WAMSER AF; VALMORBIDA J; MUELLER S; GONÇALVES MM; FELTRIM AL. Produtividade de tomate em função Produtividade de tomate em função de sistemas de plantio e plantas de cobertura do solo. de sistemas de plantio e plantas de cobertura do solo. 2010. Horticultura Brasileira 28: S1652-S1656. Produtividade de tomate em função de sistemas de plantio e plantas de cobertura do solo. Anderson F Wamser; Janice Valmorbida; Siegfried Mueller; Marcio de M Gonçalves; Anderson L Feltrim EPAGRI Estação Experimental de Caçador, C. Postal 591, 89500-000, Caçador, SC, afwamser@epagri.sc.gov.br, janicevalmorbida@epagri.sc.gov.br, simueller@epagri.sc.gov.br, marciogoncalves@epagri.sc.gov.br, andersonfeltrim@epagri.sc.gov.br RESUMO Apesar do plantio direto de hortaliças ser amplamente recomendado existe pouca informação técnica sobre os benefícios desta prática na cultura do tomate. O objetivo deste trabalho foi avaliar sistemas de plantio e plantas de cobertura do solo na produtividade de tomate. Os tratamentos consistiram na combinação de dois sistemas de plantio (convencional e direto) e quatro coberturas de solo de inverno (pousio, aveia, nabo e aveia+nabo). Avaliou-se o teor de N, a relação C/N, a massa seca e o acúmulo de N na parte aérea das coberturas de solo, bem como a produtividade de tomate nas classes total, comercial, extra AA, extra A e descarte. As coberturas de solo de aveia e nabo, em cultivo consorciado ou solteiro, bem como o pousio invernal, não afetaram a produtividade comercial de tomate. O plantio convencional do tomate tutorado proporcionou maior produtividade comercial de frutos em relação ao plantio direto. Palavras-chave: Solanum lycopersicum L., Avena strigosa Schreb., Raphanus sativus L., plantio direto, plantio convencional. ABSTRACT Yield of tomato as a function of tillage system and plant cover crops Although no-till is a technique widely recommended to vegetables there is little information about the benefits of this practice in tomato. The aim of this study was to evaluate cropping systems and cover crops on yield of tomato. The treatments consisted of two tillage systems (conventional and no-till) and four winter cover crop (fallow, oat, turnip and oat+turnip). The content of N, C/N ratio, dry matter and N accumulation in shoots of cover crops, and the yield of tomato in the classes total, marketable, extra AA, extra A and unmarketable were evaluated. The cover crop of oats and turnip, in intercropping or single, and the fallow did not affect marketable yield of tomato. Conventional tillage of tomato staked provided greater commercial fruit yield in relation to no-tillage. Keywords: Solanum lycopersicum L., Avena strigosa Schreb., Raphanus sativus L., notill, conventional tillage. Atualmente o sistema de preparo do solo para plantio de tomate na região de Caçador é predominantemente convencional, realizado através de uma aração e até duas gradagens niveladoras, ou o reduzido, realizado através de duas operações com o escarificador, perpendiculares entre si. Estas formas de preparo resultam, em maior ou menor grau, em reflexos negativos quanto à conservação do solo, particularmente no que diz respeito à perda de solo pelo processo erosivo (Cogo et al., 2003). Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S1652
O plantio direto na palha, apesar de ser uma prática consagrada na produção de grãos, ainda ocupa uma área relativamente pequena na olericultura. Apesar de este seguimento agrícola poder desfrutar de todos os benefícios deste sistema, quer seja pela proteção do solo, ciclagem de nutrientes ou conservação da água, poucas experiências comerciais podem ser relacionadas atualmente (Madeira, 2009). A Epagri/Estação Experimental de Caçador foi uma das pioneiras no Brasil no incentivo e estudo do plantio direto de tomate (Fayad & Mondardo, 2004). Entretanto, ainda existe uma carência de informações técnicas seguras, principalmente daquelas que evidenciem a compatibilidade desta prática com a produção na escala e no nível tecnológico que os produtores da região de Caçador atualmente trabalham. O objetivo do presente trabalho foi avaliar o efeito dos sistemas de plantio direto e convencional de tomate e de quatro coberturas de solo de inverno sobre a produtividade de frutos. MATERIAL E MÉTODOS Um experimento foi realizado na safra 2009/2010 na Epagri/Estação Experimental de Caçador, em Caçador, SC, na região fisiográfica do Alto Vale do Rio do Peixe. O solo no local do experimento foi classificado como Latossolo Bruno distrófico (Embrapa, 2006) e apresentou os seguintes atributos: ph (água) = 6,0, P = 3,0 mg dm -3, K = 90 mg dm -3, MO = 3,9 g dm -3, Al = 0,0 cmolc dm -3, Ca = 8,7 cmolc dm -3, Mg = 4,3 cmolc dm -3, V% = 79. Os tratamentos consistiram na combinação de dois sistemas de plantio (plantio convencional e plantio direto) e quatro coberturas de solo no inverno (aveia preta; nabo forrageiro; consórcio de aveia preta com nabo forrageiro; e pousio invernal). No sistema de plantio convencional, a massa das plantas de cobertura foi incorporada ao solo através de uma aração e uma gradagem e com posterior abertura dos sulcos de plantio. No sistema de plantio direto utilizou-se um sulcador tipo facão, equipado posteriormente com disco de corte, para preparar a linha de plantio. O delineamento experimental foi blocos completos ao acaso, com quatro repetições, no esquema de parcelas subdivididas em faixas, alocando-se o fator cobertura de solo na parcela e o fator sistema de plantio na subparcela e em faixas. As subparcelas foram constituídas de três linhas de plantas com 7,7 m de comprimento, com espaçamento entre linhas de 1,5 m e espaçamento entre plantas de 0,55 m. Considerou-se como área útil a linha central da subparcela desconsiderando uma planta de cada extremidade da linha. As plantas de cobertura foram semeadas a lanço no dia 8/6/2009 nas seguintes densidades: 80 kg ha -1 de aveia preta e 14 kg ha -1 de nabo forrageiro nos cultivos solteiros e 40 kg ha -1 de aveia preta e 7 kg ha -1 de nabo forrageiro no cultivo consorciado. Antes da semeadura das coberturas, as subparcelas destinadas ao plantio convencional foram preparadas através de uma aração e uma gradagem, e as destinadas ao plantio direto foram preparadas através de uma gradagem leve. Após a semeadura, foi realizada uma gradagem leve para incorporar as sementes em todos os tratamentos. Os preparos do solo para o plantio do tomate foram realizados no dia 3/11/2009. A adubação de plantio foi feita no sulco utilizando 40 kg ha -1 de N na forma de nitrato de amônio, 747 kg ha -1 de P O na forma de superfosfato triplo, 45 kg ha -1 de K O na forma 2 5 2 Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S1653
de cloreto de potássio e 4 kg ha -1 de B na forma de bórax solo. O plantio foi realizado em 29/ 11/2009 utilizando mudas da cultivar Paronset produzidas em viveirista especializado do Estado de São Paulo. As adubações de cobertura foram realizadas semanalmente a partir dos 21 dias após o plantio (DAP), totalizando 760 kg ha -1 de N e 855 kg ha -1 de K O na forma 2 de nitrato de amônio e cloreto de potássio. As plantas foram conduzidas com duas hastes por planta no método de tutoramento vertical com fitilho. As demais práticas culturais foram realizadas de acordo com as indicações técnicas para o tomateiro tutorado na região do Alto Vale do Rio do Peixe (Mueller et al., 2008). Avaliou-se a produção de massa seca, o teor de N, a relação C/N e o acúmulo de N total das coberturas de inverno. Avaliou-se, também a produtividade total, comercial (extra AA e extra A) e descarte. Foram considerados como descarte os frutos com doenças fisiológicas ou fitopatológicas, frutos com ataque de insetos-praga e frutos miúdos (massa menor que 100g). As variáveis estudadas foram submetidas à análise de variância (teste F). Havendo significância estatística (Pd 0,05), as médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados referentes ao teor de N, relação C/N, produção de massa seca e acúmulo de N total nas coberturas de solo se encontram na Tabela 1. Não houve interação entre sistema de plantio e culturas de inverno para cobertura do solo. Os teores de N e a relação C/N não foram afetados pelo sistema de plantio nem em função das diferentes plantas de cobertura do solo. Houve diferenças entre as coberturas de solo para a produção de massa seca e o acúmulo de N da parte aérea das plantas, com maiores valores para o consórcio de aveia preta e nabo forrageiro, diferindo somente do pousio invernal. Maior produtividade de massa seca e acúmulo de N total no consórcio de aveia e nabo também foram encontrados por Wamser et al. (2006), porém diferindo-se dos cultivos solteiros. Resultados semelhantes também foram observados por Kieling et al. (2009), que recomendam o uso de aveia em cultivo solteiro ou em consórcio com nabo ou ervilhaca para a produção de massa seca e o controle de plantas daninhas. Os resultados para produtividade comercial, extra AA e descarte de frutos de tomate se encontram na Tabela 2. Não houve interação entre sistemas de plantio e cobertura de solo. As produtividades total, comercial e descarte de frutos de tomate não foram influenciadas pelas coberturas de solo. Resultados semelhantes foram observados por Kieling et al. (2009), os quais não encontraram diferenças para a produtividade comercial de tomate tutorado avaliando o cultivo solteiro e consorciado de aveia, nabo e ervilhaca. Já para os sistemas de plantio do tomateiro, maiores produtividades foram observadas no plantio convencional. Estes resultados são diferentes dos observados por Marouelli et al. (2006), que observaram maior produtividade comercial de tomate rasteiro, bem como menor consumo de água no plantio direto. Salienta-se, porém, que em muitos casos a produtividade das culturas aumenta ao longo dos anos de cultivo sob plantio direto, devido, provavelmente, à melhoria das condições físicas, químicas e biológicas do solo (Silveira & Stone, 2003). Para as condições deste trabalho, as coberturas de solo de aveia e nabo, em cultivo consorciado ou solteiro, bem como o pousio invernal, não afetaram a produtividade comercial de tomate. Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S1654
O plantio convencional do tomate tutorado proporcionou maior produtividade comercial de frutos em relação ao plantio direto. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao MAPA/CNPq pelo financiamento do experimento através do projeto Produção Integrada de Mesa de Santa Catarina. REFERÊNCIAS COGO NP; LEVIEN R; SCHWARZ RA. 2003. Perdas de solo e água por erosão hídrica influenciadas por métodos de preparo, classes de declive e níveis de fertilidade do solo. Revista Brasileira de Ciência do Solo 27:743-753. EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. 2006. Sistema brasileiro de classificação de solos. 2.ed. Rio de Janeiro: EMBRAPA. 374p. FAYAD JA; MONDARDO M. 2004. Sistema de plantio direto de hortaliças O cultivo do tomateiro no Vale do Rio do Peixe, SC, em 101 respostas aos agricultores. Florianópolis: EPAGRI. 54p. KIELING AS; COMIN JJ; FAYAD JA; LANA MA; LOVATO PE. 2009. Plantas de cobertura de inverno em sistema de plantio direto de hortaliças sem herbicidas: efeitos sobre plantas espontâneas e na produção de tomate. Ciência Rural 39: 2207-2209. MADEIRA NR. 2009. Sistema de plantio direto chega às hortaliças. Revista Campo e Negócios 5: 18-23. MAROUELLI WA; SILVA HR; MADEIRA NR. 2006. Uso da água e produção de tomateiro para processamento em sistema de plantio direto com palhada. Pesquisa Agropecuária Brasileira 41: 1399-1404. MUELLER S; WAMSER AF; BECKER WF; SANTOS JP. 2008. Indicações técnicas para o tomateiro tutorado na região do Alto Vale do Rio do Peixe. Florianópolis: Epagri. 78p. SILVEIRA PM; STONE LF. 2003. Sistemas de preparo do solo e rotação de culturas na produtividade de milho, soja e trigo. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental 7: 240-244. WAMSER AF; ANGHINONI I; MEURER EJ; MUNDSTOCK CM; SILVA PRF. 2006. Velocidade de mineralização de nitrogênio de culturas de cobertura do solo em semeadura direta. Agropecuária Catarinense 19: 75-79. Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S1655
Tabela 1. Teor de N, relação C/N e acúmulo de massa seca e N total da parte aérea de quatro culturas de inverno em dois métodos de preparo do solo para a semeadura das coberturas (N content, C/N ratio and dry matter and total N accumulation of shoots of four winter crops in two tillage methods for seeding of plant cover). Caçador, Epagri, 2010 Nível dos fatores 1 N(g kg -1 ) Relação C/N Massa seca(mg ha -1 ) N total(kg ha -1 ) Preparo do solo Gradagem 15,7 ns 18,9 ns 4,3 ns 66,4 ns Aração + Gradagem 17,1 17,1 4,9 84,2 Cobertura de solo Pousio 16,0 ns 17,8 ns 3,6 b 58,6 b Aveia 15,3 19,6 5,0 ab 76,6 ab Nabo 17,6 16,3 4,2 ab 72,7 ab Aveia+Nabo 16,8 18,2 5,6 a 93,2 a Média 16,4 18,0 4,6 75,3 1 Médias seguidas pela mesma letra, dentro de cada fator, não se diferem pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade de erro. ns Não houve diferenças significativas pelo teste F (P>0,05). (Means followed by same letter within each factor not differ by Tukey test at 5% level of probability. ns No significant difference by F test (P> 0.05)). Tabela 2. Produtividade do tomateiro em função do sistema de plantio e da cobertura de solo de inverno (Tomato yield as a function of tillage system and cover crop of winter). Caçador, Epagri, 2010 Nível dos fatores 1 Produtividade de frutos (Mg ha-1 ) Total Comercial Extra AA Extra A Descarte Sistema de plantio Plantio direto 79,9 b 65,2 b 46,8 b 18,5 ns 14,6 b Plantio convencional 96,4 a 79,2 a 60,9 a 18,2 17,2 a Cobertura de solo Pousio 88,4 ns 71,9 ns 53,9 ns 18,0 ns 16,6 ns Aveia 84,6 69,5 52,7 16,8 15,0 Nabo 90,4 73,6 53,7 19,8 16,9 Aveia+Nabo 89,0 73,7 55,0 18,7 15,2 Média 88,1 72,2 53,8 18,4 15,9 1 Médias seguidas pela mesma letra, dentro de cada fator, não se diferem pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade de erro. ns Não houve diferenças significativas pelo teste F (P>0,05). (Means followed by same letter within each factor not differ by Tukey test at 5% level of probability. ns No significant difference by F test (P> 0.05)). Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S1656