1. Introdução Conceito de estrutura ecológica municipal Enquadramento legal Metodologia de trabalho 7

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Transcrição:

Índice 1. Introdução 2 2. Conceito de estrutura ecológica municipal 3 3. Enquadramento legal 5 4. Metodologia de trabalho 7 5. Estrutura ecológica municipal bruta 8 6. Estrutura ecológica municipal: proposta prévia 20 7. Bibliografia 22 Estrutura Ecológica Municipal: Proposta Prévia_Setembro 2006 1

1. Introdução O presente trabalho consiste na delimitação da Estrutura Ecológica Municipal (EEM) de Coimbra. A Estrutura Ecológica Municipal é, para muitos autores, encarada como um sistema de territórios fundamentais para o funcionamento das dinâmicas naturais, com fins e aptidões diversos mas complementares entre si, como as actividades agroflorestais, a conservação da natureza e do património cultural, o recreio e o turismo. Subentende-se que uma estrutura ecológica contempla a aplicação de princípios inerentes à minimização de riscos e às especificidades do impacte destes, assim como à distinção do que possa ser considerado valores notáveis ou únicos quer de carácter natural quer cultural. Neste momento, os objectivos da definição da estrutura ecológica municipal de Coimbra canalizam-se inevitavelmente para o exercício em curso da revisão do Plano Director Municipal (PDM), produzindo orientações transponíveis para este instrumento. A estrutura ecológica municipal deverá ser a base do modelo territorial que suportará a revisão do PDM, de modo a assumir o seu papel de componente activa do modelo de desenvolvimento sustentável para o município de Coimbra. No âmbito do presente estudo procura-se analisar as diferentes componentes biofísicas do território, de modo a identificar os sistemas ecológicos fundamentais, bem como as componentes socio-económicas mais determinantes na ocupação do solo e elaborar uma proposta de delimitação da estrutura ecológica municipal, tendo em vista a protecção dos sistemas naturais de maior fragilidade e a salvaguarda dos espaços com elevado valor paisagístico, patrimonial e/ou cultural. Este relatório encontra-se estruturado em oito capítulos, dos quais se destacam: i) o capítulo 3, referente ao enquadramento legal que suporta a definição do conceito de estrutura ecológica; ii) o capítulo 4, que representa, de forma esquemática, as diferentes fases do trabalho a considerar tendo em vista a delimitação da estrutura ecológica municipal; iii) o capitulo 5, relativo à síntese realizada e à delimitação da estrutura ecológica municipal bruta, apoiada no conhecimento do relevo, da hidrografia, da geologia, dos solos e da diversidade biológica (fauna e flora); iv) o capítulo 6, sobre a delimitação da estrutura ecológica municipal e da estratégia a adoptar na sua implementação. Estrutura Ecológica Municipal: Proposta Prévia_Setembro 2006 2

2. Conceito 1 de estrutura ecológica municipal A estrutura ecológica municipal constitui uma figura de ordenamento (ou de planeamento) do território que orientada por princípios de protecção dos recursos e sistemas naturais e consciente da necessidade de ocupação e transformação antrópica do território: i) determina quais os sistemas ecológicos fundamentais à sustentabilidade do território, estabelecendo, deste modo, umas diferenciação entre recursos que não deverão ser destruídos, daqueles cuja apropriação não condiciona o funcionamento do território; ii) equaciona as ocupações possíveis através da definição de novas paisagens, concebidas de acordo com critérios de sustentabilidade, critérios formais e critérios de utilidade social; iii) integra as áreas ecologicamente sensíveis (como é o caso das linhas de água e das áreas com risco de erosão) e áreas que pelo seu coberto vegetal e ocupação constituem valores naturais e/ou patrimoniais, cuja preservação se justifica para a manutenção da integridade, regeneração e identidade do território; iv) caracteriza-se através de um conjunto diversificado de usos, definidos de acordo com as características e localização de cada uma das áreas consideradas (salientamse, entre os usos possíveis, as actividades agrícolas e florestais, os espaços naturais, os espaços de recreio e lazer); v) constitui o suporte de actividades complementares às que são proporcionadas pelo tecido edificado. A estrutura ecológica municipal é composta por duas componentes, complementares entre si, desenvolvidas a diferentes níveis de planeamento territorial: estrutura ecológica fundamental, a ser desenvolvida no âmbito do Plano Director Municipal (e objecto deste trabalho) - integra as áreas que constituem o suporte dos sistemas ecológicos fundamentais e cuja protecção é indispensável ao funcionamento sustentável do território municipal (sistemas húmidos, áreas com riscos de erosão), bem como os recursos naturais que, pelo seu inquestionável valor, devem ser 1 - O conceito de estrutura ecológica surgiu nos primórdios da década de oitenta, assumindo Portugal um papel pioneiro em termos internacionais com a criação da Reserva Ecológica Nacional (REN) em 1983. Estrutura Ecológica Municipal: Proposta Prévia_Setembro 2006 3

salvaguardados de usos passíveis de conduzir à sua destruição e degradação de modo irreversível (solos de elevado potencial agrícola, habitats de elevado valor ecológico). estrutura ecológica urbana, a ser desenvolvida no âmbito de Plano de Urbanização - integra elementos da estrutura ecológica fundamental e elementos artificias (espaços verdes urbanos, logradouros, praças, largos, arruamentos com alinhamentos de árvores) existentes no espaço urbano consolidado e no espaço urbano em formação. Estrutura Ecológica Municipal: Proposta Prévia_Setembro 2006 4

3. Enquadramento legal No contexto do quadro legal português em vigor, o conceito de estrutura ecológica enquadra-se no âmbito da Lei de Bases do Ambiente (Lei n.º 11/87, de 7 de Abril), da Lei de Bases do Ordenamento do Território e Urbanismo (Lei n.º 48/98, de 11 de Agosto) e sua regulamentação, o Decreto-Lei n.º 380/99, de 22 de Setembro, e da Estratégia Nacional para a Conservação da Natureza e Biodiversidade (Resolução do Conselho de Ministros n.º 152/2001,de 11 de Outubro). O Decreto-Lei n.º 380/99 com a redacção dada pelo Decreto-lei n.º 310/2003, de 10 de Dezembro, refere no artigo 10.º, que a estrutura ecológica deverá ser identificada nos instrumentos de gestão territorial, correspondendo (art.º14.º) às áreas, valores e sistemas fundamentais para a protecção e valorização dos espaços rurais e urbanos, designadamente as áreas reserva ecológica. Mais adiante, no artigo 70.º coloca a definição da estrutura ecológica municipal ao nível dos planos municipais de ordenamento do território. Por sua vez, o art.º 85.º, que trata do conteúdo material do Plano Director Municipal, diz que este define um modelo de organização municipal do território, estabelecendo nomeadamente a definição dos sistemas de protecção dos valores e recursos naturais, culturais, agrícolas e florestais, identificando a estrutura ecológica municipal. A Portaria n.º 138/205, de 2 de Fevereiro, que fixa os elementos que devem acompanhar cada um dos planos municipais de ordenamento do território, determina que a carta da estrutura ecológica municipal constitui um dos elementos que acompanha o Plano Director Municipal. Por outro lado, o Plano Nacional da Politica de Ordenamento do Território (PNPOT), até há pouco tempo em discussão pública, para além de assumir o inequívoco carácter estratégicos dos PDM, refere que estes devem proceder à delimitação da Estrutura Ecológica Municipal e definir regras de gestão, em articulação com os regimes territoriais de protecção dos valores naturais e numa lógica de continuidade com os municípios vizinhos. Estrutura Ecológica Municipal: Proposta Prévia_Setembro 2006 5

No que se refere ao regime de uso do solo importa recordar que, no espírito da lei em vigor, este é definido através da classificação e qualificação do mesmo. A classificação assenta na distinção fundamental entre Solo Urbano 2 e Solo Rural 3. A qualificação regula o aproveitamento do solo em função da utilização dominante que nele pode ser instalada ou desenvolvida, fixando os respectivos usos, e quando admissível, a edificabilidade. Neste sentido, a qualificação do Solo Rural processa-se através da integração nas seguintes categorias 4 : i) espaços agrícolas ou florestais afectos à produção ou à conservação; ii) espaços de exploração mineira; iii) espaços afectos a actividades industriais directamente ligadas às utilizações referidas nas alíneas anteriores; iv) espaços naturais; v) espaços destinados a infra-estruturas ou a outros tipos de ocupação humana que não impliquem a classificação como solo urbano, designadamente permitindo usos múltiplos em actividades compatíveis com espaços agrícolas, florestais ou minerais. Da mesma forma, também o Solo Urbano se processa através da integração em categorias que conferem a susceptibilidade de urbanização ou edificação. As categorias são as seguintes: i) solos urbanizados ii) solos cuja urbanização seja possível programar; iii) solos afectos à estrutura ecológica necessários ao equilíbrio urbano. Assim e no que respeita à estrutura ecológica verifica-se que em Solo Urbano é uma categoria de espaço, no entanto em Solo Rural tal não acontece. 2 - Solo urbano é aquele para o qual é reconhecida vocação para o processo de urbanização e de edificação, nele se compreendendo os terrenos urbanizados ou cuja urbanização seja programada, constituindo o seu todo o perímetros urbano; 3 - Solo rural é aquele para o qual é reconhecida vocação para as actividades agrícolas, pecuárias, florestais ou minerais, assim como o que integra os espaços naturais de protecção ou lazer, ou que seja ocupado por infraestruturas que não lhe confiram o estatuto de solo urbano. 4 - Decreto lei n.º 380/99, de 22 de Setembro, artigo 73.º, n.º 2 Estrutura Ecológica Municipal: Proposta Prévia_Setembro 2006 6

4. Metodologia de trabalho A metodologia de trabalho utilizada para a delimitação da estrutura ecológica fundamental encontra-se esquematizada na figura 1 e corresponde às seguintes fases: i) fase 1 análise, desenvolvida ao nível das componentes biofísicas do território (relevo, hidrografia, litologia, solos, fauna e flora); ii) fase 2 síntese, com o objectivo de identificar as áreas, os valores e os sistemas fundamentais para a protecção e valorização ambiental do território, identificando a estrutura ecológica bruta ; iii) fase 3 proposta, definição da estrutura ecológica municipal. Figura 1 Esquema metodológico Estrutura Ecológica Municipal: Proposta Prévia_Setembro 2006 7

5. Estrutura Ecológica Municipal bruta Segundo uma abordagem morfológica da paisagem, os elementos fundamentais da estrutura ecológica municipal de Coimbra, resultantes da interpretação das componentes paisagísticas, ambientais e patrimoniais em presença no território, são: i) leitos e margens dos cursos de água Tal como noutras regiões que sofrem de influência mediterrânica, em Coimbra existem linhas de água que deixam de ter expressão nos períodos não chuvosos. Ignorar estas linhas de drenagem pode levar a consequências desastrosas, tanto ao nível do equilíbrio ecológico da paisagem, como ao nível da segurança e saúde das pessoas. Por sua vez, os ecossistemas ribeirinhos constituem corredores de conectividade de fluxos biológicos e de fluxos de matéria e energia. Pelas razões enunciadas considera-se que toda a rede hidrográfica, com destaque para os leitos dos cursos de águas principais e os ecossistemas a eles associados devem integrar a estrutura ecológica municipal. Figura 2 Linhas de água Estrutura Ecológica Municipal: Proposta Prévia_Setembro 2006 8

As linhas de água, tal como as margens ou zonas adjacentes, constituem elementos da paisagem com potencialidades únicas para a criação de locais de recreio e lazer, percursos cicláveis e pedonais, etc. Destruir o seu potencial é um erro estratégico, irremediável e irreversível. ii) Depósitos aluvionares Considera-se que os solos de aluvião, em meio urbano ou rural, constituem componentes fundamentais da estrutura ecológica da paisagem. Constituem zonas de primordial importância, que apresentam elevada capacidade de infiltração de água, contribuindo para a recarga de aquíferos subterrâneos, para além de, em muitas situações, se encontrarem associados a ecossistemas de elevado valor ecológico (ex. galeria ripícola). Os solos de aluvião, nomeadamente de fundo de vale, são ainda constituídos por formações de elevada aptidão para a agricultura. Figura 3 Depósitos aluvionares iii) Vegetação com interesse conservacionista A vegetação é entendida como um dos elementos indispensáveis à construção da estrutura ecológica municipal. Estrutura Ecológica Municipal: Proposta Prévia_Setembro 2006 9

Figura 4 Vegetação com interesse conservacionista Esta desempenha um papel fundamental na paisagem, em particular no meio urbano. Para além de transformar dióxido de carbono em oxigénio (efeito pulmão), as plantas desempenham um papel termoregulador da temperatura do ar, constituindo o habitat de diversas espécies faunísticas. O coberto vegetal, tanto em meio urbano como rural, constitui uma protecção do solo relativamente ao efeito erosivo provocado pelas águas das chuvas. Em termos ecológicos, a importância de áreas verdes é tanto maior quanto a importância específica das espécies que as compõem ou do seu valor enquanto ecossistemas, o que levou à identificação de diversas situações com elevada sensibilidade e de interesse conservacionista, como são pequenas manchas de vegetação autóctone (ainda existente) dos domínio climácicos do sobreiral, do cercal, do freixial e de vegetação paludosa, as matas do Choupal ou Vale de Canas (áreas sujeitas ao regime florestal total) ou os grandes espaços verdes urbanos, como o Jardim Botânico, a Parque de Santa Cruz, etc. Estrutura Ecológica Municipal: Proposta Prévia_Setembro 2006 10

iv) Áreas protegidas e áreas classificadas zonas de protecção especial e Sítios da Lista Nacional de Sítios Tratam-se de áreas onde se devem garantir a conservação dos habitats e das populações das espécies (animais e vegetais) que neles vivem, em função das quais as referidas zonas foram classificadas. Figura 4 Reserva Natural, ZPE e Sitio Natura Paul de Arzila Correspondem a áreas protegidas - Reserva Natural do Paul de Arzila e a áreas classificadas - Zona de Protecção Especial para Avifauna (ZPE) do Paul de Arzila e ao Sitio PTCON0005 Paul de Arzila. v) Solos de elevado valor ecológico À escala da vida humana, o recurso solo é considerado não renovável (segundo Ário Lobo de Azevedo, os valores mais elevados de criação natural do solo conhecidos são da ordem do 1 mm/ano). Este recurso tem vindo a ser objecto de destruição sistemática em todo o mundo e a situação de tal forma grave que a Carta Europeia dos Solos, publicada pelo Conselho da Europa em 1972, já encarava este recurso como um bem raro, sensível e Estrutura Ecológica Municipal: Proposta Prévia_Setembro 2006 11

dificilmente renovável, e declarou a protecção do solo arável como um objectivo prioritário de planeamento a todos os níveis desde o rural ao urbano. Figura 5 Solos de elevado valor ecológico Embora no município de Coimbra os solos com elevada capacidade de produção de biomassa ainda sejam significativos (dada a feliz presença da planície aluvionar do Rio Mondego e suas digitações), quando comparados com outros municípios, a sua preservação é necessária. A actividade agrícola deve aqui ser encarada nas suas múltiplas funções, desde a integração social, à mais global, da manutenção do equilíbrio biológico da paisagem. Neste sentido, será desejável que estes solos sejam mantidos num regime non aedificandi e livres de outros usos incompatíveis com a manutenção da sua fertilidade. No interior dos perímetros urbanos, as características destes solos com elevada capacidade produtiva, que lhe conferem maior capacidade para a agricultura (maior disponibilidade de água e matéria orgânica), são as mesmas que permitem instalar espaços verdes com maior viabilidade vegetativa, e que, com menores custos de execução e manutenção, suportam maior carga de utilização. Estrutura Ecológica Municipal: Proposta Prévia_Setembro 2006 12

vi) Áreas ameaçadas pelas cheias Estas áreas correspondem a áreas contíguas às margens das linhas de água atingidas por cheias num período centenário. Materializam o extravasar do leito, por crescimento contínuo da vazão, para além do canal natural ou artificial de confinamento, quer em área urbana quer em área rural. Figura 6 Áreas sujeitas a inundações Tendo em conta a sensibilidade ecológica destas áreas a edificação deve ser restringida a equipamentos pontuais de apoio à agricultura ou ao recreio e lazer. As características destas áreas conferem-lhe grande capacidade para a agricultura e em meio urbano estas mesmas características permitirão instalar espaços verdes. vii) Áreas susceptíveis a movimentos de massa A susceptibilidade a movimentos de massa, baseada no cruzamento de factores condicionantes (características geologias/geotécnicas das unidades líticas reconhecidas no município, declive e densidade de fracturação a partir da interpretação tectono-estrutural) devem, pelo risco que representam, integrar a estrutura ecológica. Estrutura Ecológica Municipal: Proposta Prévia_Setembro 2006 13

Figura 7 Áreas de susceptibilidade a movimentos de massa Traduzem áreas com instabilidade potencial ou declarada, com recorrentes evidências de movimentos em estado latente ou activos. Pequenas alterações da cobertura vegetal, alterações da topografia com escavação ou colocação de aterros, ou a alteração da drenagem favorecem a actividade podendo envolver volumes e espessuras consideráveis de massas deslocadas. Restrições na ocupação e condições específicas de projecto devem ser implementadas para estas zonas, não sendo qualquer uso que não seja o uso florestal. Identificadas as áreas, os valores e os sistemas fundamentais para a protecção e valorização ambiental do território de Coimbra, optou-se por sistematizar a informação base em cartograma, denominado carta da estrutura ecológica municipal bruta. Estrutura Ecológica Municipal: Proposta Prévia_Setembro 2006 14

Figura 8 Estrutura ecológica municipal bruta Nas figuras seguintes mostra-se sobreposição da estrutura ecológica bruta com algumas das componentes biofísicas consideradas, bem como com a RAN e com a proposta de redelimitação da REN, recentemente apresentada pela CCDRC. Estrutura Ecológica Municipal: Proposta Prévia_Setembro 2006 15

Figura 9 - Estrutura ecológica bruta e os solos aluvionares Figura 10 Estrutura ecológica bruta e a vegetação com interesse conservacionista Estrutura Ecológica Municipal: Proposta Prévia_Setembro 2006 16

Figura 11 Estrutura ecológica bruta e as áreas protegidas e classificadas Figura 12 estrutura ecológica e os solos de elevado valor ecológico Estrutura Ecológica Municipal: Proposta Prévia_Setembro 2006 17

Figura 13 estrutura ecológica bruta e as áreas ameaçadas pelas cheias Figura 14 estrutura ecológica bruta e as áreas susceptíveis a movimentos de massa Estrutura Ecológica Municipal: Proposta Prévia_Setembro 2006 18

Figura 15 estrutura ecológica bruta e a RAN Figura 16 estrutura ecológica bruta e a REN Estrutura Ecológica Municipal: Proposta Prévia_Setembro 2006 19

6. Estrutura Ecológica Municipal Para a efectiva delimitação da estrutura ecológica municipal teve-se em conta a ocupação actual do território e as propostas de classificação e qualificação do solo (nomeadamente do solo urbano) na fase actual de revisão do PDM, tendo-se procedido aos ajustes necessários de forma a que os limites fossem coincidentes. A proposta de estrutura ecológica municipal de Coimbra (Figura 17) que corresponde a cerca de 11 443 hectares (35,8 % da área do município).assenta em primeiro lugar (fundamental) na consideração dos espaços biofisicamente sensíveis, como sejam as linhas de água e suas margens, as zonas aluvionares e as ameaçadas pelas cheias, os solos de elevado valor produtivo, as áreas susceptíveis a movimentos de massa e as áreas de especial interesse para a conservação da natureza. Figura 19 estrutura ecológica municipal: proposta prévia de delimitação Estrutura Ecológica Municipal: Proposta Prévia_Setembro 2006 20

A estrutura ecológica municipal, como referido ao longo do texto, deve ser a base do modelo territorial que suporta a revisão do PDM, assente num modelo de sustentabilidade que garanta o funcionamento dos principais sistemas ecológicos (água, ar, solo, flora e fauna) e que, simultaneamente, se integre de forma harmoniosa num território onde existe uma cada vez maior dicotomia urbano/rural. É neste sentido que se destaca, desde já a importância dos territórios não construídos como elementos activos, possuidores de qualidades específicas (biofísicas, culturais, estéticas, produtivas, etc.) caracterizadoras de novas paisagens e territórios concelhios. Deve, ainda, ser encarada com um sistema de territórios fundamentais para o funcionamento das dinâmicas naturais, com fins e aptidões diversos mas complementares ente si, como as actividades agro-florestais, a conservação da natureza, o recreio e o turismo, onde a edificação deve ser restringida a equipamentos pontuais de apoio à agricultura e floresta, ao recreio e lazer. A sua regulamentação estabelecimento de parâmetros de ocupação de utilização do solo - deverá assegurar a compatibilização das funções de protecção, regulação e enquadramento com os usos produtivos, o recreio e o bem-estar das populações. Em síntese, pretende-se que estrutura ecológica municipal se enquadre na estrutura verde municipal e integre um modelo de território que obedeça a critérios de sustentabilidade, contribua para um crescimento ordenado, contemple o conhecimento das estruturas da paisagem existente e potencie a salvaguarda e o funcionamento dos sistemas ecológicos em presença no território. Estrutura Ecológica Municipal: Proposta Prévia_Setembro 2006 21

7. Bibliografia Magalhães, Manuela Raposo, A Arquitectura Paisagista, Morfologoia e Complexidade, Editorial Estampa, 2001; Andresen, Teresa, Textos vários. Estrutura Ecológica Municipal: Proposta Prévia_Setembro 2006 22