O que é uma pesquisa de vitimização? Uma pesquisa de vitimização consiste em uma série de perguntas feitas a pessoas escolhidas para representarem a população, sobre terem ou não sido vítimas de algum tipo de crime. As pesquisas de vitimização visam ajudar a segurança pública, fornecendo dados realistas sobre a criminalidade e a violência. Neste sentido são instrumentos importantes do planejamento estratégico da polícia, indicando tipos de crime e áreas, e pessoas mais expostas. Servem também como base de estudos sociais que permitem uma atuação mais eficaz das políticas públicas sobre a violência. A pesquisa do Instituto Futuro Brasil O IFB realizou a mais completa pesquisa de vitimização já feita em São Paulo. O Projeto permitiu a criação de uma base de dados sobre a vitimização e características sócio-econômicas no Município de São Paulo para auxiliar a Secretaria de Segurança no planejamento do combate ao crime e coloca a disposição material para a realização de pesquisas para a compreensão das causas e as origens dos índices de violência no Município. O questionário sobre vitimização foi aplicado em 5.000 domicílios do município, escolhidos aleatoriamente para representar toda a população e resultou em informações de mais de 20.000 pessoas. Estas informações permitem descrever, com considerável ganho de acuidade em relação às estatísticas policiais, quando existentes, as características sociais, étnicas, etárias, etc das pessoas mais afetadas pela violência, as razões que levam uma pessoa que foi vítima de um ato violento a procurar ou não a polícia para registrar a ocorrência, as relações entre vítima e agressor, o tipo de família mais afetado pelo problema, entre outros aspectos relacionados à ocorrência de atos criminosos e violentos. Dados Interessantes A pesquisa de vitimização realizada pelo Instituto Futuro Brasil revelou alguns resultados interessantes. O primeiro deles refere-se aos números e tipos de crimes praticados. A pesquisa revelou que 7,7% dos habitantes de São Paulo sofreram um roubo no período de 12 meses e que em 55,2stes roubos uma arma de fogo foi usada. A pesquisa mostra também que há uma variação na taxa de vitimização de acordo com a renda. Entre as pessoas classificadas como pertencentes ao grupo de renda alta a taxa de roubo e furto foi de 33,5%, quase três vezes a taxa de 12,2%, registrada para o grupo de renda baixa. O gráfico abaixo traça um resumo da taxa de vitimização com prevalência em toda a vida, por tipo de crime.
% que alguma vez (prevalência em toda a vida) Foi ferido por arma de fogo Foi ferido por outro tipo de arma Alguém disparou arma contra ele Foi ameaçado com outro tipo de arma Sofreu agressão física Teve carro ou moto roubado ou furtado Teve a casa invadida Foi ameaçado com arma de fogo Teve outro bem roubado ou furtado 0 5 10 15 20 25 30 35 40 Outro dado interessante e surpreendente revelado pela pesquisa foi o relativo a estelionato: 25% da população sofreu algum tipo de fraude no período de 12 meses anteriores à pesquisa. Essa taxa elevada se deve em grande parte ao recebimento de notas falsas de dinheiro, que atingiu 15,1% da população. A pesquisa traçou também o perfil dos assaltantes por tipo de roubo e sexo. A tabela abaixo revela o que já era esperado: a maioria dos crimes de roubo é cometida por indivíduos do sexo masculino. Perfil de assaltantes, relatado pelas vítimas % Masc % Fem Roubo residencial 82,1 17,9 Roubo fora da residência 94,3 5,7 Roubo de veículo 98,5 1,5 A percepção da violência e os reflexos desta sobre a população foram também captados pela pesquisa de vitimização realizada pelo IFB. As tabelas abaixo mostram o nível de confiança do indivíduo em relação às pessoas com as quais se relaciona. Confiança (%) Pode se confiar nas pessoas 11,2 Deve se ficar de pé atrás 88,8
Ajuda a vizinhos (%) Emprestaria uma xícara de açúcar? 98,5 Emprestaria R$ 20? 79,1 Se você tiver filhos, pediria tomar conta para você? 45,1 Emprestaria seu televisor se fosse viajar? 40,7 Outros dados que captam muito bem os reflexos da violência sobre a população são mostrados na tabela que se segue. Fica claro diante dos resultados apresentados que a violência tem causado reflexos negativos sobre a saúde emocional da população. Sintomas do Medo % Quando pensa na violência, sente medo 73,1 Dificuldades de dormir por causa da violência 30,1 Subnotificação Outro objetivo da pesquisa realizada pelo IFB foi procurar entender por que muitas vezes não são registrados boletins de ocorrência e quais tipos de crimes são mais ou menos notificados à polícia. O estudo revelou que 68% dos crimes não chegam à polícia, fato que produz grande imprecisão nas estatísticas regularmente divulgadas, que estão baseadas em números de boletins de ocorrência. A tabela abaixo apresenta a taxa de notificação para alguns tipos de crime. São Paulo Taxas de notificação ( % ) 2003 Furto e roubo de veículo 92 Roubo 45 Agressão física 21 Pode-se notar que a taxa de notificação varia com a natureza do crime. Essa variação ocorre porque as vítimas fazem diversas considerações sobre a vantagem de notificar ou não, a polícia. Dentre estas considerações, as principais são: 1.o valor do bem ou a quantidade de dinheiro roubado, furtado ou extorquido; 2.a baixa credibilidade na eficiência do sistema policial; 3.a ocorrência de práticas de discriminação racial, de gênero e etárias no aparelho policial; 4.o grau de culpabilidade da vítima que pode variar no contínuo - exposição voluntária e consciente à situação de risco, falta de precaução na prevenção ao crime, envolvimento ativo na produção de uma situação de risco, a própria vítima pratica um crime contra alguém que reage em decorrência do ato sofrido, a vítima coopera na realização do crime, encorajamento ativo e consciente da vítima para a realização do crime; 5.a existência de vínculos familiares ou de vizinhança entre a vítima e o agressor; e
6.as características culturais que levam a família e outras redes de socialização primária a serem consideradas como primeira alternativa na resolução de certos tipos de conflitos, principalmente os domésticos ou aqueles que atingem a população residente em áreas onde a interação e o controle social local são fortes; A tabela abaixo mostra as razões dadas por não ter registrado a ocorrência do crime. Razões dadas por não ter registrado BO roubos furtos agressões físicas agressões verbais O crime não era grave ou houve falta de provas 29,5 46,6 25,8 47,1 A polícia não resolve nada 28,4 32,7 10,4 8,1 Medo de represália, o perpetrador era um 25,2 11,8 50,3 36,1 conhecido, ou resolveu diretamente com o responsável Foi convencido a não registrar por policial 4,8 1,4 1,2 1,3 Polícia recusou-se a registrar 2,9 1,4 2,5 0,3 Outros 9,2 6,1 9,8 7,1 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 Da observação da tabela pode-se concluir que os principais motivos alegados pelas pessoas para não registrarem uma ocorrência estão relacionados à noção de falta de gravidade dos crimes sofridos e à falta de credibilidade na atuação policial. Atuação da Polícia A pesquisa de vitimização realizada em São Paulo captou também a percepção da população sobre a atuação da polícia. As tabelas abaixo apresentam um quadro geral da atuação policial para grupos de idade e para cor, separados por sexo. Os homens e os jovens são os mais visados pela polícia. Entre os jovens de 16 a 25 anos de idade do sexo masculino, 53,5% foram revistados no último ano. Em contraste, somente 5,9% das mulheres da mesma faixa etária e 10,0% dos homens acima de quarenta anos de idade sofreram revista. Jovens do sexo masculino também correm o maior risco de abordagens mais pesadas: 8,5% relatam que foram agredidos pela polícia no último ano. Já as mulheres acima de quarenta anos de idade escapam da mira da polícia; somente 3,2% sofreram algum tipo de abordagem no último ano.
Abordagens realizadas pela polícia nos últimos 12 meses: idade e sexo (%) 16 a 25 26 a 39 40+ Masc Fem Masc Fem Masc Fem Total Apresentou documentos 49.7 9.1 34.9 6.5 16.2 2.9 19.1 Foi revistado 53.5 5.9 33.2 2.1 10.0 0.3 16.7 Foi ameaçado ou desrespeitado 19.5 3.6 8.8 1.8 2.4 0.6 5.9 Foi preso ou detido 4.0 0.3 2.1 0.0 0.0 0.0 1.0 Sofreu agressão física ou maltrato 8.5 1.1 3.3 0.4 0.6 0.1 2.3 Total agregado* 57.7 11.9 39.3 7.6 19.2 3.2 22.2 *Foi abordado pelo menos uma vez Os pretos, pardos e índios do sexo masculino correm maior risco de serem abordados do que os brancos ou amarelos: 44,5% dos pretos e pardos e 51,1% dos índios sofreram algum tipo de abordagem pela polícia nos últimos 12 meses. As taxas de abordagem de brancos e amarelos são bem menores: 35,0% e 36,4%, respectivamente. Abordagens realizadas pela polícia nos últimos 12 meses: cor* e sexo (%) Branca Parda Preta Indígena Amarela Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Total Apresentou documentos 30.1 6.2 39.1 4.7 39.3 6.0 43.5 2.8 30.3 0.0 19.1 Foi revistado 27.2 2.3 39.6 1.9 39.3 3.2 47.8 2.8 21.9 0.0 16.7 Foi ameaçado ou desrespeitado 8.3 1.8 11.9 1.4 14.6 1.4 28.3 5.6 6.1 0.0 5.9 Foi preso ou detido 1.7 0.1 2.1 0.2 2.4 0.0 6.5 0.0 3.1 0.0 1.0 Sofreu agressão física ou maltrato 2.6 0.4 5.8 0.5 6.9 0.5 15.2 0.0 0.0 0.0 2.3 Total agregado** 35.0 7.4 44.5 5.8 44.5 6.4 51.1 5.6 36.4 0.0 22.2 *Cor definida pelo entrevistado **Foi abordado pelo menos uma vez A avaliação do atendimento policial tem sido positiva, na percepção da população de São Paulo. Os dados da pesquisa revelaram que, dentre as pessoas que receberam a ajuda de um policial, 35% acharam que o atendimento foi acima do esperado, 44,2% disseram que o atendimento foi acima do esperado e 20,8% afirmaram que o atendimento policial ficou abaixo do esperado.