TJ - SP Direito Penal Dos Crimes Praticados Por Funcionários Públicos Emerson Castelo Branco

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Transcrição:

TJ - SP Direito Penal Dos Crimes Praticados Por Funcionários Públicos Emerson Castelo Branco 2012 Copyright. Curso Agora eu Passo - Todos os direitos reservados ao autor.

DOS CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO CONTRA A ADMINISTRAÇÃO Crime de peculato EM GERAL Art. 312 Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: Pena reclusão, de dois a doze anos, e multa. 1.º Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário. 2.º Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem: Pena detenção, de três meses a um ano. 3.º No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta. Objeto jurídico protegido: patrimônio público. Objeto material: dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel. Atenção! Se for bem imóvel, não pode ser objeto material do crime de peculato. Sujeito ativo: funcionário público (crime próprio) Sujeito passivo: Estado. Peculato apropriação A conduta consiste em se apropriar o funcionário público de dinheiro, valor ou outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, em proveito próprio ou alheio. Atenção! Peculato malversação O bem pode ser particular, desde que esteja Prof. Emerson Castelo Branco 2

sob a responsabilidade da Administração Pública. Nesse caso, o peculato é chamado de peculato malversação (ex.: autoridade policial que se apropria de bens que foram recolhidos do preso e estavam sob sua custódia). Atenção! Existe peculato de mão de obra? Não. Como não se trata exatamente de bem, nem de dinheiro, nem de valor, e sim de prestação de serviço, não caracteriza peculato. Peculato desvio O peculato desvio consiste na conduta da autoridade pública que desvia dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, em proveito próprio ou alheio. Entretanto, não o incorpora em seu patrimônio. Desvia a posse para fins privados, diversos do interesse público. Exemplo: agente que empresta dinheiro público para um amigo. Caso fosse entregue em definitivo, seria peculato-apropriação. Peculato furto Consiste na conduta do agente que subtrai dinheiro, valor ou bem da Administração Pública, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário ( 1.º, art. 312 do CP). Peculato culposo É a conduta do funcionário público que concorre culposamente para o crime de terceira pessoa ( 2.º, art. 312, do CP). Atenção! Pressuposto indispensável desse delito é a existência de um crime doloso cometido por terceiro, aproveitando-se do erro do funcionário. E se a negligência da autoridade não gerou a prática de crime algum cometido por terceiro? Nesse caso, não haverá peculato culposo. Configura apenas falta administrativa. Reparação do dano no peculato culposo O 3.º, do art. 312, do Código Penal, dispõe que a reparação do dano, se ocorre antes da sentença penal condenatória transitada em julgado (sentença irrecorrível), extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta. Atenção! No peculato doloso, a reparação do dano não gera a extinção da punibilidade. Prof. Emerson Castelo Branco 3

Peculato mediante erro de outrem Art. 313 Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício do cargo, recebeu por erro de outrem. Pena reclusão, de 1 a 4 anos, e multa. Objeto jurídico: patrimônio público. Objeto material é o dinheiro ou outra utilidade. Sujeito ativo é o funcionário público. Sujeito passivo: Estado. Elemento subjetivo: dolo. Não admite forma culposa A conduta consiste na ação do agente que se apropria de dinheiro ou outra utilidade que recebeu por erro de outrem, no exercício do cargo público. Atenção! Esse erro, em hipótese alguma, pode ser provocado pelo agente criminoso. Em outras palavras, o terceiro erra e entrega o bem sem ser induzida a isso. Inserção de dados falsos em sistema de informações Art. 313-A Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inserção de dados falsos, alterar ou excluir indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos de dados da Administração Pública com o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar dano: Pena reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. Objeto jurídico: proteção do conjunto de dados que compõe as informações da Administração. Objeto material: dados dos sistemas informatizados ou banco de dados no âmbito da Administração. Sujeito ativo é aquele lotado no órgão incumbido de cuidar dos sistemas informatizados ou banco de dados da administração pública. Consiste na vontade de inserir ou facilitar a inclusão de dados falsos; ou a Prof. Emerson Castelo Branco 4

alteração ou exclusão indevida de dados corretos nos sistemas informatizados. O crime se consuma independentemente da obtenção da vantagem indevida ou do dano. Atenção! Recebe a denominação de peculato eletrônico. Modificação ou alteração não autorizada de sistema de informações Art. 313-B Modificar ou alterar, o funcionário, sistema de informações ou programa de informática sem autorização ou solicitação de autoridade competente: Pena detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, e multa. Parágrafo único. As penas são aumentadas de um terço até a metade se da modificação ou alteração resulta dano para a Administração Pública ou para o administrado. Objeto jurídico: interesse de assegurar o regular funcionamento da Administração Pública. Consiste na vontade de modificar ou de alterar sistemas de informações ou programas de informática. Diferentemente do anterior, o dolo neste é genérico, isto é, não importa a finalidade do agente. Extravio, sonegação ou inutilização de livro ou documento Art. 314 Extraviar livro oficial ou qualquer documento, de que tem a guarda em razão de cargo; sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente: Pena reclusão, de um a quatro anos, se o fato não constitui crime mais grave. Objeto jurídico protegido: interesse de proteger a Administração Pública. O crime se consuma com extravio, com a sonegação, ou com a inutilização do documento, mesmo que não haja efetivo prejuízo. Emprego irregular de verbas ou rendas públicas Art. 315 Dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da estabelecida em lei: Pena detenção, de um a três meses, ou multa. Objeto jurídico: proteção do regular desenvolvimento das atividades da Administração Pública. O crime consiste apenas em empregar as verbas ou rendas públicas em prol da Prof. Emerson Castelo Branco 5

própria Administração. Se existir subtração, desvio ou apropriação em proveito próprio ou alheio, haverá crime de peculato, e não este delito. Concussão Art. 316 Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-ia, mas em razão dela, vantagem indevida. Pena reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa. Objeto jurídico: regular desenvolvimento das atividades da Administração Pública. A consumação ocorre no momento da exigência, ainda que o agente não obtenha o fim desejado (crime formal). Admite-se a forma tentada. A concussão pode ser: a) direta - Quando a exigência for realizada pelo próprio funcionário b) indireta - Quando realizada por intermediário. Pode ainda ser: a) explícita ameaça clara. b) implícita - quando o funcionário faz a ameaça por meio de alusões ou linguagem figurada. Atenção! O crime pressupõe a obrigatória relação entre a função exercida pelo agente e a coação. Se a ameaça não tem relação com a função do agente, haverá outro crime, como, por exemplo, extorsão ou roubo. Excesso de exação Art. 316, 1.º Se o funcionário exige imposto, taxa ou emolumento que sabe ou deveria saber indevido, ou quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza. Pena reclusão, de três a oito anos, e multa. Objeto jurídico: regular desenvolvimento das atividades da Administração no âmbito da atividade fiscal de cobrança de tributos. A norma penal se divide em duas condutas: a) O agente cobra indevidamente tributo destinado a Administração. Prof. Emerson Castelo Branco 6

b) O tributo é devido, contudo o agente emprega meio vexatório ou gravoso na cobrança. Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de outrem, o que recebeu indevidamente para recolher aos cofres públicos, haverá a forma qualificada do delito ( 2.º, art. 316, do Código Penal), cuja pena será de reclusão, de dois a doze anos, e multa. Corrupção passiva Art. 317 Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-ia, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem. Pena reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. 1.º A pena é aumentada de um terço, se, em conseqüência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional. 2.º Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem: Pena detenção, de três meses a um ano, ou multa. Objeto jurídico: é o regular desenvolvimento das atividades da Administração Pública. A consumação ocorre no momento da solicitação, ou do recebimento, ou ainda da aceitação da promessa, ainda que o agente não obtenha a vantagem indevida. Atenção! Qual a exata diferença entre os crimes de concussão e de corrupção passiva? Na concussão, existe ameaça, coação; enquanto na corrupção passiva, existe um mero pedido. Atenção2! No momento da solicitação, o funcionário não precisa estar no exercício de suas funções? Não O crime pode se configurar mesmo que o agente esteja de férias, ou licença, ou ainda não ter tomado posse, desde que a solicitação seja concernente às suas funções. Pode ser: a) Própria Se a vantagem indevida for para o funcionário cometer alguma irregularidade, ilegalidade. b) Imprópria Se a vantagem indevida for para o funcionário público praticar ato regular, perfeitamente lícito, decorrente do seu dever legal. Prof. Emerson Castelo Branco 7