Doxepina e Piroxicam No tratamento da Cistite Intersticial
Doxepina e Piroxicam No tratamento da Cistite Intersticial A cistite intersticial (CI), também conhecida como síndrome da bexiga dolorosa consiste em uma patologia crônica caracterizada por disúria (dor associada à micção), aumento da freqüência urinária, noctúria, pressão na pélvis e na bexiga e dor crônica em toda região pélvica. Sintomas que em grande freqüência comprometem seriamente a qualidade de vida do individuo acometido. Alguns autores chegam a comparar o incômodo provocado pelos sintomas desta doença com o sofrido por pacientes com insuficiência renal. A CI afeta homens e mulheres de todas as culturas, idades e contextos socioeconômicos. A etiologia inclui diversos fatores, sendo que condições genéticas, auto-imunes, alérgicas, e neurológicas contribuem para o desenvolvimento da patologia. A CI tem características de dor similares a outras síndromes viscerais crônicas. Devido a este fato estratégias terapêuticas eficazes para estas síndromes são tentativas bem sucedidas na farmacoterapia da CI. European Urology, 2002. Fármacos antidepressivos e antiinflamatórios não estereoidais (AINES) associados são utilizados em síndromes de dor crônica há décadas. Drugs, 1991. Esta utilização terapêutica está fundamentada em três hipóteses: Um amplo espectro de diferentes mecanismos patológicos pode desencadear dor visceral crônica em pacientes CI. Diferentes mecanismos de dor requerem diferentes estratégias de combate à dor. Estes diferentes mecanismos podem coexistir no mesmo paciente o que demanda a necessidade de várias estratégias de tratamentos concomitantes. Urology, 2001. Estes fatores integrados impulsionaram os cientistas a testarem com sucesso a combinação de antidepressivos tricíclicos e antiinflamatórios no combate aos sintomas da CI. 01
Estudos & Atualidades Estudo avalia a eficácia clínica da combinação da doxepina e piroxicam na cistite intersticial. 37 pacientes com cistite intersticial 75mg de doxepina + 40mg de piroxican DOXCAM A efetividade da terapia foi avaliada segundo a pontuação de sintomas de CI e pela comparação dos exames de cistometria realizados oito semanas antes do início do tratamento e quatro semanas após o término deste. Resultados: Um dos parâmetros na triagem dos pacientes para esta pesquisa foi à ineficácia de outras terapias na CI. Dos pacientes avaliados, 25 deram continuidade voluntária à terapia, devido ao efetivo alívio dos sintomas. A tabela abaixo sintetiza os principais parâmetros avaliados ante e depois do tratamento. Cinco pacientes não toleraram o tratamento. Média ± desvio padrão dos parâmetros avaliados: Antes do DOXCAM Durante o DOXCAM Após do DOXCAM Valores de p Média do volume de urina (ml) Freqüência em urinar durante o dia 127±65 212±71 136±70 <0.001 17.6±5.7 11.1±3.6 15.9±4.8 <0.001 Noctúria 4.3±2.5 3.9±1.8 4.3±2.2 0.07 100% Dor 81% 6.4±1.8 2.1±1.1 5.0±1.5 <0.001 * valores de p: 80% diferença estatisticamente significante entre a primeira e a terceira coluna. Resultados obtidos com DOXCAM 60% 40% 20% 0% Remissão Total dos Sintomas 19% Alívio significativo O t r a t a m e n t o c o m D O X C A M proporcionou remissão total dos sintomas em 81% dos pacientes e alívio significativo em 19%, demonstrando a e f i c á c i a d e s t a a s s o c i a ç ã o medicamentosa para o tratamento da CI. European Urology, 2002. 02
Outros fármacos na Cistite Intersticial... Estudo analisa a eficácia e segurança do tratamento crônico com amitriptilina na CI. A amitriptilina pertence à mesma classe de fármacos que a doxepina: os antidepressivos tricíclicos. Portanto o sucesso deste experimento não só fundamenta a terapia da doxepina com o piroxicam, como também representa mais uma alternativa terapêutica. Para este estudo 94 pacientes foram subdivididos em dois grupos: grupo que preenche todos os critérios diagnósticos de cistite intersticial (grupo A) e um grupo que preenche parcialmente os critérios (grupo B). Todos os pacientes receberam a dose de 55mg de amitriptilina e foram instruídos a responder um questionário de sintomas antes do tratamento, com um mês de tratamento e três meses de tratamento com amitriptilina. Resultados: Aproximadamente 60% dos pacientes apresentaram significativa melhora nos sintomas com o tratamento proposto. Os pacientes que participaram deste estudo relataram efeitos colaterais mínimos associados ao uso de antidepressivos tricíclicos como boca seca, e efeitos anticolinérgicos. A maioria dos pacientes apresentou melhora nos seguintes sintomas: A amitriptilina pode ser utilizada com eficácia e segurança como coadjuvante para o tratamento da cistite intersticial. Journal of Urology, 2005. Para alguns pacientes a redução de níveis de estresse e ansiedade atua diretamente na atenuação dos sintomas da cistite intersticial, o que reforça o importante papel dos antidepressivos tricíclicos no tratamento desta patologia. J Urol, 1993. A terapia com antidepressivos tricíclicos como amitriptilina e doxepina é um eficaz suporte na terapia contra a CI, pois atua regulando a ativação neural das vias urinárias. Esta classe de medicamentos também possui uma leve interação com mastócitos, o que é benéfico no tratamento desta patologia. Urology, 2007. 03
Propriedades e Mecanismo de Ação Doxepina e Amitriptilina A Doxepina e a Amitriptilina pertencem à classe dos antidepressivos tricilicos. São as drogas mais antigas utilizadas para os distúrbios de depressão e ansiedade, e mais recentemente para o tratamento da dor crônica como é o caso da presente proposta. A Doxepina atua por 3 mecanismos de ação diferentes: 1. Nas ações anticolinérgicas central e periférica, que poderiam reduzir a freqüência e a urgência miccionais; 2. No bloqueio neuronal da recaptação dos neurotransmissores químicos serotonina e noradrenalina, reduzindo assim, a dor; 3. Na sedação por meio de um mecanismo sobre o sistema nervoso central ou por seus efeitos antihistamínicos que podem, por sua vez, melhorar o padrão de sono. Piroxicam Como o alívio da dor promovido por antidepressivos é moderado, a combinação com outros analgésicos promove um eficaz alívio de sintomas na cistite intersticial. Inibidores da enzima cicloxigenase (COX) atuam de maneira antiinflamatória e promovem o alívio da dor. O piroxican é um antiinflamatório com ações analgésicas efetivas muito utilizado em doenças reumáticas e períodos pós-operatórios. Sua ação deriva da inibição de prostaglandinas e tromboxanos devido à inibição direta da enzima COX. Acido Araquidônico COX Prostaglandinas e Tromboxanos (dor e inflamação) Inibe as isoformas COX-1 e COX-2, proporcionando decréscimo da dor. Indicações: Inibe Piroxicam Tratamento da cistite intersticial. Contra-indicações: Gravidez. Lactação. Hipersensibilidade ao piroxicam ou a outros antiinflamatórios não-esteroidais e a antidepressivos tricíclicos.contra indicado em casos de úlcera péptica de forma ativa e em crianças menores que 12 anos. Posologia: Piroxicam 40mg/dia + Doxepina 75mg/dia. Reações adversas comuns: Sensibilidade gastrointestinal, boca seca, constipação e sonolência leve são os efeitos adversos mais comuns. Precauções e Advertências: A utilização de antidepressivos tricíclicos pode ocasionar leve sedação. 04
Sugestões de Fórmulas 1. Cápsulas de Doxepina + Piroxicam Doxepina...75mg Piroxicam...40mg Mande 30 cápsulas. Tomar uma cápsula diariamente após o jantar. 2. Cápsulas de Amitriptilina + Piroxicam Amitriptilina...50mg Piroxicam...40mg Mande 30 cápsulas. Tomar uma cápsula diariamente após o jantar. Outras formulações antidepressivas: Reduzem o nível de estresse e ansiedade, atenuando a dor 3. Cápsulas de Nortriptilina Nortriptilina...25-75mg 5. Cápsulas de Paroxetina Paroxetina...20-40mg 4. Cápsulas de Sertralina Sertralina...50-200mg 6. Cápsulas de Venlafaxina Venlafaxina...25-100mg Anti-histamínico Bloqueia os receptores histaminérgicos H1 e apresenta ações anticolinérgicas, sedativas e anestésicas 7. Cápsulas de Hidroxizine Hidroxizine...25mg Inicialmente, tomar 1 cápsula ao deitar ou conforme orientação médica. 05
Literatura Consultada Chaiken DC, Blaivas JG, Blaivas ST. Behavioral therapy for the treatment of refractory interstitial cystitis. J Urol. 1993;149:1445 1448 Magni, G. The use of antidepressants in the treatment of chronic pain. Drugs 1991; 42:720-48. Wesselmann U. Interstitial cystitis: A chronic visceral pain syndrome. Urology, 2001; 57(6 Suppl 1):32-9 Stanford EJ, Chen A, Wan GJ, Lunacsek OE, Sand PK. Treatment modalities, health care resource utilization, and costs in patients diagnosed with interstitial cystitis. Am J Obstet Gynecol. 2008 Jul;199(1):71.e1-10. Nickel JC.Interstitial cystitis: characterization and management of an enigmatic urologic syndrome.rev Urol. 2002 Summer;4(3):112-21. Nickel JC.Interstitial cystitis. Etiology, diagnosis, and treatment. Can Fam Physician. 2000 Dec;46:2430-4, 2437-40. Chaiken DC, Blaivas JG, Blaivas ST. Behavioral therapy for the treatment of refractory interstitial cystitis. J Urol. 1993 Jun;149(6):1445-8. Moldwin RM, Evans RJ, Stanford EJ, Rosenberg MT. Rational approaches to the treatment of patients with interstitial cystitis. Urology. 2007 Apr;69(4 Suppl):73-81. Wammack R, Remzi M, Seitz C, Djavan B, Marberger M. Efficacy of oral doxepin and piroxicam treatment for interstitial cystitis. Eur Urol. 2002 Jun;41(6):596-600; discussion 601. 06