Paecilomyces lilacinus e Esterco Bovino para o Controle de Meloidogyne incognita em Tomateiro e Alface

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Transcrição:

COMUNICAÇÃO Paecilomyces lilacinus e Esterco Bovino para o Controle de Meloidogyne incognita em Tomateiro e Alface Paecilomyces lilacinus e Esterco Bovino para o Controle de Meloidogyne incognita em Tomateiro e Alface Júnia C. Machado 1, Bruno S. Vieira 1, Everaldo A. Lopes 2 & Ellen J. Canedo 1 1 Faculdade de Engenharia e Ciências Agrárias, UNIPAM - Centro Universitário de Patos de Minas, Rua Major Gote, 808, Caiçaras, 30702-054 Patos de Minas (MG) Brasil. 2 Universidade Federal de Viçosa Campus Rio Paranaíba, Rodovia BR-354 km 310 C. Postal 22, 38810-000 Rio Paranaíba (MG) Brasil. Recebido para publicação em 11 / 11 / 2010. Aceito em 31 / 01 / 2011 Editado por Mário Inomoto Resumo - Machado, J.C., B.S. Vieira, E.A. Lopes & E.J. Canedo. 2010. Paecilomyces lilacinus e esterco bovino para o controle de Meloidogyne incognita em tomateiro e alface. O objetivo deste trabalho foi avaliar, em condições de casa de vegetação, o efeito da aplicação de Paecilomyces lilacinus e esterco bovino na redução populacional de Meloidogyne incognita em tomateiro e alface. Os tratamentos foram constituídos de 20 g de grãos de arroz colonizado com o fungo (PL), 20 g de grãos de arroz não colonizado (GA), 70 g de esterco bovino + 20 g de grãos de arroz colonizado (EBPL), e 70 g de esterco bovino (EB). Ao solo de cada vaso foi adicionado o respectivo tratamento e 5.000 ovos de M. incognita, seguido pelo transplantio das mudas. Plantas cultivadas em solo apenas infestado pelo nematoide ou não infestado foram utilizadas como testemunhas. Após 45 dias de transplantio das mudas, procederam-se às avaliações da massa da parte aérea e das raízes das plantas, do número de galhas e de ovos do nematoide por planta. A incorporação ao solo de EB ou EBPL aumentou a biomassa da parte aérea e das raízes de tomateiros e reduziu o número de galhas e de ovos do nematoide, em relação às testemunhas. No experimento com alface, EBPL aumentou a biomassa da parte aérea e das raízes das plantas. Nenhum tratamento reduziu o número de galhas. Por outro lado, o número de ovos foi reduzido em 85 % após a incorporação ao solo de EBPL, em comparação com a testemunha. Palavras-chaves: Lactuca sativa, Solanum lycopersicum, controle biológico, matéria orgânica. Summary - Machado, J.C., B.S. Vieira, E.A. Lopes & E.J. Canedo. 2010. Paecilomyces lilacinus and cow manure for the control of Meloidogyne incognita in tomato and lettuce. The objective of this work was to evaluate the effect of the application of Paecilomyces lilacinus and cow manure on Meloidogyne incognita population in tomato and lettuce. The treatments were 20 g of rice grains colonized by the fungus (PL), 20 g of non-colonized rice grains (RG), 70 g of cow manure + 20 g colonized rice grains (CMPL), and 70 g of cow manure alone (CM). Each treatment and 5,000 eggs of M. incognita were applied to the soil, followed by the transplanting of one seedling per pot. Plants cultivated in soil infested only by the nematode or in non-infested soils were used as controls. Forty-five days after the transplanting of the seedlings, the biomass of the aboveground and the roots, and the number of galls and eggs of the nematode per plant were evaluated. Soil amendment with CM or CMPL increased the tomato aboveground and root system biomass and reduced the number of eggs and galls, in comparison to the controls. In the lettuce experiment, CMPL increased the aboveground and root biomass. The treatments did not reduce the number of the galls, but amending the soil with CMPL reduced the number of eggs by 85% when compared to the control. Key words: Lactuca sativa, Solanum lycopersicum, biological control, organic amendement. 231

Júnia C. Machado, Bruno S. Vieira, Everaldo A. Lopes & Ellen J. Canedo Conteúdo Os nematoides formadores de galhas (Meloidogyne spp.) representam um dos principais problemas fitossanitários em hortaliças sob condições tropicais (Sikora & Fernandez, 2005). Cultivares de alface (Lactuca sativa), quando atacadas pelos nematoidesdas-galhas, comumente apresentam debilidade intensa da planta, ocasionada pela densa formação de galhas no sistema radicular. As galhas obstruem a absorção de água e nutrientes do solo, resultando em plantas amareladas, com cabeça de tamanho reduzido, pequeno volume foliar e sem valor para consumo in natura (Charchar & Moita, 1996). Em tomateiro (Solanum lycopersicum), a formação de galhas resulta em redução no crescimento, amarelecimento e até morte precoce da planta, dependendo do grau de infestação. Além disso, a penetração de outros fitopatógenos do solo é facilitada, como no caso de Fusarium oxysporum f.sp. lycopersici e Ralstonia solanacearum, causadores da murcha-de-fusário e murcha-bacteriana, respectivamente (Filgueira, 2003). Devido à crescente pressão pública por uma agricultura que cause menos impactos ambientais, métodos alternativos vêm sendo estudados para o manejo destes fitopatógenos, como o controle biológico e a incorporação ao solo de matéria orgânica. O controle biológico é a redução da população de fitonematoides por outro organismo vivo, geralmente um microorganismo, por meio de parasitismo, predação, competição ou antibiose (Venzon et al., 2005). Esses organismos podem ocorrer naturalmente na área infestada pelos nematoides ou serem selecionados e introduzidos pelo homem (Venzon et al., 2005). Um grupo especial de antagonistas aos nematoides que tem sido muito estudado pela comunidade científica são os fungos nematófagos. Estes organismos apresentam a capacidade de capturar, matar ou digerir os nematoides (Lopes et al., 2007). Paecilomyces lilacinus é um fungo do solo que tem se mostrado efetivo no biocontrole de espécies de Meloidogyne (Kerry, 1990). O antagonista produz hifas que penetram os ovos dos nematoides, destruindo o embrião; além disso, as fêmeas dos nematoides das galhas que são colonizadas e posteriormente mortas (Dunn et al, 1982). Este trabalho teve como objetivo avaliar o efeito da aplicação conjunta ou isolada de P. lilacinus e esterco bovino na redução populacional de Meloidogyne incognita em tomateiro e alface. A pesquisa foi conduzida em casa de vegetação pertencente ao Centro Universitário de Patos de Minas (UNIPAM). O inóculo de M. incognita consistiu de ovos obtidos de uma população pura, coletada de raízes de tomateiros mantidos em casa de vegetação. Os ovos foram extraídos tal como o descrito por Hussey & Barker (1973), modificado por Boneti & Ferraz (1981). O isolado do fungo P. lilacinus foi mantido a 4 ºC, em geladeira, preservado por meio da técnica de conservação em sílica-gel (Smith & Onions, 1983). Quando houve necessidade, o fungo foi cultivado em meio de cultura BDA (batata-dextrose-ágar) por 15 dias a 25 C. Para a multiplicação do fungo, 80 g de grãos de arroz beneficiado foram depositados em erlenmeyer de 200 cm 3, lavados por duas vezes com água da torneira. Em seguida, o volume dos frascos foi completado com água. Após 10 minutos de embebição, o excesso de água foi descartado e os frascos foram autoclavados por 20 minutos, a 120 ºC. Cada frasco, após atingir a temperatura ambiente, recebeu um disco de 8 mm de diâmetro da cultura fúngica crescida em BDA, sendo colocado em incubadora a 24 ºC, onde permaneceu por 15 dias em escuro contínuo (Freitas et al., 1999). Na implantação e condução dos experimentos envolvendo as culturas do tomateiro e da alface, que foram conduzidos independentemente, vasos plásticos com capacidade de 2.000 cm3 foram cheios com mistura de solo terriço e areia, na proporção 1:1 (v:v), previamente autoclavados (120 C / 1 h, por dois dias consecutivos). Esse substrato foi então umedecido até aproximadamente 60 % da capacidade de campo e infestado com 5.000 ovos de M. incognita por vaso. Em seguida, foram constituídos os seguintes tratamentos: a) 20 g de arroz colonizado por P. lilacinus; b) 20 g de arroz não colonizado; c) 70 g de esterco curtido + arroz colonizado por P. lilacinus; d) 70 g de esterco curtido; e) testemunha 1 (solo infestado por M. incognita); f) testemunha 2 (solo não infestado). No dia seguinte à infestação do solo, mudas de tomateiro Santa Clara Kada ou de alface Lisa com 21 dias de idade foram transplantadas em cada vaso. 232 Vol. 34(4) - 2010

Paecilomyces lilacinus e Esterco Bovino para o Controle de Meloidogyne incognita em Tomateiro e Alface A massa das raízes e da parte aérea das plantas, além do número de galhas e de ovos por planta foram avaliados 45 dias após o transplantio das mudas. O delineamento experimental adotado em ambos os experimentos foi o inteiramente casualizado, com seis tratamentos e cinco repetições. Cada parcela foi constituída por uma planta por vaso, mantida em casa de vegetação. A análise estatística foi realizada com o auxílio do pacote estatístico Statistica (STATSOFT, 2004). Os dados obtidos foram submetidos aos testes de normalidade (Teste de Shapiro Wilks) e de homogeneidade do erro experimental (teste de Levene), tanto sem transformação como aqueles transformados em seus respectivos logaritmos, para tornar estável a variância do erro experimental e normalizar os dados. Os resultados obtidos foram submetidos à análise de variância e ao teste de médias (Tukey), ao nível de 5 % de probabilidade. A incorporação ao solo de esterco bovino com ou sem grãos de arroz colonizados com P. lilacinus aumentou significativamente a massa da parte aérea e das raízes de tomateiro e reduziu o número de galhas e de ovos de M. incognita, em comparação com as testemunhas (Tabela 1). A ação de fertilizante orgânico do esterco bovino pode explicar o aumento de biomassa das plantas (Kiehl, 1985), visto que entre as duas testemunhas não houve diferença significativa e as médias da massa da parte aérea e das raízes destes tratamentos foram inferiores aos dos tratamentos contendo esterco. Considerando que a aplicação do fungo isoladamente não diferiu da testemunha infestada em nenhuma das variáveis nematológicas analisadas, ao contrário da aplicação de esterco bovino apenas (Tabela 1), pode-se inferir também que o efeito nematicida da combinação antagonista-matéria orgânica foi resultado principalmente da ação do resíduo animal. Em plantas de alface, a incorporação ao solo de P. lilacinus e esterco bovino resultou em maior acúmulo de biomassa da parte aérea e das raízes, seguida pela aplicação apenas do material orgânico (Tabela 2). Ao contrário do observado em tomateiros, nenhum tratamento influenciou significativamente o número de galhas de M. incognita em raízes de alface. Todavia, a aplicação conjunta de esterco e do fungo nematófago reduziu em aproximadamente 85 % o número de ovos do nematoide em relação à testemunha infestada (Tabela 2), mas não diferiu dos demais tratamentos. Estudos posteriores devem ser conduzidos visando esclarecer se as diferenças observadas no controle do nematoide nas culturas do tomateiro e da alface resultaram das distintas interações planta-patógeno ou das condições experimentais do trabalho. A incorporação de matéria orgânica ao solo com o objetivo de controlar nematoides é uma prática de notória eficiência e muito explorada por agricultores e pesquisadores (Akhtar & Malik, 2000; Bridge, 2000; Ritzinger & Fancelli, 2006). Segundo Ritzinger & Fancelli (2006), o mecanismo de ação da matéria orgânica na supressão de fitonematoides tem sido atribuído, muitas vezes, à melhoria da estrutura dos solos, incluindo mudanças no ph, umidade e em Tabela 1 - Efeito da incorporação ao solo de arroz colonizado por Paecilomyces lilacinus e/ou esterco bovino sobre a massa fresca da parte aérea e de raízes de tomateiros, além dos números de galhas e ovos de Meloidogyne incognita, aos 45 dias após o transplantio das mudas. Tratamentos Massa da parte Massa de Número de Número de aérea (g) raízes (g) ovos galhas Arroz não colonizado 30,72 b 15,57 c 31.100 bc 360 bc Arroz colonizado por P. lilacinus 30,46 b 16,86 c 81.266 ab 706 a Arroz colonizado por P. lilacinus + esterco bovino 72,22 a 48,47 a 3.566 c 101 c Esterco bovino 69,29 a 33,64 ab 6.367 c 211 c Testemunha 1 (com nematoide) 28,26 b 13,99 c 98.333 a 517 ab Testemunha 2 (sem nematoide) 27,55 b 14,54 c - - CV (%) 20,81 38,17 67,44 41,39 Média de cinco repetições; médias seguidas da mesma letra minúscula na coluna não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey (P < 0,05). 233

Júnia C. Machado, Bruno S. Vieira, Everaldo A. Lopes & Ellen J. Canedo Tabela 2 - Efeito da incorporação ao solo de arroz colonizado por Paecilomyces lilacinus e/ou esterco bovino sobre a massa fresca da parte aérea e de raízes de plantas de alface, além dos números de ovos e galhas de Meloidogyne incognita, aos 45 dias após o transplantio das mudas. Tratamentos Massa da parte Massa de Número de Número de aérea (g) raízes (g) ovos 1 galhas Arroz não colonizado 10,92 c 3,91 c 2.760 ab 130 ns Arroz colonizado por P. lilacinus 18,07 c 5,67 c 2.480 ab 158 Arroz colonizado por P. lilacinus + esterco bovino 124,17 a 49,08 a 480 b 124 Esterco bovino 64,79 b 22,23 b 1.840 ab 123 Testemunha 1 (com nematoide) 7,57 c 2,62 c 3.240 a 102 Testemunha 2 (sem nematoide) 11,05 c 6,24 c - - CV (%) 37,27 47,00 12,31 43,81 Média de cinco repetições; médias seguidas da mesma letra minúscula na coluna não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey (P < 0,05). 1 Valores transformados para log 10 antes da análise de variância. propriedades químicas e físicas do solo. Consequentemente, ocorre maior aeração, capacidade de retenção de água, e melhoria na nutrição da planta por meio de liberação de nutrientes à planta. Além disso, ocorre o aumento da população de microrganismos antagonistas dos nematoides ou a liberação de metabólitos nematotóxicos, resultado da decomposição da matéria orgânica, a exemplo de compostos fenólicos, amônia, nitrito e Ca 2+. Dias et al. (1999) verificaram que a liberação de ácido húmico, proveniente da decomposição de esterco bovino, reduziu a porcentagem de eclosão de juvenis de M. incognita in vitro. Freitas et al. (1999) relataram redução de 55,8 % no número de galhas de M. javanica em tomateiros cultivados em substratos contendo arroz colonizado por P. lilacinus, em comparação com a testemunha. No presente trabalho, este mesmo tratamento não diferiu da testemunha. Considerando a diferença entre as espécies de nematoides e as condições ambientais de ambos os experimentos, a aplicação do fungo no substrato de produção de mudas, conforme realizado por Freitas et al. (1999), pode ter favorecido a colonização do sistema radicular pelo fungo. Com isso, os ovos do nematoide aplicados próximos das raízes foram colonizados pelo fungo, o que reduziu o número de nematoides que penetraram as raízes. A associação de esterco bovino com P. lilacinus pode apresentar uma alternativa no manejo de M. incognita. Experimentos em campo, considerando outras espécies de nematoides e diferentes níveis de inóculo e de material orgânico, devem ser conduzidos para atestar a eficiência e a viabilidade de tal prática. Agradecimentos Os autores agradecem à FAPEMIG pelo apoio financeiro e a Valoriza Agronegócios, localizada no município de Patos de Minas (MG), pela doação das mudas utilizadas neste trabalho. Literatura Citada AKHTAR, M. & A. MALIK. 2000. Roles of organic soil amendments and soil organisms in the biological control of plant-parasitic nematodes: a review. Bioresource Technology, 74: 35-47. BONETI, J.I.S. & S. FERRAZ. 1981. Modificação do método de Hussey e Barker para a extração de ovos de Meloidogyne exigua de cafeeiro. Fitopatologia Brasileira, 6: 553 (Resumo). BRIDGE, J. 2000. Key note: nematodes of bananas and plantains in Africa: research trends and management strategies relating to the small scale farmer. Acta Horticulture, 540: 391-408. CHARCHAR, J.M. & A.W. MOITA. 1996. Reação de cultivares de alface à infecção por misturas populacionais de Meloidogyne incognita raça 1 e Meloidogyne javanica em condições de campo. Horticultura Brasileira, 14 (2): 185-189. DIAS, C.R., R.C.F. RIBEIRO, S. FERRAZ & J.B. VIDA. 1999. Efeitos de frações de esterco bovino na eclosão de juvenis de Meloidogyne incognita., 23 (2): 34-39. DUNN, M.T., R.M. SAYRE, A. CARRELL & W.P. WERGIN. 1982. Colonization of nematode eggs by Paecilomyces lilacinus (Thom.) Samson as observed with scanning electron microscope. Scanning Electron Microscopy, 3: 1351 1357. 234 Vol. 34(4) - 2010

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