RELAÇÃO ENTRE A FORÇA MUSCULAR DE MEMBROS INFERIORES E O DESEMPENHO EM TESTES FUNCIONAIS EM IDOSOS

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Transcrição:

RELAÇÃO ENTRE A FORÇA MUSCULAR DE MEMBROS INFERIORES E O DESEMPENHO EM TESTES FUNCIONAIS EM IDOSOS Luciana Regina dos Santos 1, Daniela Coelho Zazá 1, André Gustavo Pereira de Andrade 1, Silvana Wanderley Athayde 1, Mauro Heleno Chagas 2 RESUMO Este estudo teve como objetivo verificar o nível de correlação entre a força muscular de membros inferiores e o desempenho em testes funcionais em idosos ativos e sedentários. Participaram deste estudo 57 indivíduos de ambos os gêneros divididos em dois grupos: ativos (n=26) e sedentários (n=31). Para avaliação da força muscular de membros inferiores utilizou-se o teste de agachamento e para avaliação da capacidade funcional utilizou-se o teste de subir escadas e o teste de subir degraus. Os resultados mostram uma correlação significativa, porém baixa, entre o número de repetições no teste de agachamento e o tempo registrado no teste de subir escadas (r = -0,452; p = 0,021) e entre o número de repetições no teste de agachamento e a altura alcançada no teste de subir degraus (r = 0,397; p = 0,021) somente para o grupo de indivíduos ativos. Palavras-chave: força muscular, capacidade funcional, idosos. ABSTRACT The purpose of this study was to verify the correlation between the muscle strength of the lower limbs and the performance in functional tests in both active and sedentary elderly individuals. 57 female and male individuals participated in this study. They were divided into two groups: active (n=26) and sedentary (n=31). Muscular strength was tested by the squat test and functional capacity, by the climb stair and step tests. There was a significant correlation, although low, between the number of repetitions in the squat test and the time recorded in the climb stair test (r= -0,452; p= 0,021), and between the number of repetitions in the squat test and the height reached in the step test (r= 0,397; p= 0,021) only for the active group. Key-words: Muscle strength, functional capacity, elderly individuals. INTRODUÇÃO Na estrutura da capacidade funcional sugerida por Rikli e Jones (1999), um impedimento físico poderá conduzir para uma limitação funcional, resultando em uma capacidade reduzida ou incapacidade. Neste sentido, a inatividade, assim como, o processo de envelhecimento são estímulos que podem conduzir para um impedimento físico, como por exemplo, uma redução do potencial do indivíduo em produzir força muscular (ROGERS e EVANS, 1993; FRONTERA et al., 2000). A capacidade de gerar força muscular representa um parâmetro importante da aptidão física e estratégias de intervenção que visam o aumento da força muscular devem ser incluídas nos programas de atividade física envolvendo indivíduos idosos (ACSM, 1998; BASSEY, 2000). Com isso, a necessidade de procedimentos e testes para mensurar o desempenho físico (SPIRDUSO, 2005; RIKLI e JONES, 1999; MIOTTO et al., 1999), em especial, a força muscular tornou-se um foco importante de pesquisas (JONES, RIKLI, BEAM, 1999). Isto pode ser atribuído ao fato de que os protocolos existentes foram tradicionalmente desenvolvidos para indivíduos jovens. Uma outra explicação para isso pode ser o resultado das pesquisas que mostram uma relação significativa entre força muscular e o desempenho funcional. Daubney e Culham (1999) investigaram a importância da força muscular no desempenho em testes de equilíbrio funcional. Os resultados mostraram que a força de diferentes grupos musculares contribui para a predição do desempenho em testes de equilíbrio funcional e que a importância relativa de cada grupo muscular depende do teste de equilíbrio executado. Chandler et al. (1998) verificaram se o ganho de força muscular está associado com melhorias no desempenho físico. Os resultados mostraram que houve melhoria significativa no desempenho do teste de levantar da cadeira e na velocidade da marcha. Analisando os estudos anteriores é possível verificar que a mensuração do desempenho da força muscular foi realizada utilizando instrumentos tecnológicos complexos. Estudos que objetivaram 295

investigar o nível de associação entre o desempenho de testes de força muscular, que sejam de fácil aplicação e não demandem uma instrumentação tecnológica complexa, e o rendimento em testes funcionais são escassos (FREITAS e ZAZÁ, 2005). Testes de força muscular com estas características poderiam ser incluídos mais facilmente no processo de controle do efeito dos diferentes programas de atividade física e influenciar as decisões sobre o conteúdo dos programas de treinamento. Além disso, a aplicação de tais testes de força muscular possibilitaria inferências sobre possíveis adaptações no desempenho funcional dos indivíduos idosos, se houvesse um alto coeficiente de correlação entre os desempenhos nos testes de força muscular e funcional. Baseado nisso, pesquisar o nível de correlação entre o desempenho funcional e a medida de força muscular de um teste de força de campo e fácil aplicação fornecerá informações relevantes para os profissionais da saúde. Outro aspecto pouco investigado é a influência do nível de atividade física na relação entre o desempenho de força muscular e o rendimento em tarefas funcionais. Um melhor entendimento da relação entre essas variáveis poderá possibilitar um nível maior de diferenciação da aplicação dos diferentes testes de força muscular e funcional. Desta forma, o presente estudo tem como objetivo verificar o nível de correlação entre a força muscular de membros inferiores e o desempenho em testes funcionais em idosos ativos e sedentários. MATERIAL E MÉTODOS AMOSTRA Participaram deste estudo 57 indivíduos de ambos os gêneros divididos em dois grupos: ativos (n=26) e sedentários (n=31). As características descritivas dos indivíduos estão apresentadas na tabela 1. Foram considerados ativos os indivíduos que praticavam 30 minutos de atividade física com freqüência semanal de 3 vezes há no mínimo um ano e sedentários, os indivíduos que não praticavam nenhuma atividade física há no mínimo um ano. Para participação na pesquisa os indivíduos deveriam ter idade igual ou superior a 60 anos; não possuir história de patologia ortopédica e/ou reumatológica e realizar uma avaliação médica na própria instituição. Todos os indivíduos foram informados dos objetivos e procedimentos, leram e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido, concordando em participar como voluntário na pesquisa. A presente pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética do Centro Universitário de Belo Horizonte Uni-bh (protocolo n 032/2004). Tabela 1 - Valores mínimos, máximos, médios e desvios-padrão referentes à idade, massa corporal e estatura da amostra. Grupos Ativos (N=26) Sedentários (N=31) MIN MÁX MÉDIA DP MIN MÁX MÉDIA DP Idade (anos) 60 84 67,1 5,9 61 86 70,6 7,1 Massa corporal (kg) 53,3 123,5 73,2 15,2 52 87 68,1 8,6 Estatura (cm) 148 176,5 161,8 7,6 144 178 159,1 8,7 Legenda: MIN mínimo, MAX máximo, DP desvio padrão, N amostra DESCRIÇÃO DOS INSTRUMENTOS Foi utilizado o Teste de Agachamento que avaliou o nível de força muscular dos membros inferiores (WESTCOTT e BAECHLE, 2001). Para realização do teste de agachamento foram necessários os seguintes materiais: banco com ajuste de altura, cronômetro e metrônomo. Para avaliação da capacidade funcional dos idosos foram utilizados dois testes motores da Bateria de Testes de Andreotti e Okuma (1999). Os testes selecionados foram: o teste de subir escadas e o teste de subir degraus. Para a realização do teste de subir escadas utilizou-se uma escada com corrimão, com lance de 15 degraus (cada degrau apresentava aproximadamente 15 cm de altura e 28 cm de largura) e um cronômetro. A execução do teste de degrau ocorreu em uma sala ampla. A estação do teste consistia de um corrimão fixado na parede e caixas (degraus) de madeira de diferentes alturas. Foram utilizados degraus de 5, 10, 15, 20, 35 e 50 cm de altura, que combinados entre si alcançavam a altura desejada do teste. 296

PROCEDIMENTOS Primeiramente, os voluntários que tinham interesse em participar do projeto receberam informações sobre a pesquisa. Em seguida foi verificado se cada um dos voluntários se enquadrava nos critérios de inclusão, além de passarem por uma avaliação médica na própria instituição que também era um dos critérios de inclusão da pesquisa. Aqueles que foram considerados aptos pelo médico a participarem da pesquisa assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido. A coleta de dados foi dividida em dois dias distintos com intervalo de uma semana. No primeiro dia foram realizadas a avaliação médica e o teste de subir escadas. No segundo dia foi executada a coleta de dados do teste de subir degrau e do teste de agachamento. Cada teste foi realizado duas vezes mantendo um intervalo entre a primeira e a segunda tentativa de cinco minutos. Foi utilizada a média das duas medidas realizadas em cada teste para cálculo dos resultados. PROTOCOLO DOS TESTES MENSURAÇÃO DA FORÇA MUSCULAR DE MEMBROS INFERIORES TESTE DE AGACHAMENTO O objetivo do teste é avaliar a força muscular dos membros inferiores (FIG.1). Para a execução do teste, o indivíduo tinha que se posicionar de pé, com uma distância aproximada de 15 a 30 cm do banco. Os pés deveriam estar afastados aproximadamente na largura dos ombros e os calcanhares e permanecer sobre o chão. Foi solicitado ao indivíduo que agachasse devagar, até que o glúteo tivesse um leve contato com o assento do banco. Os braços deveriam permanecer cruzados sobre o peito e o tronco mantido alinhado. Foi informado ao indivíduo que ele deveria fazer a maior quantidade possível de agachamentos, procurando seguir as recomendações posturais mencionadas. Os seguintes critérios foram utilizados para considerar o agachamento válido: a) dedicar quatro segundos para a ação muscular excêntrica do agachamento e dois segundos para a ação muscular concêntrica, b) deixar o glúteo tocar levemente o assento do banco a cada repetição, c) não realizar movimentos bruscos com o tronco. Alguns aspectos foram levados em consideração para determinar a interrupção do teste: sentir dor; perder o equilíbrio; realizar o agachamento em menos de seis segundos e não conseguir manter quatro segundos para a ação muscular excêntrica e dois segundos para a concêntrica durante os seis segundos necessários para o agachamento. Figura 1 - teste de agachamento. MENSURAÇÃO DO DESEMPENHO FUNCIONAL TESTE DE SUBIR ESCADAS Este teste tem o objetivo de medir a capacidade do idoso para subir escadas. Na execução deste teste o indivíduo permaneceria inicialmente na posição de pé, próximo ao primeiro degrau da 297

escada. Após o sinal de Atenção! Já!, o indivíduo deveria subir o mais rápido possível uma escada com 15 degraus (FIG.2). O uso do corrimão deveria ficar condicionado somente se os indivíduos necessitassem de auxílio. O cronômetro seria acionado no momento em que o idoso colocasse o pé no primeiro degrau e parado quando um dos pés alcançasse o décimo quinto degrau. O tempo gasto para realizar esta tarefa representou a variável de desempenho neste teste. Figura 2 - teste de subir escadas TESTE DE SUBIR DEGRAUS Este teste avalia a capacidade do idoso subir degraus, sendo esta uma tarefa motora comumente encontrada nas atividades da vida diária. Para a execução do teste, o indivíduo deveria tentar subir a uma altura máxima de 70 cm, partindo inicialmente da posição de pé, de frente para o degrau (caixa de madeira), O teste iniciava com uma altura mínima de 10 cm e seria aumentada progressivamente de 5 em 5 cm (FIG.3). O indivíduo de frente para o degrau deveria subi-lo, realizando um movimento único. Neste movimento, o pé do membro inferior de preferência deveria ser apoiado sobre o degrau e impulsionando com ambos os membros inferiores, o indivíduo iria transferir o peso para o membro que estava em contato com o degrau, tentando ficar em pé com ambos os pés apoiado sobre o degrau. Foram permitidas três tentativas em cada altura, caso o avaliado não realizasse o movimento corretamente. Foi considerada a última altura que o voluntário conseguiu subir eficazmente. Um aspecto importante é a necessidade de realizar o teste próximo a uma parede com corrimão para que o idoso possa apoiar no caso de perder o equilíbrio, evitando quedas. Figura 3 - teste de subir degraus. 298

ANÁLISE ESTATÍSTICA Foi realizada inicialmente uma análise descritiva dos dados. Em seguida, foi calculado o coeficiente de correlação de Spearman entre o número de repetições no teste de agachamento, o tempo registrado no teste de subir escadas e a altura alcançada no teste de subir degraus para ambos os grupos (ativos e sedentários). O nível de significância adotado neste estudo foi de p 0,05. Os procedimentos estatísticos foram realizados por meio do pacote estatístico SPSS (versão 12.0). DESCRIÇÃO DOS RESULTADOS E DISCUSSÃO A tabela 2 descreve o resultado da correlação entre o teste de agachamento e os testes funcionais (escada e degrau) para ambos os grupos (ativos n=26 e sedentários n= 31). Foi verificada correlação significativa entre o número de repetições no teste de agachamento e o tempo no teste de subir escada (p=0,021) e entre o número de repetições no teste de agachamento e a altura no teste de subir degrau (p=0,021) somente para o grupo de idosos ativos. Tabela 2 - Coeficiente de correlação (r) entre o número de repetições realizado no teste de agachamento e o desempenho nos testes funcionais (escada e degrau) Grupos Teste de agachamento x Teste de Subir Escadas Teste de agachamento x Teste de Subir Degraus Ativos r -0,452 0,397 p 0,021 0,021 Sedentários r -0,203 0,087 p 0,273 0,643 p = nível de significância (p 0,05) Os resultados mostram uma correlação significativa, porém baixa, entre o número de repetições no teste de agachamento, o tempo registrado no teste de subir escadas e a altura alcançada no teste de subir degraus somente para o grupo de indivíduos ativos. Para interpretar o grau de associação entre duas variáveis, o coeficiente de determinação (r 2 ) é o critério mais comumente utilizado (THOMAS e NELSON, 2002). Esse método indica a porção da variação total em uma medida que pode ser explicada, ou devida à variação na outra medida (TRIOLA, 1999). Em geral, o coeficiente de determinação é multiplicado por 100 e então expressado como um percentual de variação. Os coeficientes de determinação para a relação das variáveis número de repetições no teste de agachamento, tempo registrado no teste de subir escadas e a altura alcançada no teste de subir degraus foram 20,4 e 15.8%, respectivamente. Baseado nisso, pode-se concluir que apenas uma faixa de aproximadamente 15-20% da variância do desempenho nos testes de subir escadas e degraus é explicada por aspectos comuns ao teste de agachamento, sugerindo que outros fatores são responsáveis pelo restante da variação. Neste sentido, é possível afirmar que o teste de agachamento realizado no presente estudo não poderia ser utilizado como uma fonte de informações para gerar inferências sobre possíveis adaptações no desempenho funcional dos indivíduos idosos. É possível que as características do teste de agachamento, como: execuções lentas (6 segundos) e número máximo de repetições sem pressão de tempo conduzam mais para uma exigência de resistência de força, o que poderia explicar as baixas correlações. Como os testes funcionais realizados demandam uma produção de força com pressão de tempo (teste subir escadas) ou uma elevação da força muscular em um período curto de tempo (teste subir degraus), essas características seriam distintas daquelas do teste de agachamento. Desta forma, seria interessante realizar estudos que possam verificar outros testes de campo e de fácil aplicação para mensurar a força muscular de membros inferiores, que poderiam aproximar mais das características mencionadas dos testes funcionais. O coeficiente de correlação negativo verificado entre o número de repetições no teste de agachamento e o tempo registrado no teste de subir escadas foi esperado. Isto indica que o desempenho do teste de agachamento apresentou uma relação inversa com o rendimento no teste de subir escadas. 299

Os resultados mostram uma correlação não significativa entre o número de repetições no teste de agachamento, o tempo registrado no teste de subir escadas e a altura alcançada no teste de subir degraus para o grupo de indivíduos sedentários. Desta forma, este nível de significância indica que a relação entre as variáveis para a amostra investigada é fruto do acaso e não representa uma relação real. A grande faixa etária dos indivíduos da amostra (60 80 anos) pode ser considerada uma limitação do presente estudo. Além disso, o número de voluntários não permitiu realizar uma análise estatística paramétrica, reduzindo possibilidades de generalização. REFERÊNCIAS ACSM- American College of Sports Medicine. Position stand on exercise and physical activity for older adults. Medicine and Science in Sports and Exercise, vol.30, n.6, p.992-1008, 1998. ANDREOTTI, R.A.; OKUMA, S.S. Validação de uma bateria de testes de atividades da vida diária para idosos fisicamente independentes. Revista Paulista de Educação Física. vol.13 n.1, p.46-66, 1999. BASSEY, E.J. Exercise for the elderly: an update. Age and ageing, vol.31,s2, p.3-5, 2000. CHANDLER, J.M.; DUNCAN, P.W.; KOCHERSBERGER, G. STUDENSKI, S. Is lower extremity strength gain associated with improvement in physical performance and disability in frail, community-dwelling elders? Archives of Physical Medicine and Rehabilitation. vol.79, n.1, p.24-30, 1998. DAUBNEY, M.E.; CULHAM, E.G. Lower-Extremity Muscle Force and Balance Performance in Adults Aged 65 Years and Older. Physical Therapy, vol.79, n.12, p.1177-1185, 1999. FREITAS, P.M.A., ZAZÁ, D.C. Nível de correlação entre a força muscular de membros inferiores e o desempenho em testes funcionais em homens idosos ativos e sedentários. Revista Mineira de Educação Física, Viçosa, vol.edição especial n.2, p. 534-541, 2005. FRONTERA, W.R., HUGHES, V. A., FIELDING, R. A., FIATARONE, M. A., EVANS, W. J., ROUBENOFF, R. Aging of skeletal muscle: a 12-yr longitudinal study. Journal of Applied Physiology. vol.88, n. 4, p.1321-1326, 2000. JONES, C.J.; RIKLI, R.E.; BEAM, W.C. A 30-s chair-stand test as a measure of lower body strength in community-residing older adults. Research quarterly for exercise and sport. vol.70, n.2, p.113-119, 1999. MIOTTO, J.M.; CHODZKO-ZAJKO, W.J.; REICH, J.L.; SUPLER, M.M. Reliability and validity of the fullerton functional fitness test: an independent replication study. Journal of aging and physical activity. vol. 7, p.339-353, 1999. RIKLI, R.E.; JONES, C.J. Development and validation of a functional fitness test for community-residing older adults. Journal of aging and physical activity. vol.7, p.129-161, 1999. ROGERS, M.A.; EVANS, W.J.: Changes in skeletal muscle with aging: effects of exercise training. Exercise and Sport Science Reviews. vol.21, p.65-102, 1993. SPIRDUSO, W.W. Dimensões Físicas do Envelhecimento. 1.ed. Barueri, São Paulo: Manole, 2005, 482 p. THOMAS, J.; NELSON, J. Métodos de pesquisa em atividade física. 3 a ed. Porto Alegre: Artmed, 2002. TRIOLA, M.F. Introdução à Estatística. Rio de Janeiro: LTC Livros Técnicos e Científicos Editora S. A. 1999. WESTCOTT, W.; BAECHLE, T. Treinamento de força para a terceira idade. São Paulo: Manole, 2001. 1 Centro Universitário de Belo Horizonte Uni-bh 2 Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG 300