Título do simpósio: Historiografia da arquitetura I: métodos, objetos e narrativas

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Transcrição:

Título do simpósio: Historiografia da arquitetura I: métodos, objetos e narrativas Título do trabalho: Os saltos de escala no estudo (e no projeto) da cidade e do território: indagações à luz do debate veneziano Autor: Adalberto Retto Junior Titulação: Doutor Instituição: UNESP- Bauru Os saltos de escala no estudo (e no projeto) da cidade e do território: indagações à luz do debate veneziano. Quando se fala de história da cidade, história do urbanismo e história da cidade e do território, emergem questões de como os saberes são transmitidos, de como os conhecimentos são adquiridos, e também de como trabalhar, do ponto de vista não evolutivo, elementos que compõem essa materialidade na longa duração, a partir de saltos de escala; quando se fala de projeto da cidade e do território, emergem temas de contexto, de memória, e de como a contribuição histórica pode ser operada de forma crítica, em um constante jogo de escalas. Objetiva-se, neste ensaio, refletir sobre a relação entre esses âmbitos de estudos comuns nas pós graduações das escolas de arquitetura e urbanismo, à luz da produção intelectual de dois professores do Istitututo Universitario di Architettura di Venezia: Donatella Calabi, do Dipartimento di Storia dell Architettura, e Bernardo Secchi, do Dipartimento di Urbanistica. As indagações que permeiam esta reflexão fundamentam-se em uma experiência que, de um lado, abarca o doutoramento e pós doutoramento, passando pela assistência a docência no departamento de história, e de outro, no desenvolvimento de planos urbanísticos junto à equipe do doutorado em Urbanismo e do Studio 09, coordenados por Bernardo Secchi e Paola Viganò.

A hipótese subliminar que coloca-se à discussão, é aquela de averiguar uma possível migração e/ou deslizamento de um método projetual da escola morfológica muratoriana, a um método historiográfico, da denominada Escola de Veneza, tendo como pano de fundo, o projeto histórico de Manfredo Tafuri (1935-1994) e as transformações estruturais no âmbito lagunar.. Questões de âmbito disciplinar: um percurso nas obras Storia dell urbanistica europea (Paravia, 2000); La città del primo Rinascimento (Laterza, 2001); Storia della città. L età moderna (Marsiglio, 2001), de Donatella Calabi. O índice destes três livros de Donatella Calabi é formado por um elenco de elementos concretos de setores fortemente reconhecíveis nas cidades: ruas, casas, praças, edifícios públicos, palácios dos senhores, equipamentos urbanos, que formam um mosaico, como que remontando do ponto de vista figurativo as pranchas de Durand. Este princípio fragmentário é ampliado por alguns outros capítulos, que expandem e contextualizam de forma mais articulada essas transformações, e ao invés de levar-nos a um raciocínio "evolutivo" em termos de composição física da cidade, faz-nos pensá-la por meio de articulações de partes e superposição de extratos, que sem modificar a sintaxe tradicional, ilumina um percurso no qual opera a economia dentro do espaço da cidade: uma outra maneira de remontar os tempos. Cada elemento assume uma escala de observação em um arco temporal específico, que engendra categorias interpretativas particularizadas

que, por analogia ou diferença, põem à luz a articulação dos fenômenos de transformação da construção do urbano, restabelecendo a complexidade implicada na concretude do ambiente físico restituindo um panorama rico de como se transforma a paisagem urbana. Manfredo Tafuri, dois anos antes de sua morte, na introdução do livro La piazza, La chiesa, Il parco (1991), que é uma coletânea das teses do primeiro e segundo ciclos do Departamento de História (DSA), explicita claramente o método que embasaria as novas pesquisas no âmbito veneziano: a relação entre filologia e análise historiográfica a partir de objetos pontuais fragmentos-, em um arco temporal do século XIV ao XIX 1. O filão que articula todos os escritos deste volume, é a complexa relação entre idéia, texto e contexto, e a busca do método adequado à cada objeto na sua longa história. Na mesma introdução, Tafuri faz indagações importantes de como as pesquisas foram abordadas: quale filologia per questo particolare tema? Come sottoporre a critica le fonti, una volta riconosciuta la loro storicità? Come fare parlare monumenti e carte di archivio per restituire uno scenario significante, non isolato nei suoi confini? O escopo é aquele da superação da dificuldade inevitável da fragmentação dada por cada caso singular, através de uma prática de pesquisa de confrontro baseada na "história comparativa", que tem no livro Ricerca del Rinascimento(1992) sua formulação mais acabada. Mas apesar de Donatella ser, dentre os pesquisadores venezianos, quem mais potencializa o convite tafuriano para multiplicar os confrontos e análises comparativas (TAFURI,1992; BERENGO,1999), ao reconhecer historicamente um âmbito bastante vasto na investigação sobre instrumentos na progressiva construção da natureza histórica da cidade (PAZZAGLINI, 1977) i, delineia um percurso paralelo, em que a história urbana coloca-se não 1 O primeiro ciclo pg 8 Il parco

como extensão da história da arquitetura. No texto História da arquitetura e história da cidade: um casamento difícil, publicado em, a autora expõe essas contradições. Vale ressaltar, entretanto, que o primeiro livro aqui em análise, trata, como enuncia o próprio título, da História do Urbanismo Europeu, e os outros dois, de História da Cidade. Ao confrontarmos os dois volumes de História da Cidade, do Renascimento à Idade Moderna, fica evidente que a autora entende a história da cidade, do ponto de vista da história geral, como um âmbito de estudo, mas não como uma disciplina. As categorias fundamentais que permeiam estas páginas, são aquelas de continuidade e descontinuidade, momentos de ruptura, no qual são registradas a transformação do espaço físico, dos hábitos, das tradições, dos interesses fundiários, etc., em períodos de longo arco cronológico. Vale pensar sobre a importância que a autora dá ao papel que episódios como grandes terremotos, incêndios, guerras, mudanças de regime político, tiveram para repensar a transformação das cidades. Estes episódios formam quase sempre ocasiões para repensar a própria forma da cidade, como frisa a autora. Deste ponto de vista, falar de evolução da cidade (expressão que teve uma grande fortuna na historiografiografia) mostra-se pouco útil, uma vez que essas categorias são negligenciadas. Se isto é verdade, as consequências no plano conceitual são que a História da Cidade e História da Arquitetura são dois âmbitos de estudo muito diferentes entre si. No processo de história do urbanismo, fala-se o mais possível de um processo de institucionalização da disciplina, através de cursos de ensinamentos especificos, da formação profissional, ou contemporaneamente, da leitura de personagens importantes na historiografia dos grandes planos. Coloca-se, assim, cruzamentos entre história das idéias, a história dos planos e a história da institucionalização de alguns processos.

De fato, no volume Storia dell Urbanistica europea, a autora trata a história de uma disciplina com regras próprias, técnicas e normativas bastante particulares, que de certa maneira, podem ser pensadas somente a partir da segunda metade do 800. Com isso, destrói anacronismos como aquele de falar de História do Urbanismo antigo, medieval, etc., comumente tratadas em livros de referência ou de autores de Cerdà a Sitte, de Brinckman a Lavedan, que sempre colocaram o início de suas narrações relativas às transformações da cidade contemporânea muito distante no tempo, e que nos induziram a falar urbanismo antigo, medieval ou contemporâneo como a mesma coisa, como uma narração que fizesse parte de um arco cronológico longo. Na realidade a hipótese, o pressuposto, é que esses livros quase sempre quando falam de história do urbanismo tratam-na como história da civilização humana; e esta escolha cria bastante confusão, pois tende a colocar um quadro parcial como um quadro universal, fazendo um certo anacronismo ao confudir as técnicas e os instrumentos particulares que, de quando em quando, nos diversos períodos são utilizadas. Estas técnicas de pesquisa particulares são, por exemplo, as técnicas da representação, que em um período ou no outro são radicalmente diferentes. Dessa forma, uma confusão terminológica pode corresponder a uma confusão conceitual muito recorrente nos trabalhos acadêmicos. No livro a idéia motora é a que o Urbanismo teve pressupostos bastante reconhecíveis a partir de um periodo histórico e que teve suas técnicas, seus protagonistas e suas idéias; deveria prospectar a idéia que ela fosse uma ciência política do século XIX, com um aparato institucional, regras e estruturas próprias. E assim, rejeita terminologias correntes em estudos clássicos, como aquela de pré-urbanismo, de Françoise Choay. Nesse sentido, o livro parte da hipótese que foram projetadas transformações das cidades, feitas intervenções no morfologia do espaço físico na Idade Antiga, Medieval e Moderna; mas que as técnicas para projetar estas

transformações foram radicalmente diferentes daquelas da Idade contemporânea. Sobre isso, a autora diz que se deve ser bastante rigoroso, pois o Urbanismo é uma disciplina que se vale de regras particulares para transformações da cidade e do território, a partir de uma certa data. i PAZZAGLINI, Marcello, Il dibattito sulla città e sul territorio. In: Il dibattito architettonico in Italia, 1945-1975, Cina Conforto... [et al.], Roma: Bulzoni, 1977.