Anais do Conic-Semesp. Volume 1, 2013 - Faculdade Anhanguera de Campinas - Unidade 3. ISSN 2357-8904 TÍTULO: LEVANTAMENTO FLORÍSTICO DAS ARACEAE EPÍFITAS EM UMA ÁREA DE MATA ATLÂNTICA DA SERRA DO GUARARU, GUARUJÁ, SP CATEGORIA: CONCLUÍDO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE SUBÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS INSTITUIÇÃO: UNIVERSIDADE SANTA CECÍLIA AUTOR(ES): BIANCA ISIDRO DE OLIVEIRA ORIENTADOR(ES): MARA ANGELINA GALVÃO MAGENTA, PAULO DE SALLES PENTEADO SAMPAIO
Levantamento florístico das Araceae epífitas em uma área de Mata Atlântica da Serra do Guararu, Guarujá, SP 1. RESUMO O conhecimento florístico da Mata Atlântica é uma ferramenta essencial para sua conservação. Este trabalho traz o levantamento florístico das Araceae no loteamento Iporanga na Serra do Guararu, município de Guarujá São Paulo (23º59 14 S e 46º13 49 W). Para o trabalho, foram marcadas nove parcelas de 20 X 10 m em uma área de captação de água em estágio avançado de recuperação; foram amostrados forófitos com perímetro à altura do peito maior ou igual a 10 cm. O estudo fornece dados sobre a diversidade e a síndrome de dispersão das plantas dessa família, além de uma chave de identificação para as espécies. Foram identificados 10 táxons pertencentes à família Araceae, distribuídos em quatro gêneros: Anthurium comtum Schott, Anthurium pentaphyllum (Aubl.) G. Don, Anthurium scandens (Aubl.) Engl., Anthurium sellowianum Kunth, Monstera adansonii Schott, Philodendron cordatum Kunth ex Schott, Philodendron ochrostemon Schott, Philodendron ornatum Schott, Philodendron sp1 e Rhodospatha latifolia. Em alturas até cinco metros o gênero Philodendron apresentou a maior distribuição espacial enquanto que acima dos cinco metros de altura, há predomínio do gênero Monstera. Palavras-chave: Mata Atlântica, florística, epífitas, Araceae 2. INTRODUÇÃO Martius (1840) foi pioneiro em classificar a Mata Atlântica e seu sistema serviu de base para posteriores classificações resultando em diferentes propostas de acordo com critérios fisiológicos, abióticos, florísticos e outros (URBANETZ, 2005). A Floresta Ombrófila Densa faz parte do Bioma Mata Atlântica e é associada a climas tropicais com temperatura média de 25ºC e alta precipitação bem distribuída ao longo do ano (VELOSO ET AL. 1992). É caracterizada por predominância de espécies arbóreas, lianas lenhosas e epífitas (URBANETZ, 2005). A Floresta Ombrófila Densa, segundo Scudeller (2002) é um bloco florístico único e heterogêneo, com sua maior riqueza na Região Sudeste.
O epifitismo contribui para a diversidade dessas florestas, propiciando a ocupação em diferentes extratos, criando ambientes passíveis à manutenção da vida não dependentes diretamente do solo (CERVI & BORGO, 2007). As epífitas influenciam na ciclagem de nutrientes em qualquer ecossistema que ocorram (COXZON & NADKARNI, 1995) e atuam também como bioindicadores de estágio sucessional da floresta, pois a frequência e diversidade de epífitas são maiores em comunidades de fases primárias (BUDOWSKI, 1965). Araceae é uma família que compreende cerca de 110 gêneros e 9000 espécies constituindo nove subfamílias, representativa de monocotiledôneas (KEATING, 2002; GONÇALVES, 2005). Aproximadamente 70% são epífitas (GRAYUM, 1990). São bem distintas a partir do modo de vida, morfologia foliar e sua inflorescência em espádice associada a uma bráctea (TEMPONI, 2005). O estudo foi feito em uma área do loteamento Iporanga, incluso na Área de Proteção Ambiental (APA) da Serra do Guararu, que apresenta significativos remanescentes de Floresta Ombrófila Densa. A área escolhida se encontra em estágio avançado de regeneração, segundo o Manual Técnico da Vegetação Brasileira (IBGE, 1991) e, portanto, pode fornecer um retrato fiel da biodiversidade de Araceae em áreas bem preservadas. Assim, este trabalho se justifica pela escassez no conhecimento florístico da área em questão. 3. OBJETIVOS O presente trabalho objetiva o levantamento florístico das Araceae epífitas num fragmento de Mata Atlântica, no loteamento Iporanga, Serra do Guararu, Guarujá, SP, a confecção de chave de identificação para as espécies, além de registros sobre época de floração e frutificação e comentários sobre interações ecológicas. 4. METODOLOGIA A área de estudo localiza-se num trecho da APA da Serra do Guararu, Loteamento do Iporanga, Guarujá São Paulo entre as coordenadas 23º59 14 S e 46º13 49 W (Figura 1).
Figura 1: Localização do Loteamento Iporanga, Serra do Guararu, Guarujá, S (extraído de Consultoria Ambiental, 2007) Após a escolha da área, que levou em consideração o estágio de recuperação, visando obter um panorama da biodiversidade de Araceae em uma área de FOD bem preservada, foram marcadas nove parcelas de 20 X 10 m. Os forófitos com perímetro à altura do peito maior ou igual a 10 foram marcados com placas numeradas, e suas epífitas coletadas em alturas variando de um a 10 metros. Sempre que possível, foram coletados indivíduos em estado fértil, mas alguns espécimes em estado vegetativo também foram analisados. 5. DESENVOLVIMENTO O trabalho de campo foi realizado no período de janeiro a outubro de 2012. Essas coletas foram realizadas na localidade da área de captação de água, frente aos lotes 04 a 06 da quadra 20 Loteamento do Iporanga. Informações como número de registro do forófito e descrição dendrológica simples, com as principais características observadas, foram anotadas ainda em campo. Após coletado, o material foi prensado e levado à estufa para secar a 70ºC. Após um período de cerca de cinco dias, a coleta foi tirada da estufa e identificada com auxílio de bibliografias, lupa e microscópio para análise das características
morfológicas dos espécimes. O material foi identificado, seu nome científico conferido em Tropicos (2013) e depositado no herbário da Universidade Santa Cecília HUSC. 6. RESULTADOS No levantamento florístico foram coletados trinta e dois espécimes representantes da família Araceae, somando 10 espécies, distribuídas em quatro gêneros: Anthurium comtum Schott, Anthurium pentaphyllum (Aubl.) G. Don, Anthurium scandens (Aubl.) Engl., Anthurium sellowianum Kunth, Monstera adansonii Schott, Philodendron cordatum Kunth ex Schott, Philodendron ochrostemon Schott, Philodendron ornatum Schott, Philodendron sp. e Rhodospatha latifolia Poepp. (tab. 1). Todos os indivíduos se apresentaram como hemiepífitos secundários (plantas que iniciam a vida na terra e alcançam o fuste das árvores através de estruturas como raízes de fixação ou enrolando-se nos mesmos, e passando a viver como epífitas). Um táxon foi identificado em nível genérico, Philodendron sp., que apresenta lâmina foliar elíptica, ápice agudo e presença de bainha peciolar fechada, até a metade do pecíolo. Tabela 1 Espécies da família Araceae e época que foi encontrada fértil (flor; fruto), em um fragmento de Mata Atlântica, loteamento Iporanga, Serra do Guararu, Guarujá - SP. ESPÉCIES FLOR FRUTO MÊS Anthurium comtum Schott X Mai Anthurium pentaphyllum (Aubl.) G. Don X X Fev, Mar, Mai Anthurium scandens (Aubl.) Engl. X Mai Anthurium sellowianum Kunth X X Mai, Set Monstera adansonii Schott X X Mar, Mai Philodendron cordatum Kunth ex Schott - - - Philodendron ochrostemon Schott X Mai Philodendron ornatum Schott - - - Philodendron sp. - - - Rhodospatha latifolia Poepp. - - -
Chave de Identificação de espécies de Araceae 1. Lâmina foliar palmatissecta... Anthurium pentaphyllum 1. Lâmina foliar inteira... 2 2. Lâmina foliar perfurada na maturidade.... Monstera adansonii 2. Lâmina foliar não perfurada... 3 3. Lâmina foliar com bainha do pecíolo expandida... Philodendron ochrostemon 3. Lâmina foliar com bainha do pecíolo não expandida ou ausente... 4 4. Lâmina foliar com bainha do pecíolo... 5 5. Folha lanceolada com base aguda... Rhodosphata latifolia 5. Folha oval com base cordada... Philodendron ornatum 4. Lâmina foliar sem bainha do pecíolo... 6 6. Lâmina foliar com duas grandes nervuras coletoras laterais... 7 7. Presença de catafilos decompostos em fibras... Anthurium scandens 7. Ausência de catafilos decompostos em fibras... 8 8. Lâmina foliar membranácea em material seco, frutos esverdeados...... Anthurium comtum 8. Lâmina foliar cartácea em material seco, frutos vináceos...... Anthurium sellowianum 6. Lâmina foliar sem duas grandes nervuras coletoras laterais... 9 9. Lâmina foliar com nervação acródroma... Philodendron sp1 9. Lâmina foliar com nervação peniparalelinérvia. Philodendron cordatum 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS O número de gêneros (quatro) encontrado na área de estudo é bastante significativo, considerando-se o tamanho da área pesquisada (0,02 há), já que para o Estado de São Paulo é citada a ocorrência de 13 gêneros da família. O número de espécies também é alto (10). Em um estudo realizado por Zipparro et al. (2005) em
Floresta Ombrófila Densa, no Parque Estadual Intervales, na Serra de Paranapiacaba, em Sete Barras (SP), que possui uma área de aproximadamente 48.000 ha, foram encontradas apenas 20 espécies distribuídas em seis gêneros. Número semelhante de espécies foi verificado por Lima et al. (2012) no Parque Estadual Carlos Botelho (PECB), que possui o mesmo tipo de vegetação, e uma área de 37.644 há. Em fisionomia de restinga, Martins et al. (2008) registraram catorze espécies distribuídas em quatro gêneros e Mania & Monteiro (2010) catalogaram apenas seis espécies de Araceae epífitas, inseridas em três gêneros, em um fragmento de floresta de restinga de Ubatuba (SP). As copas das árvores apresentam maior quantidade de epífitas alocadas nos ramos. Essa distribuição vertical ocorre de acordo com luminosidade, umidade e disponibilidade de espaço. A diversidade de espécies de Araceae epifíticas na área de estudo pode ser considerada baixa, mas com grande número de representantes, especialmente pertencentes ao gênero Philodendron. O número de espécies epífitas de Araceae ocorrentes em um mesmo forófito variou de dois a cinco, onde o gênero Philodendron apresentou maior riqueza florística, com suas espécies ocupando quase todos os forófitos e a maior distribuição espacial em alturas de até cinco metros. Acima dos cinco metros de altura, há predomínio do gênero Monstera. A ocupação de uma área grande nos forófitos por Araceae já foi observada por Dislich (1996), com a formação de estolões com muito enraizamento, otimizando a superfície de água e nutrientes. 8. FONTES CONSULTADAS AMBIENTAL CONSULTING. Plano de Manejo Área de Preservação Ecológica na Serra do Guararu Loteamento Iporanga, Guarujá, SP. 2007. BUDOWSKI, G. Distribution of tropical American rain forest species in the light of sucessional processes. Turrialba, Costa Rica, v. 15, n.1, p. 40-42. 1965. CERVI, A. C. & BORGO, M. Epífitos vasculares no Parque Nacional do Iguaçu, Paraná (Brasil). Levantamento preliminar. Fontqueria, v. 55, n.51, p. 415-422. 2007.
COXSON, D. S. & NADKARNI, N. M. Ecological roles of epiphytes in nutrient cydes of forest ecosystems. p. 27-44. In M. D. Lowman & N. M. Nadkarni (eds.). Forest canopies. 1ed. Academic Press, San Diego. 1995. DISLICH, R. Florística e estrutura do componente epifítico vascular da Reserva da Cidade Universitária Armando de Salles Oliveira, São Paulo, Brasil. 183 f. Dissertação (Mestrado em Ecologia) Instituto de Biociências, Universidade de São Paulo, São Paulo. 1996. GONÇALVES, E.G. Two new Andean genera for the tribe Spathicarpeae (Araceae). Wildenowia, Berlim, v. 35, p. 319-326. 2005. GRAYUM, M. H. Evolution and phylogeny of Araceae. Annals of the Missouri Botanical Garden, v. 77, p. 628-697. 1990. KEATING, R.C. Anatomy of the Monocotyledons. IX. Acoraceae and Araceae Clarendon Press, Oxford University Press, Oxford. p. 327. 2003. LIMA, R. A. F., SOUZA, V. C., DITTRICH, V. A. O. & SALINO, A. Composition, diversity and geographical distribution of vascular plants of na Atlantic Rain Forest, Southeastern Brazil. Biota Neotropica, v. 12, n. 1, p. 241-249. Disponível em: http://www.biotaneotropica.org.br/v12n1/en/abstract?inventory+bn01612012012. Acesso em: 30.08.2013. MANIA, L. F. & MONTEIRO, R. Florística e ecologia de epífitas vasculares em um fragmento de floresta de restinga, Ubatuba, SP, Brasil. Rodriguésia, v. 61, n. 4, p. 705-713. 2010. MARTINS, S. E., ROSSI, L., SAMPAIO, P. S. P., MAGENTA, M. A. G. Caracterização florística de comunidades vegetais de restinga em Bertioga SP, Brasil. Acta Botanica Brasilica, Brasil, v. 22, p. 249 274. 2008. SCUELLER, V. V. Análise fitogeográfica da Mata Atlântica Brasil. Tese (Doutorado em Biologia Vegetal) Instituto de Botânica, Universidade Estadual de Campinas, Campinas. 2002. TEMPONI, L. G.; GARCIA, F. C.P.; SAKURAGUI, C.M. & CARVALHO-OKANO, R.M Diversidade morfológica e formas de vida das Araceae no Parque Estadual do Rio Doce. Rodriguésia, v. 56, n. 88, p. 1-13. 2005. URBANETZ, C. Estudos florísticos da floresta ombrófila densa atlântica da Fazenda Folha Larga, Cananéia, SP. Dissertação (Mestrado em Biologia Vegetal) - Universidade Estadual de Campinas, Campinas. 2005.
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