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Almirante Afonso Júlio de Cerqueira Jorge M. Moreira Silva Capitão-de-fragata Afonso Júlio de Cerqueira, quando Primeiro-tenente Afonso Júlio de Cerqueira nasceu em Viseu, no dia 1 de Fevereiro de 1872. Após a frequência dos estudos preparatórios na Escola Politécnica de Adaptado do livro Patronos dos Cursos Tradicionais da Escola Naval. 19362007. 1

Lisboa, assentou praça como Aspirante de Marinha em 5 de Novembro de 1888, sendo promovido a Guarda-Marinha três anos e meio depois. De 1893 (ano em que foi promovido a Segundo-Tenente) a 1894 serviu a bordo da corveta Mindelo, tendo participado na força naval enviada ao Brasil para proteger cidadãos e bens nacionais por ocasião da Revolta dos Almirantes. Ainda durante os seus primeiros anos de Marinha, é de realçar a viagem à Índia que efectuou, à vela, pela Rota do Cabo, a bordo do transporte Pêro de Alenquer, em 1899, que teve a duração de 339 dias. Transporte de tropas do Batalhão Expedicionário de Marinha para Angola Personalidade multifacetada, especializou-se em diversas áreas técnicas e operacionais, consoante as funções que ia sendo chamado a desempenhar. Tirou, assim, os cursos de Meteorologia; Metralhadoras Pesadas e Ligeiras; Gases de Combate; Artilharia; Torpedos, Minas e Electricidade; Radiotelegraa, Sinais e Comunicações; e Aeronáutica (observador). Em quase todas teve ocasião de revelar os seus múltiplos talentos, numa vasta panóplia de cargos e de missões. Entre 1902 e 1903 efectuou uma estação naval em Moçambique (faria 2

O ciais do Batalhão Expedicionário de Marinha quatro estações em África ao longo da sua carreira de Marinha), onde comandou a lancha canhoneira Cherim, o vapor Baptista de Andrade e o transporte Álvaro de Caminha. Nesse período, em que teve o seu bap- tismo de fogo, participou na campanha do Barué, em que foram paci cadas as populações nativas das margens do Angoche. Também por essas alturas (Novembro de 1903) efectuou, a bordo do Álvaro de Caminha, o reconhecimento da barra do Muebazi (a primeira entrada de um navio de guerra naquele rio) e o estabelecimento de um posto no Tejungo. Ainda nessa comissão, notabilizou-se pelo sangue-frio que revelou aquando da explosão do paiol de munições da fortaleza de S. Sebastião, tendo a sua pronta e corajosa acção sido determinante para pôr m ao pânico da população, prestar socorro às vítimas e controlar o incêndio subsequente, sempre sob o perigo de novas explosões. Recebeu aí os seus primeiros louvores e, além dos que constam nos registos o ciais, os rasgados elogios de um colono que escrevera às lhas relatando entusiasticamente a proeza do jovem o cial. Este viria, mais tarde, a desposar uma delas. O seu espírito humanitário e intrépido revelar-se-ia novamente em Novembro de 1905, quando, comandando a canhoneira Vouga, socorreu as 3

embarcações que tinham sido arremessadas contra a costa da Galé durante um violento temporal. No período conturbado da 1 a República viu-se envolvido nas diversas lutas civis resultantes: em 1911 comandou as forças de Marinha que combateram a incursão monárquica no Norte do país, em 1917 bateu-se contra o movimento revolucionário de Sidónio Pais e em 1919 combateu as tropas monárquicas instaladas na Serra de Monsanto. Neste último combate demonstrou o seu carácter humano e, mais uma vez, um impressionante sangue-frio, ao proteger os prisioneiros monárquicos (entre os quais se encontrava o seu antigo comandante, João de Azevedo Coutinho, a quem não deixou de cumprimentar militarmente) contra a fúria de um grupo de populares armados que pretendia fazer justiça pelas próprias mãos. Republicano convicto, saliente-se, porém, que em todas estas lutas se bateu sempre pela legalidade, isto é, alinhou sistematicamente pela facção legitimada no poder, embora nem sempre do lado vencedor (como na ocasião em que fez frente às forças sidonistas). Quadro representado o famoso Quadrado de Môngua Seria, porém, no âmbito do envolvimento português na Grande Guerra 4

que viria a ganhar nome, mais concretamente no teatro de operações do Sul de Angola. Para lá seguiu, em 1915, integrado no Batalhão de Marinha, que, juntamente com forças do Exército, sob o comando do General Pereira D'Eça, constituiu uma resposta às incursões alemãs nos nossos territórios africanos (ainda o estado de guerra entre Portugal e a Alemanha não fora formalmente declarado) e à sublevação dos nativos por elas conduzida. Cerqueira não levou muito tempo a distinguir-se. Ainda como Primeiro-Tenente, em Maio de 1915, comandando o posto avançado de Tchicusse, teve conhecimento, através de um padre francês, de que um grupo de missionários da missão de Tchipelongo se encontrava ameaçado pelo gentio. Para lá se deslocou, por sua iniciativa, com a sua companhia e com a 15 a companhia indígena de Moçambique, tendo conseguido libertar os missionários após um árduo combate. Seguiu-se uma campanha contra os rebeldes Cuanhamas, que se iniciou, em Junho do mesmo ano, com a conquista do Humbe (ocupado sem luta, embora à custa de extenuantes e penosas marchas). Foi no decurso dessa acção armada que se travou, a 20 de Agosto, a batalha que, denitivamente, o viria a celebrizar com o título de Comandante Cerqueira, em que, já como Capitão-Tenente, comandava o Batalhão de Marinha. Pela sua importância no contexto biográco do ilustre Ocial, este episódio merece uma descrição mais detalhada: Tendo já penetrado muito para dentro de território cuanhama, e após uma escaramuça inicial (que tinha sido uma espécie de sondagem ao espírito combativo dos portugueses), avançava o corpo expedicionário, formado em quadrado, pelas cacimbas de Môngua, quando, no dia 18 de Agosto, foi atacado por forças inimigas numerosas e muito bem equipadas de armas de fogo. Era o prelúdio de um ataque muito mais feroz, dois dias depois, com o grosso das tropas do Mandume (o soba cuanhama), num total de cerca de 60 mil guerreiros. Cercado numa clareira, com muitas baixas sofridas, após várias horas de desesperada resistência e sem vislumbrar saída de tão aitiva situação, decidiu o General Pereira D'Eça dar ordens ao Batalhão de Marinha para, juntamente com os Landins e parte da Infantaria, efectuar uma carga à baioneta, a pé, contra as posições indígenas. Mesmo não sendo obrigado a fazê-lo, Afonso Cerqueira não hesitou em carregar à frente dos seus homens, tendo sido o primeiro a saltar para fora da protecção do quadrado. A primeira carga, embora impetuosa e lançando o pânico entre as hostes inimigas, não surtiu o efeito desejado, pelo que foi necessário efectuar uma segunda, desta vez com tal valor que o gentio se viu forçado a retirar em debandada. 5

Placa oferecida ao Almirante Cerqueira por um militar que participou nas operações de Môngua Com a tomada de N'Giva (que foi encontrada praticamente abandonada, apenas apresentando um ou outro foco isolado de resistência), quartel-general do Mandume, terminava a ocupação militar do Sul de Angola. Depois disso, era o regresso à Metrópole, com as nossas forças a serem devidamente vitoriadas. Mas o grande con ito mundial estava longe do seu termo, e eis o Comandante Cerqueira chamado a desempenhar nova missão, desta vez no Mar: entre 1916 e 1917, no comando do contra-torpedeiro Guadiana, escoltou, com sucesso, vários comboios que cruzavam as perigosas águas do Atlântico, infestadas de submarinos alemães. Atraído pela novíssima Aviação Naval, desempenhou, de 1917 (o ano em que foi criada) a 1922 o cargo de Director deste serviço, que organizou no conturbado período da Grande Guerra e, depois, engrandeceu, participando na organização de raids aéreos à Madeira e ao Brasil. O combatente de terra e mar lançava-se, agora, no etéreo elemento. Nesse período, em que a navegação aérea alcançou estatuto cientí co, foi 6

realizado um voo experimental Lisboa-Funchal por Gago Coutinho, Sacadura Cabral e Ortins de Bettencourt (1921), em que se testou, com sucesso, o rigor dos novos métodos de posicionamento. Estava preparado o terreno para, no ano seguinte, os dois nossos mais célebres aviadores navais alcançarem notoriedade mundial com a sua travessia aérea do Atlântico Sul, entre Lisboa e o Rio de Janeiro, empresa em que o herói de Cuanhama pessoalmente muito se empenhou. Deixa o cargo em 1922, por atritos com o Poder Político, para comandar o transporte Pedro Nunes. Contra-Almirante Afonso Cerqueira De 1929 a 1934, após uma muito elogiada passagem pelo Estado-Maior Naval (onde reorganizou o Curso Naval de Guerra), regressa à Aviação Naval. Tinha previamente tirado o curso de observador aeronáutico, até aí reservado apenas a jovens ociais. Mas Cerqueira mantinha uma eterna e invejável 7

jovialidade, fazendo-se permanentemente rodear desses mesmos jovens que nele viam um exemplo a seguir religiosamente. Homem de grande cultura geral e prossional, foi escolhido para participar no Congresso da Federação Internacional dos Antigos Combatentes (Lisboa, 1931), no Congresso Militar Colonial do Porto (1934) e no Congresso de História da Expansão Portuguesa no Mundo (Lisboa, 1937). No âmbito da sua participação neste último congresso, publica, em 1938, o seu singelo e despretensioso, conquanto exacto, testemunho das campanhas africanas em que se vira envolvido (além de outras de que fora contemporâneo): A Marinha Militar na Ocupação de África. Foi ainda membro da Comissão de Aviação Comercial, Presidente da Comissão Central de Pescarias, membro da Société Belge de Astronomie et Physique du Globe, membro da Commision Metéorologique International e colaborador dos Anais Meteorológicos das Colónias e dos Anais do Clube Militar Naval. Afonso Cerqueira passou à reserva a 1 de Fevereiro de 1934, como Capitão-de-Mar-e-Guerra, tendo, três meses mais tarde, sido promovido, por distinção, ao posto de Contra-Almirante. Entre várias distinções, possuía o grau de Ocial da Ordem da Torre e Espada, os graus de Cavaleiro e de Comendador da Ordem Militar de Aviz, uma Cruz de Guerra de 1 a Classe, a Medalha da Vitória (dos Aliados na Grande Guerra), Medalha de Ouro de Comportamento Exemplar e 3 Medalhas de Ouro das Campanhas do Exército Português. Além dos navios atrás mencionados, comandara, ainda, as canhoneiras Faro e Lagos', o rebocador Bérrio, os vapores Funchal e Cabo Verde, o caça-minas Azevedo Gomes e o cruzador S. Gabriel. Faleceu em Lisboa a 31 de Março de 1957, não sem que antes tivesse o prémio de receber, em vida, algumas das homenagens que lhe eram devidas, assim como a veneração das gerações mais novas que com ele puderam privar. BIBLIOGRAFIA Textos/Obras de Afonso Cerqueira A Marinha Militar na Ocupação de África, Lisboa, Soc. Nac. de Tipograa, 1938 Textos/Obras sobre Afonso Cerqueira CAMPOS, José Moreira, O Último Capitão (separata da revista Beira Alta), Viseu, s.d. RODRIGUES, Manuel Maria Sarmento, A Vida do Almirante Afonso de Cerqueira Combatente Heróico da Terra e do Mar (separata da Revista de Marinha), Lisboa, 1958 8