LEVANTAMENTO E PADRÕES EPIDEMIOLÓGICOS DA HANSENÍASE NO ESTADO DO TOCANTINS Eduardo Bernardo Chaves Neto; Sandra Maria Botelho Pinheiro ;Fabiana Ribeiro Q. de Oliveira Fagundes Aluno do Curso de Medicina; Campus de Palmas e-mail: eduardochavesmed@gmail.com PIBIC/CNPq Orientador(a) do Curso de Medicina ;Campus de Palmas ; e-mail:sandrabotelho@uft.edu.br Co-orientadora: do Curso de Medicina ;Campus de Palmas ;fabiana.dermato@hotmail.com O Estado do Tocantins ocupa atualmente o segundo lugar em números de casos gerais na incidência da hanseníase e o primeiro dentre os menores de 15 anos. Sabidamente trata-se de um Estado de clima quente e úmido, semelhante aos outros estados que também possuem elevada incidência tais como Pará, Maranhão e Piauí, fato este que levanta questionamentos a respeito da influencia dos fatores climáticos sobre a incidência dessa patologia notável em nosso Estado. Com subsídio dos sistemas de monitoramento climático e epidemiológicos do Estado do Tocantins, foi possível correlacionar diretamente os fatores climáticos ( Umidade relativa média do ar, Temperatura máxima média; temperatura mínima média e período seco e chuvoso) à incidência da hanseníase orientada a fatores epidemiológicos como ( faixa etária abaixo de 15 anos; Forma clínica; Classificação operacional; sexo; município de residência e modo de entrada ) no período de janeiro de 2009 à julho de 2014. A analise objetiva dos dados obtidos foram processados e representados por intermédio de gráficos e tabelas. Observou-se que diferentemente do esperado, os fatores climáticos não se correlacionam, diretamente, com os altos índices de detecção da hanseníase do Estado. Não necessariamente os meses mais quentes e úmidos apresentaram os maiores índices de detecção, pelo contrário, a distribuição dos índices de incidência da hanseníase no transcorrer do ano se mostraram aleatórios. Sugere-se que mais estudos sejam feitos enfocando mais aspectos sociais, do que necessariamente climáticos. Palavras Chave: Fatores climáticos; Índice de detecção; Estado do Tocantins ; Faixa etária A hanseníase (lepra, leprosy, Mal de hansen) é uma doença infectocontagiosa, de evolução crônica, causada pelo bacilo de uma bactéria do filo actinobactéria e espécie Mycobacterium leprae. Admite-se ser o homem o reservatório natural do bacilo (SAMPAIO,2008; ALENCAR,2001-2009).
O contágio ocorre principalmente de individuo para individuo. As vias de eliminação do bacilo são especialmente as vias aéreas superiores e áreas de pele e/ou mucosas erosadas dos indivíduos classificados como multibacilares (MB) (SAMPAIO,2008). O Brasil é o segundo país em número absoluto de casos novos detectados no ano de 2009, no mundo (37.610) e o 1º lugar nas Américas (com 97,8% dos casos do continente americano) (WHO, 2010 b). As regiões Norte e Nordeste do país têm apresentado a maior tendência de crescimento em número de casos novos detectados, sendo uma área prioritária para o controle da hanseníase (Brasil, 2007 b; 2008 b). De acordo com os dados do Ministério da Saúde de 2010, observou- se em torno de 37 mil casos novos de hanseníase distribuídos em todos os Estados no ano de 2009 (Brasil, 2010 a). Os quatro Estados: Pará, Tocantins, Maranhão e Piauí estão entre os 10 primeiros com maior coeficiente de detecção para casos novos de hanseníase. Destaca-se, em segundo lugar, o estado do Tocantins com 88,5 casos novos para cada 100 mil habitantes (1.144 casos). Em menores de 15 anos de idade, no Brasil, houve 2.669 casos novos e um coeficiente de detecção de 5,4 casos por 100 mil habitantes. Nesta faixa etária estes quatro Estados apresentam um maior destaque, tendo três deles entre os cinco primeiros. Tocantins é o primeiro com 102 casos e um coeficiente de detecção de 26,5 casos por 100 mil habitantes (Brasil, 2010 a).associar a alta incidência da patologia a fatores como condições ambientais e climáticas: temperatura, unidade relativa do ar, período chuvoso e seco com o aparecimento de novos casos torna-se um fator importante, pois caso confirmada alguma correlação as singularidades referentes ao clima e a incidência da doença poderão ser levadas em conta no planejamento de campanhas e ações de saúde, orientando no sentido das épocas do ano ideais. A epidemiologia da hanseníase, particularmente sua distribuição geográfica, permanece com numerosas lacunas e enigmas. Várias das principais áreas historicamente endêmicas no mundo encontram-se sob clima tropicais, elevadas temperaturas e precipitações pluviométricas. Em regiões de clima temperado e frio, entretanto, a hanseníase também já apresentou incidências altas, não obstante fosse eliminada sem uma explicação definitiva (MARTINS; et al., 2005). Atualmente, 80% dos casos novos concentram-se em países localizados na faixa intertropical e o Brasil é um deles. Até o momento não há trabalhos publicados, no quesito de correlacionar fatores climáticos e a incidência de hanseníase especificamente no estado do Tocantins. Os poucos trabalhos publicados, que se relacionam de alguma maneira com o levantamento dos casos de hanseníase até
os 15 anos de idade, faixa etária em que o estado do Tocantins é líder em incidência (Brasil, 2010 a), se situam até o ano de 2010 (Cótica, 2010). O presente trabalho visa a coleta de dados mais recentes até o ano de 2014, dando mais fidelidade ao entendimento do quadro no contexto atual, proporcionando, assim, uma intervenção mais contundente Materiais e Métodos O presente trabalho refere-se a um estudo retrospectivo, clínico e epidemiológico dos casos notificados de hanseníase no estado do Tocantins, na faixa etária de até 15 anos no período de 2009 a julho de 2014. Juntamente com um levantamento do perfil climático dos municípios de Palmas, Araguaína e Gurupi no Estado do Tocantins correlacionando as seguintes características: umidade relativa do ar, temperatura e período seco e chuvoso A escolha dos municípios de Palmas, Araguaína e Gurupi como representativos se embasou no perfil climático e epidemiológico do Estado, sendo que esses municípios localizados ao Norte ( Araguaína ), ao Centro ( Palmas ) e ao Sul Gurupi. São, também, municípios significantes epidemiologicamente tendo todos mais de 50 mil habitantes e índices de detecção : Gurupi 5,67 Araguaína 8,42 e Palmas 5,10 todos por 100.00 Habitantes Foram avaliadas informações presentes no banco de dados oficial do Sistema de Informação de Agravos de Notificação SINAN, juntamente com a secretaria municipal de saúde do município de Palmas. As variáveis analisadas foram o município de residência, o mês da notificação, o sexo, a faixa etária, a forma clínica, a classificação operacional, o modo de entrada (apenas casos novos), e a avaliação. O indicador avaliado foi o coeficiente de detecção da hanseníase em menores de 15 anos por 100 mil habitantes, Esse indicador faz parte da estratégia para o monitoramento do controle da endemia no período entre 2011 e 2015 em países e regiões que ainda não alcançaram a meta de eliminação da hanseníase como problema de saúde pública (BRASIL, 2010). Nos Municípios de Araguaína e Gurupi, o período e variáveis se restringiram respectivamente aos Anos de janeiro de 2009 e dezembro de 2012 e ao coeficiente de detecção por 10 mil habitantes. No município de Palmas, na Secretaria Municipal de Saúde, foram coletados e analisados dados referentes ao período de janeiro de 2009 a maio de 2014 de todas as variáveis propostas, sendo a
limitação decorrente da ausência de alguns dados climatológicos, que segundo as fontes pesquisadas só apresentavam disponíveis até o mês de maio do ano de 2014. Os resultados epidemiológicos foram cruzados com dados climáticos ( temperatura e umidade) obtidos por intermédio do banco de dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), pelo Banco de Dados Meteorológicos para Ensino e Pesquisa (BDMEP) e Secretaria da Agricultura e Pecuária do Tocantins ( SEAGRO-TO ).Os resultados obtidos foram catalogados e analisados por intermédio do programa Microsoft Office Excel 2007, sendo por meio deste confeccionadas tabelas e gráficos representativos. Resultados e Discussão Foram analisados e correlacionados 136 casos de hanseníase em menores de 15 anos nos municípios de Palmas, Araguaína e Gurupi. Com uma média de 4,5 casos por ano no município de Gurupi e com média anual do coeficiente de incidência de 5,67 casos para cada 100.000 habitantes. No município de Araguaína a média de casos por ano foi de 13,25 e a média anual do coeficiente de incidência de 8,42 casos para 100.000 habitantes. No município de Palmas constatou-se uma média de 11,81 casos por ano e coeficiente de incidência de 5,10 casos para cada 100.000 habitantes. Com relação à idade, evidenciou-se que indivíduos menores de 15 anos são acometidos pela doença, sugerindo o contágio nos primeiros anos de vida. Este quadro é relacionado à existência de um aumento na cadeia de transmissão do bacilo na comunidade, além de uma deficiência na vigilância e no controle da doença. Em países endêmicos, a população infantil entra precocemente em contato com doentes bacilíferos, sendo possível diagnosticar a doença entre crianças de três a cinco anos, e raros casos em menores de dois anos. (PEREIRA, 2011) Abordado os casos no quesito gênero pode-se perceber que 51,47 % eram representantes do sexo masculino e 48,52 % do sexo feminino, acompanhando também os padrões de distribuição conforme o gênero. Esse quadro condiz com o âmbito nacional e internacional, a destacar Índia e Indonésia. Neste contexto, pode-se inferir que os homens têm maior contato social entre homens. (MELÃO, 2011) Observou-se determinada regularidade nos dados climatológicos,conforme descrito na literatura. É evidente a delimitação climática em período seco e chuvoso conforme as épocas do ano.o clima do Estado, este é Tropical semiúmido, com dois períodos de chuva (outubro a abril) e seca (maio a setembro), sendo os meses de janeiro e agosto os mais chuvosos e secos, respectivamente.a
precipitação pluvial varia de 1.000 a 1.800 mm/ano e uma luminosidade de cerca de 2.470 horas/ano (TOCANTINS, 2012). Em nenhum dos municípios estudados foi encontrado um padrão específico de distribuição epidemiológica que pudesse associar diretamente a incidência da doença aos fatores climáticos da região. Notou-se uma distribuição epidemiológica irregular sem altas taxas de variação Literatura Citada ALENCAR, C. H. M. Padrões Epidemiológicos da Hanseníase em Área de Alto Risco de Transmissão nos Estados do Maranhão, Pará, Tocantins e Piauí, 2001-2009. Tese (Programa de Pós- Graduação em Saúde Coletiva), UFC: Fortaleza, CE. 314 páginas. BRASIL. Guia para o controle da hanseníase. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de Atenção Básica, 2002a. CÓTICA, E. F. A. Perfil clínico-epidemiológico e qualidade de vida em crianças e adolescentes portadores de hanseníase no município de Palmas-TO. 2010. 134 f. Dissertação (Mestrado em Ciências da Saúde)-Universidade de Brasília, Faculdade de Ciências Médicas, Brasília, 2010. MELÃO, S. et al. Perfil epidemiológico dos pacientes com hanseníase no extremo sul de Santa Catarina, no período de 2001 a 2007. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical v. 44 p. 79-84, 2011. SAMPAIO, SAP, RIVITTI, E. Hanseníase. In: Dermatologia. 3a Edição. São Paulo: Artes Médicas. 2008; 41:625-51. AGRADECIMENTOS O presente trabalho foi realizado com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNPq Brasil