Palavras-chave: Saliência fônica; Concordância verbal; Concordância nominal; Sociolinguística variacionista; Ensino de Língua Portuguesa.

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A SOCIOLINGUÍSTICA E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA O ENSINO DE LÍNGUA MATERNA: pesquisa parcial de textos produzidos por alunos do 1º e 3º ciclos do CEJA em Anápolis-GO. Viviane Leandra dos Santos (Bolsista do programa de pró-licenciatura da UEG, Curso de Letras, UEG-CCSEH). Shirley Mattos (Docente, Curso de Letras, UEG-CCSEH). Resumo: O presente artigo visa analisar textos dos alunos de 1º e 3º ciclos do CEJA em Anápolis-GO produzidos durante o primeiro semestre de 2015, a partir de artigos e charges com o objetivo de verificar a ocorrência de desvio da concordância verbal e nominal. Levando em conta os estudos de Labov sobre a sociolinguística variacionista ou quantitativa. Nessa primeira parte do artigo, visaremos o conceito sobre sociolinguística variacionistas e como os estudos estão sendo aplicados em sala de aula e as análises dos textos serão feitas num segundo momento da produção do artigo. Palavras-chave: Saliência fônica; Concordância verbal; Concordância nominal; Sociolinguística variacionista; Ensino de Língua Portuguesa. Introdução A concordância verbal (CV) e concordância nominal (CN) são temas bastante discutidos por autores que descrevem a variedade da língua e realizam estudos sobre sociolinguística. "Para Labov, a língua não se 'localiza' na mente de seu falante, mas no seu uso por uma comunidade de falantes" (FIORIN, 2013). Isso quer dizer que as variações linguísticas decorrem não somente de fatores linguísticos, mas de uma ação sócio/histórico/cultural. "A não realização da concordância prevista, sem dúvida, é traço dos mais estigmatizados, sendo considerado como indicador de falta de escolarização ou de desprestígio social" (LOPES. 2001, p.32). O presente trabalho busca entender alguns desses desvios de concordância baseado em trabalhos já realizados, baseados na Sociolinguística Variacionista que tem seus pressupostos nas teorias de Willian Labov. O autor se baseia na relação língua e sociedade, nas regras linguísticas e extralinguísticas que influenciam a língua, visando a possível minimização dos preconceitos linguísticos. Em Padrões Sociolinguísticos, Labov (2008) por estudar empiricamente comunidades de fala escolhe Martha's Vineyard para estudar a variação fonética dos ditongos /ay/ e /aw/. A partir desses estudos vários outros estudiosos também iniciaram suas observações em diversos lugares do mundo, em entrevista (2007), Labov afirma que no Brasil é feito os mais importantes estudos sobre sociolinguística, em nossas observações usaremos estudos feitos por Ronald Beline (2013) diferenciando a dir.unucseh@ueg.br - http://www.sepe.ccseh.ueg.br página: 1

definição laboviana de língua e nas definições de Negrão propagada por Chomsky. No livro Educação em língua materna em que Stella Maris explora a sociolinguística em sala de aula. Nos estudos de Sandra Espíndola (2004) sobre variável saliência fônica e que a autora obtém dados empiricamente observando a fala pessoense. E também baseamos no livro Para conhecer linguística de Coelho, Görski, Souza e Henrique May (2015), explorando o capítulo sobre variação e ensino de língua. Ao longo do trabalho, apresentaremos alguns conceitos sobre variação linguística, a sociolinguística variacionista (SV) ou quantitativa e algumas propostas para trabalhar ensino de língua em sala de aula e as prováveis condições que determinam os desvios de concordância verbal e nominal. Será apresentada a parte teórica e metodológica da pesquisa feita em uma escola de ensino de EJA, em que alunos apresentaram textos para as análises que serão feitas em uma segunda parte do artigo. Serão observados os padrões que ocorreram nos textos produzidos com alunos entre 18 e 50 anos de idade. O projeto foi desenvolvido para a bolsa de Pro licenciatura do curso de Letras da UEG, Campus CSEH (Anápolis). Considerando os estudos acerca da variação linguística, pretendemos demonstrar as ocorrências de CV e CN com análises a partir da sociolinguística variacionista. 1. A sociolinguística variacionista Os estudos referentes às análises que serão feitas a partir dos textos produzidos Por alunos de EJA, irão se basear nos estudos de Labov, que como o próprio autor afirma, seu estudo recorre a um método e abordagens mais científicos da língua. Parte da premissa de que a língua é variável e a mutação são peculiaridades da língua natural. Quando eu comecei na Linguística, eu tinha em mente uma mudança para um campo mais científico, baseado na maneira como as pessoas usavam a linguagem 1 na vida cotidiana. Quando eu comecei a entrevistar pessoas e gravar suas falas, descobri que a fala cotidiana envolvia muita variação linguística, algo com que a teoria padrão não estava preparada para lidar. As ferramentas para estudar a variação e a mudança sincrônica surgiram dessa situação. Mais tarde, o estudo da variação linguística forneceu respostas claras para muitos dos problemas que não eram resolvidos por uma visão discreta da estrutura linguística. Labov, SOCIOLINGUÍSTICA UMA ENTREVISTA COM WILLIAM LABOV A sociolinguística laboboviana explora a linguagem social, histórico e cultural, seu objetivo é compreender as mudanças linguísticas e relaciona-las a fatores linguísticos sociais. A sociolinguística variacionista compreende a língua como dinâmica e que apesar de suas diferenças possuem características comuns. Isso não é um afastamento da gramática como muitos estudiosos da gramática formal afirmam, e sim a gramática social em que seus falantes 1 Language no texto original (N.T.). dir.unucseh@ueg.br - http://www.sepe.ccseh.ueg.br página: 2

independem de aprenderem as regras formais e garantem, dentro de uma comunidade, normas estabelecidas por eles mesmos. Quando falamos de norma precisamos estabelecer de quais normas nos referimos. "Numa sociedade há inúmeras normas linguísticas, que caracterizam as diferentes comunidades." (COELHO, 2015. P.139), esses comunidades pode ser tanto a sala de aula, rurais, por idade, profissão, adolescentes, poderíamos estabelecer uma infinidade de comunidades de fala. Coelho (2015) também destaca três normas tratada por Faraco, norma padrão, curta e culta, sendo as duas primeiras referentes a "normatividade" e o tercei iro a "normalidade". A norma padrão toma a escrita como ideal a ser seguido, tornando a língua abstrata e artificial. A norma curta seria a que predomina na escola, para Coelho (2015) é a que causa mais constrangimento, pois vem de uma norma purista e determina o que é "certo" e "errado", visto que esta norma é aplicada em sala de aula, temos um grande problema relacionado a disseminação do preconceito linguístico pois descarta a variação sociolinguística e tem caráter seletivo. O autor destaca então a norma culta, que seria a variação linguística do uso dos falantes letrados, em uma adequação da fala e escrita. Infelizmente essa norma também leva a uma confusão de como realmente funciona a língua, pois é agregado um valor social a essa norma, e muitas vezes descarta a língua "viva" e heterogênea. Portando é importante que o professor saiba diferenciar essas normas para que o ensino da língua se torne efetivo e para que os alunos tenham consciência da sua própria comunidade linguística. Coelho (2015) ainda afirma que as normas descritas anteriormente além da tradição são ainda inovadora, cita ainda o dicionário de Celso Luft, em que o verbo "assistir" no sentido de "estar presente, presenciar", hoje no português brasileiro é transitivo direto e antes era indireto. No entanto é preciso estar atento aos dicionários que são acompanhando essa língua em constante mudança, para que não se confunda normas gramaticais, tradicionais e normas em constante mudança das comunidades de falantes. Além de mostrar aos alunos a variação que ocorre na sincronia, a escola deve ter a uncubência de mostrar as normas usadas em outras épocas para que eles possam ler textos de sincronias passadas, e ver que, muitas vezes, o que é considerado "errado" ou "feio" hoje em dia já foi norma culta no passado. (Coelho, 2015. p. 141). A sociolinguística cabe orientar sobre as variações linguísticas empíricas, que são observadas em uma comunidade e o que é variável em relação a estrutura social que acontece nessa mesma sociedade. Ronaldo Beline (2013) afirma: "Tudo que podemos chamar 'ferramentas linguísticas' (palavras, frases, etc.) é empregado com funções que, em sentido amplo, podem ser socialmente definidas: a mais geral delas é a de comunicação." Entender a língua como fator social significa entender toda uma comunidade tanto linguística como social. O falante tem consciência de seu uso em diversos contextos sociais, mais ou menos formais. dir.unucseh@ueg.br - http://www.sepe.ccseh.ueg.br página: 3

A sociolinguística estuda a língua usual, a fala do nosso dia a dia, dando espaço para estudos que partem da sua forma escrita também. Por isso a importância de entender que ao trabalharmos ensino de língua, é preciso levar em consideração a comunidade em que vive um determinado grupo de alunos e entender que os estudos em sala de aula serão simulações do real e não uma prática concreta. Portanto, é preciso ir além dos conceitos pré-estabelecidos. Faz-se necessário entender que um falante pode possuir a capacidade de dominar diferentes normas. E ao estabelecermos um ensino da norma culta aos alunos, é vital que entendamos a qual norma estaríamos expondo e exigindo que os alunos apresentem em sala de aula. Numa sociedade há inúmeras normas linguísticas, que caracterizam as diferentes comunidades: as normas de comunidades urbanas, as de comunidades rurais, as vernaculares, as dos grupos de letrados, aquelas que caracterizam os grupos de jovens, as que identificam as populações de periferias urbanas, as normas de adolescentes urbanos etc. (COELHO, 2015. p. 39) Nesse trecho, Coelho chama a atenção para a existência de diferentes normas que coordenam e organizam os modos de se usar a língua em diversos nichos da sociedade. Com isso, também realiza uma crítica à norma padrão e derruba o fato de que ela desconsidera a heterogeneidade como a característica principal da língua. E é com essa diversidade que a sociolinguística variacionista se preocupa. "Labov afirma que já não parece necessário esclarecer o que é ou o que não é Linguística pelo menos não entre os membros da comunidade científica, possivelmente. Entretanto, parece ainda fazer-se necessário dar a conhecer ao não linguista do que se trata essa ciência: o que faz como o faz e por quê." (BELINE, 2013. p.114) Para Tarallo (2000), não foi Labov quem iniciou as pesquisas sobre a SV, mas foi ele quem ofereceu um modelo teórico-metodológico para as pesquisas do tema, que surgiu como reação ao modelo gerativista que ignorava a língua como fator social. A proposta lançada pelo linguista também é chamado de sociolinguística quantitativa, uma vez que trabalha estatisticamente a partir de dados coletados. Labov (2008) em seus estudos sobre padrões sociolinguísticos afirma que a explicação da mudança linguística parece envolver três problemas distintos: a origem das variações linguísticas; a difusão e a propagação das mudanças linguísticas; e a regularidade das mudanças linguísticas. Afirma, ainda, que partindo desse pressuposto, algumas das variações podem se dissipar muito rápido, mas algumas permanecem, entrelaçando-se com as formas antigas e estabelecendo novas regras de uso. A importância dos estudos da sociolinguística variacionista é ainda mais reforçada em cima da seguinte declaração: "[...] as pressões sociais estão operando continuamente sobre a língua, não de algum ponto remoto do passado, mas como uma força social imanente agindo no presente vivo." (LABOV, 2008. p. 21). A partir de seus estudos desde 1963, muitos outros estudiosos, influenciados por Labov, também se dedicaram à aprendizagem da língua em diversos lugares do mundo. dir.unucseh@ueg.br - http://www.sepe.ccseh.ueg.br página: 4

Levando em consideração todas as pesquisas já realizadas da SV, embasados na variação linguística, podemos destacar os estudos referentes à CV e CN. A gramática normativa muitas vezes estabelece regras que no cotidiano não são usadas/aplicadas, por isso a importância de se registrar a fala cotidiana, demonstrando que a CV e CN também são variáveis dependendo dos fatores internos e externos que são aplicados em determinada comunidade. Para Sandra Espíndola (2004), em seus estudos sociolinguísticos observa que na perspectiva gramatical, "... a concordância verbal consiste na aplicação de uma regra obrigatória e a não obediência a essa mesma regra causa um desvio da norma, a ausência da marca de plural no elemento verbal, quando determinado por um sujeito plural é considerado erro." Enquanto a perspectiva variacionista, "... essa ausência de concordância entre os elementos do sintagma verbal (SV) é vista como decorrente de fatores sociolinguísticos e esse fenômeno segue um curso evolutivo no português falado no Brasil." (p. 235) O papel do estudioso da língua no que se refere a variação é demonstrar tanto a motivação social, como também tentar estabelecer a relação social para que ocorram certas mudanças no sistema linguístico. 2. Sociolinguística variacionista e o ensino de Língua Portuguesa Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) salienta a importância de ensinar a variedade da língua e ainda levanta a questão de qual variedade de fala cabe a escola ensinar. Inicialmente, é possível notar a noção de variedade linguística presente nesse discurso, mas também percebemos a dificuldade imposta à escola ao tratar de tal assunto. O problema do preconceito disseminado na sociedade em relação às falas dialetais deve ser enfrentado, na escola, como parte do objetivo educacional mais amplo de educação para o respeito à diferença. Para isso, e também para poder ensinar Língua Portuguesa, a escola precisa livrar-se de alguns mitos: o de que existe uma única forma certa de falar a que se parece com a escrita e o de que a escrita é o espelho da fala e, sendo assim, seria preciso consertar a fala do aluno para evitar que ele escreva errado. (BRASIL, 1997: 26) Percebemos, então, dois problemas a serem resolvidos: o primeiro diz respeito ao real entendimento do que é sociolinguística e se o professor está preparado para tal discussão; e o segundo, é que existe de fato um preconceito linguístico e que esse professor, supostamente preparado, precisa de alguma forma lidar com ele em sala de aula e possivelmente fora dela, com pais e alunos. Coelho (2015), afirma que dentro dos PCN se encontra o fato de o preconceito linguístico estar atrelado às falas dialetais no Brasil, e que as observações a respeito desse preconceito têm um objetivo mais amplo, que são as diferenças, principalmente nas falas cotidianas em que ouvimos: "fulano fala errado", "fulano é burro", etc. Para os autores, esses estereótipos são gerados em função do status social de determinados alunos, o erro na verdade dir.unucseh@ueg.br - http://www.sepe.ccseh.ueg.br página: 5

está em julgar o indivíduo como se seu jeito de falar fosse ligado ao conhecimento cognitivo. O documento trata ainda da questão cultural como totalmente relacionada à fala de uma comunidade. Portanto, ao tratar desse assunto em sala de aula, é preciso a noção de certa sensibilidade sociocultural por parte dos professores, de modo que outros alunos percebam a diferença cultural não valorizando ou diminuindo certas falas, mas reconhecendo as diferentes maneiras de se utilizar a língua portuguesa em mais de um contexto. Afinal, "a questão não é de correção da forma, mas de sua adequação às circunstâncias de uso, ou seja, de utilização eficaz da linguagem: falar bem é falar adequadamente, é produzir o efeito pretendido." (BRASIL, 1997: 26) Os estudos são quase todos unânimes em dizer que é preciso adequar a fala do aluno e fazê-lo entender que há outra língua escrita que exige normas, justamente para validar essa adequação. Seja na igreja, escola, o setor jurídico, comércio, etc. Todos eles exigirão um conhecimento prévio das produções linguísticas daquela comunidade para adaptarmos a certas práticas sociais. A partir de um conhecimento mínimo das variedades linguísticas do país, refletindo sobre as comunidades e seus padrões sociais, o professor deve então partir para o aprendizado e uso da norma culta. Porém, deixando sempre em evidência que esse novo aprendizado é advindo de um prestígio social historicamente construído, e que ele de nada tem a ver com o grau de cognição de um indivíduo. É preciso ter claro também que as propostas didáticas difundidas a partir de 1985, ao enfatizar o papel da ação e reflexão do aluno no processo de alfabetização, não sugerem (como parece ter sido entendido por alguns) uma abordagem espontaneísta da alfabetização escolar; ao contrário, o conhecimento dos caminhos percorridos pelo aluno favorece a intervenção pedagógica e não a omissão, pois permite ao professor ajustar a informação oferecida às condições de interpretação em cada momento do processo. Permite também considerar os erros cometidos pelo aluno como pistas para guiar sua prática, para torná-la menos genérica e mais eficaz. (BRASIL, 1997: 28) O ideal seria que o professor também no papel de pesquisador, dessem subsídios necessários para que seus alunos compreendessem como funciona a língua viva das comunidades e como as regras linguísticas desenvolvem um caminho natural dentro de grupos específicos. Não se concebe um professor que não seja também pesquisador, de modo a não ser um mero repetidor de informações ou repassador de conteúdos previamente oferecidos nos manuais didáticos disponíveis em larga escala no mercado. (Coelho, 2015. p. 159) 3. Aplicações de pesquisas sociolinguísticas dir.unucseh@ueg.br - http://www.sepe.ccseh.ueg.br página: 6

Muitos estudos têm sido realizados a partir das concepções da SV. Dentre eles, se destacam as pesquisas com registros da CV e CN. E que esses estudos têm mostrado, é que apesar de estabelecerem certas regras elas podem ser variáveis e também dependem de fatores linguísticos que podem ser internos ou externos a língua, podendo ter variações tanto fonética como morfológica. Labov (2008), nos mostra que para selecionar o material a ser pesquisado é preciso antes fazer seleção do que é mais útil naquele momento inicial, ou seja: em primeiro lugar, observar as ocorrências mais frequentes: em segundo, observar o quão integrado ele está em certa comunidade de fala, seja de um grupo social, sala de aula, etc. E em terceiro, distribuir de forma assimétrica o material, ou seja: observar faixa etária e outros aspectos para separamos em grupos os exemplos coletados. Beline (2013) traz observações acerca das variações fonéticas deixando claras as ocorrências em outras línguas como, por exemplo, o inglês. No Brasil, um dos exemplos é com a vogal /o/, podendo ter várias pronúncias: [o], [u], ou [ó]. Acontece também com a vogal /e/, como observamos nas palavras "menino", "preciso" e "peludo" podendo variar a pronúncia entre [e], [i] e [é]. No Inglês, ele afirma que isso também ocorre, e cita a consoante /t/ no final das palavras, podendo ser pronunciada como um [t] africado. Esses são apenas poucos exemplos que segundo o próprio autor podemos observar em diferentes línguas, variações na morfologia, na sintaxe e na interface entre esses subsistemas. Nas análises que faremos dos textos dos alunos de EJA o enfoque será na variável saliência fônica. A concordância verbal (CV) é um campo aberto para muitas e intrigantes questões. Por apresentar inúmeras particularidades, como regras e exceções, que acabam dificultando seu ensino e aprendizagem, seu usuário é levado a um estado de insegurança que tem implicações tanto na língua escrita como na língua falada. (Almeida, 2004. p. 235) As análises sobre Saliência fônica observadas por Almeida (2004), levam em conta os estudos de Naro; Lemle em que os autores estabelecem que a concordância é mais provável nos contextos em que a posição singular/plural é mais saliente e perceptível; levando em consideração esse e outros estudos é que serão feitas as análises dos matérias coletados no CEJA. 4. Considerações finais Os resultados referentes aos desvios de concordância verbal e nominal serão obtidos após as análises dos textos, espera-se fazer uma revisão dos diferentes estudos e propostas a cerca da saliência fônica, no português brasileiro. Atentando para algumas questões: 1) refletir sobre a importância dos estudos variacionista laboviana; 2) os problemas do ensino em língua dir.unucseh@ueg.br - http://www.sepe.ccseh.ueg.br página: 7

materna na sala de aula e que enfoque a variação linguística de diversos grupos sociais; 3) as diferenças fônicas entre formas verbais e nominais; 4) analises dos textos de alunos do ensino de EJA numa escola de Anápolis-GO. As análises serão feitas em uma segunda parte do trabalho que será realizado no segundo semestre de 2015. Espera-se obter os dados necessários para uma avaliação qualitativa a partir dos textos e depois uma possível solução para os problemas dos desvios da CN e CV. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ALMEIDA, Sandra Espíndola dos Anjos. A variável saliência fônica e sua atuação no processo variável da concordância verbal na fala pessoence. In: HORA, Demerval da (Org.). Estudos linguísticos: perfil de uma comunidade. João Pessoa: Ufpb/bc, 2004. p. 235-245. Bortoni-Ricardo, S. M. EDUCAÇÃO EM LÍNGUA MATERNA - Sociolinguística na Sala de Aula. São Paulo: Parábola Editorial, 2004. BRASIL (1998) Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa. Brasília/DF: MEC/SEF. COELHO, Izete Lehmkuhl. Variação linguística e ensino de língua. In: COELHO, Izete Lehmkuhl; GÖSKI, Edair Maria; SOUZA, Christiane Maria N. de. Para conhecer sociolinguística. São Paulo: Contexto, 2015. p. 135-162. LABOV, William. Sociolinguística: uma entrevista com William Labov. Revista Virtual de Estudos da Linguagem - ReVEL. Vol. 5, n. 9, agosto de 2007. Tradução de Gabriel de Ávila Othero. ISSN 1678-8931 [www.revel.inf.br]. Padrões sociolinguísticas. São Paulo: Parábola Editorial, 2008. MENDES, Ronald Beline. Língua e variação. In: FIORIN, José Luiz (Org.). Linguística? Que isso? São Paulo: Contexto, 2013. p. 111-135. TARALLO, F. A pesquisa sociolinguística. 7. ed. São Paulo: Ática,2000. dir.unucseh@ueg.br - http://www.sepe.ccseh.ueg.br página: 8