COMPORTAMENTO DO VENTO NO LITORAL SUL DO BRASIL Maurici Amantino Monteiro 1, Camila de Souza Cardoso 1, Daniel Sampaio Calearo 2, Carlos de Assis Osório Dias 3, Fábio Z. Lopez 1 Fundação de Apoio ao Desenvolvimento Rural Sustentável de SC, Florianópolis SC, Brasil. mauricimonteiro@fundagro.org.br 2 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina, Florianópolis SC, Brasil. 3 Marinha Mercante do Brasil, São Francisco do Sul SC, Brasil. RESUMO: Este trabalho tem por objetivo analisar o comportamento do vento no litoral Sul do Brasil. Utilizando dados de vento médio e máximo de quatro estações meteorológicas automáticas, distribuídas ao longo do litoral Sul do Brasil foi possível verificar a direção e intensidade do vento médio e máximo, sazonalmente em cada localidade. Dentre os principais resultados, destaca-se o distinto comportamento do vento médio e máximo sazonal, ao longo do litoral Sul do Brasil. ABSTRACT: This work aims to analyze the behavior on the southern coast of Brazil. Using wind data from medium and maximum of four automatic weather stations distributed along the southern coast of Brazil was possible to check the wind direction and intensity of average and maximum seasonally at each location. Among the main results, there is the distinct behavior of the seasonal average and maximum wind along the southern coast of Brazil. 1. INTRODUÇÃO Diversos estudos sobre o comportamento do vento no Sul do Brasil apontam como ventos predominantes os de nordeste (NE) e leste (E) (Lima, s/d; Nimer, 1979; Monteiro & Furtado, 1995; Monteiro 2001 & 2007; Campello e Saraiva, 2002; Monteiro & Silva, 2003 e Lima Leite & Virgens Filho, 2006). Esses ventos são oriundos do Anticiclone Semi-permanente do Atlântico Sul (ASAS), posicionado durante todo o ano na altura do litoral do sudeste do Brasil. Os sistemas atmosféricos que atuam no Sul do Brasil possuem uma dinâmica distinta e sazonal, estes acabam refletindo no comportamento do vento (Monteiro, 2001; 2007). A variação na direção dos ventos no Sul do Brasil, de norte para sul, depende da trajetória do deslocamento dos centros de alta e baixa pressão que acompanham as frente frias que cruzam a região, com características sazonais bem definidas. Nas quatro estações do ano, o fluxo de norte, um dia antes da chegada da frente fria (pré frontal), aparece praticamente tão intenso quanto o fluxo de sul, nos dois dias seguintes (Rodrigues, 2003).
O efeito do relevo e outras interações locais provocam modificações tanto na direção quanto na intensidade. Isso faz com que determinadas localidades apresentem ventos predominantes diferentes daqueles que dominam na região (Monteiro & Silva, 2003; Monteiro, 2007). Tendo em vista a importância do comportamento dos ventos para diversos seguimentos da sociedade, bem como para as operações de carga/descarga de derivados de petróleo efetuados por navios petroleiros no litoral sul brasileiro, este trabalho tem como objetivo estudar o comportamento dos ventos ao longo do litoral Sul do Brasil. 2. DADOS E METODOLOGIA Para analisar o comportamento do vento foram utilizados dados meteorológicos de velocidade e direção do vento, médio e máximo, observado nas estações meteorológicas automáticas do distribuídas ao longo litoral do Sul do Brasil (Figura 1). Os dados usados foram fornecidos pela Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina S. A. (EPAGRI) e pela Fundação de Apoio ao Desenvolvimento Rural Sustentável de SC (FUNDAGRO). A Tabela 1 mostra a localização e a altitude de cada estação, além do período de dados utilizados neste estudo. A análise da direção dos ventos foi realizada utilizando-se dados referentes aos pontos cardeais e colaterais, e a intensidade em grupos de classificação de 10 em 10km/h, com intervalos de hora em hora. O número total de casos foi de um dado a cada hora, ou seja, utilizou-se o vento médio de cada hora e o vento máximo ocorrido neste intervalo. A freqüência de ocorrência foi determinada pela razão entre a amostra total e os respectivos intervalos, de direção e intensidade do vento médio e máximo. A direção e a intensidade em cada localidade foram agrupadas sazonalmente e representados pelos seguintes trimestres (DJF), (MAM), (JJA) e (OND), respectivamente. 3.RESULTADOS E DISCUSSÕES 3.1 ANÁLISE SAZONAL DA DIREÇÃO E INTENSIDADE DO VENTO MÉDIO Com relação à direção do vento médio sazonal (Tabela 2), Tramandaí se destaca por possuir uma predominância no quadrante NE em todas as estações do ano, especialmente nos meses de verão, onde a passagem de frentes frias é menos freqüente e predomina a circulação do Anticiclone Semi-Permanente do Atlântico Sul (ASAS). Nos meses de outono e inverno, na mesma localidade, percebe-se um aumento na percentagem de ventos de W a SW, isto se deve pelo fato das passagens de frentes frias serem mais freqüentes, onde em situações pós-frontal um intenso fluxo de sudoeste é observado nos dois dias após a passagem frontal (Rodrigues, 2003).
No Chuí, nos meses de verão e primavera observa-se predomínio dos ventos do quadrante E/NE e nos meses de outono e inverno predomina um fluxo de W/NW (Tabela 2). Nos meses de outono e inverno à presença de anticiclones continentais posicionados no centro-norte da Argentina e baixas pressões no oceano, características comuns nessa época do ano (Escobar, 2007). Na estação Ilha do Arvoredo, o vento médio predominante durante o ano é de N/NE devido a influência do ASAS. Este padrão é quebrado quando ocorre a passagem de frentes frias, em especial nos meses de inverno e primavera, onde os ventos de S a SW são bastante freqüentes. Em São Francisco do Sul, localizado mais ao norte da região Sul, destaca-se a persistência dos ventos de W/SW ao longo do ano, ocasionados pela predominância da brisa terrestre comumente observada no litoral de SC, no período noturno e manhã. Nos meses de verão e primavera percebe-se um aumento na freqüência dos ventos de NE, devido ao enfraquecimento da brisa terrestre e a maior persistência do ASAS. Na análise a intensidade dos ventos médios sazonais (Tabela 3), é observada de forma geral, que em São Francisco do Sul, o vento médio predominante é de fraca intensidade, com mais de 90% da amostra total oscilando entre calmaria (0 km/h) e 20 km/h. Os ventos médios, de maior intensidade foram registrados na estação Ilha do Arvoredo onde, em alguns casos, a média alcança valores entre 71Km/h e 80Km/h, sendo que os ventos médios mais fortes ocorreram nos meses de inverno. O mesmo padrão de intensidade do vento também foi observado na estação de Chuí, sendo verificados nas estações de verão e outono. 3.2 ANÁLISE SAZONAL DA DIREÇÃO E INTENSIDADE DO VENTO MÁXIMO Na segunda etapa do estudo foram analisados o comportamento da direção e intensidade dos ventos máximos sazonais, conforme as Tabelas 4 e 5. Sazonalmente, os ventos máximos tendem a apresentar variações distintas na direção para cada localidade e em cada estação do ano. A Ilha do Arvoredo apresenta um padrão de ventos máximos de W e WSW, com destaque nos meses de outono. Na estação de Tramandaí os ventos máximos predominantes são de NE nos meses de verão e primavera. No outono, os ventos máximos de E/NE e W/SW apresentam a mesma freqüência de ocorrências. Já no inverno, os ventos máximos ocorrem de W/SW. Em São Francisco do Sul, o vento máximo predominante é de S e SSE em maior parte do ano, porém nos meses de inverno os ventos máximos de SW e SSW aumentam a freqüência. As maiores variações sazonais na direção dos ventos máximos ocorrem em Chuí com predomínio de ventos de E/SE no verão, SSW no outono, SSW e WNW no inverno e nos meses de primavera SSW. Considerando o comportamento da intensidade dos ventos máximos em cada estação do ano (Tabela 5) é verificado que mais de 90% da amostra apresentam máximos registrados entre 51 e
70 km/h. Na Ilha do Arvoredo, observa-se que os ventos máximos acima de 70 km/h apresentam maior freqüência, próximas de 20% em relação as demais estações analisadas, sendo esta estação a que apresentou os maiores valores de intensidade de vento máximo sazonal. Conclusões Os ventos médios sazonais apresentam um comportamento distinto conforme a localização da estação meteorológica. No Chuí são observados ventos predominantemente de E/NE no verão e primavera e de SW a NW nos meses de outono e primavera. Em Tramandaí, o vento predominante é de NE ao longo do ano, apresentando variações mais persistentes para W/SW, quando há passagem de sistemas transitórios, especialmente nas estações de outono e inverno. Na maior parte da amostra total estudada, a intensidade do vento médio sazonal é verificado valores entre 0-20km/h. Quanto ao comportamento do vento máximo sazonal variações distintas na direção ficam evidentes, exceto a Ilha do Arvoredo que apresenta predomínio de ventos de W e WSW. As intensidades de ventos máximos ficam concentradas entre 51 e 60 km/h, com destaque a Ilha do Arvoredo em que os ventos máximos podem chegar entre 120 a 140km/h. REFERÊNCIAS CAMPELLO, F. D. e SARAIVA, J. M. B. Estudos de circulação atmosférica sobre o estuário da Lagoa dos Patos (RS, Brasil) através de análise espectral. In: XII CONGRESSO BRASILEIRO DE METEOROLOGIA, 2002. Foz do Iguaçu. 2002. ESCOBAR, G. C. J. Padrões sinóticos associados a ondas de frio na cidade de São Paulo. Revista Brasileira de Meteorologia, v. 22, p. 241-254, 2007. LIMA, J. S. Aspectos Climáticos da Região Metropolitana de Porto Alegre. Centro Meteorológico de Aeródromo de Porto Alegre pertencente à FAB. Porto Alegre-RS (s/d). LIMA LEITE, M.; VIRGENS FILHO, J. S. 2006. Avaliação da velocidade média e direção predominante do vento em Ponta Grossa-PR. Revista Brasileira de Agrometeorologia, Santa Maria -RS, 14 (2): 157-167. MONTEIRO, M. A; FURTADO S. M. de A. O clima do trecho Florianópolis Porto Alegre: uma abordagem dinâmica. GEOSUL. Florianópolis, n. 19/20, 1995. p. 117-132 MONTEIRO, M. A. Caracterização climática do Estado de Santa Catarina: uma abordagem dos principais sistemas atmosféricos que atuam durante o ano. GEOSUL, Florianópolis, n. 31, 2001. p. 69-78. MONTEIRO, M. A.; SILVA, M. da. A influência do Relevo sobre o Vento: O caso de São Francisco do Sul. In: 13 Congresso Brasileiro de Agrometeorologia, 2003. Anais... Santa Maria-RS. 2003. p.19-20
MONTEIRO, M. A. Dinâmica Atmosférica e Caracterização dos Tipos de Tempo na Bacia Hidrográfica do Rio Araranguá. 2007. 223 f. Tese (Doutorado em Geografia) Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis-SC NIMER, E. Clima. In: Geografia do Brasil: Região Sul. Série Recursos Naturais e Meio Ambiente. n º 4, Rio de Janeiro: IBGE, 1979. p. 151-187.NIMER, E. Climatologia do Brasil. Rio de Janeiro, IBGE, 1989, 422p. RODRIGUES, M. L. G. Uma climatologia de frentes frias no litoral catarinense com dados de reanálise do NCEP. 2003. 75 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Ambiental) Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, SC. Tabela 1: Localização geográfica das estações meteorológicas automáticas e o respectivo período de dados utilizados. Estação Latitude Longitude Altitude Período Chuí/RS 33 44'30'' 53 22'18'' 10 m 02/10/2003 a 31/12/2008 Tramandaí/RS 30 00'34'' 50 08'06'' 4 m 10/9/2003 a 31/12/2008 Ilha do Arvoredo/SC 27 17'45 48 21'22 73 m 01/10/2004 a 31/12/2008 São Francisco do Sul/SC 26 13'58'' 48 31'55'' 12 m 07/01/2004 a 31/12/2008 Tabela 2: Freqüência da direção sazonal do vento médio. Tabela 3: Freqüência da intensidade sazonal do vento médio. Tabela 4: Freqüência da direção sazonal do vento máximo. Tabela 5: Freqüência da intensidade sazonal do vento máximo.