Revista Brasileira de Futsal e Futebol ISSN versão eletrônica

Documentos relacionados
ESTRATÉGIA DE ENSINO PARA O DESLOCAMENTO DE RECUPERAÇÃO NO TÊNIS EM CADEIRA DE RODAS

Fones: (0xx62)

Jogos Paraolímpicos. Profs. Bruno Crestani Calegaro e Eder Ferrari

BENEFÍCIOS DO ENSINO DA NATAÇÃO PARA DEFICIENTES VISUAIS: ADAPTAÇÕES E INTERVENÇÃO PROFISSIONAL

EDUCAÇÃO FÍSICA 1 ANO

A PRÁTICA DO FUTSAL LÚDICO

Interpretação de texto 3 ano para imprimir

Primeiro Estudo COPA 2010 FIFA EFETIVIDADE NO FUTEBOL. Grupo Ciência no Futebol DEF UFRN

CARACTERIZAÇÃO DO COMPORTAMENTO TÁTICO DE JOGADORES DE FUTEBOL, FUTSAL E FUTEBOL DE 7.

FACULDADE SETE DE SETEMBRO FASETE

PARAOLIMPÍADAS ESCOLARES 2010

PALAVRAS-CHAVE: Futebol; Pequenos Jogos; Comportamento Técnico

O ANO DE NASCIMENTO DETERMINA A ESCOLHA DO ESTATUTO POSICIONAL EM JOGADORES DE FUTEBOL NAS CATEGORIAS DE BASE?

COLORIR TRABALHO COM ENSINO RELIGIOSO

11/04/2011 Prof. José Figueiredo Minicurso um: UFRN NA COPA

INCIDÊNCIA DE LESÕES EM JOGADORES DE FUTEBOL DE ACORDO COM SUA POSIÇÃO. Introdução

INFLUÊNCIA DA ATIVIDADE FÍSICA NA INDEPENDÊNCIA FUNCIONAL DE DEFICIENTES FÍSICOS

PLANO DE APRENDIZAGEM

IMAGEM CORPORAL DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA PRATICANTES DE DANÇA SOBRE RODAS

ESPECIFICIDADE TÉCNICA NO BASQUETEBOL: CLUBES X SELEÇÕES

TÉCNICO DE FUTEBOL ATLÉTICO MINEIRO (MG) Ø Ø Ø Ø Ø Ø Ø Ø

DISCIPLINA EDUCAÇÃO FÍSICA OBJETIVOS. 6 Ano

Fundada em 04 de setembro de 2000, tem desempenhado suas propostas desportivas e sociais de forma cada vez mais organizada e profissional.

COPA REGIONAL CENTRO-OESTE DE FUTEBOL DE SETE PC

ANÁLISE DE CTD E CTP DE HANDEBOL EM ESCOLARES

PROGRAMA DE TREINAMENTO DE VOLEIBOL DESTINADO À COMUNIDADE UNIVERSITÁRIA

Relatório de Atividades Esportivas.

PLANO DE APRENDIZAGEM

HANDEBOL E ESCOLA: ESTADO DA ARTE EM PERÍODICOS (2008 A 2018) HANDBALL AND SCHOOL: STATE OF ART IN NEWSPAPERS (2008 TO 2018)

FORMULÁRIO PARA CRIAÇÃO DE DISCIPLINAS

Escola Especial Renascer APAE - Lucas do Rio Verde - MT. Futsal Escolar

PRINCIPAIS LESÕES OSTEOMIOARTICULARES NO HANDEBOL

ESTRUTURA E PREPARAÇÃO DO TREINAMENTO RICARDO LUIZ PACE JR.

Palavras Chaves: Futebol, Comportamento Tático, Categorias de base

Missão: Visão: Valores:

TÍTULO: MODALIDADES PARALÍMPICAS E O SEU LEGADO NA AULA DE EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

CAMPEONATO PAULISTA 2016 Futebol de 7 PC

FUTSAL NAS CATEGORIAS DE BASE. CONSTRUÇÃO DO JOGO DEFENSIVO: Conceitos e atividade práticas

Revista Brasileira de Futsal e Futebol ISSN versão eletrônica

SEMANA ACADÊMICA DE EDUCAÇÃO FÍSICA

FUTSAL E AS POSSÍVEIS LESÕES DESTE ESPORTE

UM EXPERIMENTO PRELIMINAR SOBRE A INFLUÊNCIA DOS JOGOS DIGITAIS NO DESEMPENHO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA

A EXPRESSÃO DE UMA ATIVIDADE ESPORTIVA: O DESPORTO PARA CEGOS THE EXPRESSION OF THE ACTIVITY SPORTIVY: THE SPORT FOR BLIND PEOPLE

SISTEMATIZAÇÃO DE ENSINO DO FUTEBOL PARA CRIANÇAS DE 10 E 11 ANOS: comportamento da qualidade de realização dos princípios táticos

PROJETOS INCENTIVADOS Minas Tênis Clube. Projeto Formação e Desenvolvimento de Atletas por meio da Integração das Ciências do Esporte

11º Congreso Argentino y 6º Latinoamericano de Educación Física y Ciencias CAPACIDADE DE SPRINTS DE FUTEBOLISTAS NA PRÉ-TEMPORADA

CAMPEONATO INTERNO DE FUTSAL MASCULINO E FEMININO DA UEMS-AQUIDAUANA: V COPA UEMS DE FUTSAL

RIO DE JANEIRO P O W E R S O C C E R C L U B E. riodejaneiropowersoccer.com.br

Projeto aprovado para captação através da LEI DE INCENTIVO AO ESPORTE (LEI Nº /06). ANO II

Maria Tereza Silveira Böhme

TÍTULO: SAPATILHAS, UMA LUZ NA ESCURIDÃO: A QUALIDADE DE VIDA DE BAILARINAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL

HORÁRIO Segunda-feira Terça-feira Quarta-feira Quinta-feira Sexta-feira

CENTRO UNIVERSITÁRIO CATÓLICO SALESIANO AUXILIUM Curso de Educação Física

Estudo dirigido Corridas e Marcha (Responda apenas nos espaços indicados)

Revista Brasileira de Futsal e Futebol ISSN versão eletrônica

CARACTERÍSTICAS ANTROPOMÉTRICAS E DE APTIDÃO FÍSICA DE ATLETAS DE FUTSAL FEMININO DA CIDADE DE MANAUS

CIRCUITO PAULISTA DE ESPORTES PARA DEFICIENTES VISUAIS. I ETAPA SÃO PAULO 16 e 17 de SETEMBRO DE 2107 INFORMAÇÕES GERAIS DESISTÊNCIAS DE PARTICIPAÇÃO

PREPARAÇÃO FÍSICA NO BASQUETEBOL

FPDC FEDERAÇÃO PAULISTA DE DESPORTO PARA CEGOS FUTEBOL DE 5. Regulamento Geral 2017/2018

Revista Brasileira de Futsal e Futebol. ISSN versão eletrônica

Colégio Adventista de Rio Preto. Futsal. 9º ano. Prof. Daniel Prandi. Prof. Sheila Molina

Revista Brasileira de Futsal e Futebol ISSN versão eletrônica

Formação em saúde mental no curso de medicina: a experiência do SAMU Mental health training in medical school: the experience of SAMU

JOGANDO TÊNIS DE MESA: UMA FERRAMENTA PARA DESENVOLVER A CAPACIDADE MOTORA DOS CADEIRANTES DE CAMPINA GRANDE-PB

PLANO DE TRABALHO FUTSAL

METABOLISMO ENERGÉTICO DO BASQUETE E HANDEBOL

Revista Brasileira de Futsal e Futebol ISSN versão eletrônica

NÍVEL DE MOTIVAÇÃO PARA A PRÁTICA ESPORTIVA DE ESCOLARES DA REDE PÚBLICA DE ENSINO

ANÁLISE DA FORÇA EXPLOSIVA AVALIADA PELO RAST TEST, EM UMA EQUIPE DE FUTSAL DE ALTO RENDIMENTO.

15/11/2016. Atividade contra a resistência (água); Aula coletiva Geralmente utiliza música; Materiais para aumentar a resistência;

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL ESCOLA DE EDUCAÇÃO FÍSICA CIÊNCIAS DO MOVIMENTO HUMANO Mestrado/Doutorado PLANO DE ENSINO

Treinamento Esportivo

AGILIDADE EM PARATLETAS DE BASQUETEBOL DE LONDRINA 1. RESUMO. Palavras Chave: Esporte, Basquetebol, Agilidade, Deficiência Física, Paratletas

II MEETING DE NATACÃO PARALÍMPICA DO DF. A Federação de Desportos Aquáticos do Distrito Fderal (FDA-DF), com a corealização

MATRIZ CURRICULAR CURRÍCULO PLENO 1. ª SÉRIE CÓDIGO DISCIPLINAS TEOR PRAT CHA PRÉ-REQUISITO

Psicólogo do Esporte: a percepção de atletas sobre a importância desse profissional.

Informações de Impressão

Relação entre qualidade de vida e tempo de prática paradesportiva em praticantes de Tênis em Cadeira de Rodas

ANÁLISE DA APTIDÃO FÍSICA DE FUTEBOLISTAS DAS CATEGORIAS JUVENIL E JÚNIOR

CONQUISTAS MELHORES MARCAS. Bronze na Maratona Internacional de Porto Alegre (21km) Ouro no Campeonato Mundial (42km) 2017

NORMAS GERAIS PARA SUBMISSÃO DOS TRABALHOS. Seminário de Lutas no Contexto Escolar e Ambientes Educacionais- reflexões e práticas pedagógicas 2016

Resumo sobre o Esporte Adaptado

A CONCEPÇÃO DE ALUNOS INSTITUCIONALIZADOS SOBRE O ACESSO DE ATIVIDADES FÍSICAS E ESPORTES NA CIDADE DE MUZAMBINHO MG

O TREINADOR DE FUTEBOL NAS CATEGORIAS DE BASE: ANÁLISE DA FORMAÇÃO E PERCEPÇÃO ACERCA DAS CARACTERÍSTICAS NECESSÁRIAS AO PROCESSO DE ENSINO

PROJETO TRIATHLON FEF/UNICAMP

PROJETO SÁBADO NO CAMPUS: ESPORTES ADAPTADOS E O GOALBALL NA FORMAÇÃO ACADÊMICA

Pressupostos pedagógicos para a iniciação esportiva no handebol

C1 11:20 C1 11:40. GRUPO DE TRABALHO: EDUCAÇÃO FÍSICA MODALIDADE: Apresentação Oral DATA: 04/11/2017 PROFA. LUCIANA, PROF. VINÍCIUS E PROF.

PROJETO TALENTO OLÍMPICO DO PARANÁ EDIÇÃO 2013 E ATLETAS PARALÍMPICOS CONCORRENTES NO PROCESSO DE SELEÇÃO DE BOLSISTAS. 1

M ODELO EUROPEU DE INFORMAÇÃO PESSOAL FORMAÇÃO ACADÉMICA E PROFISSIONAL

Análise do Valor de Mercado de Bernard, Atlético Mineiro

A influência do método Pilates sobre a dor lombar

A IMPORTÂNCIA DA GINÁSTICA NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR, NA VISÃO DOS DOCENTES

TÍTULO: ANALISE DA INCIDÊNCIA DE ESPECIALIZAÇÃO PRECOCE EM JUDOCAS INFANTO-JUVENIL PARTICIPANTES DE CAMPEONATO REGIONAL DE JUDÔ CATEGORIA: CONCLUÍDO

Estudos no Futsal: Avaliação do desempenho técnico-tático. Prof. Michel Saad Universidade Federal de Santa Catarina Centro de Desportos

CARACTERIZAÇÃO DAS AÇÕES DE FINALIZAÇÃO EM JOGOS DE FUTSAL: uma análise técnico-tática

Centro Universitário de Brusque - UNIFEBE Conselho Universitário - CONSUNI

Revista Brasileira de Futsal e Futebol ISSN versão eletrônica

ESTUDOS NO FUTSAL. Prof. Dr. Felipe Rodrigues da Costa (UnB) Prof. Dr. Michel Saad (UFSC)

Transcrição:

231 FUTEBOL DE CINCO PARA DEFICIENTES VISUAIS Mário Antônio de Moura Simim 1,2, Célio Quintão Calsavara 3 Bruno Victor Corrêa da Silva 1,4, Gustavo Ribeiro da Mota 1,5 Hélvio Feliciano Moreira 3 RESUMO O objetivo do presente trabalho foi realizar uma revisão de literatura dos estudos que abordam a temática do futebol de cinco para deficientes visuais. Foram analisados estudos publicados originalmente na língua portuguesa e inglesa, tendo como referência as bases de dados PubMed, SPORTDiscus, Web of Science, Scopus, além da biblioteca eletrônica Scielo e Google Acadêmico. Para a busca, foram utilizados os descritores futebol de 5 ; futebol de cinco ; futebol; soccer; football 5-aside ; deficiente visual ; deficiência visual ; visually impaired person ; visually impaired persons ; blind persons ; blind person ; paralympic isolados e/ou combinados. Os principais estudos sobre o futebol de cinco abordam o contexto histórico e apresentação da modalidade para a comunidade científica. Além disso, alguns estudos se preocuparam em analisar os aspectos táticos da modalidade, bem como lesões esportivas provenientes da prática do futebol de cinco. Estudos devem ser conduzidos procurando abordar os aspectos da organização do seu treinamento (periodização), a fisiologia específica às suas demandas, aspectos técnicos da aprendizagem, iniciação e treinamento da modalidade. Palavras-chave: Esporte Adaptado. Pessoas com Deficiência. Esportes Coletivos. 1-Grupo de Pesquisa em Biodinâmica do Desempenho, Universidade Federal do Triângulo Mineiro- UFTM, Uberaba-MG, Brasil. 2-Academia Paralímpica Brasileira-APB, Brasil. 3-Faculdade Pitágoras, Belo Horizonte-MG, Brasil. 4-Centro Universitário de Belo Horizonte- UniBH, Belo Horizonte-MG, Brasil. 5-Departamento de Ciências do Esporte, Universidade Federal do Triângulo Mineiro- UFTM, Uberaba-MG, Brasil. ABSTRACT Football 5-a-side for visually impaired The aim of this present study was to conduct a literature review of studies that address the topic of football for visually impaired. Studies originally published in Portuguese and English were analyzed with reference databases: PubMed, SPORTDiscus, Web of Science, Scopus, beyond Scielo electronic library and Google Scholar. For the research were utilized the keywords: futebol de 5 ; futebol de cinco ; futebol; soccer; football 5-a-side ; deficiente visual ; deficiência visual ; visually impaired person ; visually impaired persons ; blind persons ; blind person ; paralympic isolate and/or together. The main studies about football 5 address the historical context and presentations of the sport to the scientific community. In addition, some studies concern with analyzing tactical aspects of sport, as well as sport injuries from football practice five. Studies should be seeking to address aspects of the organization of training (periodization), specific physiology to their demands, technical aspects of learning, initiation and training of modality. Key words: Adapted Sport. Persons with Disability. Collective Sports. E-mail: mams.ef@gmail.com celiobill@gmail.com brunopoeira@yahoo.com.br grmotta@gmail.com helviofeliciano@yahoo.com.br Endereço para correspondência: Prof. Ms. Mário Antônio de Moura Simim. Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Instituto de Ciências da Saúde-ICS, Departamento de Ciências do Esporte. Av. Getúlio Guaritá, 159. Centro Educacional, Sala 313. Bairro: Nª Sra. da Abadia. Uberaba Minas Gerais. CEP: 38025-440. Tel.: (34) 3318-5964 /, Edição Suplementar 1, São Paulo, v.7, n.24, p.231-236. 2015. ISSN 1984-4956

232 INTRODUÇÃO Historicamente, as pessoas com deficiência foram excluídas do convívio social em virtude de apresentarem condutas ou características desviantes em comparação às pessoas ditas normais (Coelho, Moreira, Vilani, 2007). Após a segunda guerra mundial a prática de atividades físicas e esportivas para pessoas com deficiência teve maior avanço no contexto da prevenção e da reabilitação física, social e psíquica (Noce, Simim, Mello, 2009). Costa, Winckler (2012) destacam que nas últimas décadas, atletas com deficiência têm demonstrado resultados cada vez mais impressionantes, muitas vezes iguais ou próximos aos ditos normais. Inúmeros são os esportes praticados pelas pessoas com deficiência, classificados em sua maioria em modalidades individuais e coletivas (Mauerberg-deCastro, 2011; Winnick, 2004). Dentre os diversos esportes coletivos, o Futebol de Cinco aparece como componente de diversos programas de educação física adaptada (Mauerberg-deCastro, 2011; Castelli, Fontes, 2006) e de treinamento desportivo (Souza, Campos, Gorla, 2014; Freire, Morato, 2012). O Futebol de cinco, também conhecido como Futebol de Cegos, é uma adaptação do Futsal convencional. As regras do esporte são as oficiais da FIFA (Fédération Internationale de Football Association), com algumas adaptações (Morato, 2007). No Brasil, alguns relatos da década de 50, indicam que cegos jogavam futebol com latas, garrafas ou com bolas envolvidas em sacolas plásticas em instituições de ensino a estes indivíduos (Morato, 2007). Em 1978, nas Olimpíadas das APAEs, em Natal, aconteceu o primeiro campeonato de futebol com jogadores deficientes visuais no Brasil. A primeira Copa Brasil foi em 1984, na capital paulista. Contudo, o Comitê Paralímpico Internacional IPC reconhece como primeiro campeonato entre clubes o ocorrido na Espanha, em 1986 (Castelli, Fontes, 2006; Souza, 2011; Morato, 2007). Assim como no futsal, as equipes de futebol de cinco são formadas por cinco jogadores em quadra, sendo quatro com deficiência visual (B1) (De acordo com a classificação esportiva para deficientes visuais, B1 é o indivíduo que apresenta deficiência visual total ou até, no máximo, a percepção luminosa sem a distinção de objetos (Freire, Morato, 2012), e um goleiro, que pode ter baixa visão ou nenhum comprometimento visual (Freire, Morato, 2012). As partidas são disputadas em dois tempos de 25 minutos, com dez minutos de intervalo, em quadras com dimensões entre 18 a 22 m de largura e 38 a 42 m de comprimento (Castelli, Fontes, 2006). As laterais da quadra são cercadas de bandas (proteções que impedem que a bola saia da quadra), tornando o jogo mais dinâmico. A bola do Futebol de Cinco é igual à de Futsal, porém possui guizos dentro para que os jogadores possam localizá-la (Freire, Morato, 2012; Castelli, Fontes, 2006). A equipe ainda conta com um chamador que fica atrás do gol adversário, orientando o ataque dos jogadores. O atleta tem que emitir de forma clara e audível a palavra "MINHA", VOY ou GO ou algo semelhante quando se movimentar na busca ou na disputa da bola (Freire, Morato, 2012). Para a prática do futebol de cinco, os atletas devem desenvolver os mesmos fundamentos do futsal, tais como recepção, condução de bola, passe, drible, chute, marcação e movimentação individual (Souza, Campos, Gorla, 2014; Freire, Morato, 2012), assim como questões relacionadas à orientação espacial (Morato, 2007). Contudo, Marques e (2013) destacam que visto que a divulgação das modalidades paralímpicas ainda não é ideal, principalmente porque o esporte paralímpico ainda não é usual no dia-a-dia do brasileiro. Esses autores ressaltam que a visibilidade do movimento paralímpico cresceu no Brasil após 2004, principalmente na mídia televisiva. Nesse processo, esporte paralímpico ainda não tem força suficiente para criar demanda de visibilidade no Brasil, assim como oferta de práticas de iniciação ou treinamento. Ademais, assim como outras modalidades paralímpicas, o futebol de cinco ainda é pouco conhecido pelo público em geral. Nesse sentido, o objetivo do presente trabalho foi realizar uma revisão de literatura, Edição Suplementar 1, São Paulo, v.7, n.24, p.231-236. 2015. ISSN 1984-4956

233 dos estudos que abordam a temática do futebol de cinco para deficientes visuais. MATERIAIS E MÉTODOS Foram analisados estudos publicados originalmente na língua portuguesa e inglesa, tendo como referência as bases de dados PubMed, SPORTDiscus, Web of Science, Scopus, além da biblioteca eletrônica Scielo e o Google Acadêmico. Para a busca, foram utilizados os descritores futebol de 5 ; futebol de cinco ; futebol; soccer; football 5-a-side ; deficiente visual ; deficiência visual ; visually impaired person ; visually impaired persons ; blind persons ; blind person ; paralympic isolados e/ou combinados. Os critérios de inclusão e exclusão são apresentados no quadro 1. Quadro 1 - Critérios para inclusão, exclusão dos estudos. Critérios de Inclusão Participantes Jogadores ou atletas com deficiência visual Idioma Inglês ou português Disponibilidade do texto Texto Completo Critérios de Exclusão Indivíduos Pessoas sem deficiência Outras deficiências Forma de publicação Somente em resumo Principais Variáveis a serem analisadas Autor(es) Objetivo(s) Métodos Principais resultados RESULTADOS O quadro 2 apresenta resumo dos artigos encontrados sobre o Futebol de cinco. Nota-se que o ano de 2011 apresentou maior quantidade de artigos publicados (n = 4). Além disso, a maioria dos trabalhos buscou apresentar a modalidade e identificar os principais motivos para sua prática. DISCUSSÃO Os resultados identificaram que os principais trabalhos publicados sobre o futebol de cinco foram relacionados à apresentação da modalidade, levando em consideração os aspectos históricos e atividades de iniciação. Conforme destacado por diversos autores (Mello, Winckler, 2012; Mauerberg de Castro, 2011; Mello, 2004, Winnick, 2004) as pesquisas a respeito dos esportes adaptados são recentes e ainda encontra-se em processo de divulgação das modalidades para fomentar o esporte. Marques et al. (2013) ressaltam que a visibilidade do movimento paralímpico cresceu no Brasil após 2004, principalmente na mídia televisiva. Esse fato explica os achados do presente estudo, uma vez que se verificamos maior número de trabalhos publicados a partir do ano de 2009, principalmente no ano 2011. Simim e (2013) verificaram que os principais componentes do desempenho físico de atletas de Rugby em Cadeira de Rodas foram os relacionados com a Potência Aeróbia (VO2 max.) e com os indicadores de volume e intensidade (Percepção Subjetiva do Esforço, Distância Percorrida e Distância Total, Frequência Cardíaca, [Lac]). Entretanto, somente o estudo de Campos e (2013) buscou apresentar as características fisiológicas dos atletas cegos. Cabe ressaltar que o futebol de cinco é uma modalidade mais recente do que o Rugby em cadeira de rodas, criado em 1977. Talvez o fato de os deficientes físicos necessitarem de mais adaptações fisiológicas poderia explicar a escassez de estudos nessa área. Contudo, cabe ressaltar que os aspectos fisiológicos são essenciais para a prescrição adequada do treinamento de uma modalidade (Simim e, 2013). Os aspectos técnicos-táticos da modalidade também foram estudados sendo indicados como parte indispensável do treinamento desses atletas. O treinamento dos, Edição Suplementar 1, São Paulo, v.7, n.24, p.231-236. 2015. ISSN 1984-4956

234 fundamentos técnicos em uma modalidade é necessário para eficiente aprendizagem e aplicabilidade da tática nos esportes coletivos (Bianco, 2006). Em relação aos atletas cegos, essa relação também envolve o trabalho das capacidades sensoriais para melhorar a percepção espacial, tempo de bola (Morato e, 2011b). Quadro 2 - Sumário dos estudos e suas respectivas características. AUTOR(ES) OBJETIVO MÉTODO RESULTADOS Souza (2002) Fernandes, Vargas, Falkenbach (2009) Dalla Déa e (2011) Souza (2011) Voser, Roletto (2011) Morato e (2011a) Morato et al. (2011b) Magno e (2013) Campos e (2013) Apresentar os fundamentos básicos e discutir sua aplicação para contribuir com o ensino da modalidade Investigar etnograficamente o paradesporto futsal na Associação dos Cegos do Rio Grande do Sul (ACERGS). Caracterizar o estado de humor dos atletas com deficiência visual do Futebol de cinco Apresentar elementos, propostas e conhecimentos para que o profissional de EF conheça o que é a DV, com a utilização do futebol de 5 Verificar os benefícios que o futsal proporciona para os DV Descreve e analisa os contextos e personagens responsáveis pelo desenvolvimento do futebol para cegos no Brasil Descrever e analisar as estratégias dos jogadores na leitura de jogo no futebol para cegos Características e prevalência de lesões em atletas do futebol de cinco Analisar o efeito de 16 semanas de treinamento sobre os parâmetros de aptidão física e composição corporal Pesquisa bibliográfica Entrevistas e observações Questionário POMS (13 atletas com DV) Pesquisa bibliográfica Entrevista de 10 atletas com DV de Porto Alegre Entrevista com jogadores e treinadores Entrevistas com jogadores e treinadores 13 atletas (B1) do CPB Testes físicos (Shuttle Run e RAST) em 06 atletas (04 jogadores B1 e 02 goleiros sem DV Os alunos DV praticantes de futsal estão interessados em acreditar em si próprios através da demonstração de suas habilidades motoras no desempenho do jogo de futsal. Atletas com DV buscam desenvolver a saúde, desempenhar atividade física, promover qualidade de vida Atletas com DV = 38,5% apresenta alterações nos estados de humor Apresenta histórico da modalidade, regras, exemplo de atividades para iniciação à modalidade. O DV é capaz de praticar esportes, bastando apenas adaptações e vontade dos profissionais que trabalham com o esporte. O Futsal é um meio de o DV integrar-se com a sociedade, demonstrando suas capacidades. Principais Influências: jogadores de futebol, família, professor/técnico, amigos e jogadores de futebol para cegos Referências Sonoras/Cinestésicas, Mapa Mental, Comunicação, Características dos jogadores representam as estratégias utilizadas pelos entrevistados na leitura do jogo Lesões traumáticas (80%) foram as mais comuns Distribuição de lesão: MI (80%), Cabeça (8,6%), CVert (5,7%) e MS (5,7%) As 16 semanas foram suficientes para melhoras significativas na aptidão aeróbia e anaeróbia; o mesmo efeito não foi observado nos indicadores de composição corporal. Legenda: DV: Deficiência Visual / MI: Membros Inferiores / CVert: Coluna Vertebral / MS: Membros Superiores Dois trabalhos (Dalla Déa e, 2011; Voser; Roletto, 2011) buscaram identificar aspectos relacionados com a Psicologia do Esporte, abordando os temas estados de humor e percepção dos benefícios da prática esportiva para os cegos, respectivamente. Samulski, Noce, Raboni (2005) e Samulski e (2004) destacam que a os aspectos psicológicos dos atletas paralímpicos devem ser trabalhados constantemente para que aja aumento do controle emocional em situações de competição. O estudo de Magno e (2013) sobre as características das lesões esportivas também contribuem para o desenvolvimento do futebol de cinco. Lembramos a importância de se estudar lesões em atletas, principalmente pelo fato de eles treinarem constantemente, com competições extensas e nível de exigência elevado. Um estudo mais aprofundado das lesões auxiliaria médicos ortopedistas e fisioterapeutas no estabelecimento de parâmetros para prevenção específicos, conforme destacado por Vital, Silva (2004). Ademais, o estudo de Magno e (2013) foi encontrado nas bases de dados PubMed, SPORTDiscus, Web of Science, Scopus, servindo como referência para estudos mais completos sobre lesões no esporte paralímpico (Webborn, Emery, 2014; Willick e, 2013)., Edição Suplementar 1, São Paulo, v.7, n.24, p.231-236. 2015. ISSN 1984-4956

235 Além disso, outros estudos de Silva et al. (2011) analisou a frequência das lesões esportivas em atletas com deficiência visual de várias modalidades (atletismo, futebol de 5, goalball, judô e natação) sem, ao final, destacar quais foram as lesões que apresentaram maior frequência para as modalidades separadamente. CONCLUSÃO Os principais estudos sobre o Futebol de Cinco abordam o contexto histórico e apresentação da modalidade para a comunidade científica. Além disso, alguns estudos se preocuparam em analisar os aspectos táticos da modalidade, bem como lesões esportivas provenientes da prática do futebol de cinco. Estudos devem ser conduzidos procurando abordar os aspectos da organização do seu treinamento (periodização), a fisiologia específica às suas demandas, aspectos técnicos da aprendizagem, iniciação e treinamento da modalidade. REFERÊNCIAS 1-Bianco, M. A. Capacidades cognitivas nas modalidades esportivas coletivas. In: De Rose Jr, D. (Ed.). Modalidades Esportivas Coletivas. Guanabara Koogan. 2006. 2-Campos, L. F. C. C.; Silva, A. A. C.; Santos, L. G. T. F.; Costa, L. T.; Montagner, P. C.; Borin, J. P.; Araújo, P. F.; Gorla, J. I. Effects of training in physical fitness and body composition of the brazilian 5-a-side football team. Revista Andaluza de Medicina del Deporte. Vol. 6. p. 91-95. 2013. 3-Castelli; D. P.; Fontes, M. S. Futebol paraolímpico: manual de orientação para professores de Educação Física. Brasília. Comitê Paraolímpico Brasileiro. 2006. 50p. 4-Coelho, H. M. Q.; Moreira, H. F.; Vilani, L. H. P. O impacto das atividades esportivas na qualidade de vida das pessoas portadoras de deficiência. Pensar BH. Política Social. Vol. 19. p. 39-44. 2007. 5-Costa, A. M.; Winckler, C. A Educação Física e o esporte paralímpico. In: Mello, M. T.; Winckler, C. (Org.). Esporte Paralímpico. Atheneu. Vol. 1. p. 15-20. 2012. 6-Dalla Déa, V. H. S.; Duarte, E.; Gorla, J. I.; Inácio, H. L. D.; Castro, A. P. Avaliação dos estados de humor dos atletas paraolímpicos Brasileiros do futebol de cinco. Pensar a Prática. Vol. 14. Núm. 2. p. 1-10. 2011. 7-Fernandes, L. S.; Vargas, L.; Falkenbach, A. P. Paradesporto futsal para cegos: um estudo das motivações dos atletas participantes. Lecturas Educación Física y Deportes. Núm. 132. 2009. 8-Freire, J.; Morato, M. P. Futebol de 5. In: Winckler, C.; Mello, M. T. (Org.). Esporte Paralímpico. Atheneu. Vol. 1. p.115-124. 2012. 9-Magno, M. P.; Silva, E.; Morato, M. P.; Bilzon, J. L. J.; Duarte, E. Sports Injuries in Brazilian Blind footballers. International Journal Sports Medicine. Núm. 34. p. 239-243. 2013. 10-Marques, R. F. R.; Gutierrez, G. L.; Almeida, M. A. B.; Menezes, R. P. Mídia e o movimento paralímpico no Brasil: relações sob o ponto de vista de dirigentes do Comitê Paralímpico Brasileiro. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte. Vol. 27. Núm. 4. p.583-596. 2013. 11-Mauerberg de Castro, E. Atividade Física Adaptada. 2ª edição. Ribeirão Preto-SP. Novo Conceito Editora. 2011. 12-Mello, M. T. Avaliação Clínica e da Aptidão Física dos Atletas Paraolímpicos Brasileiros: Conceitos, Métodos e Resultados. Atheneu. 2004. 13-Mello, M. T.; Winckler, C. (Org.). Esporte Paralímpico. Atheneu. 2012. 14-Morato, M. P. Futebol para cegos (futebol de cinco) no Brasil: leitura do jogo e estratégias tático-técnicas. Dissertação Mestrado em Educação Física. Universidade Estadual de Campinas. UNICAMP. Brasil. 2007. 15-Morato, M. P.; Gomes, M. S. P.; Scaglia, A. J.; Almeida, J. J. G. A mediação cultural no futebol para cegos. Movimento. Vol. 17. p. 45-63. 2011a., Edição Suplementar 1, São Paulo, v.7, n.24, p.231-236. 2015. ISSN 1984-4956

236 16-Morato, M. P.; Gomes, M. S. P.; Duarte, E.; Almeida, J. J. G. A leitura de jogo no futebol para cegos. Movimento. Vol. 17. p. 97-114. 2011b. 17-Noce, F.; Simim, M. A. M.; Mello, M. T. A percepção de qualidade de vida de pessoas portadoras de deficiência física pode ser influenciada pela prática de atividade física? Revista Brasileira de Medicina do Esporte. Vol. 15. p. 174-178. 2009. 18-Samulski, D. M.; Noce, F.; Raboni, M. Apoio Psicológico aos Atletas Brasileiros durante as Paraolimpíadas em Atenas 2004: um relato de experiência prática. In: Silami Garcia, E.; Lemos, K. L. M. (Org.). Temas Atuais em Educação Física e Esportes. Belo Horizonte. Health. Vol. 1. p. 233-247. 2005. 19-Samulski, D. M.; Noce, F.; Anjos, D. R.; Lopes, M. C. Avaliação Psicológica. In: Mello, M. T. (Org.). Avaliação Clínica e da Aptidão Física dos Atletas Paraolímpicos Brasileiros: Conceitos, Métodos e Resultados. Atheneu. Vol. 1. p. 01-407. 2004. 20-Silva, M. P. M.; Duarte, E.; Silva, A. A. C.; Silva, H. G. P. V.; Vital, R. Aspectos das lesões esportivas em atletas com deficiência visual. Revista Brasileira de Medicina do Esporte. Vol. 17. Núm. 5. p. 319-323. 2011. Avaliação Clínica e da Aptidão Física dos Atletas Paraolímpicos Brasileiros: Conceitos, Métodos e Resultados. Atheneu. p. 39-56. 2004. 26-Voser, R. C.; Roletto, J. O futsal como meio de inclusão de deficientes visuais: análise de uma equipe masculina de Porto Alegre. Lecturas Educación Física y Deportes. Núm. 159. 2011. 27-Webborn, N.; Emery, C. Descriptive Epidemiology of Paralympic Sports Injuries. PM&R. Nova York. Núm. 6. p.s18-22. 2014. 28-Willick, S. E.; Webborn, N.; Emery, C.; Blauwet, C. A.; Pit-Grosheide, P.; Stomphorst, J.; Van de Vliet, P.; Marques, N. A. P.; Martinez-Ferrer, J. O.; Jordaan, E.; Derman, W.; Schwellnus, M. The epidemiology of injuries at the London 2012 Paralympic Games. British Journal of Sports Medicine, Loughborough. Núm. 47. p.426-432. 2013. 29-Winnick, J. Educação Física e Esportes Adaptados. Manole. 2004. Recebido para publicação em 26/08/2014 Aceito em 10/11/2014 21-Simim, M. A. M.; Silva, R. B.; Candido, R. F.; Silva, B. V. C.; Mendes, E. L.; Mota, G. R. Desempenho esportivo em atletas de Rugby em cadeira de rodas: uma revisão sistemática. Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício. São Paulo. Vol. 7. Núm. 39. p.244-252. 2013. 22-Souza, F. M. Futebol de 5 na reabilitação do cego. Lecturas Educación Física y Deportes. Núm. 162. 2011. 23-Souza, R. P. Futsal para cegos: uma proposta para iniciação. Revista Benjamin Constant. Edição 22. 2002. 24-Souza; R. P.; Campos, L. F. C. C. C.; Gorla, J. I. Futebol de 5: Fundamentos e Diretrizes. Atheneu. 2014. 25-Vital, R.; Silva, H. G. P. V. As lesões traumato-ortopédicas. In: Mello, M. T., Edição Suplementar 1, São Paulo, v.7, n.24, p.231-236. 2015. ISSN 1984-4956