Lodo. RESULTADOS E DISCUSSÃO 19 o Congresso Brasileiro de Eng enharia Sanitária e Ambiental 1505

A avaliação dos resultados obtidos na recuperação da água de lavagem dos filtros da ETA-RD indica uma excelente tratabilidade da mesma, sem o comprometimento do desempenho da estação de tratamento de água. Entretanto, nos primeiros meses de operação foram verificados alguns picos de turbidez da água bruta que, inicialmente, não foram relacionados ao retorno da água clarificada proveniente dos adensadores que à caixa de chegada da ETA-RD. Posteriormente foi constatado que as variações da qualidade da água afluente à estação originavam-se da água clarificada, chegandose a verificar uma elevação da turbidez desta última para até 900 NTU durante um pico. Nesse momento a mistura da água clarificada com a água bruta proveniente da barragem variou de 30 para 120 NTU. Também foram constatadas variações da qualidade da água proveniente dos tanques de equalização. Esse problema foi resolvido passando-se a proceder a descargas diárias do lodo acumulado nos tanques de equalização. Já para evitar-se a elevação da turbidez na água dos adensadores, passamos a controlar sistematicamente a concentração do lodo adensado, de forma que o mesmo não ultrapasse a faixa de 2,5 a 3,0% de sólidos. Em função da concentração do lodo adensado medido, é definida a freqüência, números de horas de operação e qual equipamento deverá entrar em operação. Excluindo-se os eventos ocorridos, acima citados, os resultados encontrados para o sobrenadante dos adensadores que retorna à ETA-RD encontram-se na tabela 2. 19 o Congresso Brasileiro de Eng enharia Sanitária e Ambiental 1506

Tabela 2: Valores Medidos no Sobrenadante dos Adensadores. PARÂMETRO FAIXA DE VARIAÇÃO Coliformes Totais (nmp/100ml) 7? 1600 Coliformes Fecais (nmp/100ml) ausência - 4 Turbidez (NTU) 6,7-60,0 Cor (UC) 9-70 Alumina (mg/l) 0,04-0,50 O sistema de desidratação de lodo, desde o início da pré-operação, tem apresentado ótima performance. A concentração do lodo desidratado é sempre superior a 30%, atingindo freqüentemente concentrações da ordem de 35%. A eficiência de captura também vem se mantendo elevada, variando entre 95 a 98,5%. Essa performance é demonstrada na figura 3 onde foram plotados valores obtidos em diferentes dias observando-se uma periodicidade aproximada de 7 dias, o que mostra a estabilidade dos resultados. Figura 5: Performance dos Decanters ao Longo de Dois Meses de Operação. PERFORMANCE DOS DECANTERS CENTRÍFUGOS 50 Conc. Lodo Adensado Conc. Lodo Desidratado Concentração de Sólidos (%) 40 30 20 10 0 3/04/97 9/04/97 17/04/97 23/04/97 6/05/97 17/05/97 23/05/97 28/05/97 4/06/97 11/06/97 Data No início da pré-operação foi utilizado polieletrólito catiônico de média carga na desidratação do lodo e o consumo verificado estava na faixa de 1.6 a 2.0 Kg/ton. sólidos secos. Posteriormente foi constatado um incremento do consumo do polímero atingindo-se até 5 Kg/ton. sólidos secos, demonstrando-se com isso que este tipo de polieletrólito não era mais o adequado para ser utilizado na floculação do lodo a ser desidratado. Por isso, iniciou-se a realização de testes com polieletrólitos aniônicos de alta carga reduzindo assim o consumo para a faixa anterior, de 2,0 Kg/ton. sólidos secos. Embora não houvesse sido previsto nenhum dispositivo de agitação nos tanques-pulmão de lodo adensado, sua introdução se fez necessária já na pré-operação com o objetivo de conferir homogeneidade ao lodo, de forma a se obter estabilidade no desempenho das centrífugas. 19 o Congresso Brasileiro de Eng enharia Sanitária e Ambiental 1507

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES O curto período de operação do Sistema de Recuperação de Água de Lavagem dos filtros da ETA-Rio Descoberto nos permite observar que a reutilização desta água é viável sem o comprometimento dos resultados alcançados no efluente final dessa Unidade de Tratamento permitindo o aproveitamento de um volume de água equivalente a 170l/s, volume este que deixa de ser descartado na bacia do Rio Descoberto. Já a avaliação do desempenho do sistema de desidratação do lodo demonstra uma elevada eficiência na separação da fase sólida da fase líquida, com resultados muito estáveis. A operação dos equipamentos envolvidos é de relativa simplicidade, necessitando no entanto, que a equipe de operação tenha um treinamento específico. Novos testes com outros tipos de polímeros deverão ser realizados com vistas à otimização do processo de desidratação do lodo. Encontra-se em andamento, negociações entre a CAESB e a Fundação Para Incremento da Pesquisa do Aperfeiçoamento Industrial-FIPAE / Escola de Engenharia de São Carlos - USP para realização de um convênio visando a investigação de outros parâmetros biológicos e físico-químicos, para a otimização do processo de recuperação da água de lavagem e os estudos do lodo produzido (ensaios de lixiviação, solubilização, possibilidade de mistura do lodo adensado com esgoto sanitário, etc.) com vistas a formular alternativas para sua utilização ou disposição. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. LERSCH, E.C, BARRADAS J.L., TOMATIS P.P. Relatório Final da Comissão de Lodos - DMAE, nov. 1992. 2. CAESB. Seleção da Solução Para Desidratação do Lodo da ETA-RD, dez. 1995. 19 o Congresso Brasileiro de Eng enharia Sanitária e Ambiental 1508