ASSOCIAÇÃO DOS ARMADORES DAS PESCAS INDUSTRIAIS ASSOCIATION OF PORTUGUESE INDUSTRIAL FISHING-BOAT OWNERS Ed. Vasco da Gama, Bloco C, Piso-1 Rua General Gomes Araújo 1399-055 LISBOA Phones: +351 213 972 094; +351 213 972 090 Fax: +351 213 972 090 E-mail: adapi.pescas@mail.telepac.pt COMISSÃO EUROPEIA Direcção-Geral de Assuntos Marítimos e das Pescas Rue Joseph II, 99 B - 1049 - BRUXELAS N / Ref.ª - 156 / 2011 Lisboa, 17 de Fevereiro de 2011 Assunto: Consulta sobre a remoção de barbatanas de tubarão A - Introdução A frota palangreira portuguesa é constituída por cerca de 60 embarcações que operam, maioritariamente, no Oceano Atlântico, visando a captura de espadarte, atum e espécies afins, sob gestão e regulamentação do ICCAT. Um escasso número de navios dessa frota está licenciado para operar no Oceano Índico, em águas internacionais, geridas pela I.O.T.C. ou no âmbito de Acordos de Parceria nas Pescas com Países Terceiros, nos quais Portugal tem possibilidades de pesca na modalidade de palangre de superfície. Quer no Oceano Atlântico, quer no Índico, as capturas mais representativas desta frota são o espadarte e o tubarão-azul, também conhecido por tintureira ou quelha (prionace glauca), com os desembarques em peso destas 2 espécies a serem muito equivalentes. Segue-se o tubarão-anequim como a 3ª espécie mais capturada, mas a uma considerável distância das 2 espécies anteriormente referidas. Ao longo dos anos, a actividade desta frota tem sido acompanhada e monitorizada com o embarque de observadores científicos, do IPIMAR, Instituto Nacional de Investigação das Pescas e do Mar, que recolhem dados sobre a composição das capturas, relacionam tamanhos e pesos com as classes de idade, verificam a manipulação e a transformação feitas a bordo, registam níveis de abundância e capturas por unidade de esforço, bem como tomam nota das devoluções ao mar de indivíduos sem tamanho adequado, sempre que possível em condições de sobrevivência. B - Pesca de tubarões e sua transformação a bordo Os navios da frota palangreira nacional que fazem a transformação a bordo dos peixes capturados, incluindo tubarões pelágicos oceânicos, são detentores de uma autorização especial de pesca, emitida pela Administração, depois de confirmar que a embarcação tem condições estruturais e de equipamento para realizar operações de transformação do pescado capturado. Essas embarcações estão dotadas de nº de controlo veterinário, por
- 2 - preencherem os requisitos higio-sanitários da regulamentação comunitária e nacional, podendo por isso efectuar manipulação e conservação do pescado transformado que, em marés mais prolongadas, é mantido congelado nos porões. A tintureira representa até 90% do peso total de tubarões pelágicos capturados pela frota de palangre de superfície. Por norma, as embarcações fazem o aproveitamento de todas as barbatanas deste tubarão, incluindo a parte inferior da barbatana caudal, pelo que, atenta a dimensão e nº de barbatanas aproveitadas e o tipo de corte não superficial das mesmas, o rácio de 5% está subestimado em relação ao peso vivo do animal. Há diversa literatura científica, inclusive validada ou produzida pelo ICCAT, que refere que, para este tubarão, o rácio conveniente seria 6,5%. Caso se leve em conta o peso do tubarão, depois de transformado, com descabeçamento e evisceração e por vezes com o corte das barrigas, o rácio do peso das barbatanas em relação ao tronco sobe até 15%. C - Ausência da prática de finning - O que importa prevenir. A frota portuguesa de palangre de superfície não pratica finning, na medida em que as embarcações autorizadas a fazer o corte das barbatanas do tubarão têm todo o interesse e a capacidade de aproveitar, transformar, armazenar e vender os troncos dos indivíduos capturados. Percebe-se melhor o interesse comercial associado ao aproveitamento total dos tubarões capturados se referirmos que esta espécie registou um forte incremento de preço, nos últimos 2 anos, alcançando nos mercados sul e centro americano os 1.600 / tonelada. Por outro lado, tendo as barbatanas maioritariamente origem num tubarão cujo rácio entre o seu peso e peso do animal vivo é inferior ao rácio correcto, se a tripulação rejeitasse parte dos troncos dos tubarões capturados não conseguiria cumprir o rácio universal de 5%, previsto no Regulamento CE 1185/2003. Centrando a análise apenas no plano comercial, os valores médios obtidos no mercado com a venda integral de uma tintureira e a relação de pesos que existe entre as suas partes comercializáveis, prova que seria irracional desperdiçar os troncos, retendo a bordo apenas as barbatanas, senão vejamos os dados constantes do quadro seguinte, para um tubarão de 200 kgs: Exemplo de comercialização comum de tintureira Tubarão com peso à saída de água 200 kgs Indicadores Barbatanas Tronco transformado Rácio 5% 48% Peso líquido 10 96 Preço / kg 12,31 1,77 Valor das partes 123,08 169,85 O desperdício deste valor de venda seria um acto imprevidente sob o ponto de vista comercial, dado que as barbatanas, no caso da tintureira, têm em média um valor de venda inferior ao dos troncos transformados. Venda total 292,92 Os palangreiros nacionais desembarcam, por regra, corpos e barbatanas em simultâneo, apesar de uma minoria, sobretudo embarcações congeladoras que habitualmente operam no Atlântico Sul, poderem, pontualmente, ter necessidade de desembarcar barbatanas e troncos em portos distintos. Circuitos comerciais que são diferentes, em especial para
- 3 - produto congelado, e a obrigação de responder a exigências logísticas dos compradores, podem determinar desembarques separados das barbatanas e dos corpos dos tubarões, depois de transformados a bordo. Todavia, na frota portuguesa esta é uma situação de carácter excepcional e perfeitamente possível de justificar pelos operadores, quando as embarcações são chamadas a fazer desembarques não simultâneos. Atentas as razões expostas, não há prática de finning pelos palangreiros de superfície que operam sob bandeira portuguesa, sendo especulativas afirmações ou suspeições do contrário. Qualquer alteração substancial do regulamento 1185/2003 irá, sim, incentivar procedimentos menos escrupulosos e transparentes, bem como a indisponibilidade para embarcar observadores científicos, com prejuízo para a recolha de dados da actividade de pesca e para a obtenção de conhecimento da biologia das espécies visadas pela frota palangreira, nos vários oceanos e mares. Essa contrariedade, para o aprofundamento de conhecimento científico sobre as populações de tubarões pelágicos, fragilizará a posição da União Europeia nas Organizações Regionais de Pescas que gerem stocks de grandes migradores, face a Partes Contratantes, designadamente Países do sudoeste asiático, cujas pescarias de tubarões revestem grande opacidade, em matéria de informação de capturas e de práticas, sendo fundamentalmente dirigidas à produção e comercialização em massa de barbatanas, com maior possibilidade de recurso ao finning. Dificuldades de armazenamento nos navios e excesso de oferta dos troncos em relação à procura, são, para essas frotas, não para as europeias, factores que podem originar shark-finning D - Resposta à consulta sobre a proposta de alteração do Regulamento Regulamento CE 1385 / 2003 - Possibilidades de alteração Opções Opção - 1 a) Opção - 1b) Opção - 2 Opção - 3 Remoção 5% Peso vivo 5% Peso vivo 5% Peso transformado Não Desembarque Separado Simultâneo Simultâneo Tubarão inteiro 1. Que opção e/ou sub-opção considera ser a mais adequada? Explique sucintamente o seu ponto de vista. O regime do regulamento em vigor contempla todas as situações de desembarque e para as embarcações que fazem viagens de pesca mais longas e congelam o pescado a bordo, a Opção-1a) é ideal. A grande maioria dos navios portugueses de palangre de superfície desembarca corpos e barbatanas em simultâneo. Para aumentar a eficácia do sistema de controlo é aceitável o regime previsto na Opção-1b), com a possibilidade de, em casos devidamente justificados, sem prejuízo da verificação do cumprimento do rácio de 5%, ser autorizado o desembarque separado. No porto de desembarque das barbatanas ou dos troncos e antes do produto ser entregue ao comprador / entidade de tomada a cargo, a inspecção verificaria e registaria em documento, cuja cópia seria mantida em poder do capitão ou mestre, a relação de peso entre barbatanas e partes de tubarão transformadas. Esse documento seria conservado até final da viagem de pesca e permitira assegurar que a embarcação não praticou finning. Já quanto ao rácio actualmente considerado para todas as espécies (5%), entendemos que deve ser definido, caso a caso, por espécie ou família relevante de tubarões, porque os investigadores reconhecem que há variações.
- 4-2. Que opção e/ou sub-opção considera ser a menos adequada? Explique sucintamente o seu ponto de vista. As Opções 2 e 3 são inadequadas, por razões diferentes. Não conseguimos perceber as razões de se incluir nesta consulta a Opção-2, porque há informação científica credível sobre uma redução para mais ou menos metade do peso de um tubarão limpo, depois da evisceração, do descabeçamento e corte de barbatanas. Logo, se o rácio de 5% fosse calculado com base no peso limpo transformar-se-ia num rácio de metade do valor em relação ao peso vivo, da ordem dos 2,5% a 3%. Não nos parece que a hipótese seja séria e mereça sequer ser equacionada na eventual revisão do regulamento. A Opção-3 é igualmente impraticável, por diversas razões. Dificulta o armazenamento dos peixes no porão, reduzindo, de forma considerável a capacidade de carga do navio. A manutenção das barbatanas agarradas ao corpo durante toda a viagem, especialmente nos navios que fazem a congelação dos tubarões, é susceptível de causar riscos para a integridade física de tripulantes, quer na estiva de bordo, quer aquando do desembarque dos tubarões, atendendo a que as barbatanas congeladas são altamente cortantes. Como os canais comerciais de barbatanas e troncos são diferentes, depois do desembarque e já em porto, as tripulações teriam que providenciar a separação das barbatanas dos corpos, sem condições higio-sanitárias adequadas e sujeitando o produto a um choque térmico que, em países tropicais, teria amplitude muito significativa. A garantia que resultava da implementação desta Opção para a eliminação do finning não deve sobrepor-se a um conjunto de dificuldades para o trabalho de bordo, a estiva da carga e a manutenção dos níveis de conservação dos organismos marinhos, desde a captura até à entrega em porto dos mesmos às entidades de intermediação ou aos compradores finais. 3. Se os navios forem obrigados a desembarcar barbatanas e carcaças em simultâneo e no mesmo porto, que impacto prevê para os operadores comerciais e para os mercados conexos? Para a maioria dos palangreiros nacionais não haverá dificuldades inultrapassáveis, na medida que é já esse o procedimento habitual, ainda que as barbatanas e as carcaças não tenham como destino final os mesmos mercados. Todavia, a obrigação de desembarque em simultâneo, sem ponderação das circunstâncias específicas das zonas onde se pesca e dos hábitos e costumes dos compradores da matéria-prima, poderá criar problemas de venda e de preço para alguns operadores, pelo encarecimento dos custos de transporte e da logística, pós-desembarque. As situações têm contornos diferentes consoante se trate de pescarias exercidas no Oceano Atlântico ou no Índico, já que no Oceano Pacífico não cremos que haja palangreiros portugueses com actividade regular, dependendo ainda do tipo de transformação e conservação das capturas asseguradas a bordo. 4. Se os navios forem obrigados a desembarcar barbatanas e carcaças em simultâneo e no mesmo porto, que impacto prevê para a conservação das populações de tubarões? Assumimos ausência de finning na actividade dos palangreiros portugueses e temos a convicção que essa prática é residual ou não existe mesmo na frota comunitária. Nesse sentido, não é a obrigação de desembarque simultâneo que irá contribuir para aumentar a segurança das populações de tubarões pelágicos. A adopção de medidas técnicas com vista a proteger juvenis, stocks desovantes e o reforço da governança das Organizações
- 5 - Regionais de Pescas, para obrigar todas as Partes Contratantes a cumprirem medidas de conservação, de recolha e divulgação de dados de capturas, de cumprimento de defesos adoptadas no seu seio, o alargamento da investigação científica etc., é o caminho que a União Europeia deve trilhar, sem se sentir ameaçada por campanhas tendenciosas ou não documentadas de organizações não governamentais. A frota comunitária já cumpre, de forma muito mais rigorosa, normativos de controlo, de comunicação de capturas e de monitorização da actividade e localização dos navios, quando comparamos com frotas emergentes, com as quais concorremos em clara situação de desigualdade. A Comissão Europeia deve ter este quadro bem presente quando propuser alterações ao regulamento CE 1185/2003, sob pena de auto-penalizar os seus operadores de pesca e não evitar que outros prossigam práticas de pesca e manipulação de pescado censuráveis, ocupando o espaço deixado livre no sector e no mercado pela retirada da frota comunitária. Melhores cumprimentos Conselho Directivo ADAPI