INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO MESTRADO EM CONSTRUÇÃO CADEIRA DE REABILITAÇÃO NÃO-ESTRUTURAL DE EDIFÍCIOS

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Transcrição:

INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO MESTRADO EM CONSTRUÇÃO CADEIRA DE REABILITAÇÃO NÃO-ESTRUTURAL DE EDIFÍCIOS DIAGNÓSTICO, PATOLOGIA E REABILITAÇÃO DE REVESTIMENTOS DE PISOS Jorge de Brito Setembro de 2004

ÍNDICE 1. Introdução 1 2. Tipos de revestimentos de pisos 3 2.1. Tipologias 3 2.2. Selecção do revestimento 4 2.3. Revestimentos com materiais minerais 5 2.3.1. Materiais cerâmicos 5 2.3.1.1. Características gerais 6 2.3.1.2. Factores a considerar na preparação do suporte 6 2.3.1.3. Assentamento dos revestimento 7 2.3.2. Pedras naturais 8 2.3.2.1. Características gerais 8 2.3.2.2. Assentamento dos revestimentos 9 2.3.3. Argamassas auto-nivelantes 9 2.3.3.1. Características gerais 10 2.3.3.2. Preparação do suporte 10 2.3.3.3. Aplicação 11 2.3.4. Ladrilhos hidráulicos 11 2.3.4.1. Características gerais 11 2.3.4.3. Assentamento dos revestimentos 12 2.4. Revestimentos com materiais lenhosos 12 2.4.1. Madeira 12 2.4.1.1. Características gerais 12 2.4.1.2. Estrados 14 2.4.1.3. Soalhos 14 2.4.1.4. Parquets 15 2.4.1.5. Pavimento flutuante 15 2.4.2. Cortiça 16 2.4.2.1. Aplicação 17 2.4.2.2. Vantagens da aplicação deste revestimento 17

2.5. Revestimentos com materiais têxteis 18 2.5.1. Alcatifas e tapetes 18 2.5.1.1. Características gerais 18 2.5.1.2. Aplicação 19 2.6. Revestimentos com materiais metálicos 19 2.6.1. Grelhas metálicas 19 2.6.1.1. Características gerais 19 2.7. Revestimentos com materiais sintéticos 20 2.7.1. Resinas epóxidas 20 2.7.1.1. Características gerais 21 2.7.1.2. Preparação do suporte 21 2.7.1.3. Aplicação 21 2.7.2. Linóleo 22 2.7.2.1. Características gerais 22 2.7.2.2. Recomendações de aplicação 23 2.7.2.3. Aplicação 23 2.7.3. Vinil 23 2.7.3.1. Características gerais 24 2.7.3.2. Recomendações de aplicação 24 2.7.3.3. Aplicação 25 3. Técnicas de diagnóstico 26 3.1. Ensaios in situ 27 3.1.1. Inspecção visual 27 3.1.2. Ensaio de aderência (pull-off) 28 3.1.3. Medição da humidade superficial 29 3.1.4. Extracção de carotes 29 3.1.5. Medição de temperatura e humidade relativa 30 3.2. Ensaios de laboratório 30 3.2.2. Absorção de água 31 3.2.3. Resistência à flexão / compressão 31 3.3. Correlação tipo de revestimento / técnicas de diagnóstico 31 4. Patologia 33 4.1. Anomalias em revestimentos de pisos 33

4.1.1. Desprendimentos / descolamentos 35 4.1.2. Fissuração 36 4.1.3. Anomalias superficiais e de aspecto 38 4.1.4. Falta de resistência 39 4.1.5. Formação de bolhas 40 4.2. Correlação anomalias / causas 40 5. Reabilitação 42 5.1. Tipificação das soluções de intervenção 42 5.1.1. Eliminação das anomalias 42 5.1.2. Substituição de elementos e materiais afectados 43 5.1.3. Ocultação das anomalias 43 5.1.4. Protecção contra os agentes agressivos 43 5.1.5. Eliminação das causas das anomalias 44 5.1.6. Reforço das características funcionais 44 5.2. Reabilitação de revestimentos de pisos 44 5.2.1. Desprendimentos / descolamentos 44 5.2.2. Fissuração 45 5.2.3. Anomalias superficiais e de aspecto 45 5.2.4. Falta de resistência 46 5.2.5. Formação de bolhas 46 5.3. Soluções para reabilitação de anomalias em revestimentos de pisos 47 5.3.1. Cimento-cola fluido 47 5.3.2. Argamassas auto-nivelantes 48 6. Bibliografia 51

DIAGNÓSTICO, PATOLOGIA E REABILITAÇÃO DE REVESTIMENTOS DE PISOS 1. INTRODUÇÃO No projecto de qualquer obra de engenharia civil, existe, à partida, um determinado número de questões que se esperam devidamente planeadas e tratadas ao pormenor, sobretudo as que se relacionam com a estabilidade estrutural da própria construção. Existem no entanto outros aspectos, não menos importantes, que são por vezes descurados, com a justificação de que não têm características estruturais e, como tal, não se tratam de questões primordiais. Os revestimentos de pisos são um desses exemplos. Os acabamentos, enquanto fase construtiva de qualquer obra, nomeadamente de empreendimentos habitacionais, encontram-se normalmente entregues a pequenos subempreiteiros, por vezes pouco qualificados, que baseiam o seu conhecimento maioritariamente na experiência acumulada e nos erros cometidos. A inexistência de regulamentações actualizadas e sistemáticas leva a situações um pouco anárquicas, utilizando cada empreiteiro a sua própria técnica. Os revestimentos de pisos, entre os elementos não estruturais, são um dos mais importantes, dado serem um dos que maior interacção tem com o utilizador. De facto, uma utilização confortável de qualquer espaço destinado à permanência de pessoas depende grandemente da qualidade e durabilidade do pavimento. Associadas aos revestimentos de pisos correntes, estão anomalias tipificadas, que decorrem da conjugação de vários factores adversos. A conjugação de causas é normalmente de tal complexidade que se torna extremamente difícil o estabelecimento da sua listagem exaustiva e respectiva hierarquização. Além disso, dada a variedade de tipos de revestimentos de pisos, a tarefa de caracterização e tipificação das anomalias revela dificuldades acrescidas, tendo em conta as características técnicas e funcionais diversificadas dos diferentes tipos de revestimento. Perante as dificuldades descritas, não se procura no presente documento estabelecer uma tipificação exaustiva de causas, mas antes propor agrupamentos de fenómenos naturais ou de 1

responsabilidade humana que, intervindo no desencadear ou no desenvolvimento dos processos patológicos, se podem considerar como sendo as causas mais comuns. O objectivo no estabelecimento de uma tipificação desta forma é o de facilitar o diagnóstico das situações mais correntes e contribuir para encontrar as melhores formas de reabilitação. Este documento pretende servir de apoio aos alunos do Mestrado em Construção do Instituto Superior Técnico na cadeira de Reabilitação Não-Estrutural de Edifícios. Foca o capítulo dessa mesma cadeira dedicado aos revestimentos de pisos, nas vertentes de diagnóstico, patologia e reabilitação. Para além deste, irão existir documentos específicos sobre revestimentos de paredes [1] e sobre revestimentos de coberturas inclinadas [2] (as coberturas em terraço estão tratadas num outro documento [3], relacionado fundamentalmente com a vertente impermeabilizações). É natural que, estando estes assuntos interrelacionados, exista alguma repetição de uns documentos para os outros. O documento aborda fundamentalmente o diagnóstico, patologia e reabilitação dos revestimentos de pisos. Encontra-se dividido em quatro partes: a primeira, correspondente ao capítulo 2, dedicada a uma breve introdução aos revestimentos propriamente ditos; a segunda parte, correspondente ao capítulo 3, dedicada às técnicas de diagnóstico susceptíveis de serem implementadas nestes revestimentos; a terceira parte, correspondente ao capítulo 4, dedicada às anomalias nestes revestimentos e às causas das mesmas; a quarta parte, correspondente ao capítulo 5, dedicada às técnicas de reabilitação destes revestimentos. A elaboração deste documento não resultou de investigação específica sobre o tema efectuada pelo seu Autor mas sim de alguma pesquisa bibliográfica e de monografias escritas realizadas por alunos do Instituto Superior Técnico no Mestrado em Construção. Assim, muita da informação nele contida poderá também ser encontrada nos seguintes documentos, que não serão citados ao longo do texto: João Garcia, Revestimentos de Pisos, Monografia apresentada no Mestrado em Construção, Instituto Superior Técnico, 2003, Lisboa; João Garcia, Diagnóstico de Patologia e Reabilitação. Revestimentos de Pisos, Monografia apresentada no Mestrado em Construção, Instituto Superior Técnico, 2003, Lisboa. 2

2. TIPOS DE REVESTIMENTOS DE PISOS 2.1. TIPOLOGIAS A tipologia dos revestimentos de pisos pode ser feita de acordo com diferentes critérios técnicos e construtivos. Neste documento, optou-se por enquadrar as soluções apresentadas em cinco grupos, tendo em conta as características dos materiais constituintes e as propriedades do revestimento final. O Quadro 1 apresenta os tipos de revestimento de pisos considerados e as soluções desenvolvidas no presente estudo. Quadro 1 - Tipologias dos revestimentos de pisos MATERIAIS MINERAIS Mosaicos cerâmicos Pedras naturais Cimentícios Argamassas auto-nivelantes Ladrilhos hidráulicos MATERIAIS LENHOSOS Madeira Cortiça MATERIAIS TÊXTEIS Alcatifas Tapetes MATERIAIS METÁLICOS Grelhas metálicas MATERIAIS SINTÉTICOS Resinas epóxidas Linóleo Vinil Quadro 2 - Exigências funcionais de revestimentos de pisos Edifícios de habitação Escritórios Escolas Restaurantes e cantinas Hospitais Edifícios comerciais / Hotéis Salas de espectáculo Comodidade no andar *** ** ** ** ** *** ** Aspecto agradável *** ** * ** * *** *** Queda de objectos ** *** *** ** *** ** ** Resistência ao * ** *** ** *** ** ** desgaste Absorção do ruído ** *** ** ** *** *** *** Fácil limpeza *** *** *** *** *** *** *** Resistência * ** ** ** ** ** ** mecânica Resistência química * * * ** *** ** * Resistência bacteriológica * * * ** *** ** * Durabilidade ** ** *** ** *** ** ** Antiderrapante * ** ** *** *** ** ** * Pouco importante; ** Importante; *** Muito importante. 3

2.2. SELECÇÃO DO REVESTIMENTO A selecção de um revestimento depende de requisitos funcionais, estéticos, económicos e de durabilidade. O Quadro 2 pretende resumir algumas exigências a satisfazer pelos revestimentos de pisos, tendo em conta as exigências dos locais apresentados. Tendo em conta os revestimentos abordados no âmbito do presente documento, elaboraram-se os Quadros 3 e 4, onde são apresentadas, em resumo, algumas das principais características de cada tipo de produto, permitindo, tendo em consideração a tabela anterior, uma possível selecção do revestimento de piso para a aplicação em causa. Quadro 3 - Principais características dos materiais minerais e lenhosos Mosaicos cerâmicos MATERIAIS MINERAIS Argamassa Pedras s autonivelantes naturais Ladrilhos hidráulicos Uso em exteriores Sim Sim Não é usual Sim Manutenção Média-alta: atenção constante Pedra polida: fácil; Pedra rugosa: pode acumular sujidades Impermeabilização Bom Bom Médio Médio MATERIAIS LENHOSOS Madeira Sim, com os devidos cuidados Cortiça Não Média Pouca Limpeza fácil. Limpeza fácil. Médio a mau: Médio a mau: os revestimentos acabam por tos acabam por os revestimen- se estragar se estragar Isolamento térmico Mau. Mau. Piso frio Piso frio Mau Mau Bom Muito bom Resistência ao fogo Bom, mas Bom, mas Bom, mas Muito bom pode estalar pode estalar pode estalar Mau Mau Isolamento acústico Mau Mau Mau Mau Bom Muito bom Resistência `a abrasão Bom Bom Bom Muito bom Médio Mau Resistência ao riscamento Bom Bom Médio Médio Médio Mau Resistência à queda de objectos Médio Médio Bom Bom Bom Bom Textura Frio, dura Frio, dura Suave, macio Rugoso Suave, macio Suave, macio Colocação Mão de obra Mão de obra Mão de obra Mão de obra Mão de obra Mão de obra mediamente mediamente mediamente especializada especializada especializada especializada especializada especializada Qualidade de acabamento Médio Bom Bom Bom Bom Médio 4

Quadro 4 - Principais características dos materiais têxteis, metálicos e sintéticos MATERIAIS TÊXTEIS Alcatifas Tapetes MATERIAIS METÁLICOS Grelhas metálicas Uso em exteriores Não Não Sim Manutenção Difícil e trabalhoso: limpeza constante Difícil e trabalhoso: limpeza constante Resinas epóxidas Pode amolecer com o calor MATERIAIS SINTÉTICOS Linóleo Não Vinil Não Fácil Fácil Fácil Fácil Impermeabilização Mau Mau Bom Muito Bom Mau Bom Muito bom no Muito bom no Isolamento Inverno, demasiado quen-masiado quente Inverno, de- térmico Mau Bom Bom Bom te no Verão no Verão Resistência ao fogo Mau Mau Bom Bom Mau Mau Isolamento acústico Bom Bom Mau Bom Bom Bom Resistência `a abrasão Bom Bom Muito bom Bom Médio Médio Resistência ao riscamento Não risca Não risca Bom Média Mau Médio Resistência à queda de objectos Bom Bom Bom Muito Bom Bom Bom Textura Suave, macio Suave, macio Rugoso Suave, macio Suave, macio Suave, macio Colocação Fácil Fácil Fácil Mão de obra Mão de obra Mão de obra especializada especializada especializada Qualidade de acabamento Médio Médio Médio Muito bom Bom Bom 2.3. REVESTIMENTOS COM MATERIAIS MINERAIS 2.3.1. Mosaicos cerâmicos Os revestimentos de pisos com mosaicos cerâmicos (Fig. 1) são bastante comuns no nosso país. A elevada resistência mecânica e as enormes possibilidades estéticas justificam, por si só, a enorme aceitação deste tipo de materiais. Deve então fazer-se a distinção entre o que sucede abaixo e acima da camada de água freática. Na primeira zona, o solo encontra-se saturado e a água está sob pressão e, na segunda, a água só penetrará nas paredes sob o efeito da capilaridade, ou seja, dentro da camada aquática fá-loá sob a acção de forças muito mais importantes, tanto mais importantes quanto mais se desça na referida camada. 5

Fig. 1 - Revestimento de pisos com mosaicos cerâmicos 2.3.1.1. Características gerais São as seguintes as características gerais dos mosaicos cerâmicos [4]: dureza elevada; boa resistência química; boa resistência ao desgaste, compressão, mudanças de temperatura, ácidos e bases; elevado módulo de elasticidade; maus condutores de calor e electricidade; superfícies sem poros; cores inalteráveis; enormes possibilidades estéticas. 2.3.1.2. Factores a considerar na preparação do suporte O sucesso de qualquer revestimento de piso depende muito da preparação do suporte (Fig. 2, à esquerda). Em seguida, apresentam-se algumas considerações sobre este: deve apresentar-se limpo, seco e desengordurado e estar isento de quaisquer resíduos de materiais que prejudiquem a aderência do material de colagem; deve apresentar um grau de humidade adequado; 6

deve demonstrar planeza e consistência adequadas; deve exibir uma superfície rugosa; deve apresentar boas características mecânicas; deve ter alcançado estabilidade recomendada. 2.3.1.3. Assentamento dos revestimentos Para o assentamento de mosaicos cerâmicos, podem utilizar-se argamassas tradicionais ou não-tradicionais. As primeiras são misturas de areia e cimento, doseadas em obra, apresentando como principal desvantagem a maior possibilidade de erro humano e a falta de controlo da operação. As argamassas não-tradicionais são misturas pré-doseadas em fábrica e que, por isso, permitem um melhor controlo, além de possibilitarem a aplicação de um produto homogéneo. As mais utilizadas são cimentos-cola, argamassas de polímeros ou produtos betuminosos. Os materiais utilizados para o preenchimento das juntas podem ser argamassas e caldas de ligantes hidráulicos, mástiques ou argamassas de polímeros. A sequência para assentamento de mosaicos cerâmicos é a seguinte (Fig. 2): Fig. 2 - Suporte para mosaicos cerâmicos (à esquerda) e fases de aplicação dos mesmos limpeza e preparação do suporte; barramento de regularização (se necessário); aplicação de um primário de aderência (se necessário); amassar o produto com misturador eléctrico lento; 7

estender o produto sobre o suporte, com talocha denteada adequada; colocar as peças na posição pretendida e pressionar até conseguir o nivelamento dos sulcos da cola; aplicar juntas ao fim de 24 h, como mínimo. 2.3.2. Pedras naturais As pedras naturais (Fig. 3) são também um material muito utilizado nos revestimentos de pisos correntes. Tal como nos mosaicos cerâmicos, a justificação poderá estar no facto de apresentarem elevada resistência, enormes possibilidades estéticas e de serem um material nobre na indústria da construção. As pedras podem ser classificadas segundo a sua origem, em ígneas (ex.: granito), sedimentares (ex.: calcário) ou metamórficas (ex.: mármore). Fig. 3 - Revestimento de piso com pedras naturais (à esquerda), granitos comerciais (ao centro) e calcários e mármores comerciais (à direita) 2.3.2.1. Características gerais São as seguintes as características gerais dos pedras naturais: boa resistência ao desgaste; dureza elevada; elevada resistência à compressão; 8

resistente às mudanças de temperatura; enormes possibilidades estéticas; material tradicional no revestimento de pisos. 2.3.2.2. Assentamento dos revestimentos Na aplicação destes revestimentos, não se utilizam normalmente argamassas tradicionais. Utilizam-se cimentos cola com ligantes mistos e, quando necessário, segundo o método de colagem dupla (Fig. 4). A preparação do suporte é similar à descrita para os mosaicos cerâmicos. Fig. 4 - Método de colagem dupla 2.3.3. Argamassas auto-nivelantes As argamassas auto-nivelantes (Fig. 5) são utilizadas tanto em aplicações comerciais como industriais. Nas aplicações comerciais, funciona como camada de regularização e nivelamento, pronto para o revestimento final. Nas industriais, funciona normalmente como camada final, dada a elevada resistência superficial que apresenta e a menor importância que tem a coloração cinzenta nestas aplicações. 9

Fig. 5 - Aplicações comerciais e industriais das argamassas auto-nivelantes 2.3.3.1. Características gerais São as seguintes as características gerais das argamassas auto-nivelantes: baixo peso próprio; elevada resistência à flexão; elevada resistência superficial; boa aderência; baixa retracção; tempo de secagem curto; aplicação fácil e rápida. 2.3.3.2. Preparação do suporte Além dos factores já referidos, é necessário ter em conta: verificar a resistência do suporte; decapagem superficial da base (Fig. 6, à esquerda); isolar os pontos singulares; marcar os níveis de enchimento. 10

Fig. 6 - À esquerda, máquina para granalhagem e, à direita, aplicação de argamassas autonivelantes 2.3.3.3. Aplicação (Fig. 6, à direita) A aplicação das argamassas auto-nivelantes consiste em: 1. Aplicar com máquina de projectar adequada; 2. Bombear o material misturado; 3. Auxiliar o nivelamento com ferramenta adequada. 2.3.4. Ladrilhos hidráulicos Por serem feitos à base de betão, estes revestimentos são adequados em locais sujeitos a alto tráfego e com exigências de resistência ao choque e ao desgaste. São possíveis inúmeros acabamentos. As lajetas podem ser lisas, de várias cores, antiderrapantes, com relevos e com vários formatos (Fig. 7). Fig. 7 - Blocos e lajetas para pavimentos hidráulicos 2.3.4.1. Características gerais 11

São as seguintes as características gerais dos ladrilhos hidráulicos: boa resistência ao choque e ao desgaste; dureza elevada; resistentes ao gelo; não deformáveis; cores resistentes; inúmeras possibilidades de acabamentos (Fig. 8); fácil aplicação e limpeza. Fig. 8 - Inúmeras possibilidades e acabamentos com ladrilhos hidráulicos 2.3.4.2. Assentamento dos revestimentos O assentamento dos revestimentos com ladrilhos hidráulicos pode ser efectuado com diferentes possibilidades: caixa de areia (o revestimento fica preso unicamente devido ao atrito lateral com a areia); betonilha + aguada de cimento para colagem; betonilha + cimento cola. 2.4. REVESTIMENTOS COM MATERIAIS LENHOSOS 2.4.1. Madeira 2.4.1.1. Características gerais 12

A madeira tem características muito especiais, visto ser constituída normalmente por produtos que apresentam grande variabilidade. Esta situação é consequência de se tratar de um material de origem biológica, influenciável por factores externos que, por exemplo, podem alterar a formação do lenho da árvore. Tendo em conta a variabilidade das madeiras, podemos diferenciá-las segundo as suas características físicas e mecânicas, de entre as quais se enumeram as mais importantes: humidade; rectractibilidade; densidade; características mecânicas; dureza; trabalhabilidade; propensão para fendas e empenos; facilidade de impregnação; durabilidade. Os revestimentos lenhosos (Fig. 9) apresentam, em geral, as seguintes características: Fig. 9 - Revestimentos de pisos em madeira média / elevada durabilidade; 13

superfície confortável e elástica; maus condutores de electricidade; boa capacidade de isolamento térmico e acústico; fácil manutenção e limpeza; grande adaptabilidade arquitectónica; induzem a ideia de conforto e elegância; a aplicação requer mão-de-obra especializada; materiais combustíveis; sujeitos a ataques biológicos. Os pavimentos de madeira podem ser divididos em estrados, soalho, parquets e pavimento flutuante. Em seguida, apresentam-se sumariamente estes pavimentos. 2.4.1.2. Estrados Os estrados (Fig. 10, à esquerda) são pavimentos compostos por tábuas de madeira maciça, com a superfície superior aplainada, polida e encerada. As réguas têm larguras de 40 a 150 mm, espessuras de 15 a 30 mm e comprimentos variáveis. Este revestimento é aplicado elevado sobre ripas transversais de secção e robustez consideráveis. As tábuas ou réguas são colocadas topo a topo, podendo ainda existir tábuas com juntas de união. Este pavimento é usado na montagem de pavimentos provisórios, rápidos de instalar. Existe uma variante, que diverge dos estrados normais, por ter uma junta de folga muito larga, facilmente visível, a que se chama grade. As grades são utilizadas em espaços desportivos, terraços, casas de banho, saunas, etc.. 2.4.1.3. Soalhos Os soalhos ou solhos (Fig. 10, ao centro) são revestimentos de pisos em madeira formados por tábuas ou réguas maciças ou laminadas, unidas entre si por meio de juntas de união (Fig. 10, à direita). Geralmente, são juntas à inglesa de macho e fêmea, podendo existir outras (Fig. 11). 14

Fig. 10 - Estrado, à esquerda, soalho, ao centro, e junta de união, à direita A característica fundamental dos soalhos é a de as suas peças não se apoiarem directamente sobre o suporte, mas sim por meio de sarrafos (ripas dispostas perpendicularmente às tábuas), também de madeira. As tábuas de soalho são fixas aos sarrafos através de pregos de aço. Fig. 11 - Junta à inglesa, à esquerda, e de espiga, à direita 2.4.1.4. Parquets Os parquets (Fig. 12, à esquerda), lamparquets, e parquets-mosaicos colados são pavimentos de madeira resultantes da composição de conjuntos de tacos de pequenas dimensões. Este tipo de pavimento apresenta características inconfundíveis, como sejam o facto de as peças se disporem encostadas umas às outras e a fixação das mesmas ser feita por colagem ao suporte. As peças são dispostas uma a uma, fazendo com que os desenhos formados pelas mesmas sejam directamente realizados em obra, o que logicamente obriga a mão-de-obra especializada para colocação deste revestimento. Os lamparquets são uma variante dos parquets, compostos por peças de dimensões um pouco maiores. Os parquets-mosaicos são painéis de parquet préfabricados compostos por mosaicos quadrados de madeira, integrados por um conjunto de pequenos tacos fortemente colados entre si por colas de resinas sintéticas. Esta solução surgiu 15

da necessidade de tornar a colocação mais rápida, simples e barata. 2.4.1.5. Pavimento flutuante O pavimento flutuante (Fig. 12, ao centro e à direita) é um sistema revolucionário dentro da gama dos pavimentos, diferenciando-se dos restantes tipos por duas características muito particulares. Em primeiro lugar, as peças não estão fixas ao suporte, mas apenas apoiadas sobre uma tela isoladora, normalmente de polietileno expandido ou cortiça, que se encosta sobre o suporte. As peças apenas estão coladas entre si por juntas à inglesa, para formarem um todo coerente. Fig. 12 - Parquet (à esquerda) e pavimento flutuante (ao centro e à direita) Em segundo lugar, devido à primeira característica, as peças são fornecidas com a espessura exacta e com a superfície que se pisa devidamente acabada, já aplicados os vernizes e polimentos. Devido a isto, não são necessários quaisquer trabalhos de acabamento. Neste tipo de pavimento, podem ser utilizados soalhos flutuantes e parquets flutuantes, diferindo apenas nas medidas das peças componentes. Em termos de vantagens deste tipo de revestimento, destacam-se as seguintes [5]: facilidade de colocação sobre qualquer tipo de suporte; colocação sem incómodo para o utente; como não é envernizado, não liberta cheiros; estabilidade às variações higrométricas; magnífico isolante térmico e acústico; 16

flexibilidade e conforto. 2.4.2. Cortiça A cortiça é um material lenhoso privilegiado pelo seu vasto leque de aplicações. Como material para revestir um piso (Fig. 13), aparece em forma de ladrilhos rectangulares de dimensões variando entre 3 e 12.5 mm. Os ladrilhos de cortiça são compostos por um revestimento de elevada resistência como camada superior de protecção, uma camada de folheado de cortiça, outra de composto de cortiça e um filme de protecção na face inferior. Fig. 13 - Revestimentos de piso em cortiça 2.4.2.1. Aplicação A aplicação dos revestimentos em cortiça consiste em: 1. instalação sobre superfícies duras, secas, niveladas e sem poeiras; 2. aplicação da cola sobre o piso e no aglomerado de cortiça, espalhando-a com uma espátula; 3. colocação dos ladrilhos, pressionando-os e retirando o excesso de cola; 4. encostar os ladrilhos uns aos outros; dado que as faces laterais são devidamente acabadas, não existem problemas com as juntas; 5. um ladrilho envernizado não necessita de manutenção corrente. 17

2.4.2.2. Vantagens da aplicação deste revestimento Em termos de vantagens deste tipo de revestimento, destacam-se as seguintes: elevada resistência e durabilidade; anti-estático e antiderrapante; excelente isolante térmico e acústico; fácil instalação e manutenção; versátil na decoração de interiores (Fig. 14); higiénico e confortável; ecológico. Fig. 14 - Inúmeras possibilidades estéticas dos revestimentos em cortiça 2.5. REVESTIMENTOS COM MATERIAIS TÊXTEIS 2.5.1. Alcatifas e tapetes As alcatifas e os tapetes (Fig. 15) são revestimentos que contêm fibras naturais ou sintéticas e cobrem a totalidade da superfície do pavimento, no caso das alcatifas, ou parte, no caso dos tapetes. Pode encontrar-se no mercado uma grande variedade de cores e texturas, com modelos adaptados a diferentes utilizações. 18

Fig. 15 - Alcatifas (à esquerda) e tapetes (à direita) 2.5.1.1. Características gerais São as seguintes as características gerais das alcatifas e tapetes: bons isolantes térmicos e acústicos; antiderrapantes; fáceis de aplicar; multiplicidade de cores e texturas; apresentam como desvantagem a possibilidade de acumulação de poeiras e bactérias; materiais combustíveis. 2.5.1.2. Aplicação A aplicação de alcatifas, embora não requisite mão-de-obra especializada, envolve alguns detalhes que é importante lembrar: a) limpeza e preparação do suporte; b) utilizar colas adequadas, à base de emulsões acrílicas; c) aplicar o mesmo número de fabrico em cada superfície contínua; d) colar a alcatifa no mesmo sentido, ou em xadrez; e) Em grandes áreas, colocar fita auto-adesiva em cada 12 metros lineares. 2.6. REVESTIMENTOS COM MATERIAIS METÁLICOS 19

2.6.1. Grelhas metálicas Este tipo de revestimento (Fig. 16) é bastante utilizado, sobretudo na indústria, seja em toda a extensão do pavimento ou em pequenas áreas, onde sejam exigidas necessidades de resistência acrescida (escadas, locais de escoamento de águas, etc.). Com os tipos de pavimentos existentes, é possível encontrar a solução mais adequada a cada situação. Com os pavimentos ranhurados, é possível uma melhor ventilação do espaço e permite melhor eficiência do equipamento de detecção de incêndios. 2.6.1.1. Características gerais São as seguintes as características gerais das grelhas metálicas: Fig. 16 - Diferentes tipos de pavimentos metálicos (à esquerda) e vigas de suporte e grampos de fixação (à direita) não deformáveis; boa resistência ao choque e ao desgaste; solução eficaz e duradoura; antiderrapantes; 20

fácil aplicação; fácil limpeza e manutenção. 2.7. REVESTIMENTOS COM MATERIAIS SINTÉTICOS 2.7.1. Resinas epóxidas As resinas epóxidas (Fig. 17, à esquerda) são revestimentos especialmente recomendados em locais de grande tráfego, como sejam armazéns e centros comerciais e ambientes onde seja exigida elevada resistência química, como sejam matadouros, queijarias, hospitais, etc.. Este revestimento pode apresentar diferentes combinações de cores e é fornecido em dois componentes, que são misturados em obra. 2.7.1.1. Características gerais São as seguintes as características gerais das resinas epóxidas: elevada resistência a ataques químicos e bacteriológicos; resistência superficial muito elevada; solução eficaz e duradoura; fácil limpeza e manutenção; diversas possibilidades estéticas. 2.7.1.2. Preparação do suporte (Fig. 17, ao centro) Além dos factores já referidos, é necessário ter os seguintes cuidados: verificar a resistência do suporte (> 1.5 N/mm 2 ); medir a humidade residual (< 4%); verificar o nivelamento da superfície (< 1,5 mm); tratamento superficial da base. 21

Fig. 17 - Revestimento em resina epóxida (à esquerda), preparação do suporte (ao centro) e aplicação do revestimento (à direita) 2.7.1.3. Aplicação (Fig. 17, à direita) A aplicação das resinas epóxidas consiste em: a) aplicar um primário de aderência; b) polvilhar a superfície com areia de quartzo (no caso de pavimento antiderrapante); c) aplicar o revestimento epóxido. 2.7.2. Linóleo O linóleo (Fig. 18) é também um revestimento sintético, frequentemente utilizado em locais de tráfego pedonal relativamente intenso como sejam escritórios, clínicas, escolas, entre outros. A grande variedade de cores e texturas justificam a sua boa aceitação no mercado. Este material é fornecido em rolos. 22

Fig. 18 - Revestimentos em linóleo 2.7.2.1. Características gerais São as seguintes as características gerais do linóleo: adequado em locais onde existam cadeiras com rodas; resistência superficial relativamente elevada; resistente a ácidos, óleos e solventes correntes; antiderrapantes; resistente a queimaduras de cigarros; não resiste aos agentes alcalinos; fácil manutenção, higiene e limpeza; diversas possibilidades estéticas. 2.7.2.2. Recomendações de aplicação Eis algumas recomendações para a aplicação de linóleo: a) o linóleo pode variar de dimensões com a humidade do ar, do suporte ou do adesivo; b) temperatura de aplicação mínima: +18 ºC; c) não aplicar no mesmo local rolos de fabrico diferentes; 23

d) os suportes devem apresentar-se lisos, secos e sem gretas (aplicar argamassa de regularização, se necessário); e) os panos, depois de cortados, devem permanecer desenrolados durante 24 horas, antes da aplicação. 2.7.2.3. Aplicação A aplicação do linóleo consiste em: a) limpeza e preparação do suporte; b) utilizar colas adequadas, à base de resinas e espalhar com uma espátula de dentes médios; c) fixar os panos, um de cada vez; d) remover as bolhas de ar; e) finalizar a operação com rolo compressor; f) não utilizar o local antes de passadas no mínimo 24 h. 2.7.3. Vinil Em termos de aplicações deste tipo de revestimentos, são similares às aplicações do linóleo. É frequente ver-se este tipo de pavimento em escolas, escritórios e clínicas. Também os revestimentos vinílicos (Fig. 19) oferecem uma grande variedade de soluções estéticas, dada a possibilidade de combinação de cores e texturas. 24

Fig. 19 - Revestimentos em vinil 2.7.3.1. Características gerais São as seguintes as características gerais dos revestimentos vinílicos: adequado em locais onde existam cadeiras com rodas; resistência superficial relativamente elevada; antiderrapantes; adequado para aplicação em locais húmidos; fácil manutenção, higiene e limpeza; elevado nível de conforto; diversas possibilidades estéticas. 2.7.3.2. Recomendações de aplicação Eis algumas recomendações para a aplicação dos revestimentos vinílicos: a) temperatura de aplicação mínima: +15 ºC; b) não aplicar no mesmo local rolos de fabrico diferentes; c) os suportes devem apresentar-se lisos, secos e sem gretas (aplicar argamassa de regularização, se necessário); d) em alguns casos, é necessária a aplicação de uma emulsão acrílica para protecção da superfície. 2.7.3.3. Aplicação A aplicação dos revestimentos vinílicos consiste em: a) limpeza e preparação do suporte; 25

b) utilizar colas adequadas, consoante o tipo de revestimento a aplicar (emulsão acrílica ou betuminosa); c) as juntas são soldadas a quente, segundo métodos adequados. 26

3. TÉCNICAS DE DIAGNÓSTICO Perante a ocorrência de anomalias em revestimentos de pisos, o estabelecimento de um diagnóstico correcto é uma tarefa fundamental para conseguir a resolução das mesmas. Em termos teóricos, fazer um diagnóstico deveria corresponder a operar com um modelo de comportamento, em que as relações entre causas e efeitos estivessem perfeitamente estabelecidas. Nesse caso, uma vez efectuado o levantamento dos sintomas (efeitos), tal modelo identificaria univocamente as correspondentes causas. Na prática, não se dispõe de tal modelo o qual, obviamente, seria extremamente complexo. Por outro lado, mesmo que fosse acessível, muito provavelmente não seria possível dispor, desde logo, de toda a informação necessária para o operar, mesmo nos casos mais favoráveis, em que fosse possível a utilização de sub-modelos mais simples, operando apenas com os parâmetros mais relevantes. Na realidade, as lacunas de informação são cruciais na dificuldade de estabelecimento de um diagnóstico às causas das anomalias. Nestas circunstâncias, um diagnóstico é muitas vezes realizado por aproximações sucessivas e a recolha de informação é uma das tarefas básicas a desenvolver de início. Essa recolha consistirá na análise dos dados antecedentes (elementos do projecto, relatos de obra ou relatos de anomalias anteriores) e na observação in situ, para concreta definição da situação existente. Nesta observação, podem utilizar-se vários processos, desde a simples inspecção visual à realização de ensaios sobre o próprio revestimento, ou sobre provetes dele retirados, passando por medições, até à investigação de alterações introduzidas ao projecto mas não registadas, ou ainda de alterações posteriores efectuadas durante a obra ou após o seu término. É condição importante para o sucesso de uma intervenção reparadora evitar posições extremas que, sugestivamente, se podem designar de optimistas e pessimistas. As primeiras correspondem a uma subavaliação das condições da construção, concluindo pela dispensabilidade de intervenção, quando pode ser, na realidade, necessária e premente. A segunda corresponde, pelo contrário, à sobreavaliação das condições da construção, concluindo pela necessidade de importantes intervenções quando, na realidade, podem ser dispensáveis. A posição optimista é potencialmente prejudicial para a segurança de pessoas e 27

bens (e também possivelmente geradora de custos exagerados a longo prazo), enquanto que a posição pessimista poderá conduzir ao desperdício de recursos económicos, ou a que se conclua, precipitadamente, pela inviabilidade económica da intervenção. Pelos motivos apontados, consideram-se requisitos indispensáveis das pessoas encarregues de fazer o diagnóstico de situações anómalas uma longa experiência profissional associada a uma sólida formação de base. Terminando como se iniciou, reforça-se a ideia de que um diagnóstico correcto, proporcionando a identificação precisa das causas e a avaliação rigorosa da situação real, é condição indispensável para a consequente resolução dos problemas [6]. 3.1. ENSAIOS IN SITU De entre os ensaios que poderão ser realizados in situ, apresentam-se alguns dos exemplos mais frequentemente utilizados, que serão resumidamente descritos em seguida: a) inspecção visual; b) ensaio de aderência (pull-off); c) medição da humidade superficial; d) extracção de carotes com caroteadora; e) medição de temperatura e humidade relativa com sonda. 3.1.1. Inspecção visual Esta é, sem dúvida, a técnica que mais informações pode fornecer sobre as anomalias que o- correm na construção, particularmente nos revestimentos de pisos. É importante verificar, como referido, todos os dados antecedentes e, conjuntamente com a experiência adquirida, quer em situações de obra anterior, quer em diagnósticos de anomalias anteriores, estabelecer as possíveis causas da anomalia em questão e seleccionar o método de reabilitação mais adequado. Tendo em conta que um dos factores que mais contribui para a ocorrência de anomalias é o erro humano, é fundamental ouvir todos os intervenientes no processo construtivo e solicitar 28

toda a informação necessária, antes de efectuar qualquer outra técnica de diagnóstico ou intervenção de reparação. A inspecção visual pode ser aplicada em todos os tipos de revestimentos de pisos. 3.1.2. Ensaio de aderência (pull-off) Este ensaio é bastante simples e fornece indicações úteis sobre a aderência do revestimento ao suporte. O princípio de funcionamento consiste em exercer uma força de tracção no revestimento e verificar a resistência do mesmo e, portanto, do suporte, à força exercida. Existe uma grande variedade de equipamentos, manuais e electrónicos (Fig. 20), e diferentes métodos de funcionamento dos mesmos. A Fig. 16 apresenta a sequência de realização deste ensaio. Fig. 20 - Aparelhos para o ensaio pull-off: manual, à esquerda, e electrónico, à direita Fig. 21 - Sequência de operação, da esquerda para a direita: perfuração no suporte; colagem do disco de aço à superfície; aperto do aro de fixação e da barra de tracção e rotação do manípulo; leitura da pressão de aderência Este ensaio é efectuado em revestimentos de pisos minerais e sintéticos. Os valores obtidos são pouco reprodutíveis, sobretudo quando é realizado in situ, pelo que é recomendada a realização de vários ensaios com o mesmo revestimento. Para mosaicos cerâmicos, a 29

resistência mínima deverá ser de 0.5 MPa, enquanto para argamassas auto-nivelantes e resinas epóxidas deverá ser de 1.5 MPa. 3.1.3. Medição da humidade superficial A medição da humidade superficial é também uma técnica muito simples, realizada in situ, que fornece algumas indicações importantes para avaliação de algumas das anomalias mais frequentes em revestimentos de pisos. O princípio de funcionamento consiste em colocar o aparelho de medição (humidimetre) em contacto com o revestimento e medir a humidade superficial. Os aparelhos e as técnicas de medição diferem com o tipo de revestimento em estudo (Fig. 22). Fig. 22 [7] - Aparelhos para medição superficial da humidade Este ensaio assume particular importância em revestimentos lenhosos, sobretudo madeira, e em materiais sintéticos, uma vez que a humidade é causa corrente de anomalias com este tipo de revestimentos. Em ambos os casos, o valor de humidade superficial não deverá exceder 4%. 3.1.4. Extracção de carotes A caroteadora é utilizada para retirar amostras em profundidade (Fig. 23, à esquerda). A sua utilização tem dupla função, uma vez que pode funcionar para recolha de amostras em diferentes níveis de profundidade e, simultaneamente, efectuar medições de temperatura ou humidade nos níveis de profundidade desejados. A aplicabilidade deste ensaio envolve sobretudo dos revestimentos onde a temperatura e humidade afectem o desempenho dos 30

mesmos, sendo portanto mais utilizado, como descrito anteriormente, em revestimentos de pisos lenhosos e sintéticos. 3.1.5. Medição de temperatura e humidade relativa Este equipamento é de uma complexidade superior aos descritos até aqui. É utilizado para registo em contínuo da temperatura nas várias interfaces do pavimento e da humidade relativa sob o revestimento de piso, sendo constituído por um registador, sondas de humidade relativa e termopares (Fig. 23, à direita). Como seria de esperar, os valores obtidos apresentam níveis de confiança muito superiores aos que são obtidos com os equipamentos anteriores. No entanto, apresenta como desvantagens a necessidade de operadores especializados, preparação das condições de ensaio, por exemplo com uma caroteadora, e custo elevado. Fig. 23 [8] - Caroteadora (à esquerda) e equipamento utilizado para registo em contínuo da temperatura nas várias interfaces do pavimento e da humidade relativa sob revestimento de pisos (à direita) Utiliza-se, normalmente, quando se exigem resultados mais rigorosos de temperatura e humidade e aplica-se nos revestimentos lenhosos e sintéticos, por serem os que apresentam maiores anomalias devido a problemas com a temperatura e humidade, embora possa ser aplicado em outros tipos de revestimentos onde seja necessária esta medição. 3.2. ENSAIOS EM LABORATÓRIO 31

De entre os ensaios que poderão ser realizados em laboratório, apresentam-se alguns dos mais frequentemente utilizados, que serão resumidamente descritos em seguida: a) absorção de água; b) resistência à flexão / compressão. 3.2.1. Absorção de água A medição da absorção de água assume particular importância em alguns tipos de revestimentos de pisos, uma vez que permite detectar a quantidade de água que é absorvida pelos mesmos. Os mosaicos cerâmicos e as pedras naturais são um exemplo particular disso mesmo, uma vez que, através desta propriedade, se escolhe a argamassa de colagem mais adequada. Em alguns tipos de revestimentos sintéticos e lenhosos, é também importante a absorção de água, de modo a observar o comportamento do revestimento à humidade e às lavagens sucessivas a que pode estar sujeito no seu desempenho funcional. A medição desta propriedade é feita em laboratório, com equipamento específico para cada tipo de revestimento, e permite detectar se as causas de determinada anomalia estão relacionadas com uma má escolha da argamassa de colagem (no caso dos mosaicos cerâmicos e pedras naturais) ou com lavagens sucessivas que o próprio revestimento não está habilitado a suportar. 3.2.2. Resistência à flexão / compressão Este ensaio, também realizado em laboratório, permite medir a resistência do revestimento à flexão e à compressão, numa prensa adequada (Fig. 24). Para a realização destes ensaios, é necessária a preparação de provetes com dimensões normalizadas. Este ensaio pode ser efectuado com amostras do próprio suporte, sendo necessária a recolha de provetes in situ, ou preparados em laboratório. 3.3. CORRELAÇÃO TIPO DE REVESTIMENTO / TÉCNICAS DE DIAGNÓSTICO 32

O Quadro 5 apresenta uma relação entre os tipos de revestimentos considerados no âmbito deste documento e as técnicas de diagnóstico associadas a cada um deles. Como se pode ver, a inspecção visual é aplicada em todos os tipos de revestimentos. Embora alguns dos ensaios tenham aplicabilidades em alguns revestimentos de pisos, podem ser realizados em situações à partida menos habituais, com o objectivo de medir uma característica específica dos mesmos. Fig. 24 - Prensa utilizada para ensaios de resistência à flexão e à compressão Quadro 5 - Matriz de correlação revestimentos de pisos/técnicas de diagnóstico Temperatura Absorção Flexão / Inspecção Pulloff superficial Caroteadora e humidade de água compressão Humidade visual relativa Mosaicos cerâmicos Pedras naturais Minerais Argamassas autonivelantes Ladrilhos hidráulicos Lenhosos Madeira Cortiça Têxteis Alcatifas ο Tapetes ο ο ο ο ο ο Metálicos Grelhas ο metálicas ο ο ο ο Resinas epóxidas Sintéticos Linóleo Vinílicos ο Não aplicável; Pouco aplicável; Aplicável 33

4. PATOLOGIA Desenvolver uma tipificação de causas de anomalias em revestimentos de pisos é uma tarefa extremamente difícil e possivelmente não alcançável numa forma única e coerente. Esta dificuldade resulta, entre outros, dos seguintes aspectos: a) a grande variedade de materiais de revestimento; b) o ainda reduzido conhecimento efectivo da realidade construtiva, no que se refere a esses materiais; c) a grande complexidade do meio ambiente que envolve o edifício e a diversidade de tipos de actuação dos seus utentes; d) a frequente e simultânea interpenetração entre causas e efeitos dos vários fenómenos que se podem desenvolver, o que gera situações em que um mesmo acontecimento é consequência de um ou mais fenómenos; e) a forte influência da componente humana, por acção ou inacção, nas várias fases do processo de degradação. Quase sempre as anomalias decorrem da conjugação de vários factores adversos, conjugação essa que pode dar-se simultaneamente no tempo ou surgir na sequência da acumulação de efeitos provocando ou acentuando o processo de degradação [6]. 4.1. ANOMALIAS EM REVESTIMENTOS DE PISOS As anomalias correntes em revestimentos de pisos podem ser devidas a erros técnicos na concepção ou execução dos mesmos ou a envelhecimento dos materiais. Os novos materiais, de características e formas de aplicação não plenamente conhecidas, quer pelos projectistas quer pelos aplicadores, aliados à falta de pormenorização construtiva, estão na origem de novas anomalias, que requerem o desenvolvimento de metodologias de estudo mais aprofundadas [8]. As anomalias de carácter não estrutural podem ocorrer sob formas muito diversificadas, que têm a ver, quer com as partes dos edifícios atingidas e as funções das mesmas que são 34

afectadas, quer com a natureza dos materiais e técnicas de construção utilizadas, quer ainda com a origem, as causas e os períodos de ocorrência das anomalias. A grande maioria das anomalias que se detectam nos revestimentos de pisos tem origem na presença da água e na consequente humidificação dos materiais, que é acompanhada pela modificação indesejável de algumas das suas propriedades físicas. Estas anomalias afectam as condições de habitabilidade e de durabilidade, provocando alterações prejudiciais do aspecto e, num número limitado de casos, degradações irreversíveis que podem inviabilizar a recuperação e a reutilização dos materiais atingidos, tornando inevitável a sua substituição a curto prazo. Um segundo grupo de anomalias com uma certa relevância é configurado pela ocorrência de fissurações, em regra associadas a deficiências estruturais. Outro grupo importante de anomalias corresponde ao envelhecimento e à degradação dos materiais, que se traduzem por degradações inconvenientes ou inestéticas do aspecto, pela perda de coesão e da aderência dos revestimentos ao suporte, assim como pelo desgaste anormal dos mesmos. Há ainda a considerar as anomalias devidas a incompatibilidades entre materiais novos e antigos e ao uso de materiais com características inadequadas [6]. No âmbito deste documento, serão consideradas os seguintes tipos de anomalias em revestimentos de pisos correntes, por serem as que se observam com maior frequência, num número apreciável de tipos de revestimentos: desprendimentos / descolamentos; fissuração; anomalias superficiais; falta de resistência; formação de bolhas. 35

O Quadro 6 apresenta uma matriz de correlação entre os revestimentos de pisos correntes apresentados no Quadro 1 e as anomalias listadas acima. Como se pode observar, algumas das anomalias são comuns aos diferentes tipos de revestimento, enquanto que outras são características de um tipo específico. Minerais Lenhosos Têxteis Metálicos Sintéticos Quadro 6 - Matriz de correlação revestimentos de pisos / anomalias características Desprendimentos / descolamentos Fissuração Anomalias superficiais Falta de resistência Formação de bolhas Mosaicos ο cerâmicos Pedras ο naturais Argamassas auto-nivelantes Ladrilhos ο hidráulicos Madeira ο Cortiça ο Alcatifas ο ο Tapetes ο ο ο Grelhas ο ο ο metálicas Resinas ο epóxidas Linóleo Vinílicos ο Não observável; Pouco frequente; Frequente 4.1.1. Desprendimentos / descolamentos Este tipo de anomalia (Figs. 25 a 27) é um dos mais frequentemente observados em revestimentos de pisos, sobretudo em materiais minerais, lenhosos e sintéticos. Tem origem na rotura da ligação do revestimento ao suporte, por as tensões instaladas superarem a resistência do material de fixação. A reabilitação de pavimentos onde ocorre esta anomalia envolve a substituição parcial ou total do revestimento aplicado, conforme será descrito no capítulo da reabilitação, o que envolve, normalmente, custos elevados. As causas prováveis desta ocorrência são variáveis consoante o tipo de revestimento aplicado e podem ser sobretudo as seguintes: 36

variações térmicas; acção da água (chuva, capilaridade, condensação); choques / vibrações; falta de aderência; inexistência de barreira pára-vapor; deficiente fraccionamento do revestimento, no que diz respeito a juntas de contorno, juntas de dilatação ou juntas de esquartelamento; inexistência de camada de dessolidarização; assentamentos diferenciais; suporte com impurezas. Fig. 25 - Descolamento em revestimento de mosaicos cerâmicos, devido a variações térmicas e mau dimensionamento / execução das juntas Fig. 26 [8] - Descolamento em pavimento de madeira, devido à acção da humidade e a variações térmicas 4.1.2. Fissuração 37

Esta anomalia (Fig. 28) surge igualmente com alguma frequência em revestimentos de pisos, sobretudo com materiais minerais. O fenómeno acontece quando o revestimento não acompanha as deformações impostas, quer pela própria estrutura, quer por cargas concentradas. As causas prováveis desta ocorrência são variáveis consoante o tipo de revestimento aplicado e podem ser sobretudo as seguintes: variações térmicas; choques / vibrações; deficiente fraccionamento do revestimento, no que diz respeito a juntas de contorno, juntas de dilatação ou juntas de esquartelamento; inexistência de camada de dessolidarização; assentamentos diferenciais. Fig. 27 - Descolamento em revestimento de ladrilhos vinílicos, devido à acção da humidade (à esquerda [8]) e descolamento em revestimento de ladrilhos vinílicos, devido à acção da humidade (à direita [7]) 38

Fig. 28 - Fissuração em revestimento com mosaicos cerâmicos, devido a assentamentos diferenciais 4.1.3. Anomalias superficiais e de aspecto Este tipo de anomalia (Fig. 29) ocorre devido a imperfeições do próprio revestimento ou má execução do mesmo. Incluem-se aqui os defeitos de planimetria (falta de planeza, pendentes mal executadas ou desnivelamentos) e os defeitos visuais (heterogeneidades da cor, manchas, irregularidades ou coloração das juntas). O desgaste e o fim de vida útil do revestimento estão incluídos nesta família das anomalias superficiais. Fig. 29 - Desgaste em mosaico cerâmico (à esquerda) eflorescências em mosaicos cerâmicos, devido à acção da humidade (ao centro) e apodrecimento em pavimento de madeira, devido à acção da humidade (à direita) Quando o revestimento é poroso e sem cobertura superficial vítrea, é frequente o aparecimento de manchas brancas, provenientes da cristalização de sais minerais, fenómeno a que se dá o nome de eflorescências. As criptoflorescências resultam do mesmo tipo de fenómeno, embora os sais se formem no interior do próprio revestimento. Estas anomalias são agravadas pelo excesso de humidade e condensações, que conduzem ao aparecimento de bolores. Em pisos térreos, se os problemas de capilaridade forem relevantes, adopta-se uma solução que inclua uma membrana de impermeabilização. Tal como nas anomalias anteriores, as causas prováveis desta ocorrência são variáveis consoante o tipo de revestimento aplicado e podem ser sobretudo as seguintes: 39