PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS NÚCLEO ACADÊMICO DE PESQUISA FACULDADE MINEIRA DE DIREITO Ementa do Grupo de Pesquisa Introdução à Filosofia Política de Jürgen Habermas Camila Cardoso de Andrade Belo Horizonte 2006
Camila Cardoso de Andrade Introdução à Filosofia Política de Jürgen Habermas Ementa do grupo de pesquisa a ser desenvolvido no Núcleo Acadêmico de Pesquisa da Faculdade Mineira de Direito da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Belo Horizonte 2006
3 1 EMENTA 1. Luta por Reconhecimento no Estado Democrático de Direito. 2.Três modelos normativos de democracia. 3. Sobre a coesão interna entre Estado de Direito e Democracia. 4.O Estado Democrático de Direito: uma amarração paradoxal entre princípios contraditórios? 5. Legitimação com base nos Direitos Humanos. 2 JUSTIFICATIVA O Direito assume, na modernidade, o lugar anteriormente ocupado pela tradição e pela religião como medium regulador de comportamentos e promotor de integração social, estabelecendo as condições institucionais para o processo democrático de formação da opinião e da vontade. Entretanto, cabe considerar, de início, que duas tradições modernas do pensamento político ocidental vieram a adotar enfoques diferentes e por vezes concorrentes quanto à compreensão dos direitos humanos e da democracia, da autonomia privada e da autonomia pública: a tradição liberal e a tradição republicana. Os liberais, em linhas gerais, entendem que a função do processo democrático é a de programar o Estado, entendido como aparato administrativo, para que aja voltado à satisfação dos interesses da sociedade, sendo esta compreendida como uma rede de interações entre sujeitos privados, organizada sob a forma de mercados. A formação política da vontade dos cidadãos legitima o exercício do poder político reunindo os interesses privados e encaminhando-os à Administração Pública, cuja finalidade é utilizar-se do poder político para atingir os objetivos coletivos majoritários (CATTONI DE OLIVEIRA, 2000, p. 62). Nessa tradição, os direitos fundamentais, incluídos os direitos civis e os direitos de participação política, objetivam garantir aos indivíduos um espaço em que possam realizar seus interesses privados. (HABERMAS, 2002, pp. 278-284) Já a tradição republicana, em linhas gerais, compreende que os direitos fundamentais são liberdades positivas, que possibilitam a construção de uma identidade ético-política comum através da participação dos indivíduos na formação da vontade política. Assim, o processo político é entendido como constitutivo dos processos de socialização, consistindo no meio pelo qual os integrantes de comunidades solidárias surgidas de forma natural se conscientizam de sua interdependência mútua e, como cidadãos, dão forma e
4 prosseguimento às relações de reconhecimento mútuo, transformando-as de forma voluntária e consciente em uma associação de jurisconsortes livres e iguais (HABERMAS, 2002, p.278) A fim de reconstruir a relação entre direitos humanos e democracia, autonomia pública e autonomia privada, de uma perspectiva que enfatiza a relação de complementaridade existente entre eles, é que Jürgen Habermas apresenta sua Teoria Discursiva do Direito e da Democracia. Nesse sentido, Habermas afirma que Em lugar de uma disputa sobre a melhor forma de assegurar a autonomia das pessoas do direito ora por meio das liberdades subjetivas em prol da concorrência entre as pessoas em particular, ora mediante reivindicações de benefícios garantidas para clientes de burocracias de Estados de bem-estar social -, o que se apresenta é uma concepção procedimental do direito, segundo a qual o processo democrático pode assegurar a um só tempo a autonomia privada e a pública: direitos subjetivos, cuja função é garantir (...) uma organização particular e autônoma da própria vida, não podem ser formulados de maneira adequada sem que antes os próprios atingidos possam articular e fundamentar, em discussões públicas, os aspectos relevantes para o tratamento igualitário ou desigual de casos típicos. (2002, p.245). De acordo com essa proposta, o processo democrático de formação da opinião e da vontade deve ganhar o núcleo estatal do sistema político a partir de debates promovidos pela sociedade civil, no contexto de uma esfera público-política mais ampla. Nesses debates públicos, realizados em sociedades pluralistas, entram em jogo argumentos éticos, relativos ao auto-entendimento dos cidadãos quanto à melhor maneira de levarem adiante seu projeto de vida pessoal e coletivo; argumentos morais referentes ao que é justo para todos, ou ao que deve ser imparcialmente justificado; bem como argumentos pragmáticos, que dizem respeito a interesses, ou seja, que se guiam por metas e objetivos (HABERMAS, 1989). Nesse processo, o Direito é responsável pelo estabelecimento dos procedimentos que possibilitam a formação de consensos ou ao menos de compromissos sob condições equânimes, na medida em que suas normas tanto podem ser cumpridas por medo da sanção quanto por respeito à lei produzida no processo democrático. Dessa forma, justifica-se o estudo da Teoria Discursiva do Direito, proposta por Habermas, a fim de possibilitar uma mudança de perspectiva no tratamento que se dá à relação entre Estado de Direito e Democracia. 3 OBJETIVOS 3.1) Objetivo Geral
5 Aprimorar a compreensão, por parte de alunos da graduação e pós-graduação em Direito da PUC-MG, da Teoria Discursiva do Direito e da Democracia de Jürgen Habermas. 3.2) Objetivos Específicos a) pesquisar, a partir de textos-chave de Habermas e de autores brasileiros que trabalham com a Teoria Discursiva do Direito e da Democracia, em que consiste nessa teoria a relação entre Estado de Direito e Democracia, entre soberania popular e direitos humanos, bem como entre autonomia pública e privada. b) publicar, em parceira entre alunos da graduação e pós-graduação em Direito da PUC-MG, artigo contendo os resultados da pesquisa. 4 METODOLOGIA Este trabalho será realizado em duas etapas. Na primeira etapa, em encontros quinzenais, serão lidos e discutidos os seguintes textos introdutórios à Teoria Discursiva do Direito de Jürgen Habermas, todos do próprio autor: Luta por reconhecimento no estado democrático de direito; Três modelos normativos de democracia; Sobre a coesão interna entre estado de direito e democracia; O Estado Democrático de Direito: uma amarração paradoxal entre princípios contraditórios?; e Legitimação com base nos direitos humanos. Concomitantemente à leitura desses textos, serão lidos e discutidos trechos de textos de autores brasileiros que trabalham a partir da perspectiva desenvolvida pela Teoria Discursiva de Direito, tais como Devido Processo Legislativo, de Marcelo Cattoni de Oliveira; Igualdade e Diferença, de Marcelo Galuppo; Habermas e o Direito Brasileiro, de Álvaro Souza Cruz; Filosofia do Direito na Alta Modernidade, de Lúcio Chamon Junior, entre outros. Na segunda etapa, os participantes do grupo de pesquisa elaborarão um artigo que exporá as impressões dos alunos sobre os textos. Este artigo visará contribuir para um maior entendimento das idéias principais da Teoria Discursiva do Direito de Habermas. 5 CARGA HORÁRIA Mensal: 04 horas Semestral: 8 horas (2 o. Semestre de 2006) Semestral: 32 horas (a partir do 1 o Semestre de 2007)
6 6 PERIODICIDADE Encontros quinzenais. Dia da semana: terça-feira, de 15:00 às 17:00 ou sexta-feira, de 12:00 às 14:00, de acordo com a disponibilidade dos participantes do grupo. 7 PARTICIPANTES Vagas: 5 8 BIBLIOGRAFIA INICIAL CATTONI DE OLIVEIRA, Marcelo Andrade. Devido processo legislativo: uma justificação do controle jurisdicional de constitucionalidade das leis e do processo legislativo. Belo Horizonte: Mandamentos, 2000 CATTONI DE OLIVEIRA, Marcelo Andrade. Direito Constitucional. Belo Horizonte: Mandamentos, 2002. CRUZ, Álvaro Ricardo de Sousa. Habermas e o Direito Brasileiro. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006. CHAMON JÙNIOR. Lúcio Antônio. Filosofia do Direito na Alta Modernidade. Rio de Janeiro: Lumem Juris, 2005. GALUPPO, Marcelo Campos. Igualdade e Diferença: Estado Democrático de Direito a partir do pensamento de Habermas. Belo Horizonte: Malheiros, 2002. HABERMAS, Jürgen. Para o uso pragmático, ético e moral da razão prática. Estudos Avançados, v. 3, n. 7, pp. 4-19, set./ dez. 1989. HABERMAS, Jürgen. A Luta por Reconhecimento no Estado Democrático de Direito. A Inclusão do Outro: estudos de teoria política. São Paulo: Loyola, 2002. pp.237-276 HABERMAS, Jürgen.Três Modelos Normativos de Democracia. A Inclusão do Outro: estudos de teoria política. São Paulo: Loyola, 2002. pp.277-292 HABERMAS, Jürgen.Sobre a coesão interna entre Estado de Direito e Democracia. A Inclusão do Outro: estudos de teoria política. São Paulo: Loyola, 2002. pp. 293-308 HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003. vol. 1 e 2. HABERMAS, Jürgen. O Estado Democrático de Direito: uma amarração paradoxal de princípios contraditórios? Era das Transições. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003. SALCEDO REPOLÊS, María Fernanda. Habermas e a desobediência civil. Belo Horizonte: Mandamentos, 2003.