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Transcrição:

TRABALHOS TÉCNICOS Divisão Econômica AUMENTO DA OFERTA DE CRÉDITO E SALÁRIO MÍNIMO Antônio Everton Júnior Economista Numa economia como a brasileira, fortemente caracterizada pelas atividades informais que, segundo o IPEA alcançam a metade do PIB, o Brasil vem conseguindo reduzir com muita sabedoria o universo de informais, dando passos largos para isso. Constituindo-se talvez no maior programa de inclusão social do mundo, desde o lançamento do empreendedor individual, em julho de 2009, mais de 1,9 milhão de empreendedores decidiram sair da informalidade e se cadastraram na Receita Federal, optando pelas vantagens de participar da economia regulamentada e passando a usufruir benefícios previdenciários. Com a virada de ano, os empreendedores individuais tiveram o teto de faturamento anual corrigido de R$ 36 mil para R$ 60 mil. São mais de 450 atividades econômicas permitidas pela lei, para que o empreendedor possa inscrever-se no site da Receita Federal e participar dos registros oficiais como (micro) empresário, ganhando, assim, o direito de vir a ser reconhecido legalmente pelo sistema bancário e comercial, tendo maiores oportunidades para crescer do que antes. Um grande problema para os empreendedores são as dificuldades de conseguir crédito e apresentar garantias, fatos que criam barreiras para a expansão do negócio, afligindo as pessoas, sendo determinantes para o impedimento do aumento da renda e da qualidade de vida. Visando a minorar esse tipo de barreira do crescimento, no começo do ano uma boa notícia: o Banco Central (Bacen) estabeleceu que 2% dos saldos de depósitos à vista devem ser aplicados em microcrédito e, destes, 80% devem destinar-se ao tipo produtivo orientado. O governo espera que o montante a ser movimentado possa atingir R$ 3 bilhões no curto intervalo de dois anos, utilizando, para fins de incrementar o volume da oferta de crédito e facilitar o acesso das pessoas a recursos de baixa monta, os seguintes bancos públicos: Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Banco do Nordeste do Brasil e Banco da Amazônia. Mais para frente, a medida pode estender-se aos bancos privados que queiram aderir ao programa.

2 Pelas novas regras ditadas pelo Bacen, as autoridades governamentais esperam atingir contingente de 3,4 milhões de pessoas, entre novos e antigos clientes bancários. Para ter acesso ao crédito, será preciso ter conta nos bancos. Para isso, basta o CPF e o comprovante de residência. A iniciativa é voltada para informais, empreendedores individuais e empresas com faturamento anual de até R$ 120 mil. As medidas consistem no avanço do Programa Crescer Programa Nacional de Microcrédito (produtivo orientado), porque deverão acarretar o aumento da participação dos empreendedores com menor renda. Considerando que no país existe um público potencial de tomadores de microcrédito estimado entre 10 e 12 milhões de pessoas, a medida pode ser vista como auspiciosa, já que procura atingir um terço desta população passo importante para melhorar as condições materiais em que vive contingente expressivo de empreendedores de baixa renda. Para que o programa seja mesmo transformador e vantajoso, o governo subvencionará cerca de R$ 500 milhões por ano para equalização da taxa de juros, a fim de reduzir o custo da operação, de modo que o empréstimo/financiamento fique atraente. Para isso, adotou medidas facilmente digestivas para os que precisam tomar recursos: reduziu a taxa de abertura de crédito cobrada sobre o valor da operação de 3% para 1%; baixou os juros do microcrédito, que antes eram de até 60% para apenas 8% ao ano, ou seja, algo em torno de 0,64% ao mês; fixou em R$ 15 mil o teto por operação e em R$ 20 mil o limite que uma pessoa poderá ter de crédito. No atual contexto de taxas de juros decrescentes da economia brasileira, os juros do Programa Crescer Programa Nacional de Microcrédito só devem superar a TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo) do BNDES, voltada às grandes organizações, que está hoje em 6% ao ano. Situada um pouco acima da TJLP, a taxa do microcrédito de 8% é bem menor do que a taxa das operações do Cartão BNDES, hoje em 0,97% ao mês, pouco mais de 12% ao ano, operações cada vez mais utilizadas pelas pequenas e médias empresas nos seus investimentos produtivos, mas que o público do microcrédito também não tem condições de acessar. A taxa mensal de pagamento do microcrédito é ligeiramente maior que a taxa de rendimento da caderneta de poupança (0,5% mais TR), cujo ganho efetivo é de pelo menos 6,17% ao ano, aplicação conservadora para a maioria dos poupadores no mercado e percebida algumas vezes como pouco atraente.

3 O nível de juros de 8% ao ano é sem dúvida infinitamente menor do que se a pessoa recorresse ao uso do cheque especial, do cartão de crédito, do crédito direto ou se procurasse outras linhas de financiamento tradicionais oferecidas pelos bancos. Como o foco são as pessoas de baixa renda, a combinação do acesso e da expansão do crédito normalmente pode terminar por acarretar em transformações socioeconômicas positivas notadamente se o empreendimento tiver sucesso. Para reforçar a ideia de que os benefícios do microcrédito são maiores do que os custos, existe um estudo da Fundação Getúlio Vargas que afirma que 60% dos beneficiários do Crediamigo (microcrédito do BNB) conseguiram sair da pobreza extrema em um ano. As novas normas do Bacen fazem diferença e, ao que parece, servem como um sinalizador de que o governo decidiu empenhar-se no sentido de diminuir a pobreza através de ações mais ousadas, que oferecem o custo do dinheiro num patamar baixíssimo, incentivando o mercado produtivo. A comparação entre o público potencial que necessita receber o microcrédito no Brasil, contingente que vai de 10 a 12 milhões de pessoas, e o estimado para beneficiar-se com o Programa, perto de 3,4 milhões, permite concluir que ainda há muita coisa para ser feita em favor da diminuição da pobreza e da inclusão de pessoas no mercado produtor dos bens e serviços finais. O programa visa ao incremento da produção seguido da melhoria da qualidade de vida, face às consequências esperadas sobre a economia, com a elevação da oferta e seu impacto junto aos agentes empreendedores de menor renda. Tudo isso graças aos raios de ação dos bancos oficiais, braços do governo que vão lidar com o programa. Um indicador de que o programa tem fundamentos consistentes para vir a dar certo, conseguindo diminuir a pobreza e trazendo prosperidade, é o amplo espaço que tem recebido dos meios midiáticos. A cobertura da imprensa sobre o microcrédito neste começo de ano tem ganhado um espaço cada vez maior, e tem saído muita informação no rádio e na televisão, também. Isso porque o microcrédito tem sido visto como a chave da porta de entrada para milhões de pessoas no sentido de alcançarem uma vida digna e produtiva, lastreada em condições financeiras maiores, tendo como consequência a melhoria da qualidade de vida. Tal fato implica haver maior mobilidade social para os menos favorecidos devido aos efeitos do microcrédito e do trabalho despendido para incrementar a atividade produtora. Janeiro de 2012 Trabalhos Técnicos

4 Pelas contingências da política de reajuste do salário mínimo, o fenômeno esperado com a expansão do acesso ao microcrédito pode conotar sem querer uma via de mão dupla, cujos sentidos contrários por terem efeitos convergentes paradoxalmente se encontram mais para frente. Para que isso seja verdade, é importante ressaltar a vizinhança geográfica, a proximidade das relações de troca entre o público recipiente do salário mínimo e o público que pode acessar o microcrédito. São públicos de baixa renda que possuem estreita ligação nos laços comerciais, nas relações de produção e consumo. Assim considerado, de um lado tem-se o programa de microcrédito, com enorme potencial para expandir-se, em virtude da capilaridade dos agentes bancários atuantes para mitigar a carência de recursos dos empreendedores e das empresas de menor porte que almejam produzir mais e melhor para aproveitar a conjuntura do promissor mercado doméstico. Do outro lado, tem-se a demanda potencial crescente, em virtude do aumento do poder aquisitivo do salário mínimo. Nessas condições, a produção do segmento de empreendedores de baixa renda muito provavelmente deverá ser influenciada e fomentada pelo aumento da demanda devido à capacidade de maior gasto do público do seu entorno. O salário mínimo subiu em termos nominais mais de 14% a partir de janeiro, apresentando crescimento real de 8% caso se suponha inflação de 6%. Hoje esta variável importantíssima para a economia brasileira está valendo R$ 622,00. Estima-se que o novo salário mínimo seja responsável pela injeção de recursos na economia na casa dos R$ 47 bilhões durante o ano. São aproximadamente 48 milhões de pessoas com vencimentos vinculados ao salário mínimo: 19,7 milhões de beneficiários do INSS; 13,8 milhões de empregados de empresas públicas ou privadas; 8,7 milhões de pessoas que trabalham por conta própria; 5 milhões de empregados domésticos; e 203 mil de patrões. Cabe acrescentar que a importância do salário mínimo na economia brasileira não para por aí. Esta conta tem abrangência significativa também no setor informal, principalmente nas regiões mais pobres, onde serve de referência para a formação das remunerações do setor.

5 Projeta-se que, por causa do mínimo, haja um aumento da arrecadação tributária sobre o consumo (IPI, ICMS e ISS) de aproximadamente R$ 22,9 bilhões. O maior problema do reajustamento do salário mínimo provém do seu peso nas contas da Previdência. Cerca de 68,2% dos benefícios pagos equivalem a um mínimo. Fazendo cálculos, cada R$ 1,00 de aumento dos benefícios implica no aumento de R$ 257 milhões na folha de pagamento da Previdência. Janeiro de 2012 Trabalhos Técnicos