Contabilidade ambiental de processos de revestimento em zinco e organo metálico

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Transcrição:

Contabilidade ambiental de processos de revestimento em zinco e organo metálico José F. Faro (UNIP) fernando_faro@hotmail.com Biagio F. Gianetti (UNIP) biafgian@unip.br Silvia Bonilla (UNIP) bonilla@unip.br Cecília M.V.B. Almeida (UNIP) cmvbag@unip.br Resumo: O presente artigo visa analisar os recursos utilizados por dois processos distintos de revestimento, empregados em fixadores metálicos. Adota-se como objeto do estudo, a síntese emergética, e assim, procura-se demonstrar as diferenças entre os processos analisados. Além disso, procura-se explorar o atendimento às exigências de um mercado cada vez mais competitivo e em busca de melhorias das especificações de revestimento, o segmento automobilístico. Palavras-Chave: Síntese Emergética; Revestimentos; Processos. 1. Introdução Com o uso de indicadores emergéticos de Odum (1996); Brown e Ulgiati (2002) se avalia a substituição do processo a base de zinco (tradicional) pelo revestimento organo metálico. No presente estudo, os dois revestimentos são utilizados em fixadores metálicos, aplicados em diversas juntas e componentes destinados à indústria automobilística. No processo tradicional é realizada a eletrodeposição de zinco sobre a superfície da peça, sendo que em geral a resistência à corrosão observada gira em torno de 168 horas sem corrosão do metal base. Comparada à corrosão dos revestimentos em organo metálico a resistência do processo de zincagem é considerada baixa, além deste último utilizar Cr 6+, um metal pesado e agressivo ao meio ambiente. A tecnologia de organo metálico foi desenvolvida nos Estados Unidos em meados dos anos 60. A empresa responsável por este desenvolvimento, chamava-se na época Diamond Shamrock Co. Tinha este desenvolvimento o objetivo de encontrar uma solução para problemas de resistência à corrosão, à ação de produtos químicos agressivos (fluidos, solventes, combustíveis e outros) e a ausência de fragilização por absorção de hidrogênio (liberado em reações químicas durante a deposição do zinco). Em geral, observa-se uma resistência à corrosão para este tipo de revestimento em torno de 480 horas sem corrosão do metal base. Ao mesmo tempo o revestimento com organo metálicos poderia oferecer um produto que gerasse baixos níveis de poluição ambiental, já que a utilização do cromo no processo seria eliminada. Serão comparados os recursos utilizados em cada processo e os respectivos índices emergéticos. Uma avaliação de sensibilidade com base na renovabilidade dos fluxos de entrada será utilizada para interpretar os resultados obtidos do cálculo dos indicadores. Avalia-se as duas linhas de revestimento, que possuem um processo inicial de limpeza e revestimento. Na linha de zinco há processos intermediários de cromatização e centrifugação, 1

enquanto na linha de organo metálico há processos intermediários de cura em forno durante as etapas de aplicação do base coat e do top coat. O processo de zincagem compreende as seguintes etapas: a) Limpeza das peças com desengraxante alcalino b) Decapagem das peças em banho ácido c) Aplicação da base de zinco d) Cromatização e) Centrifugação No processo de zincagem eletrolítica analisado, observa-se a presença de Cr 6+, que já está proibido de ser utilizado em grande parte do mundo. Parte da água presente na linha de zincagem é reutilizada após tratamento em ETE, enquanto na linha de organo metálico a água que não mais pode ser utilizada é tratada e descartada. O processo de organo metálico compreende as seguintes etapas: a) Limpeza das peças com desengraxante alcalino b) Jateamento mecânico c) Aplicação de base coat d) Cura do base coat e) Aplicação do top coat f) Cura do top coat A tecnologia do organo metálico possui elevada resistência à corrosão em teste de névoa salina, além de ser isento de metais pesados, como por exemplo o Cr 6+. Para ambas as linhas, a unidade funcional é de 60 toneladas por mês de fixadores metálicos revestidos. Os diagramas de fluxos de energia de Odum (1996) representam os processos de revestimento de zincagem tradicional (Figura 1) e de aplicação de organo metálico (Figura 2), delimitando as respectivas fronteiras deste estudo. Sol Serviços Ambientais A L H Eletricidade Produtos Químicos Máquinas Água de poço artesiano Trabalho e Serviços Água Resíduos Líquidos ETE Água Lodo Metálicos para Revestimento Limpeza e Processamento Centrifugação Revestidos para a indústria automotiva FIGURA 1- Diagrama de fluxos de energia do processo de zincagem tradicional 2

H L Sol Serviços Ambientais A Gás (GLP) Água Eletricidade Produtos Químicos Máquinas Trabalho e Serviços Resíduos Líquidos ETE Água Água para Tratamento e Descarte Metálicos para Revestimento Limpeza e Aplicação Centrifugação e Cura Revestidos para a indústria automotiva FIGURA 2- Diagrama de fluxos de energia do processo de aplicação de organo metálico 2. Metodologia A metodologia utilizada é a contabilidade ambiental comparativa entre uma linha de zincagem e uma linha de revestimento organo metálico com base na síntese emergética. Foram coletados os dados das duas linhas, tendo como base o ano de 2005 para a linha de zincagem e o projeto de implantação da linha de organo metálico em uma indústria de autopeças. Os indicadores utilizados para a comparação entre os dois processos foram o índice de rendimento emergético (EYR), que reflete a habilidade do processo em utilizar recursos locais, mas não diferencia recursos renováveis e não renováveis conforme Odum (1996); o índice de investimento emergético (EIR) que valora se o processo utiliza com eficiência o investimento efetuado pelo sistema econômico, em confronto com os recursos locais conforme Odum (1996); e o índice de carga ambiental (ELR), que indica o nível de estresse na utilização dos recursos renováveis (R) locais (ODUM, 1996). Foi, também, calculado o índice de sustentabilidade (ESI), que permite avaliar se o processo fornece uma contribuição economicamente apropriada em relação ao estresse ambiental a ele associado (BROWN e ULGIATI, 2002). 3. Resultados e Discussão Com base nos dados coletados, é possível verificar a incidência dos recursos utilizados como mostrado nas tabelas 1 e 2. 3

TABELA 1- Fluxos de emergia da linha de zinco incluindo Estação de Tratamento de Efluentes Emergia por Emergia % % Nota Descrição Valor unidade (sej/ano) sej/sej sej/sej (sej/un) (a) (b) Unidade Classe Fase de implantação 1 Concreto g F 5,94 x 10 6 1,54 x 10 9 9,15 x 10 15 6 2 Aço g F 1,60 x 10 6 2,77 x 10 9 4,43 x 10 15 3 3 Polipropileno g F 1,37 x 10 5 5,87 x 10 9 8,04 x 10 14 <1 4 Máquinas g F 5,30 x 10 4 4,10 x 10 9 2,17 x 10 14 <1 5 Mão-de-obra J F 4,02 x 10 7 4,30 x 10 6 1,73 x 10 14 <1 6 Motores e bombas g F 2,22 x 10 4 4,10 x 10 9 9,10 x 10 13 <1 7 PVC g F 1,15 x 10 4 5,87 x 10 9 6,75 x 10 13 <1 8 Água de poço g N 2,70 x 10 7 2,25 x 10 5 6,08 x 10 12 <1 9 Borracha g F 1,00 x 10 3 4,30 x 10 9 4,30 x 10 12 <1 10 Cobre g F 2,16 x 10 2 2,00 x 10 9 4,32 x 10 11 <1 Fase de operação 11 Energia elétrica J F 4,68 x 10 11 1,65 x 10 5 7,72 x 10 16 48 4 12 Mão-de-obra J F 9,27 x 10 9 4,30 x 10 6 3,99 x 10 16 25 2 13 Produtos químicos g F 2,85 x 10 7 1,00 x 10 9 2,85 x 10 16 18 1 14 Água de poço g N 2,16 x 10 9 2,25 x 10 5 4,86 x 10 14 <1 15 Aço (fixadores) g N 7,20 x 10 8 2,77 x 10 9 2,01 x 10 18 93 Emergia envolvida no processo g 2,21 x 10 10 1,61 x 10 17 100 Emergia envolvida nos fixadores revestidos (*) g 3,00 x 10 9 2,17 x 10 18 (*) massa de revestimento: 7,20 x 10 6 g/ano 3.1 Análise dos fluxos de emergia da linha de zinco Na tabela acima é calculada a emergia envolvida no processo, bem como a emergia envolvida nos fixadores revestidos. No processo, os maiores valores de emergia são verificados para a energia elétrica (48%), mão-de-obra (25%) e produtos químicos, 18% (Tabela 1, coluna a). A última coluna da tabela (b), considera a massa das peças, quando então os valores percentuais passam a ser de 4% para a energia elétrica, 2% para a mão-de-obra, 1% para os produtos químicos e 93% para o aço envolvido nas peças (fixadores). A emergia por unidade calculada para o processo (2,21 x 10 10 sej/g) e para os fixadores revestidos (3,00 x 10 9 sej/g) mostra que o fixador revestido apresenta um aumento de emergia por unidade de 8,3 % sej/sej em relação ao fixador sem revestimento. 4

TABELA 2- Fluxos de emergia da linha de organo metálico incluindo Estação de Tratamento de Efluentes Emergia por Emergia % % Nota Descrição Valor unidade (sej/ano) sej/sej sej/sej (sej/um) (a) (b) Unidade Classe Fase de implantação 1 Concreto g F 3,50 x 10 6 1,54 x 10 9 5,39 x 10 15 2 2 Máquinas g F 5,58 x 10 5 4,10 x 10 9 2,29 x 10 15 1 3 Aço g F 2,14 x 10 5 2,77 x 10 9 5,93 x 10 14 <1 4 Motores e bombas g F 1,10 x 10 5 4,10 x 10 9 4,51 x 10 14 <1 5 Borracha g F 5,00 x 10 4 4,30 x 10 9 2,15 x 10 14 <1 6 Mão-de-obra J F 3,01 x 10 7 4,30 x 10 6 1,29 x 10 14 <1 7 Polipropileno g F 4,00 x 10 3 5,87 x 10 9 2,35 x 10 13 <1 8 Cobre g F 2,80 x 10 3 2,00 x 10 9 5,60 x 10 12 <1 9 Água de poço g N 3,50 x 10 6 2,25 x 10 5 7,88 x 10 11 <1 Fase de operação 10 Energia elétrica J F 9,36 x 10 11 1,65 x 10 5 1,54 x 10 17 56 7 11 Mão-de-obra J F 2,29 x 10 10 4,30 x 10 6 9,83 x 10 16 36 4 12 Produtos químicos g F 1,18 x 10 7 1,00 x 10 9 1,18 x 10 16 4 13 Água de poço g N 1,20 x 10 8 2,25 x 10 5 2,70 x 10 13 <1 14 Gás (GLP) g F 8,30 x 10 7 4,80 x 10 4 3,98 x 10 12 <1 15 Aço (fixadores) g N 7,23 x 10 8 2,77 x 10 9 2,00 x 10 18 88 Emergia envolvida no processo 9,13 x 10 10 2,74 x 10 17 100 Emergia envolvida nos fixadores revestidos (*) 3,15 x 10 9 2,27 x 10 18 (*) massa de revestimento: 3,00 x 10 6 g/ano Fonte: Metodologia conforme Odum (1996). 3.2 Análise dos fluxos de emergia da linha de organo metálico Na tabela acima é calculada a emergia envolvida no processo, bem como a emergia envolvida nos fixadores revestidos. No processo, os maiores valores de emergia são verificados para a energia elétrica (56%), mão-de-obra (36%) e produtos químicos, 4% (Table 2, coluna a). A última coluna da tabela (b), considera a massa das peças, quando então os valores percentuais passam a ser de 7% para a energia elétrica, 4% para a mão-de-obra e 88% para o aço envolvido nas peças (fixadores). A emergia por unidade calculada para o processo (9,13 x 10 10 sej/g) e para os fixadores revestidos (3,15 x 10 9 sej/g) mostra que o fixador revestido apresenta um aumento de emergia por unidade de 190 % sej/sej em relação ao fixador sem revestimento. 3.3 Comparação entre os dois processos Analisando as tabelas 1 e 2 pode-se constatar que a emergia do processo organometálico é 70% maior em relação à emergia do zinco. 5

Comparando-se os resultados obtidos nos dois processos, observa-se que a emergia dos fixadores revestidos com organo metálico é 4% maior que a emergia dos fixadores submetidos à zincagem tradicional. A emergia por unidade do fixador revestido com organo metálico é 5% maior que a emergia por unidade fixador revestido com zinco. Quando se compara apenas os processos de revestimento, observa-se que a emergia por unidade do processo de aplicação do organometálico é 4 vezes maior que a emergia por unidade do processo de zincagem. Este resultado, que não considera as vantagens relacionadas ao revestimento organo metálico, como a maior resistência à corrosão e a eliminação da etapa de cromeação do processo, indica que o processo de zincagem tradicional é 4 vezes mais eficiente que o de aplicação de organo metálico. Desta forma, considerando-se apenas a utilização de recursos para a obtenção de um produto similar, obtém-se como resultado que o processo de zincagem é mais adequado já que utliza 70% sej/sej menos emergia que o processo concorrente. Este resultado indica que uma análise mais aprofundada, considerando a vida útil dos fixadores revestidos e os benefícios provenientes da eliminação do cromo no processo deve ser efetuada para complementar a avaliação. Pode-se utilizar o diagrama triangular conforme Giannetti e colaboradores (2005); Almeida e colaboradores (2005); Barrella e colaboradores (2005) para avaliar a importância dos recursos com maior fluxo em cada processo (energia elétrica, mão de obra e produtos químicos). O diagrama da figura 3 mostra a distribuição destes três fluxos nos dois processos. O tamanho dos pontos é proporcional à emergia total de cada sistema. FIGURA 3- Diagrama triangular representando os três principais fluxos de emergia de cada processo Observa-se no diagrama triangular da Figura 3, os três principais fluxos de cada processo, EE (energia elétrica), MO (mão de obra) e PQ (produtos químicos). O ponto 1 representa o processo de zincagem tradicional e o ponto 2 o de aplicação de organo metálico. No diagrama triangular a linha pontilhada (linha de sensibilidade) que parte do vértice MO mostra que a mão-de-obra é significativamente maior para a aplicação do organo metálico que para a aplicação de zinco. Entretanto, a proporção entre os outros dois fluxos, PQ e EE, é praticamente a mesma nos dois processos. Já a linha paralela ao lado PQ-MO mostra que a utilização de energia elétrica é proporcionalmente a mesma para os dois processos de revestimento, ou seja, tanto a zincagem tradicional como a aplicação de organo metálico contam com um fluxo de elegia elétrica de aproximadamente 56% sej/sej. 6

3.3 Cálculo dos indicadores emergéticos Os dados mostrados nas tabelas 1 e 2 permitem calcular indicadores para a avaliação mais detalhada dos sistemas. Na tabela 3 são mostrados os indicadores calculados para os processos de revestimento e para os fixadores revestidos. TABELA 3- Indicadores para os processos de revestimento e para os fixadores revestidos Processo de revestimento revestidos zinco organometálico zinco organometálico Rendimento Emergético (EYR) 1,00 1,00 13,36 8,26 Investimento Emergético (EIR) 327,24 9856,12 0,08 0,14 Carga Ambiental (ELR) NA NA NA NA Índice de Sustentabilidade (ESI) NA NA NA NA NA Não Aplicável Analisando-se os processos de revestimento, verifica-se que o rendimento emergético (EYR) é igual nos dois processos, o que mostra que a relação entre a emergia total e o investimento econômico é a mesma. Quando são considerados os fixadores revestidos, observase melhor rendimento para o processo de zinco, o que significa a contribuição do processo de zincagem para a economia é maior. No caso do investimento emergético (EIR), observa-se valor extremamente elevado para o processo de revestimento em organo metálico em comparação ao zinco, o que demonstra a maior utilização de fontes da economia (F) e baixa utilização de fontes renováveis (R) e não renováveis (N) locais. Os índices de carga ambiental (ELR) e de sustentabilidade (ESI) não podem ser calculados para os sistemas acima em virtude da inexistência de fontes renováveis (R). Nesta análise, pode-se dizer que quanto ao uso de recursos, o processo de zincagem tradicional é melhor que o de aplicação de organo metálico tanto para a economia como para o meio ambiente. No caso das peças revestidas o mesmo resultado de avaliação foi encontrado. 3.3.1 Análise de sensibilidade Os indicadores da tabela 3 foram calculados sem considerar a porcentagem renovável dos fluxos mostrados nas tabelas 1 e 2. Entretanto, dois dos principais fluxos que contribuem para a emergia total dos dois processos apresentam uma alta taxa de renovabilidade: a energia elétrica e a mão de obra. A energia elétrica no Brasil é 95% proveniente de hidroelétricas conforme Pereira (2002) e composta por 70% de energia potencial, renovável (ODUM, 1996). Desta forma, pode-se atribuir uma taxa de 67% de renovabilidade a este fluxo. Da mesma forma, vários pesquisadores vêm atribuindo uma taxa de renovabilidade à mão de obra, considerando a porcentagem de energia renovável do país a que esta mão-de-obra se refere (TIEZZI, 2002). No Brasil, a contribuição de emergia renovável para a emergia total do país é de 70% sej/sej (COELHO, ORTEGA & COMAR, 1996, 1989 e 1981). Não foi atribuída taxa de renovabilidade aos outros fluxos, pois sua contribuição para a emergia total dos processos é pequena. A tabela 4 mostra os índices calculados considerando-se a taxa de renovabilidade destes dois fluxos. 7

TABELA 4- Indicadores para os processos de revestimento e para os fixadores revestidos, considerando-se a taxa de renovabilidade dos fluxos de energia elétrica e mão de obra Processo de revestimento MO70 EE67 revestidos MO70 EE67 zinco organometálico zinco organometálico Rendimento Emergético (EYR) 1,99 2,70 26,58 22,41 Investimento Emergético (EIR) 1,01 0,59 0,04 0,05 Carga Ambiental (ELR) 1,02 0,59 26,02 12,16 Índice de Sustentabilidade (ESI) 1,95 4,60 1,02 1,84 Observa-se na tabela 4 que o rendimento emergético do processo de aplicação do organo metálico é maior que o de zincagem tradicional, o investimento emergético é menor e, também a carga ambiental. O índice de sustentabilidade indica um valor duas vezes maior para o processo de aplicação do organo metálico. Com o cálculo dos indicadores considerando-se a taxa de renovabilidade dos fluxos a posição dos dois processos estudados se inverte com relação ao rendimento emergético e ao investimento emergético. Se nota, também que os valores dos índices de carga ambiental e de sustentabilidade são favoráveis ao processo de aplicação do revestimento organo metálico. Cabe ressaltar que, de acordo com os critérios adotados para determinar a taxa de renovabilidade dos dois fluxos, os resultados obtidos passam a depender da localização geográfica dos processos estudados e que a comparação com sistemas de outros países, deverá utilizar os mesmos critérios. Na Itália, por exemplo, a componente renovável do país é de 10% (ULGIATI, 1994). Desta forma, os indicadores calculados para sistemas semelhantes naquele país teriam uma variação menos expressiva do que a calculada para os sistemas localizados no Brasil. No caso das peças revestidas, o rendimento emergético do fixador revestido por organo metálico se mantém menor que o do fixador zincado, assim como o investimento emergético do organo metálico ainda é maior que o do fixador com zinco. Por outro lado, o índice de carga ambiental do fixador revestido com organo metálico é duas vezes menor que a do fixador zincado. Da mesma forma, a sustentabilidade do fixador zincado é menor que a do revestido com organo metálico. No diagrama triangular da figura 4, observa-se que os processos em zinco e organo metálico, quando consideradas as frações renováveis de recursos como energia elétrica e mão-deobra, demonstram sustentabilidade a médio prazo. Há grande concentração de recursos da economia nos sistemas tradicionais, ou seja, não se utilizam recursos locais (renováveis ou não renováveis). Os pontos 1 e 3 representam os sistemas tradicionais de revestimento em zinco e organo metálico respectivamente, onde é notório o uso preponderante de recursos advindos da economia (F). Já os pontos 2 e 4, zinco com taxas de renovabilidade de energia elétrica (67%) e mão-deobra (70%) e organo metálico com taxas de renovabilidade de energia elétrica (67%) e mão-deobra (70%) respectivamente mostram que ambos os sistemas são sustentáveis a médio prazo. 8

Renovável 4 2 Não Renovável 13 Pagas FIGURA 4- Diagrama triangular representando os fluxos de emergia conforme os recursos constantes do processo. Pontos 1 (tradicional) e 3 (organo metálico) não consideram as frações renováveis, pontos 2 (tradicional) e 4 (organo metálico) consideram as frações renováveis da energia elétrica e da mão de obra. Renovável Não Renovável 7 3 1 5 Pagas FIGURA 5- Diagrama triangular representando os fluxos de emergia conforme os recursos constantes do fixador revestido. Pontos 1 (tradicional) e 5 (organo metálico) não consideram as frações renováveis, pontos 3 (tradicional) e 7 (organo metálico) consideram as frações renováveis da energia elétrica e da mão de obra. Na figura 5, se pode observar a preponderância de recursos não renováveis quando considerado o aço das peças no sistema. Entreatanto, quando considerada a lozalização geográfica da fabricação dos fixadores, pode-se dizer que este tipo de produto é sustentável a médio prazo. 9

4. Conclusões A emergia por unidade calculada para o processo (2,21 x 1010 sej/g) e para os fixadores revestidos (3,00 x 109 sej/g) mostra que fixador revestido apresenta um aumento de emergia por unidade de 8,3 % sej/sej em relação ao fixador sem revestimento. A emergia por unidade calculada para o processo (9,13 x 1010 sej/g) e para os fixadores revestidos (3,15 x 109 sej/g) mostra que o fixador revestido apresenta um aumento de emergia por unidade de 190 % sej/sej em relação ao fixador sem revestimento. Pode-se constatar que a emergia do processo organo metálico é 70% maior em relação à emergia do zinco. Desta forma, considerando-se apenas a utilização de recursos para a obtenção de um produto similar, obtém-se como resultado que o processo de zincagem é mais adequado já que utliza 70% sej/sej menos emergia que o processo concorrente. O diagrama triangular mostra que a mão-de-obra é significativamente maior para a aplicação do organo metálico que para a aplicação de zinco. Entretanto, a proporção entre os outros os fluxos de produtos químicos e energia elétrica é praticamente a mesma nos dois processos. A utilização de energia elétrica é proporcionalmente a mesma para os dois processos de revestimento, ou seja, tanto a zincagem tradicional como a aplicação de organometálico contam com um fluxo de energia elétrica de aproximadamente 56% sej/sej. Nesta análise, pode-se dizer que quanto ao uso de recursos, o processo de zincagem tradicional é melhor que o de aplicação de organo metálico tanto para a economia como para o meio ambiente. No caso das peças revestidas o mesmo resultado de avaliação foi encontrado. Quando considerada a localização geográfica da fabricação dos fixadores, pode-se dizer que este tipo de produto é sustentável a médio prazo. 5. Agradecimentos Os autores agradecem à empresa Irmãos Parasmo S/A Indústria Mecânica pelos dados fornecidos e pela irrestrita cooperação. Especial agradecimento aos gestores da empresa mencionada em disponibilizar os parâmetros chaves para que este artigo pudesse ser escrito. Este estudo conta ainda com o apoio financeiro da Vice-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa da Universidade Paulista. 6. Referências ALMEIDA, C. M. V. A.; BARRELLA, F. A.; GIANNETTI, B. F. Emergetic ternary diagrams: five examples for application in environmental accounting for decision-making, Journal of Cleaner Production, In Press, Corrected Proof, 2005. BARRELLA, F. A.; ALMEIDA, C. M. V. A.; GIANNETTI, B. F. Decision-making tool considering the interaction of the production systems and the environment. Revista Produção, v. 15, p. 87-101, 2005. BROWN, M.T.; HERENDEEN, R.A. Embodied energy analysis and EMERGY analysis: a comparative view, Ecological Economics, v. 19, p. 219-235, 1996. BROWN, M.T.; McCLANAHAN, T.R. Emergy analysis perspectives of Thailand and Mekong River dam proposals, Ecological Modeling, v. 91, p. 105-130, 1996. 10

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