GRUPOS ECONÔMICOS E RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA Maria Rita Ferragut Livre-docente em Direito Tributário pela USP Mestre e Doutora pela PUC/SP rita@fmac.adv.br
GRUPO ECONÔMICO Conjunto de sociedades empresárias que atuam em sincronia, com o intuito de lograr maior eficiência em suas atividades. 2
Grupo econômico de fato Legislação Trabalhista - Decreto-lei nº 5.452/43, artigo 2º 2º: 2º - Sempre que uma ou mais empresas, tendo, embora, cada uma delas, personalidade jurídica própria, estiverem sob a direção, controle ou administração de outra, constituindo grupo industrial, comercial ou de qualquer outra atividade econômica, serão, para os efeitos da relação de emprego, solidariamente responsáveis a empresa principal e cada uma das subordinadas. Legislação Tributária - IN RFB nº 971/2009 Art. 494. Caracteriza-se grupo econômico quando 2 (duas) ou mais empresas estiverem sob a direção, o controle ou a administração de uma delas, compondo grupo industrial, comercial ou de qualquer outra atividade econômica. 3
Quando poderá existir responsabilidade e consequente redirecionamento do executivo fiscal? 1. Interesse comum art. 124, I, CTN 2. Abuso de personalidade art. 50 CC (responsabilidade apenas patrimonial) 4
INTERESSE COMUM, JURÍDICO E ECONÔMICO O que é, afinal, interesse? Quando ele se mostra relevante para a solidariedade do grupo econômico e admnistradores? 5
Interesse comum e jurídico Art. 124 do CTN - critérios para estabelecer vínculo de solidariedade: (i) interesse comum na situação que constitua o FJT e (ii) designação expressa em lei. Interesse comum (art. 124, I): Ausência de interesses jurídicos opostos na situação que constitua o FJT + proveito conjunto dessa situação Pessoas que realizam conjuntamente o fato gerador Forçoso concluir, portanto, que o interesse qualificado pela lei não há de ser o interesse econômico no resultado ou no proveito da situação que constitui o fato gerador da obrigação principal, mas o interesse jurídico, vinculado à atuação comum ou conjunta da situação que constitui o fato imponível. (REsp 859.61/RS, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, DJU 15.10.2007) 6
Interesse econômico Interesse nas consequências advindas da realização do fato gerador. Participação no resultado dos eventuais lucros auferidos, e Relação de cooperação e não de controle dentro grupo econômico. *** Não é causa de responsabilidade solidária 7
ARTIGO 50 CÓDIGO CIVIL Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento das partes, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios das pessoas jurídicas. Responsabilidade patrimonial = preserva-se a personalidade jurídica. PJ permanecerá existindo, com todas as suas prerrogativas legais e responsabilidades pelos demais atos, que não o abusivo. Art. 50 CC não é hipótese de responsabilidade tributária (arts. 124, 132 a 135 e 137 do CTN). 8
Desvio de finalidade - ocorrências lesivas a terceiros, mediante a utilização da pessoa jurídica para fins indevidos e diversos dos previstos no ato constitutivo, e dos quais se infira a deliberada aplicação da sociedade em finalidade irregular e danosa. Confusão patrimonial - impossibilidade de fixação do limite entre os patrimônios da pessoa jurídica e o dos sócios e acionistas, tamanha a mistura (confusão) que se estabelece entre ambos. 9
Desconsideração inversa da personalidade jurídica Afastamento da autonomia patrimonial da sociedade, para, contrariamente ao que ocorre na desconsideração tradicional, atingir o ente coletivo e seu patrimônio social, de modo a responsabilizar a pessoa jurídica por obrigações do sócio ou administradores. Fábio Konder Comparato (O Poder de Controle na Sociedade Anônima. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2008, fl. 464.): a desconsideração da personalidade jurídica não atua apenas no sentido da responsabilidade do controlador por dívidas da sociedade controlada, mas também em sentido inverso, ou seja, no da responsabilidade desta última por atos do seu controlador. Instrumento hábil para combater a dilapidação patrimonial, prática de transferência de bens para pessoa jurídica sobre a qual o devedor detém controle. 10
Interpretação restritiva do art. 50 do CC norma somente serviria para atingir bens de sócios pessoas físicas e administradores em razão de dívidas da sociedade, e não o inverso. Improcedência desse argumento pois: 1. Sócio não é somente uma pessoa física. São incontáveis as sociedades que possuem em seu quadro pessoas jurídicas titulares de quotas e ações. 2. Interpretação teleológica: finalidade da disregard doctrine é combater a utilização indevida do ente societário. Utilização indevida da PJ pode compreender tanto a hipótese de o sócio esvaziar o patrimônio da pessoa jurídica para fraudar terceiros, quanto no caso de ele esvaziar o seu patrimônio pessoal e o integralizar em PJs (transferência de bens a entes societários, de modo a ocultar o seu patrimônio). - O esvaziamento aplica-se igualmente entre empresas de um mesmo grupo econômico. Art. 50 do CC contempla as duas formas de desconsideração: a tradicional e a inversa. Aplica-se aos grupos econômicos. 11
Incidente de desconsideração da personalidade jurídica CPC/15
Relevância do tema Arts. 133 a 136 do NCPC Introduziu o incidente de desconsideração da personalidade jurídica Antes da apreciação do pedido de responsabilidade patrimonial, o terceiro poderá defender-se, apresentar provas e ter sua defesa apreciada. O contraditório será observado desde o início. Corrigiu uma terrível patologia de nosso sistema processual, que, ao não aceitar a exceção de pré-executividade (Súmula 393 STJ), e tampouco prever qualquer outra forma de defesa prévia, impunha o lento e oneroso caminho dos embargos à execução fiscal. 13
Incidente de desconsideração da personalidade jurídica Título III Da intervenção de terceiros Capítulo IV Do incidente de desconsideração da personalidade jurídica Art. 133. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica será instaurado a pedido da parte ou do Ministério Público, quando lhe couber intervir no processo. 2º Aplica-se o disposto neste Capítulo à hipótese de desconsideração inversa da personalidade jurídica. Art. 134. O incidente de desconsideração é cabível em todas as fases do processo de conhecimento, no cumprimento de sentença e na execução fundada em título executivo extrajudicial. 2º Dispensa-se a instauração do incidente se a desconsideração da personalidade jurídica for requerida na petição inicial, hipótese em que será citado o sócio ou a pessoa jurídica. 3º A instauração do incidente suspenderá o processo, salvo na hipótese do 2º. 4º O requerimento deve demonstrar o preenchimento dos pressupostos legais específicos para desconsideração da personalidade jurídica. Art. 135. Instaurado o incidente, o sócio ou a pessoa jurídica será citado para manifestar-se e requerer as provas cabíveis no prazo de 15 (quinze) dias. Art. 136. Concluída a instrução, se necessária, o incidente será resolvido por decisão interlocutória. Parágrafo único. Se a decisão for proferida pelo relator, cabe agravo interno. 14
INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA Incidente processual Aplicável somente no caso de desconsideração da personalidade jurídica (art. 50 CC). Desconsideração tradicional e inversa da personalidade jurídica Cabível em todas as fases do processo de conhecimento, cumprimento de sentença e execução de título extrajudicial Suspensão do processo principal Defesa pode versar tanto sobre o mérito da cobrança quanto sobre os pressupostos autorizadores da corresponsabilidade patrimonial Se a desconsideração for requerida na petição inicial, dispensa-se a instauração do incidente Possibilidade de ampla produção probatória antes do despacho que autoriza a responsabilidade patrimonial Prescrição para o pedido de desconsideração: 5 anos contados da identificação do ilícito (teoria da actio nata) 15 Incidente será resolvido por decisão interlocutória, passível de ser agravada
GRUPOS ECONÔMICOS ADMINISTRADORES PESSOAS FÍSICAS Fundamento legal: Art. 50 CC (ilícito) Fundamento legal: Art. 135 do CTN (ilícito) Intervenção de terceiros - responsabilidade patrimonial Incidente de desconsideração da personalidade jurídica Embargos de terceiros Sujeição passiva tributária Exceção de pré-executividade Embargos à execução fiscal Desconsideração da personalidade jurídica Redirecionamento da execução fiscal Autorização judicial prévia Desnecessidade de processo administrativo/não cabimento da decadência/não cabimento do arrolamento de bens 16 Desnecessidade de autorização judicial prévia Necessidade de processo administrativo/cabimento da decadência/arrolamento de bens
Obrigada pela atenção! rita@fmac.adv.br