MINISTÉRIO DAS CIDADES, ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO E AMBIENTE INSTITUTO DA ÁGUA, I.P. Departamento de Ordenamento e Regulação do Domínio Hídrico Departamento das Administrações das Utilizações ORIENTAÇÕES PARA A ELABORAÇÃO DE PROJECTOS DE DRENAGEM DOS BLOCOS DE REGA DO EMPREENDIMENTO DE FINS MÚLTIPLOS DE ALQUEVA 1. Introdução Neste documento pretende-se definir orientações para a elaboração de projectos de drenagem dos blocos de rega do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva (EFMA), nomeadamente tipologia de linhas de água a intervencionar, tipos de intervenção, metodologias e critérios de dimensionamento. Estas orientações decorrem de reuniões promovidas pelo INAG e havidas entre as entidades designadas no nº4 do Despacho n.º 16 226/2007, de 26 de Julho, e a EDIA. Participaram, pois, na elaboração deste documento as seguintes entidades: - Entidades designadas no nº4 do Despacho n.º 16 226/2007, de 26 de Julho: o INAG Eng.ª Maria Helena Alves e Eng.ª Teresa Ferreira o CCDR Alentejo Arq.ª Cristina Martins o APA Eng.ª Marina Barros o ICNB Dr. Pedro Rocha o DGADR Eng.º João Campos, Eng.ª Maria de São José Pinela, Eng.º Pedro Cunha, Eng.º Henrique Freitas Dias, Eng.º José António Quintão Pereira e Eng.º Manuel Franco Frazão. - EDIA Eng.º Jorge Vasquez, Eng.º José Costa Miranda e Engª Alexandra Braga de Carvalho 2. Objectivos São objectivos base dos projectos a desenvolver neste âmbito: Proteger, contra as inundações, os solos agrícolas e as culturas Outono- Invernais, bem como as infra-estruturas hidroagrícolas, nomeadamente a rede viária. Criar condições para possibilitar uma drenagem adequada dos terrenos integrantes do perímetro, através do redimensionamento das valas existentes ou, se necessário, do estabelecimento de novas valas. Excluem-se destas 1
intervenções os charcos temporários mediterrânicos. 1 Os quais devem ser identificados e delimitados sobre ortofotomapas (a escala adequada), com recurso a trabalhos de campo específicos, de forma a serem consideras áreas a excluir do perímetro e assim serem preservadas, e sobre as quais consequentemente os agricultores não deverão pagar a taxa de conservação. De forma mais detalhada pretende-se com a intervenção na rede hidrográfica (conjunto da rede de drenagem + linhas de água naturais) assegurar: a. Uma capacidade de vazão para o caudal de ponta de cheia com T = 2 anos, sendo feita uma análise caso a caso para avaliar da necessidade de considerar o caudal de ponta de cheia com T= 5 anos. Para essa análise, deve-se calcular as dimensões da secção para os períodos de retorno 2 e 5 anos, e proceder a uma análise de sensibilidade, comparando as intervenções a realizar para cada caso, tendo em conta que são admissíveis alagamentos do solo durante 2 dias, sem que ocorra prejuízos significativos nas culturas. 2 Exceptuam-se os troços paralelos a caminhos que deverão ser dimensionados para períodos de retorno de 5 anos, assegurando, o máximo possível, a manutenção da vegetação ripária 3 (arbustiva e arbórea) das margens. b. A possibilidade dos diferentes proprietários poderem estabelecer o seu sistema de drenagem, sem dependerem da associação com terceiros - ou seja todas as propriedades devem ter acesso à rede hidrográfica. c. O transporte dos caudais sólidos afluentes ao sistema. d. Prevenção de processos erosivos que possam afectar de forma significativa os solos marginais, eventualmente com recurso a técnicas de engenharia biofísica, se viável, ou estruturas específicas. 1 Charcos temporários mediterrânicos - charcos endorreicos ou localizados nas margens das linhas de água doce, sazonalmente inundados por uma pequena altura de água doce. 2 Neste âmbito pode igualmente ser útil analisar as condições de escoamento dos caudais médios da cheia com período de retorno 5 anos. Para este efeito e no sentido de simplificar a obtenção deste valor, pode admitir-se que este caudal é o obtido dividindo o volume total da cheia por (2* tempo de concentração), sem prejuízo de uma abordagem alternativa devidamente justificada. 3 Vegetação ripária (ou ripícola) ou "comunidades ripícolas" conjunto de elementos vegetais associados ao corredor fluvial (ou seja, dependentes de humidade), que podem apresentar porte arbóreo (salgueiros, amieiros, choupos, freixos, ulmeiros, lodãos-bastardos, sanguinhos e tramazeiras), arbustivo (loendros, tamargueiras, tamujos, sabugueiros, silvas, se estas não tiverem comportamento evasivo, caniços, adelfeiras, tabúas e caniços) ou herbáceo". 2
3. Âmbito da Intervenção dos Projectos 3.1 Rede Hidrográfica Natural Entende-se como rede hidrográfica natural o conjunto das linhas de água visivelmente existentes no campo. Para efeito da intervenção a efectuar nas linhas de água estas classificam-se de acordo com a seguinte tipologia: Tipo 1 - Cursos de água principais de 2ª ordem desde que tenham 50 Km 2 ou mais de bacia hidrográfica. Tipo 2 Cursos de água principais de 2ª ordem ou superior, cujas áreas das bacias hidrográficas sejam inferiores a 50 km 2 ; Tipo 3 - Cursos de água não incluídos no Índice Hidrográfico e Classificação Decimal dos Cursos de Água de Portugal, DGRAH, 1981, e valas colectivas existentes. No caso das linhas de água do Tipo 1, serão preconizadas, apenas acções de remoção de resíduos, nos casos em que a EDIA considerar pertinente, ou de vegetação que interfira significativamente com o escoamento. Excepcionalmente, preconiza-se a consolidação das margens nos locais onde haja rombos, recorrendo a técnicas de engenharia biofísica, se viável. Para as restantes, Tipo 2 e Tipo 3, e por forma a minimizar os impactes negativos na vegetação ripária, as intervenções a realizar devem traduzir-se essencialmente pelo aprofundamento dos talvegues e apenas excepcionalmente pelo alargamento do rasto, mantendo-se o máximo possível a vegetação arbórea e arbustiva, não infestante, das margens. Deve ser mantida tanto quanto possível a vegetação herbácea dos taludes, assim como a estrutura radicular da vegetação arbustiva e herbácea das margens, de modo a diminuir os riscos de erosão dos taludes e, consequentemente, o assoreamento das linhas de água. Nas zonas de sedimentação deve proceder-se à remoção do material sólido depositado, de modo a garantir boas condições de drenagem, e tendo em conta que a cota de rasto é garante da manutenção do nível freático. Deverão ser avaliados os factores que estão na origem desta situação, de modo a equacionar possíveis recomendações para evitar intervenções periódicas. Assim, e embora a intervenção projectada se deva pautar pelo princípio da intervenção mínima, com ela pretende-se assegurar a: a. Normalização das condições de escoamento através da adequação do troço de leito às condições de transporte estipuladas em 2 a) e substituição de passagens hidráulicas com insuficiente capacidade de vazão para o caudal de projecto; b. Protecção das margens e fixação do leito nos cursos de água tipo 2 e tipo 3, com recurso a técnicas de engenharia biofísica, se viável, sempre que tal constitua condição para que as áreas marginais não sejam atacadas. Essas intervenções verificar-se-ão essencialmente nas curvas de menor raio e nos troços onde a velocidade de escoamento é superior à velocidade máxima permissível, nos locais onde seja necessário assegurar a estabilização de taludes (onde por limitações de espaço não seja possível utilizar outras técnicas, nomeadamente dar a inclinação adequada aos taludes, tendo em 3
conta as características das manchas de solos com representatividade mais significativa), nas quedas e nas confluências. 3.2 Valas A construção de novas valas deve ser evitada, considerando-se que, na generalidade a intervenção na rede hidrográfica existente resolve os problemas de drenagem da região. A consideração de novas valas só deve ser considerada, em casos muito específicos, designadamente em áreas muito planas e interessando manchas de solos de deficiente drenagem interna. Ainda assim, aspectos relacionados com a ocupação de terreno e interferências associadas, indemnizações e expropriações terão de ser devidamente ponderados e poderão ser argumento de inibição desta solução. Na construção das valas colectivas cuidado será colocado no estabelecimento da sua cota de rasto, para que esta possibilite o estabelecimento do sistema de drenagem adequado ao local, porém sem prejuízo de esta ter de estar subordinada ao ponto de ligação à rede hidrográfica. Tentar-se-á evitar a implantação de valas que interfiram com infra-estruturas já existentes (quer infra-estruturas de rega, quer viárias) ou com áreas de interesse especial. As áreas de solos com problemas particulares de drenagem interna aqueles em que intervenções complementares correntes não sejam de molde a permitir a drenagem, em tempo útil, do horizonte onde se alojam as raízes das culturas - devem ser identificadas e objecto de um estudo de maior detalhe. 4. Definição da Intervenção nas linhas de água Tipo 2 Nos troços dos cursos de água do Tipo 2 a intervencionar, e tendo em vista a caracterização da situação de referência, deve ser realizada a identificação e delimitação tanto quanto possível (incluindo uma reportagem fotográfica detalhada) do seguinte: o Zonas de erosão ou de sedimentação; o Zonas alagáveis, potencialmente alagáveis e preferencialmente inundáveis 4 ; o Troços com vegetação ripária/galerias ripárias 5 ; o Ocupação cultural actual dos terrenos marginais (apresentação de carta a escala adequada); o Zonas com margens instáveis; o Outras características relevantes das linhas de água. Na concepção da intervenção há a considerar o seguinte: 4 Zonas alagáveis - áreas que não pertencendo ao leito menor da linha de água, indiciam estar frequentemente submersas ( o que se pode identificar através da fotografia aérea ou por reconhecimento local, face à morfologia e ao tipo de cobertura que apresentam). Zonas potencialmente alagáveis - áreas cuja morfologia indicia que serão afectadas em caso de cheia Zonas preferencialmente inundáveis - áreas cuja morfologia possibilita a sua inundação em caso de cheia e que pela sua localização a montante de uma zona a preservar, devem ser utilizadas para salvaguarda destas 5 Galeria ribeirinha/ripária/ripícola - conjunto de elementos vegetais lenhosos associado ao corredor fluvial 4
Onde se preconize proceder apenas a acções de limpeza, deve ser mantida a vegetação ripária (arbórea e arbustiva), assim como a vegetação herbácea dos taludes, prevendo-se o seu corte (ceifa), e a estrutura radicular da vegetação arbustiva e herbácea das margens, de modo a diminuir os riscos de erosão dos taludes e, consequentemente o assoreamento das linhas de água. Onde se preconize a regularização das secções deve-se: (i) Privilegiar o aprofundamento dos talvegues em detrimento do alargamento do rasto designadamente evitando o corte do entramado radicular, que em muito contribui para a prevenção de processo de erosão. Acresce que a intervenção mais em profundidade melhora a eficiência hidráulica inerente à rede de drenagem. (ii) Prever no projecto, como medida de protecção contra a erosão e como medida minimizadora, em termos de integração paisagística, a aplicação de uma sementeira adequada sobre os taludes. (iii) Em troços de linhas de água de forte declive/ erosão pela velocidadeturbulência local deverá corrigir-se o perfil longitudinal desta, mediante a construção de degraus de contenção que contribuam, quer para a retenção de material sólido, quer para a dissipação local do excesso de energia. 5. Metodologias A simulação das condições de escoamento, na situação actual e na situação com projecto, deve ter em consideração, nas linhas de água do Tipo 2, o regolfo do escoamento preferencialmente em regime permanente, designadamente através de modelos adequados para o efeito. Contudo, na situação com projecto, poderão ocorrer circunstâncias que justifiquem o recurso à análise em regime variável. Estas circunstâncias deverão ser devidamente justificadas ou pelo projectista ou pelo analista do projecto conforme o plano em que a dúvida se coloque Nos troços das linhas de água do tipo 1, onde seja manifestamente necessário consolidar as margens (rombos nas margens), a análise das condições de escoamento nesses troços, para a vazão máxima do leito regularizado (secção completamente cheia), também deve ter em consideração o regolfo do escoamento em regime permanente. Nas linhas de água do tipo 3 poderá proceder-se ao dimensionamento hidráulico em regime uniforme. 6. Critérios de Dimensionamento 6.1. Linhas de água e valas No que respeita aos períodos de retorno dos caudais a considerar deve ser assegurado o constante no ponto 2 a). Contudo, se em áreas adjacentes às linhas de água existirem infra-estruturas que possam ser postas em risco ou prejudicadas na sua funcionalidade, 5
pela inundação, tal facto deverá ser devidamente atendido na fixação do caudal de dimensionamento inerente. Para valas de drenagem propõe-se, como valores mínimos da geometria das secções, um rasto de 0,5 m e uma profundidade de 0,8 m. A inclinação de taludes, nomeadamente nas linhas de água do tipo 2, deverá ser determinada pelo respectivo estudo de estabilidade tomando em consideração as manchas de solos com representatividade mais significativa. 6.2. Passagens Hidráulicas 6.2.1 - Períodos de Retorno O caudal de ponta de cheia a considerar no seu dimensionamento deverá ter o seguinte período de retorno. Valor mínimo do Período de retorno (anos) Tipo de via 5 a 10 Estradas regionais e municipais complementares com TMDA* <250 10 EN, ER e EM com TMDA*> 250 10 a 25 IP, IC ou outras com TMDA*> 2000 5 ou 10 anos consoante a situação Caminhos rurais tipo I poderá ser considerado 5 Caminhos agrícolas - tipo II e tipo III *TMDA tráfego médio diário anual Quando possível deve adoptar-se passagens a vau, nomeadamente em situações em que existam travessias, inseridas na rede viária de apoio à rede de rega, paralelas ao atravessamento das linhas de água por grandes estruturas adutoras. Em situações em que não seja possível manter passagens hidráulicas de vão único, recomenda-se que sejam utilizadas passagens hidráulicas (PH s) de vãos múltiplos em número ímpar, de forma a evitar situações de assoreamento e colmatação da estrutura. Na concepção das restantes PH s deverá ter-se em consideração ainda os seguintes critérios: 6.2.2. - Condições de escoamento Neste caso duas situações base podem ocorrer: Escoamento em superfície livre no corpo da PH H dimensionamento para DN 800 (e altura de 0,80 m no caso das rectangulares) não deverá exceder meia altura da secção útil; - a folga não deverá ser inferior a 0,40 m. 6
Escoamento em pressão no corpo da PH Deve evitar-se esta situação e, a ocorrer, por imposição das condicionantes locais, deverá ser objecto de estudo detalhado e de medidas específicas de protecção. 6.2.3 Secção tipo útil da passagem hidráulica Na definição desta deverá: Privilegiar-se a utilização de corpos tubulares e únicos até DN 1 500 (a menos de constrangimentos inerentes à morfologia do local e às condicionantes de implantação); Considerar-se como diâmetro mínimo 800 mm (e altura mínima de 0,80 m, no caso das rectangulares). 7. Nota Final A implementação das intervenções nas linhas de água, preconizadas no projecto, será acompanhada in loco por técnicos da EDIA, no sentido de minimizar os impactes, nomeadamente nos ecossistemas aquáticos e ribeirinhos, decorrentes das obras a realizar. INAG/DORDH/DAU, 12 de Maio de 2008 7