Viabilidade econômica do consórcio alface e rabanete, em função da sazonalidade de preços. Diego Resende de Queirós Pôrto 1 ; Bráulio Luciano Alves Rezende 1 ; Arthur Bernardes Cecílio Filho 2 ; Estevão Urbinati 3 ; Maria Inez Espagnoli Geraldo Martins 4. 1 Pós-graduandos em Agronomia (Produção Vegetal), UNESP; 2 Prof. Dr. UNESP, Depto. Produção Vegetal, Via de acesso Prof. Paulo Donato Castellane, s/n, 14884-900, Jaboticabal-SP. E-mail: rutra@fcav.unesp.br; 3 Graduando em Agronomia, UNESP; 4 Profª. Dr. UNESP, Depto. Economia Rural. RESUMO Este trabalho foi realizado com objetivo de verificar a influência da sazonalidade de preços de alface e rabanete sobre a viabilidade econômica de cultivos consorciados das hortaliças. Para o estudo da viabilidade econômica, considerou-se o preço médio da alface e do rabanete nos meses de janeiro e fevereiro (verão), abril e maio (outono), julho e agosto (inverno), e no período de outubro a novembro (primavera), entre 1998 e 2002. As maiores receitas bruta e líquida foram observadas nos cultivos consorciados estabelecidos com a semeadura do rabanete ao zero dia após o transplantio (DAT), no espaçamento 0,30 x 0,30m, e aos 14 DAT, no espaçamento 0,40 x 0,30m, na época do verão. Houve efeito da sazonalidade de preços das hortaliças sobre a rentabilidade dos cultivos consorciados em relação aos seus monocultivos. Palavras-chaves: Lactuca sativa, Raphanus sativus, cultivo consorciado, lucratividade. ABSTRACT Economic viability of the intercropping lettuce and radish, in function of the seasonality of prices. This work was carried with objective to verify the influence of the seasonality of lettuce prices and radish on the economic viability of intercropping cultivation of the vegetables. For the study of the economic viability, the average price was considered of the lettuce and the radish in the months of January and February (summer), April and May (autumn), July and August (winter), and in the period of October the November (spring), between 1998 and 2002. The biggest gross revenues and liquid were observed in the intercropping cultivation established with the sowing of the radish to the zero day after the transplant (DAT), in the spacing 0,30 x 030m, and to the 14 DAT, in the spacing 0,40 x 0,30m, at the period of the summer. It had effect of the seasonality of prices of the vegetables on the profitability of the intercropping cultivation in relation to its monocultures. keywords: Lactuca sativa, Raphanus sativus, intercropping cultivation, profitability.
Os agrossistemas consorciados vêm sendo utilizados há séculos por agricultores com recursos financeiros limitados, visando diminuir os riscos, aproveitar melhor a mão-de-obra e a área que dispõem e ao mesmo tempo aumentar a eficiência de utilização de recursos naturais ou não. Nos últimos cinco anos, o número de trabalhos no Brasil objetivando estudos sobre consorciação de hortaliças foram intensificados. Entre muitos, com alface e rabanete (Cecílio Filho & May, 2002 e Catelan et al. 2002a), beterraba e rúcula (Catelan et al. 2002b) e tomate e alface (Rezende et al. 2003a), constataram viabilidade econômica e, ou, agronômica de consórcios estabelecidos entre hortaliças. Embora as produtividades das culturas sejam dependentes da época de cultivo, o estudo da influência da sazonalidade de preços, ao longo do ano, das hortaliças envolvidas, permite obter informações sobre como a rentabilidade econômica de determinado cultivo pode sofrer variação. Isto posto, dependendo do preço da(s) hortaliça(s) envolvidas no consórcio, aquela combinação de culturas viável economicamente em determinada época do ano, poderá não mostrar a mesma rentabilidade ou até mesmo ser deficitária em relação ao(s) monocultivo(s) em outra época de cultivo. A partir destas informações, o produtor poderá, para cultivos consorciados de viabilidade agronômica cientificamente comprovada, estabelecer entre as culturas consorciadas a que será considerada como principal, ou seja, aquela que será prioritariamente estabelecida e em maior participação (peso) no consórcio, em virtude de seu maior valor de remuneração ao produtor, naquela época específica. Dessa forma, o presente trabalho teve como objetivo avaliar a influência da sazonalidade de preços de alface e rabanete sobre a viabilidade econômica de cultivos consorciados das hortaliças. MATERIAL E MÉTODOS As produtividades das culturas de alface e rabanete em consórcio e em cultivo solteiro e os índices de uso eficiente de terra foram obtidos de Rezende et al. (2003b), os quais avaliaram e constataram, em experimento conduzido na Unesp, Jaboticabal-SP, no período de setembro a novembro de 2000, a viabilidade agronômica dos cultivos consorciados. A fim de se ter somente o efeito da sazonalidade de preços das hortaliças sobre a viabilidade econômica dos consórcios, foram utilizadas as mesmas produtividades das hortaliças em consórcio e em monocultivo observadas por Rezende et al. (2003b), para as quatro épocas (verão, outono, inverno e primavera) em avaliação.
De Catelan (2002c), foram obtidos os custos operacionais totais (COT) das culturas de alface e rabanete, adotando-se o mesmo valor para as quatro épocas, pelo motivo anteriormente exposto. Para cálculo da receita auferida nos cultivos, considerou-se o preço médio da alface e do rabanete nos meses de janeiro e fevereiro (verão), abril e maio (outono), julho e agosto (inverno) e no período de outubro e novembro (primavera), observados entre 1998 e 2002. RESULTADOS E DISCUSSÃO As produtividades e índices de uso eficiente da terra (UET) que quantificam a produção por área do consórcio em relação à dos monocultivos, encontram-se na Tabela 1. Os preços médios da alface e do rabanete nas diferentes estações de cultivo (Tabela 2), demonstram comportamento semelhante das hortaliças, com redução seqüencial de preços do verão para o inverno. Contudo, diferenciam-se quanto ao período do inverno para primavera, onde se constata elevação do preço do rabanete e continuada redução no preço da alface. As maiores receitas bruta (Tabela 3) e líquida (Tabela 4), foram observadas nos cultivos consorciados estabelecidos com a semeadura do rabanete ao zero dia após o transplantio (DAT) no espaçamento 0,30 x 0,30m (R$ 45.928,12/ha e R$ 40.741,11/ha, respectivamente) e aos 14 DAT, no espaçamento 0,40 x 0,30m (R$ 52.117,84/ha e R$ 46.930,83/ha, respectivamente), ambas na época do verão. Tais resultados se devem aos melhores preços dos produtos no mercado. Mesmo com a grande contribuição da alface na composição da receita do consórcio, em virtude da significativa maior quantidade de produto em relação ao rabanete (Tabela 1), nota-se que a maior remuneração recebida pelo rabanete na primavera em relação ao inverno, somada a redução do preço da alface (Tabela 2), fizeram com que as receitas brutas e líquidas dos melhores consórcios sob espaçamento de 0,30 x 0,30m da alface (UETs de 1,76 e 1,69) fossem maiores do que as obtidas no inverno, para as mesmas condições em análise. Comportamento semelhante ocorre para os consórcios instalados também aos 0 e 7 DAT, sob 0,40 x 0,30m. Estes resultados evidenciam a possibilidade do produtor, na primavera, estabelecer o rabanete como cultura principal, ou seja, fazer a semeadura de quatro linhas de rabanete e nas entrelinhas transplantar a alface, uma vez que esta encontra-se com baixa valorização. Desta forma, o produtor poderá otimizar seu lucro. A rentabilidade medida pela receita líquida entre o melhor consórcio sob espaçamento 0,30 x 0,30m (0 DAT) e a receita líquida obtida no monocultivo de alface foi de
79%, 78%, 73% e 100% superior, respectivamente, nas estações de verão, outono, inverno e primavera. Em relação ao monocultivo do rabanete, a rentabilidade do consórcio estabelecido ao 0 DAT foi superior em 96%, 104%, 142% e 80%, respectivamente, nas estações do verão, outono, inverno e primavera. Para o produtor que tem a cultura da alface como principal, observa-se que foi na estação da primavera em que ele obtém a maior vantagem do consórcio sobre o monocultivo da alface, justamente por ter sido constatado os piores preços da alface. Mesmo comportamento foi observado para quando o consórcio foi estabelecido sob espaçamento mais largo da alface (0,40 x 0,30m). Nas estações de verão, outono, inverno e primavera, constatou-se superioridade da receita líquida do melhor consórcio (semeadura do rabanete aos 14 DAT da alface) em 45%, 44%, 39% e 55%. Da mesma forma como para a alface, a maior amplitude entre a receita líquida do melhor consórcio estabelecido sob espaçamento de 0,30 x 0,30m (0 DAT) e 0,40 x 0,30m (14 DAT) da alface e o monocultivo do rabanete, foi observada na época de pior preço desta hortaliça, ou seja, no inverno, atingindo 142% e 175%. Diante dos resultados observados, deve-se atentar para a época de cultivo a fim de estabelecer a melhor combinação das culturas envolvidas no consórcio e elevar a rentabilidade do cultivo. LITERATURA CITADA CATELAN, F. Análise econômica dos cultivos consorciados de alface americana x rabanete e beterraba x rúcula em Jaboticabal-SP. 2002c. 63f. (Monografia Graduação), FCAV- UNESP, Jaboticabal-SP. CATELAN, F.; CANATO, G.H.D.; ESPAGNOLI, M.I.; MARTINS, G.; CECILIO FILHO, A.B. Análise econômica das culturas de beterraba e rúcula, cultivadas em monocultivo e consórcio. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 20, supl. 2, p.1-4, 2002b. CATELAN, F.; CANATO, G.H.D.; MARTINS, M. I. E. G.; CECILIO FILHO, A.B. Análise econômica das culturas de alface e rabanete, cultivadas em monocultivo e consórcio. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 20, supl. 2, p.1-4, 2002a. CECILIO FILHO, A. B; MAY, A. Produtividade das culturas de alface e rabanete em função da época de estabelecimento do consorcio, em relação aos monocultivos. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 20, n. 3, p. 501-504, 2002.
REZENDE, B. L. A.; CANATO, G. H. D.; CECÍLIO FILHO, A. B. Productivity of lettuce and radish cultivations as a function of spacing and of time of establishment of intercropping. Acta Horticulturae, Brasília-DF, v. 607, p. 97-101, 2003b. REZENDE, B. L. A.; CANATO, G. H. D.; CECÍLIO FILHO, A. B., MARTINS, I.E.G. Análise econômica de cultivos consorciados de alface x tomate, em Cultivo protegido, Jaboticabal- SP. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 21, supl. 2, p.1-4, 2003a. Tabela 1 - Produtividades, índices de uso eficiente da terra (UET) e custos operacionais totais (COT) das culturas de alface e rabanete em cultivo consorciado e solteiro em dois espaçamentos de plantio da alface. UNESP, Jaboticabal (SP), 2004. Sistemas de cultivo Produtividade (kg/ha) Alface Rabanete UET COT (R$/ha) 0,30 x 0,30m Consórcio 0 DAT* 29.436,75 9.170 1,76 5.187,01 Consórcio 7 DAT 24.680,00 10.780 1,69 5.187,01 Consórcio 14 DAT 25.924,00 7.968 1,55 5.187,01 Monocultivo de alface 25.845,75-1,00 4.071,33 Monocultivo de rabanete - 14.672 1,00 3.723,58 0,40 x 0,30m Consórcio 0 DAT 27.373,50 8.694 1,36 5.187,01 Consórcio 7 DAT 29.169,00 9.996 1,50 5.187,01 Consórcio 14 DAT 36.445,00 8.512 1,61 5.187,01 Monocultivo de alface 34.965,00-1,00 4.071,33 Monocultivo de rabanete - 15.100 1,00 3.723,58 *DAT = semeadura do rabanete em dias após o transplantio da alface. Tabela 2 Preço médio da alface e do rabanete em diferentes estações de cultivo. UNESP, Jaboticabal (SP), 2004. Culturas Preço médio (R$/kg) Verão (1) Outono Inverno Primavera Alface 1,04 0,87 (-16,3) (2) 0,63 (-27,6) (3) 0,57 (-9,5) (4) Rabanete 1,67 1,35 (-19,2) 0,85 (-37,0) 1,06 (+24,7) (1) Verão (janeiro-fevereiro); Outono (abril-maio); Inverno (julho-agosto); Primavera (outubro-novembro). (2) Valor percentual de redução (-) ou aumento (+) no preço da hortaliça entre os meses de verão/outono, outono/inverno (3) e inverno/primavera (4). Tabela 3 Receita bruta (RB) das culturas de alface e rabanete em cultivo consorciado e solteiro, nas diferentes épocas do ano, em dois espaçamentos de plantio da alface. UNESP, Jaboticabal (SP), 2004. 0,30 x 0,30m Tratamento RB (R$/ha) Verão** Outono Inverno Primavera
Consórcio 0 DAT * 45.928,12 37.989,47 26.339,65 26.499,15 Consórcio 7 DAT 43.669,80 36.024,60 24.711,40 25.494,40 Consórcio 14 DAT 40.267,52 33.310,68 23.104,92 23.222,76 Monocultivo de alface 26.879,58 22.485,80 16.282,82 14.732,08 Monocultivo de rabanete 24.502,24 19.807,20 12.471,20 15.552,32 0,40 x 0,30m Consórcio 0 DAT 42.987,42 35.551,85 24.635,21 24.818,54 Consórcio 7 DAT 47.029,08 38.871,63 26.873,07 27.222,09 Consórcio 14 DAT 52.117,84 43.198,35 30.195,55 29.796,37 Monocultivo de alface 36.363,60 30.419,55 22.027,95 19.930,05 Monocultivo de rabanete 25.217,00 20.385,00 12.835,00 16.006,00 *DAT = semeadura do rabanete em dias após o transplantio da alface. **Verão (Janeiro-Fevereiro); Outono (Abril-Maio); Inverno (Julho-Agosto); Primavera (Outubro-Novembro). Tabela 4 - Receita líquida (RL) das culturas de alface e rabanete em cultivo consorciado e solteiro, nas diferentes épocas do ano, em dois espaçamentos de plantio da alface. UNESP, Jaboticabal (SP), 2004. Tratamento RL (R$/ha) Verão** Outono Inverno Primavera 0,30 x 0,30m Consórcio 0 DAT* 40.741,11 32.802,46 21.152,64 21312,14 Consórcio 7 DAT 38.482,79 30.837,59 19.524,39 20.307,39 Consórcio 14 DAT 35.080,51 28.123,67 17.917,91 18.035,75 Monocultivo de alface 22.808,25 18.414,47 12.211,49 10.660,75 Monocultivo de rabanete 20.778,66 16.083,62 8.747,62 11.828,74 0,40 x 0,30m Consórcio 0 DAT 37.800,41 30.364,84 19.448,20 19.631,53 Consórcio 7 DAT 41.842,07 33.684,62 21.686,06 22.035,08 Consórcio 14 DAT 46.930,83 38.011,34 25.008,54 24.609,36 Monocultivo de alface 32.292,27 26.348,22 17.956,62 15.858,72 Monocultivo de rabanete 21.493,42 16.661,42 9.111,42 12.282,42 *DAT = semeadura do rabanete em dias após o transplantio da alface. **Verão (Janeiro-Fevereiro); Outono (Abril-Maio); Inverno (Julho-Agosto); Primavera (Outubro-Novembro).