ÍNDICE DE ÁGUA PRECIPITÁVEL DA ATMOSFERA A PARTIR DOS CANAIS 4 E 5 DO AVHRR-NOAA

Documentos relacionados
IMPLEMENTAÇÃO DE UM MÉTODO PARA ESTIMATIVA DE TEMPERATURA DA SUPERFÍCIE TERRESTRE MEDIANTE DADOS AVHRR/NOAA E GOES-8

1246 Fortaleza, CE. Palavras-chave: Circulação de brisa, RAMS, modelagem atmosférica.

DETERMINAÇÃO DO ÍNDICE DE VEGETAÇÃO ATRAVÉS DE IMAGENS METEOSAT-8

o PROGRAMA DE APLICAÇÕES DE SAT~LITES METEOROLÕGICOS DO INPE

CAPÍTULO 4 TECNOLOGIA ESPACIAL NO ESTUDO DE FENÔMENOS ATMOSFÉRICOS

ESTIMATIVA DA TEMPERATURA DE SUPERFÍCIE TERRESTRE COM IMAGENS AVHRR/NOAA LAND SURFACE TEMPERATURE ESTIMATIVE WITH AVHRR/NOAA IMAGES

ESTIMATIVA DA TEMPERATURA DA SUPERFÍCIE DO MAR UTILIZANDO GOES-8 NO CPTEC/INPE

Água Precipitável Elsa Vieira Mafalda Morais Rita Soares 31157

UFRGS BICT HIDROGRAFIA E OCEANOGRAFIA A. O balanço de calor nos oceanos. Prof. Dr. Dakir Larara

BOLETIM PROJETO CHUVA - 22 DE JUNHO DE 2011

ANÁLISE SINÓTICA DE UM CASO DE TEMPO SEVERO OCORRIDO NA CIDADE DE SÃO PAULO (SP) DURANTE O DIA 7 DE FEVEREIRO DE 2009

Clima: seus elementos e fatores de influência. Professor Fernando Rocha

O OCEANO - SISTEMA FÍSICO E RESERVATÓRIO DE ENERGIA. A Terra no Espaço

BOLETIM PROJETO CHUVA 24 DE JUNHO DE 2011

MONITORAMENTO ATMOSFÉRICO NOÇÕES SOBRE A ATMOSFERA TERRESTRE

INFORMATIVO CLIMÁTICO

5.1 Fundamentação teórica para a região espectral do infravermelho

A Radiação Solar recebida na camada externa da atmosfera abrange Ondas

ESTIMATIVA DE TEMPERATURA DA SUPERFÍCIE TERRESTRE UTILIZANDO DADOS DE NOAA AVHRR* RESUMO

BOLETIM PROJETO CHUVA 14 DE JUNHO DE 2011

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS FUNDAMENTOS DO SENSORIAMENTO REMOTO

Departamento de Engenharia de Biossistemas - ESALQ/USP LCE Física do Ambiente Agrícola Prova Final 2010/II NOME:

COMPORTAMENTO ESPECTRAL DE ALVOS

Relação entre a precipitação pluvial no Rio Grande do Sul e a Temperatura da Superfície do Mar do Oceano Atlântico

Estudo da Variação Temporal da Água Precipitável para a Região Tropical da América do Sul

CLASSIFICAÇÃO DOS SISTEMAS SINÓTICOS QUE PRODUZEM CHUVAS INTENSAS NA REGIÃO SUL DO BRASIL: UMA ANÁLISE PRELIMINAR RESUMO

POSICIONAMENTO DA ZONA DE CONVERGÊNCIA INTERTROPICAL EM ANOS DE EL NIÑO E LA NIÑA

GEOPROCESSAMENTO. Sensoriamento Remoto. Prof. Luiz Rotta

Chuvas intensas em parte de Pernambuco e da Paraíba entre os dias 15 e 17/07/2011: análise sinótica do evento

Estimativa de Evapotranspiração a partir da Radiação global estimada por Satélite no Nordeste do Brasil

BOLETIM PROJETO CHUVA 21 DE JUNHO DE 2011

INFORMATIVO CLIMÁTICO

UNIDADE 4. TRANSFERÊNCIA DE ENERGIA NO SISTEMA ATMOSFERA- OCEANO. Conteúdo

Disciplina: Física da Terra e do Universo para Licenciatura em Geociências. Tópico 3 Umidade. Profa.: Rita Ynoue 2010

Abril de 2011 Sumário

INFORMATIVO CLIMÁTICO

Clima tempo atmosférico

Aplicações à superfície e ao oceano: Gelo Marinho

COLÉGIO BATISTA ÁGAPE CLIMA E VEGETAÇÃO 3 BIMESTRE PROFA. GABRIELA COUTO

Dados ambientais. Previsão do tempo. Imagem de satélite GOES

Propriedades da água e o ciclo hidrológico

A INFLUÊNCIA DE ALGUMAS VARIÁVEIS ATMOSFÉRICAS A EXTREMOS DE PRODUTIVIDADE DE TRIGO NO RIO GRANDE DO SUL.

Fluxos de Calor Sensível e Calor Latente: Análise Comparativa. dos Períodos Climatológicos de e

MODELAGEM NUMÉRICA DE UM COMPLEXO CONVECTIVO DE MESOESCALA OCORRIDO NO NORTE DO NORDESTE BRASILEIRO ABSTRACT

INFORMATIVO CLIMÁTICO

Recursos hídricos. Especificidade do clima português

MONITORAMENTO DA ZONA DE CONVERGÊNCIA INTERTROPICAL (ZCIT) ATRAVÉS DE DADOS DE TEMPERATURA DE BRILHO (TB) E RADIAÇÃO DE ONDA LONGA (ROL)

Revisão das aulas passadas

Salinity, Ciclo Hidrológico e Clima

Abril de 2011 Sumário

BOLETIM DE INFORMAÇÕES CLIMÁTICAS Ano de dezembro de 2006 Número 11

O CLIMA DA TERRA: Processos, Mudanças e Impactos

Perguntas freqüentes

RECONHECIMENTO DE NUVENS PRECIPITÁVEIS POR MEIO DE SENSORIAMENTO REMOTO. Juliana Maria Duarte Mol 1 Néstor Aldo Campana 2 RESUMO

Debate: Aquecimento Global

Estimativa da Temperatura da TST

INFORMATIVO CLIMÁTICO

Chuva intensa em parte do Nordeste do Brasil em Março de 2014

Prof. Dr. Antonio Jaschke Machado. Questão ( 1 ). Os principais constituintes da atmosfera terrestre são:

Prof. Dr. Antonio Jaschke Machado. Questão ( 1 ). Segundo Wallace e Hobbs (2006), a disciplina ciência atmosférica relacionase à(ao):

CARACTERIZAÇÃO DA ESTAÇÃO CHUVOSA NO MUNICÍPIO DE MUCAMBO CE ATRAVÉS DA TÉCNICA DOS QUANTIS

2 A Escolha do Indicador Climatológico

processos de formação e suas inter-relações com o ambiente. As diversas combinações de fatores (clima, relevo,

1. Introdução. no item anterior tratamos do Balanço de energia: como o calor é transformado e usado no sistema da Terra-Atmosfera

Técnicas de Estimativa de Precipitação em Microondas Passivo

Componentes do Ambiente. Leonardo Rodrigues EEEFM GRAÇA ARANHA

Comportamento da água precipitável durante evento extremo em Porto Alegre RS com o uso do modelo BRAMS

BOLETIM PROJETO CHUVA 25 DE JUNHO DE 2011

PROGRAMA DE DISCIPLINA

INFORMATIVO CLIMÁTICO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA PROGRAMA DE DISCIPLINA

7 Agrometeorologia. Janice Freitas Leivas Antônio Heriberto de Castro Teixeira Ricardo Guimarães Andrade

ACA0413 Meteorologia Por Satélite Sondagens Atmosféricas por Satélites

Avaliação Parcial 01 - GABARITO Questões Bate Pronto. As questões 1 a 23 possuem apenas uma alternativa correta. Marque-a.

INFORMATIVO CLIMÁTICO

METEOROLOGIA CAPÍTULOS

AULA 1. - O tempo de determinada localidade, que esta sempre mudando, é compreendido dos elementos:

Departamento de Engenharia Civil. Capítulo 4 ELEMENTOS DE HIDROMETEOROLOGIA (parte 1)

INFORMATIVO CLIMÁTICO

SONDAGENS ATOVS UTILIZANDO ICI NA AMÉRICA DO SUL

Sensoriamento Remoto Aplicado à Geografia

Sensoriamento Remoto Aplicado à Geografia. Prof. Dr. Reinaldo Paul Pérez Machado

I Workshop Internacional Sobre Água no Semiárido Brasileiro Campina Grande - PB

Fenômeno La Niña de maio de 2007 a abril de 2008 e a precipitação no Rio Grande do Sul

A METÁFORA DO EFEITO ESTUFA

INFORMATIVO CLIMÁTICO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS INSTITUTO DE CIÊNCIAS ATMOSFÉRICAS COORDENAÇÃO DE GRADUAÇÃO EM METEOROLOGIA PROGRAMA DE DISCIPLINA

MEDINDO O ALBEDO COM CÂMERAS DIGITAIS

Satélites e Sensores Orbitais

Mini-Curso. A Ciência das Mudanças Climáticas Globais

ANÁLISE DA PASSAGEM DE UMA FRENTRE FRIA NA REGIÃO SUL DO PAÍS NOS DIAS DE JULHO DE 2006, UTILIZANDO SENSORIAMENTO REMOTO

MOVIMENTO DE TRANSLAÇÃO

Abril de 2011 Sumário

MECANISMOS DE TROCAS TÉRMICAS ESQUEMA P/ EXPLICAÇÃO DOS MECANISMOS DE TROCAS TÉRMICAS SECAS

Condições atmosféricas no semi-árido nordestino durante a penetração de um sistema frontal

CEC- Centro Educacional Cianorte ELEMENTOS CLIMÁTICOS

Detecção da Temperatura da Superfície Continental: Testes de um Método Mono canal. Diego Pereira Enoré 1,2 Juan Carlos Ceballos 2

Perfil generalizado da atmosfera do Nordeste: Aplicação do produto MOD07

Tr a b a l h o On l in e

SIMULAÇÃO DO FURACÃO CATARINA USANDO O MODELO MM5

Transcrição:

ÍNDICE DE ÁGUA PRECIPITÁVEL DA ATMOSFERA A PARTIR DOS CANAIS 4 E 5 DO AVHRR-NOAA RAUL FRITZ BECHTEL TEIXEIRA 1 1 FUNCEME Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos Av. Rui Barbosa, 1246-60115-221 - Fortaleza - CE, Brasil fritz@funceme.br Abstract. This paper describes the preliminary results of the Precipitable Water Index (PWI) obtained at the Foundation of Meteorology and Water Resources of the State of Ceará FUNCEME, Brazil. It is used the split-window technique which comprises the difference between the brightness temperatures (in Celsius) from the thermal infrared AVHRR-NOAA channels 4 and 5. This index is very useful for wheater forecastings and climate studies and modeling. Keywords: remote sensing, precipitable water index, AVHRR, NOAA satellites, meteorology. 1. Introdução A água na fase gasosa, ou vapor d água, presente na atmosfera da terra desempenha um papel fundamental na regulação do clima do nosso planeta. O vapor d água representa a ligação entre a superfície terrestre e o manto de ar que a recobre. O conteúdo de vapor d água no ar depende da magnitude dos processos de evaporação e de precipitação, segundo Randel et al. (1998). Dentro do ciclo hidrológico, o rápido movimento do vapor d água encontra-se acoplado à umidade do solo e à precipitação as quais têm muitas implicações práticas. O transporte do vapor d água na atmosfera representa um dos fatores determinantes do clima global. O vapor d água é transportado horizontalmente e verticalmente pela circulação atmosférica. Grande quantidade de vapor na atmosfera é carreada das áreas oceânicas (onde há intensa evaporação) para os continentes, onde vem a precipitar. A energia em movimento devido ao movimento do vapor na atmosfera, está na forma de calor latente. Quando ocorre a condensação, o calor latente é convertido em calor sensível o qual se constitui numa importante fonte de aquecimento atmosférico relacionada aos sistemas de circulação que estão associados, por sua vez, ao tempo e ao clima, conforme Mockler et al. (1994). O vapor d água representa, ainda, o principal componente do ar, no efeito estufa, bloqueando a passagem de parte da radiação de onda longa proveniente do aquecimento da superfície da terra. O vapor d água não se distribui uniformemente sobre a terra. Ele se concentra mais fortemente próximo do equador escasseando em direção aos pólos, de acordo com os padrões de temperatura dessas regiões. Também apresenta significativa variação vertical na atmosfera mostrando-se mais concentrado nos primeiros 5 quilômetros acima do nível médio do mar. Existem várias formas de se estimar a quantidade de vapor d água no ar. No sensoriamento remoto da nossa atmosfera, as sondagens verticais por satélites meteorológicos têm fornecido, dentro de suas limitações, estimativas da temperatura do ponto de orvalho, da umidade relativa e da água precipitável (ou vapor d água atmosférico total). Esta última, corresponde à altura de água que se formaria à superfície se todo o vapor d água na coluna vertical atmosférica sob sondagem viesse a condensar e precipitar. Ela se constitui, portanto, em uma importante medida do teor de vapor d água da atmosfera ou de quanto vapor d água está disponível para se converter em precipitação. Altos valores de água precipitável podem indicar subseqüentes precipitações. Assim, quando se tem esses altos valores associados à instabilidades locais, chuvas (inclusive intensas) podem vir a ocorrer. Dessa forma, esse tipo de informação é muito valiosa para previsões de tempo de curto e muito curto prazo. Além do 1227

mais, as estimativas da distribuição do vapor d água ao longo do espaço e do tempo apresentam elevado valor em estudos climatológicos e na modelagem do clima da terra. Neste, são descritos, brevemente, os primeiros resultados da estimativa, na FUNCEME, do vapor d água total na atmosfera através do Índice de Água Precipitável (IAP), Dalu (1986), obtido a partir das informações de temperatura de brilho fornecidas por dois canais termais (no infravermelho) do radiômetro Advanced Very High Resolution Radiometer (AVHRR) que equipa os satélites meteorológicos operacionais, de órbita polar, da série NOAA (U.S. National Oceanic And Atmospheric Administration). 2. Fundamentação Teórica e Metodologia As temperaturas de brilho fornecidas pelos canais 4 (10,3 a 11,3 µm) e 5 (11,5 a 12,5 µm) do imageador AVHRR-NOAA correspondem a medidas, em unidades de temperatura, da intensidade da radiação termicamente emitida pelo sistema solo-atmosfera. O IAP, que consiste somente na simples diferença entre as temperaturas de brilho dos dois canais mencionados (IAP = T B canal 4 T B canal 5 ), dá uma indicação de quanto vapor d água está presente na atmosfera. Em virtude das medidas dos canais 4 e 5 representarem um volume amostrado desde o topo da atmosfera até à superfície, o IAP (evidentemente, na forma em que ele foi definido, ou seja, como um índice indicando mais ou menos vapor e não a altura de água em milímetros) consegue estimar a água precipitável total na coluna atmosférica. Os canais do AVHRR trabalham em janelas atmosféricas relativamente transparentes de forma a permitir observações da superfície na ausência de nuvens. Entre, aproximadamente, 10 e 13 µm tem-se uma janela atmosférica em que as nuvens e o vapor d água são os maiores responsáveis pela atenuação da radiação (a transmitância variando, nesse caso, entre 20 e 90 %). Sabendo-se que o termo atenuação envolve tanto a absorção como o espalhamento, observa-se que nos comprimentos de onda do infravermelho os processos de absorção são mais intensos e significativos do que os de espalhamento da radiação, daí a ênfase nos mesmos na técnica aqui abordada. O vapor d água presente no ar não absorve fortemente a radiação infravermelha (abrangida pelos canais 4 e 5) que chega no satélite, ou seja, a radiação é pouco atenuada o que quer dizer que ela é relativamente bem transmitida. Porém, simplificadamente falando, como o canal 5 situa-se num intervalo de comprimentos de onda ligeiramente maiores do aqueles do canal 4, ele é mais sensível ao vapor d água (a radiação de maior comprimento de onda, com menor energia, passa com mais dificuldade pelo vapor). Assim, havendo mais vapor d água ocorrerá uma maior atenuação, no canal 5, da intensidade da radiação que alcança o satélite. Note-se que a reemissão de infravermelho pelo vapor, após a absorção realizada pelo mesmo, acontece em comprimentos de onda maiores do que os que foram absorvidos. A temperatura de brilho medida pelo satélite, no canal 5, torna-se, portanto, menor na presença do vapor d água. Segue-se, então, que a diferença entre os dois canais torna-se maior, ou seja, mais vapor d água significa menor temperatura de brilho do canal 5 e um IAP mais elevado. O inverso (menor valor de IAP) ocorre quando se tem menos vapor. O uso da diferença de absorção da radiação de onda longa, pelo vapor d água, entre os dois canais é conhecida pelo nome de técnica split-window. A FUNCEME implementou, recentemente, o sistema TeraScan de aquisição e processamento de dados e imagens de satélites meteorológicos e ambientais. Nele, é possível trabalhar com imagens AVHRR-NOAA de forma a calcular o IAP como estabelecido acima. Para isso, basta dispor das imagens nos canais 4 e 5 e realizar a diferença entre os canais através da ferramenta, do aplicativo TeraVision, denominada math. Nela, a variável 1 é escolhida como sendo o canal 4 e a variável 2, o canal 5. O IAP é calculado, sobre cada pixel 1228

da imagem, como a diferença entre as duas variáveis (expressas em unidades de temperaturas Celsius), disso resultando uma nova imagem. Para visualizar essa imagem foi criada, no sistema, uma paleta de cores na qual usou-se a cor marrom para valores do índice entre 1,0 e 0,5, a cor amarela entre 0,5 e 0,6, a cor verde entre 0,6 e 1,7, a cor azul entre 1,7 e 2,8 e a cor roxa entre 2,8 e 7,0. As áreas com menor teor de vapor d água correspondem, portanto, aos valores pequenos do índice (marrom, amarelo e verde) e as de maior teor aos altos valores (azul e roxo). 3. Resultados A Figura 1(a), a seguir, mostra uma imagem AVHRR-NOAA, recepcionada e processada na FUNCEME, no canal 5 (infravermelho), do Nordeste do Brasil, correspondente a uma passagem do satélite NOAA-15, em 29/10/2002 às 18:20 h local. Ao seu lado, Figura 1 (b), aparece uma imagem, também recepcionada e processada na FUNCEME, no canal do vapor d água, do satélite geoestacionário METEOSAT 7, de 29/10/2002 às 18:00 h local. Figura 1 (a) e (b) Imagem AVHRR (canal 5) fornecida pelo NOA15, à esquerda, e imagem no vapor d água, fornecida pelo METEOSAT 7, à direita, referentes ao dia 29/10/2002, às 18:20 h local em relação ao NOAA e 18:00 h local com respeito ao METEOSAT. Imagens geradas na FUNCEME. A Figura 2, em seguida, exibe uma imagem de IAP gerada, na FUNCEME, a partir da diferença entre as temperaturas de brilho de uma imagem, no canal 4, que não aparece na Figura 1, e da imagem, no canal 5, correspondente à Figura 1 (a). Apesar das radiâncias, no canal do vapor, para o satélite METEOSAT, representarem principalmente os níveis de 500-600 hpa, segundo Citeau et al. (1999), a imagem de IAP mostra certa concordância com a de vapor (Figura 1 (b)) proveniente do METEOSAT. O norte do Ceará e o Rio Grande do Norte, por exemplo, exibem, nas imagens, menor conteúdo de vapor d água (tom verde, na imagem de IAP). Também aparecem menos úmidas algumas áreas do litoral leste do Nordeste. No Oceano Atlântico, na altura da Bahia, vê-se os mesmos padrões, curvilíneos, de umidade e de ar mais seco, nas imagens. 1229

Figura 2 Imagem de IAP, de 29/10/2002, gerada, na FUNCEME, a partir de imagens AVHRR, nos canais 4 e 5, fornecidas pelo satélite NOAA-15 em passagem em torno das 18:20 h local. Observa-se, ainda, que não foi utilizada uma máscara de nuvens na geração da imagem de IAP. Assim, as nuvens não devem ser confundidas com áreas de concentração de umidade. Imagens meteorológicas posteriores à imagem de IAP apresentada, mostraram céu predominantemente claro ao longo do litoral do Ceará, correspondendo, portanto, às condições atmosféricas de baixa umidade indicadas pelo IAP. Na seqüência, Figura 3 (a) e (b), vê-se exemplos de composições de imagens IAP (no caso, para os meses de setembro e outubro de 1999), para a América do Sul, geradas pela NOAA s National Climatic Data Center (NCDC) National Enviromental Satellite, Data, and Information Service (NESDIS), EUA, para fins de estudos climáticos. Observa-se, na Figura 3 (a) e (b), áreas mais úmidas (em azul e roxo) no centro-norte da América do Sul ou na região tropical. (a) (b) Figura 3 (a) e (b) Imagens de IAP, para setembro (à esquerda) e outubro (à direita) de 1999, geradas pelo NCDC- NESDIS, da NOAA, EUA. 1230

4. Conclusões e Recomendações De acordo com os primeiros resultados obtidos, depreende-se que as imagens de IAP podem servir bem, no sensoriamento remoto da atmosfera de nosso planeta, à realização de análise e previsão de tempo e à elaboração de importantes estudos climatológicos. Essas imagens podem complementar informações de umidade a partir de sondagens verticais da atmosfera e de imageamentos no vapor d água provenientes de satélites meteorológicos operacionais. O uso das imagens de IAP, na FUNCEME, deverá contribuir para um incremento em qualidade das atividades nas áreas do tempo e do clima desenvolvidas por esse órgão do Governo do Estado do Ceará. Recomenda-se, por fim, que máscaras de nuvens sejam aplicadas a essas imagens para melhorar a sua apresentação e facilitar a sua interpretação. Referências e Bibliografia Chang, F-C.; Jedlovec, G. J.; Suggs, R. J.; Guillory, A. R. Intercomparisons of total precipitable water from satellite and other long term data sets. In: 9th Conference on Satellite Meteorology and Oceanography, UNESCO, Paris, France, 25-29 May 1998. Pre-Prints. American Meteorological Society, Société Météorologique de France, EUMETSAT, 1998. v. 1, p. 26-29. Citeau, J.; Dagorne, D.; Lahuec, J-P. Relationships between the water vapor above the Atlantic and Western Africa and regional climate: Introduction of FLUVAP Project. In: The Tenth International ATOVS Study Conference, Boulder, Colorado, USA, 27 Jan-2 Feb 1999. Proceedings. International ATOVS Working Group, Dec 1999, p. 104-112. Dalu, G. Satellite remote sensing of atmospheric water vapor. International Journal of Remote Sensing, v. 7, p. 1089-1097, 1986. Mockler, S.B. Water vapor in the climate system. AGU Special Report. Washington, DC, USA: American Geophysical Union, December 1995. 13 p. National Oceanic and Atmospheric Administration. NOAA. Description of precipitable water index. Disponível em: <http://orbit-net.nesdis.noaa.gov/crad/sat/surf/html/gvi_pwi.html>. Acesso: 09 outubro 2002. National Oceanic and Atmospheric Administration. NOAA. Precipitable water index. Disponível em: <http:www.osdpd.noaa.gov/psb/images/gvi.html>. Acesso: 09 outubro 2002. National Oceanic and Atmospheric Administration. NOAA. Experimental image mapping system. Disponível em: <http://www.osdpd.noaa.gov/psb/images/conus.html>. Acesso: 10 outubro 2002. National Oceanic and Atmospheric Administration. NOAA. NOAA GVI Guide. Appendix O. Precipitable water index. Disponível em: <http://www2.ncdc.noaa.gov/docs/gviug/html/o/2-info.htm>. Acesso: 11 setembro 2002. Randel, D.L.; Haar, V.T.H.; Ringerud, M.A. Observed variability of total column water vapor related to atmospheric temperature. In: 9th Conference on Satellite Meteorology and Oceanography, UNESCO, Paris, France, 25-29 May 1998. Pre-Prints. American Meteorological Society, Société Météorologique de France, EUMETSAT, 1998. v. 1, p. 15-17. The University of Texas at Austin. Atmospheric Attenuation and Atmospheric Windows. Disponível em: <http:// www.utexas.edu/depts/grg/classes/crum/rs_project/module3/3_2.html>. Acesso: 21 outubro 2002. 1231