42 INFORMATIVO TRIBUTÁRIO NESTA EDIÇÃO 1 2 3 Regras de subcapitalização Remessas para pessoas físicas ou jurídicas em países ou dependências com tributação favorecida ou sob regime fiscal privilegiado Dedutibilidade condicionada Preços de transferência - Margem de lucro no método PRL 4 5 6 7 Multas de ofício - Imposto de Renda da Pessoa Física Variação cambial Regime de reconhecimento Programa especial e pagamento à vista ou parcelamento de débitos REFIS 4 - Aspecto relevante MEDIDA PROVISÓRIA Nº 472/09 CONVERTIDA NA LEI Nº 12.249/10 (REGRAS DE SUBCAPITALIZAÇÃO E OUTROS DISPOSITIVOS IMPORTANTES) A Medida Provisória nº 472, de 15 de dezembro de 2009, objeto do nosso Informativo nº 37, foi convertida na Lei nº 12.249, de 11 de junho de 2010, publicada no Diário Oficial da União em 14 de junho de 2010. A Lei nº 12.249/10 manteve a maioria das regras de natureza tributária instituídas pela Medida Provisória nº 472/09, mas também alterou e acrescentou determinadas disposições importantes. A partir dos comentários já veiculados em nosso Informativo nº 37 (que reenviamos anexo para facilitar a referência), destacamos abaixo os principais pontos alterados e/ou incluídos pela Lei nº 12.249/10. Ressaltamos que, em relação aos pontos abordados no presente informativo, a Lei nº 12.249/10, nos termos do seu art. 139, I, d, entra em vigor na data da sua publicação, mas produz efeitos desde 16 de dezembro de 2009. 1. Regras de subcapitalização Arts. 24 e 25 da Lei nº 12.249/10 Conforme comentado em nosso Informativo nº 37, antes da edição da Medida Provisória nº 472/09, não havia, no Brasil, dispositivo legal que impusesse proporções mínimas entre endividamento e patrimônio líquido das pessoas jurídicas (denominadas regras de subcapitalização, ou thin capitalization rules ). A partir da Medida Provisória nº 472/09, e considerando as novas disposições introduzidas pela Lei nº 12.249/10, as pessoas jurídicas brasileiras passaram a ser obrigadas a observar regras dessa natureza no que tange à dedutibilidade, na apuração do lucro real e base de cálculo da CSLL, dos juros relativos aos empréstimos contraídos com: 1 www.taxand.com
(i) Pessoa vinculada residente ou domiciliada no exterior, tal como definido para fins de aplicação das normas de preços de transferência (art. 23 da Lei nº 9.430/96), que não sejam residentes ou domiciliadas em país ou dependência de tributação favorecida (art. 24 da Lei nº 9.430/96) e que não estiverem sob regime fiscal privilegiado (art. 24-A da Lei nº 9.430/96); ou (ii) Pessoa física ou jurídica residente ou domiciliada em país ou dependência de tributação favorecida (art. 24 da Lei nº 9.430/96) ou sob regime fiscal privilegiado (art. 24-A da Lei nº 9.430/96). Com relação à hipótese (i), a Medida Provisória nº 472/09 impunha limite de endividamento de duas vezes o valor da participação da pessoa vinculada no patrimônio líquido da pessoa jurídica brasileira, não contemplando situação em que a pessoa vinculada não era titular direta de tal participação societária (por exemplo, subsidiária ou filial da pessoa jurídica brasileira). A Lei nº 12.249/10 manteve o referido limite para situações em que a pessoa vinculada credora é titular direta de participação societária e incluiu regras para dedutibilidade dos juros no caso de endividamento com pessoa jurídica vinculada no exterior que não seja titular direta de participação societária. Neste caso, o valor do endividamento com a pessoa jurídica vinculada no exterior, verificado por ocasião da apropriação dos respectivos juros, estará limitado a duas vezes o valor do patrimônio líquido total da pessoa jurídica residente no Brasil. Tanto na hipótese de endividamento com pessoa vinculada no exterior que seja ou não titular direta de participação societária na pessoa jurídica domiciliada no Brasil, o valor dedutível dos juros do somatório dos endividamentos com pessoas vinculadas no exterior, verificado por ocasião de sua apropriação, estará limitado a duas vezes o valor do somatório das participações de todas as vinculadas no patrimônio liquido da pessoa jurídica residente no Brasil. No caso de endividamento exclusivamente com pessoas vinculadas no exterior que não sejam titulares diretas de participação societária na pessoa jurídica domiciliada no Brasil, o somatório dos valores dedutíveis de endividamento com todas as vinculadas sem participação no capital da entidade brasileira, verificado por ocasião da apropriação dos juros, estará limitado a duas vezes o valor do patrimônio liquido total da pessoa jurídica residente no Brasil. Com relação à hipótese (ii), foi excluído o requisito de se verificar limite de endividamento isoladamente por operação, tendo sido mantido o requisito de que o valor do somatório dos endividamentos com pessoas físicas ou jurídicas residentes ou domiciliadas em país ou dependência com tributação favorecida ou sob regime fiscal privilegiado não podem superar 30% do valor total do patrimônio líquido da pessoa jurídica brasileira. A propósito, relembramos a recente edição da Instrução Normativa RFB nº 1.037/10, em que a Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB) endereçou estes dois conceitos (tributação favorecida e regime fiscal privilegiado) de forma distinta. A Instrução Normativa RFB nº 1.037/10 foi abordada em nosso Informativo nº 41. Nas hipóteses (i) e (ii), os valores de endividamento e de patrimônio líquido da pessoa jurídica brasileira serão apurados pela média ponderada mensal. 2 Por fim, a Lei nº 12.249/10 excetuou expressamente de tais regras de subcapitalização as operações de captação feitas no exterior de recursos utilizados em operações de repasse por bancos comerciais, bancos de investimentos, bancos de desenvolvimento, caixas econômicas, sociedades de crédito, financiamento e investimento, sociedades de crédito imobiliário, sociedades corretoras, distribuidoras de títulos e valores mobiliários, empresas de arrendamento mercantil, cooperativas de crédito, empresas de seguros privados e de capitalização, agentes autônomos de seguros privados e de crédito e entidades de previdência privada abertas e fechadas, nos termos definidos pela RFB.
2. Remessas para pessoas físicas ou jurídicas em países ou dependências com tributação favorecida ou sob regime fiscal privilegiado Dedutibilidade condicionada Art. 26 da Lei nº 12.249/10. Como comentado em nosso Informativo nº 37, desde a Medida Provisória nº 472/09, as importâncias que forem pagas, creditadas, entregues, empregadas ou remetidas, a qualquer título, direta ou indiretamente, por pessoas jurídicas domiciliadas no Brasil, para pessoas físicas ou jurídicas residentes ou domiciliadas no exterior e submetidas a tratamento de país ou dependência com tributação favorecida (art. 24 da Lei nº 9.430/96) ou sob regime fiscal privilegiado (art. 24-A da Lei nº 9.430/96), devem ser consideradas, via de regra, não-dedutíveis na apuração do lucro real e da base de cálculo da CSLL da pessoa jurídica brasileira, exceto se as seguintes condições forem cumulativamente cumpridas: Identificação do efetivo beneficiário da entidade no exterior, considerando-se como tal a pessoa física ou jurídica que não tiver sido constituída com o único ou principal objetivo de economia tributária e que aufira as importâncias por sua própria conta e não como agente, administrador fiduciário ou mandatário por conta de terceiro; Comprovação da capacidade operacional da pessoa física ou jurídica no exterior que realizar a operação; e Comprovação documental de que o preço foi pago e de que os bens ou direitos foram recebidos, ou que os serviços foram utilizados. A Lei nº 12.249/10 excetuou expressamente da regra acima citada juros sobre capital próprio, objeto do art. 9 o da Lei nº 9.249/95. Outra novidade trazida pela Lei nº 12.249/10 foi a desnecessidade de comprovação de capacidade operacional acima mencionada nos casos de operações (i) que não tenham sido efetuadas com o único ou principal objetivo de economia tributária e (ii) cuja beneficiária das importâncias pagas, creditadas, entregues, empregadas ou remetidas a título de juros seja subsidiária integral, filial ou sucursal da pessoa jurídica remetente domiciliada no Brasil e que tenha seus lucros auferidos no exterior tributados na forma do art. 74 da Medida Provisória nº 2.158-35/01. 3. Preços de transferência - Margem de lucro no método PRL A Medida Provisória nº 472/09, por meio de seu art. 61, II, havia revogado o art. 2º da Lei nº 9.959/00, base legal da aplicação das margens de lucro de 20% e de 60%.Com a edição da Medida Provisória nº 476, de 23 de dezembro de 2009, o referido art. 61 foi revogado, restaurandose expressamente os efeitos do citado art. 2º da Lei nº 9.959/00. 4. Multas de ofício Imposto de Renda da Pessoa Física Com as alterações introduzidas pela Lei nº 12.249/10, a multa de ofício de 75% passou a ser aplicada apenas à parcela do imposto de renda a restituir informado pelo contribuinte pessoa física na Declaração de Ajuste Anual que deixar de ser restituído em razão da constatação de infração à legislação tributária. Isto é, a Lei nº 12.249/10 não mais impõe a referida multa de ofício de 75% sobre o valor das deduções e compensações indevidas informadas na Declaração de Ajuste Anual da pessoa física, como previa a Medida Provisória nº 472/09. 3
5. Variações cambiais - Regime de reconhecimento A legislação em vigor dispõe que receitas ou despesas decorrentes de variações cambiais de direitos de crédito e de obrigações do contribuinte serão reconhecidas, via de regra, para efeito de determinação do lucro real e da base de cálculo da CSLL, PIS e COFINS, bem assim da determinação do lucro da exploração, segundo o regime de caixa (i.e., quando da liquidação da correspondente operação), sendo permitido à pessoa jurídica optar pelo regime de competência. Tal opção será válida para todo o ano-calendário. De acordo com as novas regras estabelecidas pela Lei nº 12.249/10, a partir do ano-calendário de 2011, o direito de efetuar a opção pelo regime de competência somente poderá ser exercido pela pessoa jurídica no mês de janeiro do respectivo ano-calendário, sendo permitida alteração do regime adotado, no decorrer de tal ano-calendário, apenas se houver elevada oscilação da taxa de câmbio. Para esse fim, considerar-se-á elevada oscilação da taxa de câmbio aquela superior a percentual a ser determinado pelo Poder Executivo. A RFB deve ser comunicada da opção feita pelo contribuinte em janeiro de cada ano-calendário e de eventual alteração da opção no decorrer do ano-calendário. Além disso, a RFB tem competência para regulamentar a opção por um dos regimes e a respectiva alteração. 6. Programa especial e pagamento à vista ou parcelamento de débitos O art. 65 da Lei nº 12.249/10 instituiu programa especial e pagamento à vista ou parcelamento, em até 180 meses, de débitos constituídos ou não, inscritos ou não em dívida ativa, administrados pelas autarquias e fundações federais e débitos de qualquer natureza, tributários ou não, cobrados pela Procuradoria-Geral Federal. Destaque-se, desde logo, que este novo programa traz muitas condições coincidentes com o regime da Lei n.º 11.941/09, conhecido como REFIS 4. Este novo parcelamento abrange, por exemplo, débitos decorrentes de taxas e multas aplicadas pelo BACEN, EMBRATUR, IPEA, IBGE, Universidades Públicas Federais e pelas agências regulatórias (ANATEL, ANAC, ANTAQ, ANVISA, ANP, etc). A lei expressamente exclui do parcelamento os débitos junto ao CADE e ao INMETRO. Poderão ser pagos à vista ou parcelados na forma do art. 65 os débitos vencidos até 30.11.2008, independentemente de garantias, exceto aquelas já penhoradas em execução fiscal. Os descontos previstos na Lei nº 12.249/10 são inversamente proporcionais ao alongamento da dívida, conforme tabela abaixo: NÚMERO DE PARCELAS MULTAS DE OFÍCIO E DE MORA MULTA ISOLADA JUROS DE MORA ENCARGOS LEGAIS (HONORÁRIOS) À vista 100% 40% 45% 100% Até 30 90% 35% 40% 100% Até 60 80% 30% 35% 100% Até 120 70% 25% 30% 100% Até 180 60% 20% 25% 100% 4
A Lei nº 12.249/10 prevê expressamente a exoneração do pagamento de honorários advocatícios nas ações que vierem a ser extintas em razão da adesão ao programa. O contribuinte interessado deverá apresentar seu requerimento até 31.12.2010, com precisa indicação dos débitos que pretende incluir neste programa. Esta opção importa confissão irrevogável e irretratável dos débitos em nome do sujeito passivo, na condição de contribuinte ou de responsável, e por ele indicados para compor o parcelamento. A dívida será consolidada na data do requerimento e deverá ser dividida pelo número de prestações escolhido pelo contribuinte, observadas as parcelas mensais mínimas de R$ 50,00 para pessoa física e R$ 100,00 para pessoa jurídica. Na hipótese de débito objeto de depósito judicial, o valor depositado será convertido em renda após aplicação dos descontos sobre o valor atualizado do depósito para o pagamento à vista ou parcelamento. O eventual saldo remanescente do depósito será levantado pelo contribuinte, caso não haja outro crédito tributário ou não tributário, vencido e exigível. Neste programa, a pessoa física também pode assumir os débitos da pessoa jurídica, mediante sua autorização, passando à condição de responsável solidário. A inadimplência de qualquer parcela é verificada após 30 dias do vencimento. O não pagamento de 3 parcelas, consecutivas ou não, provocará comunicação ao contribuinte e imediata rescisão do parcelamento, com a cobrança da dívida remanescente, excluídos os benefícios e abatidas as parcelas pagas. Este novo programa de pagamento e parcelamento será regulamentado em até 120 dias. 7. REFIS 4 Aspecto relevante O art. 127 da Lei nº 12.249/10 assegura a suspensão da exigibilidade dos débitos incluídos nas modalidades de parcelamento previstas na Lei n.º 11.941/09 ( REFIS 4 ), cujo requerimento tenha sido deferido pela Administração Tributária. A regra faz valer, até a esperada fase de consolidação, o direito dos contribuintes optantes pelo REFIS 4 (art. 151, VI do CTN), obstando o indevido prosseguimento dos atos de cobrança e especialmente de execuções fiscais de débitos parcelados. O presente informativo tem por fim comentar as principais mudanças recentemente ocorridas na Legislação Tributária. Surgindo dúvidas, os profissionais estarão à disposição para esclarecimentos adicionais. Contatos Alexandre Tadeu Seguim ats@bmatax.com.br Silvania Conceição Tognetti sct@bmatax.com.br José Otávio Haddad Faloppa Tel: (11) 2179-5235 jof@bmatax.com.br Maurício Faro Tel: (21) 3824-6033 mpf@bmalaw.com.br Gabriel Lacerda Troianelli Tel: (11) 2179-5235 glt@bmatax.com.br Luciana Loureiro Terrinha Tel: (21) 3824-5855 llt@bmalaw.com.br Vivian Casanova de Carvalho Tel: (21) 2114-7604 vcc@bmatax.com.br Fábio Alves Maranesi fai@bmatax.com.br Débora Bacellar de Almeida Tel: (21) 2114-7603 dba@bmatax.com.br Lígia Regini da Silveira Tel: (21) 2179-5277 lrd@bmalaw.com.br Alamy Candido de Paula Filho acp@bmatax.com.br 5