CENTRO HISTÓRICO EMBRAER. Entrevista: Humberto Luis de Rodrigues Pereira. São José dos Campos SP. Julho de 2011



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Transcrição:

CENTRO HISTÓRICO EMBRAER Entrevista: Humberto Luis de Rodrigues Pereira São José dos Campos SP Julho de 2011 Apresentação e Formação Acadêmica Me chamo Humberto Luis de Rodrigues Pereira, tenho cinquenta anos e nasci em Belo Horizonte. Filho de um oficial da Força Aérea Brasileira paulistano e da dona Lídia nascida no interior de Minas, sou o quinto filho de uma família..., sou o caçula de uma família de cinco homens. Meu pai foi para Belo Horizonte quando ele se aposentou na FAB (Força Aérea Brasileira), para se tratar e eu tive um grande contato com ele, uma sorte na vida e, apesar dele ser da FAB eu não atribuo a isso a origem do meu interesse por aviões. Sou casado com uma mineira de Belo Horizonte, tenho dois filhos e vivo em São José (São José dos Campos SP) há vinte e seis anos. Humberto gosta de futebol, mas hoje estou na arquibancada e atrás da TV, já joguei muito e dizem que já fui até bom. Gosto muito de ler, tocar violão e escrever e tenho um quatro por quatro 96 e sempre que posso subo a Mantiqueira para ter um contato nas trilhas aí... para ter um contato com uma realidade um pouco diferente, um pouco menos dinâmica e mais assentada do que aquela que a gente vive aqui no dia-a-dia. Eu me considero um cara simples, de fácil convívio, entretanto muito exigente comigo e com aqueles que trabalham comigo, acho que a minha origem, a própria trajetória da minha família me ensinou a ser muito independente na forma de pensar, na forma de ver, na forma de me posicionar. Eu procuro sempre trabalhar no conceito das coisas o que torna a minha vida mais simples - nosso mundo é muito complexo - e através de enxergar conceitos, enxergar de uma forma mais simples as coisas, eu acredito que eu consigo direcionar melhor minha atividade. Sou formado em Engenharia Mecânica Aeronáutica pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e ao vir para São José me especializei em Estruturas Aeronáuticas no ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica). Eu vim para São José logo após ter formado, foi até um momento bastante interessante 1

na minha vida... eu me formei em 84 e naquele momento o Brasil atravessava uma dificuldade muito grande... não havia emprego, inflação, eu lembro que se cunhou naquela época a frase do Engenheiro que virou suco... porque a maioria das pessoas que se formavam iam para outra atividade porque não havia espaço no mercado. No último ano da escola, da universidade eu fiz um concurso para Petrobras e passei e então... o Brasil começava a se transformar com a mudança de governo, a vinda do Sarney (José Sarney) e que através das estatais a Embraer era uma estatal na época - procurava impulsionar a indústria, a economia criando emprego pelas estatais e a Petrobras teve uma série de concursos, eu passei num deles e fui... porque era uma dificuldade enorme para arrumar emprego, fui para Salvador e fiz um concurso para a Engenharia do Petróleo, fui para assinar contrato e vi que não era aquilo, eu tinha investido muito tempo da minha vida, num sonho de engenheirar, de fazer aviões, desenvolver aviões e desisti, desisti e falei Essa não é a minha, eu vou para a Embraer.... Em abril de 85 eu vim aqui, fiz algumas entrevistas e em dez de junho de 85 eu comecei a trabalhar na Embraer, na área de engenharia e estruturas. Na UFMG havia um grupo de estudos aeronáuticos, o centro de estudos aeronáuticos onde muitas pessoas então se envolviam. Na realidade, eu fiz o meu vestibular para a engenharia mecânica e tive um contato maior com aviões através desse centro de estudos aeronáuticos da UFMG e era um grupo apaixonado, esse grupo de engenheiros e professores que realmente devotavam um tempo para a aviação me contagiou. Então, eu resolvi fazer a minha especialização em aeronáutica lá nesta época e vi também na atividade aeronáutica uma possibilidade enorme de exercer na plenitude a engenharia. Poucas indústrias no Brasil na época realmente desenvolviam o seu produto e a Embraer era uma empresa que desenvolvia o seu produto, então eu vi na aeronáutica a possibilidade de realizar meu sonho, de realmente exercer na plenitude a atividade de engenharia, bem como trabalhar com aviões. Bem, eu vim para São José dos Campos e vim para a Embraer, na realidade, foi o meu primeiro emprego como engenheiro já que na Petrobras eu apenas tive um contato com o processo de seleção e ao fazer a entrevista aqui na Embraer... e a Embraer era completamente diferente 2

da Embraer de hoje. São José era uma cidade muito menor, muito diferente da São José de hoje e a vinda foi num momento difícil e desafiador também pessoalmente, São José era uma cidade pequena, porém cara, a vida não era simples, eu me lembro de que nós viemos - vários da UFMG vieram -, nós costumávamos montar repúblicas para vivermos juntos. A entrada também na Embraer não foi simples, a gente tinha uma perspectiva completamente diferente no processo de seleção e eu me lembro que na conversa com Recursos Humanos a pergunta que se repetiu várias vezes Você tem certeza de que quer vir para cá? e eu tinha a despeito da questão ter sido feita várias vezes, eu tinha... E a gente tinha uma ligação muito grande com a cidade, talvez porque viemos em grupo éramos em oito colegas mais ou menos que viemos para cá e a gente, todo final de semana, pegava ônibus sexta à noite para passar o fim de semana em BH (Belo Horizonte MG). Um dos recordes que eu tenho na minha vida eu não sou recordista, eu tenho colega que tem o recorde... mas eu acumulei assim algo como duas voltas no planeta Terra andando de ônibus, durante dois anos eu fui e voltei a BH na maioria dos fins de semana. Trajetória na Embraer Eu entrei na Embraer em 1985 dez de junho de 1985 na engenharia. A engenharia da Embraer estava num esforço enorme de completar os trabalhos de certificação do Brasilia (EMB 120 Brasilia), havia então uma atividade intensa nesse programa e havia também um novo desenvolvimento que era o Tucano (EMB 312 Tucano) para a Força Aérea Britânica, e eu comecei a trabalhar nesse programa, na área de estruturas. E como engenheiro com formação em aeronáutica a minha expectativa inicial era trabalhar com aerodinâmica, mas a oportunidade que apareceu foi na área de estruturas e eu comecei a trabalhar na área de estruturas nesse programa do Tucano. Então o ambiente de trabalho era um ambiente intenso, com muitas atividades, havia também a conclusão do programa, o início do voo, do programa de voo do nosso protótipo do AMX, do programa AMX. Então, dentro do ambiente de engenharia havia uma atividade intensa e com uma tendência de crescimento e a Embraer continuou crescendo não só por esta demanda, logo depois veio o programa CBA 123 (CBA 13 Vector), um avião novo, o primeiro avião, a primeira plataforma nova com a 3

qual eu me envolvi profissionalmente e entendo que até em conjunção com os aspectos governamentais a empresa começou a crescer. Entrei na Embraer, creio que a Embraer tinha algo perto de seis mil funcionários e ela cresceu num ritmo intenso, quer seja pelo programa CBA, quer seja pela intensificação dos programas existentes, principalmente o Brasilia, e ao fim aí de 89/88 a Embraer... nós éramos algo perto de treze mil e quinhentos funcionários. Foi quando então o mercado, as dificuldades de mercado, as mudanças de governo e a crise então se instalou na Embraer, o programa CBA não teve o sucesso de mercado esperado, a crise também se abateu sobre o Brasilia que não conferia mais vendas e a empresa teve que reduzir drasticamente o seu quadro. Nós chegamos aí em dois momentos de redução a perto de quatro mil pessoas. Foi um momento certamente de questionamento para todos, foi outro momento, estou certo que para todos e para mim, foi um momento de decisão Vou apostar nesse sonho ou vou procurar outro rumo?. A decisão não foi difícil, a decisão... nós ficamos um grupo pequeno, um grupo que acreditava verdadeiramente nesse projeto, um projeto nacional e a decisão que eu tomei na época foi... Eu vou ficar aqui até o fim. Nesse momento o mercado... ficou claro que a gente precisava de um outro produto para aviação regional que tinha que ser um jato e esse produto tinha que vir logo, quer seja pela demanda de mercado, quer seja pela necessidade que a empresa tinha de ter um produto e faturar, não tinha faturamento e foi aí que apareceu o 145 (ERJ 145), ele apareceu como um projeto com essa urgência e a primeira tentativa foi adaptar a plataforma existente do Brasilia para um jato, uma tentativa frustrada e lá pelo meio aí dessa fase de desenvolvimento procuramos usar a própria asa do Brasilia com motor a jato. A ideia de usar a plataforma do Brasilia ela se fundamentava basicamente em dois aspectos: não havia muito dinheiro para investir numa plataforma completamente nova e talvez fosse o caminho mais curto para se desenvolver um jato que pudesse servir no mercado... Isso tudo foi caminhando até que veio também a privatização da empresa, a solução encontrada pela Embraer foi a de privatizá-la, a única solução era a melhor, e a privatização trouxe elementos muito importantes para a 4

empresa quer seja o capital necessário para o desenvolvimento, as alternativas encontradas na época de se desenvolver um novo produto em parceria, então constitui-se aí um modelo de parceria para desenvolver um novo produto necessário para a sobrevivência da empresa e a visão mais forte do mercado na definição do produto. Essa foi a fase dois, diria, do anteprojeto ou do projeto do 145... Eu fui convidado para assumir a liderança de toda a parte de estruturas do 145 no final de 92 e além do enorme desafio técnico que se constituía esse convite foi a minha primeira experiência em liderar pessoas, liderar equipes e obter o resultado através do trabalho de outros. Isso foi para mim uma mudança enorme na minha trajetória, a gente nem sempre e certamente não se prepara para isso ou pelo menos naquela época não havia um investimento muito grande em preparar as pessoas para assumir posições de liderança, a empresa mudou muito nesse aspecto e a gente precisava dar um jeito naquilo. O desafio era enorme, a equipe reduzida, planejamento muito incipiente, muito mais tácito do que explícito e com uma diversidade inédita que era lidar com fornecedores, novas culturas, etc. Nessa hora é muito importante você se agarrar aos princípios e a única coisa que eu procurei fazer foi deixar que as pessoas trabalhassem, aceitar a diversidade - principalmente a dos fornecedores - e assumir aquilo que eu entendo que é indelegável num processo de liderança que é a decisão... Isso funcionou... funcionou bem, funcionou tão bem que eu recebi o convite para ser gerente de uma área na empresa, uma área que ainda era pequena, nós éramos talvez algo como sessenta pessoas na época em que eu assumi a gerência de Estruturas e a minha liderança ainda continuou até pelo formato e pela estrutura direta ainda com as pessoas. Eu passei a liderar um grupo maior que num espaço curto de tempo saiu de sessenta e foi a cento e oitenta pessoas. Além do desafio de crescimento eu aprendi nessa época a liderar líderes, identificar líderes no grupo e a assumir cada vez mais um papel de suporte nas decisões, sair um pouco do front e dar uma retaguarda suficiente para que essas novas lideranças da área assumissem, então, o papel que eu vinha assumindo até então. Havia também um desafio muito grande do qual eu não abri mão e foi o meu foco na época que era crescer, crescer com consistência, crescer com uma equipe que pudesse... - ainda que jovem e inexperiente - pudesse dar 5

conta do trabalho e o que me norteou muito nas decisões tomadas na época foi o meu início de carreira. Eu lembrei muito, eu também entrei na Embraer numa época de crescimento com várias pessoas e eu aprendi com a minha experiência e entendo que conformei aí ao desenvolver o grupo de Estruturas, apostar nas pessoas novas, apostar no talento de quem vem. Então, nossa estratégia foi realmente trazer pessoas, desenvolvê-las e dar liberdade de atuação. Nós jamais adotamos dentro do ambiente lá e acho foi uma estratégia de sucesso -, jamais adotamos a rotina ou o expediente de distribuir tarefas, nós sempre procuramos mesmo com equipe nova entregar um pacote, um conteúdo maior para os engenheiros para que eles pudessem realmente se desenvolver nas várias disciplinas dentro da área de estruturas. E isso foi muito importante quer seja no programa 145, quer seja no 170 (EMBRAER 170), na realidade durante o 145 isso realmente formou a base para que a gente pudesse realmente trazer mais pessoas e ter pessoas prontas para orientá-las, nós optamos por realmente dar abrangência e desafios completos desde o começo para as pessoas que ingressaram. Os movimentos sequentes, os seguintes às gerências de Estruturas foram, de certa forma, uma repetição em âmbito maior do modelo de delegação, do modelo de desenvolvimento de pessoas que eu vinha adotando na área de estruturas. Quer dizer, ao assumir a diretoria de Suporte e as outras diretorias que eu venho assumindo e conduzindo na empresa sempre apostei em investir nas pessoas, no desenvolvimento das pessoas como a solução primeira e maior para a obtenção de resultados almejados. Em final de 2006, no final de 2006 eu fui então convidado para assumir a diretoria da Engenharia de Desenvolvimento de Produto, um movimento bastante significativo, eu deixaria então uma gama de produtos em operação e passaria a assumir uma equipe de cerca de mil e oitocentas pessoas com a responsabilidade de desenvolver todos os produtos da empresa. Na época a empresa estava investindo na aviação executiva, com os novos produtos da aviação executiva uma série de produtos para defesa e segurança e a complementação ainda restante de novos desenvolvimentos dentro da família do 170/190 (EMBRAER 170/190). Havia então uma necessidade identificada de uma transformação no nosso processo de desenvolvimento. Há muito a gente tinha deixado de ter um 6

corpo técnico voltado para o desenvolvimento basicamente de uma plataforma, por vez. Em algum momento de 2008 nós decidimos mais uma vez alterar, evoluir a organização da engenharia criando equipes dedicadas aos negócios. Foi um movimento muito importante para a empresa, para a engenharia, criar grupos realmente com foco nos negócios, entendendo, aproximando mais a nossa operação, a operação da engenharia, aproximando ao cliente final e através desse entendimento do cliente final podermos trazer aos produtos maior competitividade. Criamos então as engenharias de Aviação Comercial, Aviação Executiva e Aviação de Defesa e nesse movimento eu assumi a liderança, a diretoria da Engenharia para Aviação Executiva e que era já, em termos de novas plataformas, o foco da minha atenção à época. Nesse período então, nós concluímos o desenvolvimento do Phenom 100, do Phenom 300, ambos dentro do ciclo previsto e do custo de desenvolvimento previsto e ambos mostraram mais uma vez a importância do projeto de transformação do processo de desenvolvimento do produto. Tanto um como outro mais uma vez certamente produtos vencedores, mais uma vez produtos que tem na sua essência aquilo que o mercado espera e mais uma vez produtos que deixam a desejar na maturidade na entrada em serviço. A maturidade para a entrada em serviço é um desafio da nossa indústria, não é um desafio somente para a Embraer, o que torna mais nobre e desafiadora a tarefa de transformar o processo do desenvolvimento do produto. Cultura Embraer O mundo mudou muito nos últimos vinte e seis anos em que eu tenho trabalhado com aviões, mudou no ambiente interno, principalmente no nosso ambiente de engenharia, mas em todos no aspecto principalmente da facilidade e conectividade. Quando nós começamos ou eu comecei a minha carreira, a grande... a gente investia muito tempo em conseguir a informação, hoje o tempo investido é para escolher a informação, nós temos em excesso informações. O mundo também mudou e as características da Embraer com ele, de um ambiente mais centrado no produto e uma visão mais centrada no produto passou a ser mais centrado 7

no mercado, hoje e cada vez mais, os aspectos de mercado são melhor entendidos e aqueles que o entendem são aqueles que permanecem. Um aspecto muito importante que também vem com o tempo é o aporte tecnológico, a sociedade aprendeu com o tempo a esperar inovação a cada produto, então hoje incorporar uma tecnologia nova é na maioria dos casos muito mais necessário do que um diferencial. Então o desafio aí de ciclos de desenvolvimento, de maturidade de entrada de serviço ele vem conjugado com novas tecnologias, então são novas tecnologias com maturidade, o desafio é cada vez maior. A indústria aeronáutica ou o ambiente eu vejo alguns aspectos muitos relevantes... como todos os produtos o nosso também não está livre de trazer sempre novas tecnologias e essas novas tecnologias em consonância absoluta com as expectativas de mercado. Os novos entrantes vindos principalmente do Oriente alinhado aí com o movimento mundial trazem desafio adicional para a indústria, tem mais gente entrando e não deve ter espaço para todo mundo. Mas a entrada deles não se limita a isto em termos de desafios e novas condições para a indústria aeronáutica, a base de fornecedores deve mudar, as relações de negócios de mercado e alternativas de modelos de negócios quer seja no desenvolvimento, quer seja na comercialização virão com esse movimento porque ele é um movimento maior. Então, é de se esperar aí modelos diferentes, associações diferentes, alternativas bem diversas da que a gente tem visto hoje com uma base de fornecimento muito maior em relação ao que a gente tem hoje, não serão só novos entrantes no desenvolvimento de aviões, mas eu espero novos entrantes no fornecimento de material aeronáutico. Embraer e Futuro O que eu diria para quem está começando a carreira profissional... primeiro aprender, na realidade o aprendizado começa ou se intensifica depois que a gente sai da escola, então aproveite aquele que está aqui na empresa, a Embraer é uma escola e conta com todas as disciplinas profissionais do mais alto gabarito, então aprenda, todo dia aprenda. Não menos importante é lembrar que tudo o que se faz se faz para alguém, então é muito importante na nossa atividade, em cada tarefa colocar a perspectiva de 8

quem recebe no nosso trabalho quer seja um cliente interno e principalmente um cliente externo. Outro ponto que para mim sempre foi muito relevante na orientação da minha vida profissional foi fazer as coisas com gosto, fazer o que se gosta e para fazer o que se gosta muitas vezes é importante aprender a gostar e aprender a gostar passa por trazer grandeza e significado cada tarefa que se faz. 9