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CONVENÇÃO DO APOSTILLE UM PASSO NO CAMINHO DA DESBUROCRATIZAÇÃO DO COMÉRCIO EXTERIOR
NOTA TÉCNICA 7 CNI Confederação Nacional da Indústria CONVENÇÃO DO APOSTILLE Um passo no caminho da desburocratização do comércio exterior Tatiana Lipovetskaia Palermo* BRASÍLIA Setembro de 2005 * Analista de Estudos e Desenvolvimento da CNI.
2005. CNI Confederação Nacional da Indústria É autorizada a reprodução total ou parcial desta publicação, desde que citada a fonte. Esta série tem por objetivo divulgar análises sintéticas elaboradas pelo corpo técnico da CNI com o intuito de estimular a discussão sobre temas da atualidade econômica e política do Brasil, sobretudo aqueles que afetam diretamente o desenvolvimento e a competitividade da indústria. As visões e as conclusões expressas nos trabalhos são as do autor e não indica, necessariamente, concordância da CNI. P156c Palermo, Tatiana Lipovetskaia. : um U passo no caminho da desburocratização do comércio exterior / Tatiana Lipovetskaia Palermo. Brasília : CNI, setembro de 2005. 11 p. (Nota Técnica CNI, 7) ISSN 1807-2240 1. Apostille 2. Comércio Exterior 3.Desburocratização I. Título CDU: 347.961.4 CNI Confederação Nacional da Indústria Setor Bancário Norte, Quadra 1, Bloco C Edifício Roberto Simonsen 70040-903-Brasília - DF Tel.(61) 3317-9001 Fax. (61) 3317-9994 www.cni.org.br Serviço de Atendimento ao Cliente - SAC Tels.: (61) 3317-9989/3317-9992 sac@cni.org.br 4
CONVENÇÃO DO APOSTILLE UM PASSO NO CAMINHO DA DESBUROCRATIZAÇÃO DO COMÉRCIO EXTERIOR 1 INTRODUÇÃO O excesso de formalidades e custos relacionados à exigência de legalização dos documentos estrangeiros apresentados no Brasil prejudica o empenho do país em intensificar suas relações com o mercado externo. Tais empecilhos têm sido freqüente objeto de queixa por parte das empresas brasileiras que tenham ou que desejam ter e intensificar relações comerciais com seus parceiros internacionais. Do ponto de vista da ordem jurídica mundial, verifica-se que o Brasil não tem aderido a várias convenções que incentivam os negócios internacionais. Este trabalho cita, a exemplo disso, a Convenção Relativa à Supressão da Exigência de Legalização de Atos Públicos Estrangeiros, adotada em 5 de outubro de 1961 na Conferência de Haia de Direito Internacional Privado ( ), da qual o Brasil ainda não é signatário. A simplifica as formalidades para a utilização, em um paísmembro, de documentos públicos emanados por outros países membros, dispensando a exigência de legalização. O regime simplificado é de grande importância para pessoas e empresas que se dedicam ao comércio internacional, pois facilita o exercício e a comprovação de fatos que constam num documento público originado do exterior, bem como garante maior segurança nos negócios internacionais. 2 EXIGÊNCIA DE LEGALIZAÇÃO DE DOCUMENTOS ESTRANGEIROS NO BRASIL De acordo com o dispositivo 4.7.1. das Normas de Serviço Consular e Jurídico do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, para que um documento originário do exterior tenha efeito no Brasil é necessária a legalização, pela Autoridade Consular brasileira, do original expedido em sua jurisdição consular, seja por reconhecimento de assinatura, seja por autenticação do próprio documento. Este dispositivo se espelha na Lei dos Registros Públicos (Lei N o. 6.015, de 31 de dezembro de 1973), que exige ainda, antes da legalização pelo consulado brasileiro, que o documento seja primeiramente autenticado por um notário no país de origem. Na prática, a legalização é um procedimento de assinaturas em cadeia. A legislação de vários países prevê que, antes de ser autenticado pelo serviço consular da embaixada brasileira no país de origem, o documento tem que ser certificado por várias outras autoridades. Com isso, o procedimento de legalização é demorado e excessivamente burocrático, por vezes caro e representa a inconveniência para o desenvolvimento de relações internacionais. Por exemplo, um documento originário da Rússia, para ter validade no Brasil, deve atender às seguintes formalidades: a autenticação por um notário russo, pelo Ministério da Justiça russo, pelo Ministério das Relações Exteriores da Rússia e pela Autoridade Consular brasileira na Rússia. No caso em questão, a situação torna-se ainda mais complicada dado que há apenas duas repartições do serviço consular brasileiro - uma em Moscou 5
e outra em São Petersburgo e a Rússia é o país com a maior extensão territorial do mundo com 11 fusos horários. Essa situação dificulta muito a legalização de documentos por pessoas e empresas localizadas fora das referidas cidades. Com a introdução do apostille na Rússia, por exemplo, um documento, para ser aceito em outros países membros da referida Convenção, tem que ser certificado somente por uma repartição do Ministério da Justiça do país (repartições essas que existem em todos os municípios). O Brasil assinou alguns acordos relativos à dispensa da exigência da legalização em determinadas áreas, em especial na área de assistência judiciária, com a Itália, França, Estados Unidos, México, Suíça, Bulgária e no âmbito do MERCOSUL. Não obstante, no contexto de comércio internacional tais atos têm pouca expressão. 3 IMPLEMENTAÇÃO PRÁTICA DA LEGALIZAÇÃO Podemos citar aqui alguns casos nos quais é preciso apresentar, no Brasil, documentos estrangeiros legalizados. Vale notar que quando o documento é público, é preciso legalizar o próprio documento; e quando o documento é particular, ele deve ser autenticado por um notário e, posteriormente, legalizado no serviço consular brasileiro no país de origem 1 : a) a constituição de empresa no Brasil por parte de quotistas/acionistas estrangeiros pressupõe a apresentação, na Junta Comercial do Estado em que a empresa for constituída, de uma procuração do sócio estrangeiro em favor de alguém no Brasil dando poderes de representação, de recebimento de citações, etc. Essa procuração deve ser devidamente legalizada; b) a inscrição de empresa estrangeira no CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas), o que é obrigatório para empresas que detenham bens, participações societárias, contas correntes e outros ativos localizados no Brasil (inclusive créditos decorrentes de empréstimos concedidos a brasileiros), requer a apresentação de documentos constitutivos dessa empresa devidamente legalizados; c) a obtenção de empréstimos externos exige que o contrato de empréstimo externo seja legalizado 2 ; d) a apresentação de documentos como provas na Justiça brasileira e a homologação de atos judiciais estrangeiros requerem a legalização destes documentos no país de origem; e) a obtenção de vistos de trabalho por estrangeiros exige a apresentação de documentos (certidão de nascimento, carteira de trabalho, passaporte, etc.) devidamente legalizados; f) a apresentação de diplomas emitidos no exterior deve ser antecipada pelo procedimento de legalização destes documentos; 6 1 No caso do documento particular, o serviço consular brasileiro legaliza o ato notarial que autenticou o documento. 2 Cabe ressaltar que, na prática nem sempre é necessária a apresentação do contrato ao Banco Central do Brasil.
Existem situações quando a legislação brasileira expressamente dispensa a legalização de documentos estrangeiros. Por exemplo, é o caso de documentos originados no exterior apresentados no INPI para registro de marcas. Estes casos são raros. Em geral, quase todos os atos praticados por estrangeiros no Brasil requerem a apresentação de documentos legalizados. Por isso, a atuação de estrangeiros no Brasil e, reciprocamente, de brasileiros no exterior enfrenta um grau de burocracia bem maior que entre pessoas procedentes dos países membros da. 4 ESCOPO DA CONVENÇÃO DO APOSTILLE A entrou em vigor no dia 24 de janeiro de 1965. No momento, 87 países adotaram o regime simplificado que dispensa a legalização (ver o Anexo I), incluindo os Estados Unidos, os países da União Européia, a Austrália, o Japão, Israel, a Rússia e a China. Na América Latina à aderiram os seguintes países: Argentina, Colômbia, Equador, El Salvador, Honduras, México, Panamá e Venezuela. Um fato curioso é que até o menor país do mundo, a ilha Niue, faz parte do regime de apostille. O regime simplificado minimiza as formalidades de autenticação de documento originado no exterior. A convenção prescreve que é necessária apenas a entrega de um certificado pelas autoridades do país de origem do documento que ficou conhecido como apostille (ver o Anexo II). As autoridades competentes de emitir o apostille são designadas pelo próprio país membro e comunicadas à Conferência de Haia de Direito Internacional Privado 3. Abaixo, lista-se as autoridades competentes para emissão do apostille para alguns países: Inglaterra: Escritório de Legalização da Secretaria do Estado para Assuntos Estrangeiros e Comunitários; Estados Unidos: Departamento do Estado, para documentos federais, funcionários das cortes e tribunais, para documentos judiciais e as secretarias dos Estados Federados, para documentos originados nestes Estados; México: Subdiretoria de Formalização e Controle da Diretoria de Coordenação Política para documentos federais e outras 32 autoridades competentes para emitir apostille para documentos emanados dos Estados; Portugal: repartições da Procuradoria Geral da República no lugar de origem do documento; Rússia: repartições do Ministério da Justiça da Rússia no local da emissão do documento; e Argentina: Ministério das Relações Exteriores e cartórios públicos ( Colegios de Escribanos ). 3 A lista completa das autoridades competentes a emitir o apostille encontra-se no site da Conferência de Haia de Direito Internacional Privado, http://www.hcch.net 7
O custo do apostille, normalmente, é muito pequeno e a emissão é muito rápida. O apostille deve ser inscrito em registro mantido por autoridade competente (atualmente, este registro pode ser eletrônico). Os dados do registro são disponibilizados para qualquer pessoa, física ou jurídica, interessada. O certificado pode ser feito no próprio documento ou anexado. A Convenção estabelece o modelo obrigatório do apostille. Essa formalidade simplifica a verificação da veracidade da autenticação. O documento autenticado deve, por força da, ser aceito por todas as autoridades estrangeiras (não se limitando a autoridades judiciais) dos países membros desta Convenção. Como exemplos de documentos públicos que podem ser certificados por meio da emissão do apostille podemos citar atos judiciais e de órgãos públicos, documentos administrativos, certificados oficiais (extratos de registros comerciais e outros registros, patentes), atos notariais (autenticação de documentos e reconhecimento de firmas), atos de estado civil (certidões de nascimento, casamento ou óbito) e diplomas acadêmicos. A apenas exclui do seu campo de aplicação os documentos emanados dos agentes diplomáticos e consulares e os documentos administrativos diretamente relacionados a uma operação comercial ou aduaneira (que, normalmente, não precisam ser autenticados), como por exemplo, faturas comerciais, conhecimentos de embarque, declarações de exportação e importação, certificados de origem, etc. O apostille certifica somente a autenticidade da assinatura, a capacidade na qual a pessoa que assinou o documento estava atuando e, quando apropriado, a identicidade do selo ou carimbo que o documento possui. Portanto, o apostille não se relaciona com o conteúdo do documento que ele certifica. 8 5 IMPORTÂNCIA DA DISPENSA DE LEGALIZAÇÃO O principal propósito do Brasil ao aderir à seria terminar com o procedimento de assinaturas em cadeia que se segue em matéria de legalização de documentos e substituí-lo por uma só certificação, apostille. Assim, por exemplo, no caso de investimentos estrangeiros em capital de uma empresa brasileira, os procedimentos de registro da empresa constituída na Junta Comercial, bem como outros procedimentos de natureza tributária, que exigem a apresentação de documentos emanados do exterior (como procurações e documentos constitutivos da empresa estrangeira, por exemplo) poderiam ser resolvidos muito mais facilmente, com menor dispêndio de custo e tempo. Vale notar que a mostrou-se importante também para os países que não exigiam legalização de documentos estrangeiros. Após a adesão à Convenção, as pessoas desses países passaram a gozar do regime simplificado de certificação de documentos nacionais quando precisavam apresentá-los em outras jurisdições que requeriam autenticação destes documentos. A adesão do Brasil à, proporcionará, assim: a) a simplificação dos procedimentos para investimento externo direto no país e para investimento brasileiro no exterior; b) a possibilidade de maior inserção do país no comércio internacional;
c) o incremento da competitividade do Brasil no mercado internacional; e d) a facilitação da produção de provas em ações judiciais no país e no exterior. Esses benefícios atingiriam tanto os estrangeiros com negócios no Brasil, quanto os brasileiros com negócios no exterior. 6 CONCLUSÕES A adesão do Brasil à seria mais um passo no caminho da desburocratização do comércio exterior e dos investimentos internacionais. Ademais, a maior inserção do país na ordem jurídica internacional contribuiria com o fortalecimento da segurança jurídica e por isso aumentaria a competitividade do Brasil no mercado externo. Ao se tornar parte da, o Brasil inquestionavelmente daria mais um passo na direção da integração, da globalização e do incentivo à sua maior participação do comércio internacional. 9
ANEXO I 1 Apostille România 1 Dados de 25.08.2005 10
ANEXO II MODELO DO CERTIFICADO 1 5 APOSTILLE (Convention de La Haye du 5 octobre 1961) 1. País:... Este documento público 2. foi assinado por... 3. agindo na capacidade de... 4. possui selo/carimbo de...... Certificado 5. em... 6. o(a)... 7. por... 8. N o... 9. Selo/carimbo 10. Assinatura:...... 1 O Apostille deve ter o formato de um quadrado com os lados de pelo menos 9 cm de comprimento. O modelo do certificado anexado à Convenção de Apostille é produzido na língua inglesa. O certificado concreto pode ser emitido na língua oficial do país emitente ou em várias línguas, somente o título Apostille (Convention de La Haye du 5 octobre 1961) tem que ser em Francês. 11
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