ENSINO DE CATALOGAÇÃO: DA TEORIA À PRÁTICA CATALOGUING TEACHING: FROM THEORY TO PRACTICE.

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Transcrição:

ENSINO DE CATALOGAÇÃO: DA TEORIA À PRÁTICA Elisa Campos Machado Rosangela Rocha von Helde Sabrina Dias do Couto Resumo Trabalho que tem como tema principal o ensino de catalogação e a formação do catalogador. Está baseado em conhecimento construído por meio de um processo de ensino e aprendizado, envolvendo aluno, professor e profissional. Preocupa-se em demonstrar a importância do estágio curricular como fator de desenvolvimento de habilidades para integrar conhecimento ao contexto na formação do futuro catalogador, atentando-se ao valor do estágio para o exercício prático do ensinamento teórico adquirido em sala de aula. Palavras-chave: Ensino de catalogação. Formação do catalogador. Estágio em Biblioteconomia. CATALOGUING TEACHING: FROM THEORY TO PRACTICE. Abstract Cataloging teaching and the formation of the cataloger librarian involves the expertise built through a process of teaching and learning that includes the student, the teacher, and the professional. It aims at the importance of the curricular stage as a factor of skills development to add expertise to the context of the formation of the would-be cataloger librarian, focusing on the stage value for the practice of theoretic teaching acquired in the classroom. Keywords: Cataloging teaching. Formation of the cataloger librarian. Librarian training. Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, Nova Série, São Paulo, v.3, n.2, p.100-106, jul-dez. 2007. 100

1 INTRODUÇÃO O desenvolvimento tecnológico na área de informação determinou a criação de diversos serviços e formatos para tratamento e utilização das informações. Na maioria das bibliotecas e centros de documentação, encontra-se informatizada parte das rotinas, serviços e atividades de gerenciamento. A Catalogação, como outras áreas do Processamento Técnico, sofre enormes transformações: das fichas catalográficas manuscritas e impressas para os registros bibliográficos legíveis por máquina; dos catálogos impressos para os catálogos em linha até as redes de catalogação cooperativa. A experiência de conversão de dados, do catálogo manual para o eletrônico, mostrou-nos que as informações contidas numa ficha catalográfica não podem simplesmente ser digitadas no computador para gerar um catálogo automatizado. O catalogador precisa realizar análise técnica do documento base da informação, avaliar as necessidades de dados da instituição mantenedora e/ou das instituições envolvidas, no caso de cooperação, conhecer as normas e padrões de inclusão de dados a serem empregados, bem como o programa e formato a ser utilizado. Inserido neste contexto, está o Plano Nacional de Recuperação de Obras Raras (PLANOR), da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), que dentre suas atividades, administra e gerencia duas bases de dados bibliográficas, uma nacional e outra estrangeira, o Catálogo do Patrimônio Bibliográfico Nacional (CPBN) 1, onde se encontram cadastradas instituições e acervos de memória nacional, e a base Novum Regetrum 2, para livros raros, esta última gerenciada pela BN Espanha. Este Projeto é parte de programa de catalogação cooperativa internacional liderada pela Associação de Bibliotecas Nacionais de Ibero - América ABINIA. Para compor esta base de dados, ficou acordado, que a Biblioteca Nacional do Brasil, iria inicialmente colaborar com a inclusão de 5.000 (cinco mil) itens num período de cobertura entre os séculos XVI ao XIX. Obedece a padrões de catalogação do International Standard Bibliographic Description for Older Monographic Publications (Antiquarian) - ISBD(A) e disponibiliza registros bibliográficos em linha através do formato MARC (MAchine Readable Cataloging). Esta base (NOVUM) encontra-se em construção, mas pode ter seu conteúdo acessado através do endereço eletrônico. Para que o PLANOR pudesse participar do programa Novum Regestrum, em parceria com a Divisão de Obras Raras da FBN, em novembro de 2005 foi contratado, treinado e supervisionado um grupo de quatro estagiários de biblioteconomia. O grupo de estagiários foi envolvido no processo de transformar a descrição dos registros que seguem o AACR2, utilizado pela FBN, para o ISBD(A), de acordo com o padrão estabelecido pelo programa de cooperação. Nesse sentido, deu-se ênfase à rotina de descrição bibliológica do acervo com vistas à geração de notas consistentes e padronizadas. É importante ressaltar que esse trabalho tomou como base notas já descritas e disponibilizadas nas bases da Divisão de Obras Raras da FBN. A ação subseqüente deste procedimento é retificar e perfazer os dados na própria base ABINIA em formato MARC. O produto final deste programa, a nosso ver, não é apenas 1 http://www.consorcio.bn.br/planor/ 2 http://www.bne.es/abinia/index.html Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, Nova Série, São Paulo, v.3, n.2, p.100-106, jul-dez. 2007. 101

a construção desta base e a cooperação internacional, tão importante para a socialização e globalização da informação, mas, também a formação de um futuro profissional especialista e disseminador, e de um estudante crítico que consiga visualizar problemas e apontar soluções. 2 A FORMAÇÃO DO CATALOGADOR No Brasil, o conhecimento da utilização dos códigos de catalogação é obtido durante o período de formação regular, nos cursos superiores de Biblioteconomia, entretanto a aplicabilidade destes conhecimentos em bases automatizadas se dá, na maioria das vezes, na prática, ou seja, por meio dos estágios curriculares e não curriculares ou durante a atuação profissional. Os programas curriculares de catalogação, de modo geral, no Brasil, trabalham com o foco na prática catalográfica, onde a base de conteúdos do curso é o Código de Catalogação Anglo Americano, segunda edição (CCAA2) 3 e os alunos são orientados para o exercício e a elaboração de registros bibliográficos no formato de fichas 12 x 7,50 ou MARC. Em alguns casos, pode-se perceber o foco já mais direcionado para a construção de bancos de dados, onde o formato MARC e os metadados passam a ter um peso maior no programa curricular. Sem dúvida há um hiato nesse contexto que deve ser estudado, para que se possa encontrar o caminho para a formação de catalogadores com habilidade e competência para lidar com o volume e a diversidade de materiais que se apresentam. E o ensino da catalogação, assim como de outras disciplinas na Biblioteconomia e Ciência da Informação, deve ter o caráter educativo e não conformador. O termo formação, com suas conotações de moldagem e conformação, tem o defeito de ignorar que a missão do didatismo é encorajar o autodidatismo, despertando, provocando, favorecendo a autonomia do espírito. (MORIN, 2004, p. 10-11). A catalogação vem se apresentando como uma das ferramentas mais importantes para o compartilhamento de recursos, e que hoje é possível com o uso das inúmeras inovações tecnológicas que já estão à nossa disposição, vide, por exemplo, o protocolo de comunicação Z39.50. Por outro lado, como bem ressaltou Eliane Mey (2005), nos últimos dez anos um grande avanço teórico na área, vem dando maior embasamento para a compreensão dos princípios que levam à prática da representação e para a construção de bancos de dados. Entende-se ser imprescindível que o aluno antes de iniciar a prática da elaboração de registro tenha clareza do contexto histórico, social e cultural que levou a criação desse procedimento, dos princípios que regem a área (Declaração de Paris), dos estudos sobre o modelo conceitual proposto nos Requisitos Funcionais do Registro Bibliográfico 4, assim como dos códigos, formatos e suas particularidades. Outra questão que é considerada importante na formação do catalogador, é o estímulo à relação entre a teoria/prática que está sendo ministrada em sala de aula, com a 3 Anglo-American Cataloguing Rules, 2nd Edition (AACR2) 4 Functional Requirements for Bibliographic Records (FRBR) Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, Nova Série, São Paulo, v.3, n.2, p.100-106, jul-dez. 2007. 102

prática que o mesmo está vivenciando nos seus estágios fora da Escola. Foi nesse sentido que surgiu a idéia de realizar uma experiência de trabalho conjunto: aluno/professor/profissional. 3 APROXIMAÇÃO DA TEORIA E DA PRÁTICA NO ESTÁGIO SUPERVISIONADO A Biblioteca Nacional, através da sua magnífica coleção, distribuída em diferentes divisões, possibilita aos estudantes universitários, a oportunidade de enriquecimento teórico e prático. Desta forma, a teoria obtida na universidade, se transforma em prática através de estágios realizados em seus diversos setores. Durante estágio oferecido pelo Plano Nacional de Recuperação de Obras Raras, é possível que alunos da graduação dos cursos de Biblioteconomia possam conhecer um pouco deste universo e algumas das atividades que envolvem a descrição e o registro bibliográfico daquele acervo raro, e também a importância desta ação para a preservação e salvaguarda de acervos de memória. A seguir, apresentamos o detalhamento do ambiente e dos conteúdos trabalhados durante o período de estágio da aluna, bem como, o método de compartilhamento dos novos conhecimentos adquiridos a partir dessa experiência. 3.1 A Área de Notas na Catalogação de Obras Raras Como já foi dito acima, o PLANOR em parceria com a Divisão de Obras Raras desenvolve atualmente o Projeto ABINIA (Associação das Bibliotecas Nacionais Iberoamericanas). Neste projeto, dados já existentes em bases de dados bibliográficas disponíveis, são avaliados, corrigidos e atualizados. Para isto, são analisadas e descritas as características intrínsecas do item 5, no suporte papel. Nesta rotina, destacamos as atividades de análise bibliológica e a inserção e correção de dados na Base Bibliográfica de ABINIA, em formato MARC. A análise bibliológica consiste num exame minucioso que é feito em cada página do livro e que tem como objetivo, servir como um recurso de preservação e salvaguarda. Trata-se de descrever todos os atributos pertencentes a um determinado item e todos os demais atributos que o caracterizam e o diferenciam de outros exemplares da mesma obra, expressão e/ou manifestação, tornando-se necessária a realização de uma análise exaustiva, da capa à contracapa. Após a realização da análise bibliológica, os novos dados descritos em formulários bibliográficos são inseridos na Base ABINIA em formato MARC. As informações contidas em um metadado, seja uma ficha catalográfica ou uma planilha de dados, não podem ser simplesmente digitadas no computador para produzir um catálogo automatizado. O computador precisa de um meio para interpretar a informação encontrada no registro bibliográfico e o MARC é formato eleito neste projeto para solucionar este problema. 5 Segundo os FRBR item é uma das entidades do Grupo 1 e refere-se ao objeto físico. Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, Nova Série, São Paulo, v.3, n.2, p.100-106, jul-dez. 2007. 103

Para a inserção destes dados, sentiu-se a necessidade da criação de um glossário para a padronização das notas, que apresentasse os termos mais freqüentes neste tipo de acervo, como por exemplo, capitais ornamentadas, vinhetas, caracteres góticos, comentários em corandel, manchete, etc. É importante ressaltar que para a inclusão de novos termos, são realizadas consultas a profissionais especializados, bibliografias e outros acervos. Destaca-se a utilização do ISBD(A) como fonte para a catalogação e entrada dos dados. Na catalogação de obras raras, a Zona das Notas (zona 7) do ISBD(A) é indispensável e permite detalhar e especificar bem as características extrínsecas e intrínsecas da obra rara, ampliando e enriquecendo a sua descrição. Em alguns momentos, principalmente quanto à padronização de terminologias, é utilizado o DCRB (Descriptive Cataloging of Rare Books). 3.2 Compartilhando Novos Conhecimentos Reconhecendo o valor deste tipo de experiência para a vida acadêmica e profissional, a idéia do desenvolvimento de uma pesquisa destinada à organização destas informações foi se concretizando com o objetivo de compartilhar conhecimentos e experiências adquiridos no período de estágio com os alunos do curso de Biblioteconomia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Naquele momento, tinha-se acabado de discutir os capítulos 1 e 2, 21 e 22 6 do CCAA2, e o conhecimento adquirido em sala de aula na disciplina de Catalogação I, somada a experiência prática de inserção de dados na Base ABÍNIA, desencadeou na aluna a curiosidade sobre a complexidade e os novos procedimentos que foram aprendidos durante o estágio. A partir desse momento, iniciou-se um processo de ensino e aprendizado complementar ao de sala de aula, tendo em vista que, tanto a professora como a bibliotecária responsável pelo PLANOR, envolveram-se neste processo, apoiando e orientando na busca do referencial teórico que envolvia o ISBD(A), o MARC, o DCRB e os princípios de análise bibliológica. Contando, também, com o auxílio da Internet no intercâmbio de informações, conseguiu-se ampliar e enriquecer experiências entre aluno, professor e profissional. Iniciou-se o ano de 2007 com uma aula especial para os alunos do período da manhã, dentro da disciplina Catalogação II, ministrada pela aluna/pesquisadora com a presença da bibliotecária coordenadora do Projeto, onde discorreu-se acerca da metodologia empregada na realização do trabalho e os resultados obtidos até aquele momento. A idéia naquele momento era compartilhar o aprendizado obtido e despertar o interesse de outros alunos pela catalogação e pela pesquisa. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 6 Capítulo 1 Regras Gerais; Capítulo 2 Livros, Folhetos e Folhas Impressas; Capítulo 21 Escolha dos Pontos de Acesso; Capítulo 22 Cabeçalhos para Pessoas. Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, Nova Série, São Paulo, v.3, n.2, p.100-106, jul-dez. 2007. 104

Autores e especialistas (MEY, 2005; TILLETT 2004; PEREIRA, RODRIGUES, 2002) vêm cada vez mais afirmando a necessidade de se repensar a formação do catalogador e estimular o estabelecimento de um processo de educação continuada para os profissionais que lidam com o registro bibliográfico. Caldas; Barbosa (s.d) apontam também a importância dos estágios na formação profissional e pessoal dos estudantes de biblioteconomia, amadurecendo atitudes, comportamentos e habilidades, principalmente, na análise crítica e reflexiva das interfaces do conhecimento teórico e prático. Ainda, segundo as autoras, a principal atividade de extensão dos universitários têm sido os estágios, tanto curriculares, como não curriculares. Entretanto, pouco se sabe sobre o retorno dos estágios para os estudantes, para a instituição concedente e agência formadora de estudantes de Biblioteconomia. A importância desse debate pode ser conferida pelo peso dado no II Encontro Nacional de Educação da Informação (II ENECIN) que teve como tema central Cruzamento de saberes e fazeres em Arquivologia, Biblioteconomia e Ciência da Informação: das reflexões epistemológicas e pedagógicas às práticas profissionais. Neste encontro foi reservada uma manhã para discutir a questão da aproximação da teoria e prática nos estágios e atividades curriculares complementares. Os palestrantes apontaram para problemas recorrentes como a falta de supervisão orientada que garanta a continuidade do processo de formação do aluno da graduação. Segundo Edgar Morin (2004, p.24), um imperativo da educação é o desenvolvimento da aptidão para contextualizar e globalizar os saberes. Acredita-se que o exercício da pesquisa a partir de uma vivência, articulando teoria e prática e envolvendo aluno, professor e profissional, segue esse princípio, ou seja, o de integrar o conhecimento em seu contexto. Percebeu-se que o uso dessa metodologia na disciplina de catalogação deu novos ares para o grupo, abriu novos caminhos do pensar a catalogação, e surgiu como um fator provocativo e de estímulo à articulação de conhecimentos, criando novas possibilidades de incentivos também à formação continuada de profissionais. REFERÊNCIAS CALDAS, Maria Aparecida Esteves, BARBOZA, Josefa Pereira. O Papel da extensão na formação do estudante de Biblioteconomia. Disponível em: <http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/ies/article/viewfile/199/193>. Acesso em: 21/03/2007. FURRIE, Betty. O MARC bibliográfico: um guia introdutório; catalogação legível por computador. Tradução de Beatriz Valadares Cendón, Sonia Burnier, Maria Helena Santos e Natália Guiné de Mello Carvalho. Brasília, DF: Thesaurus, 2000. 95 p. Título original: Understanding MARC Bibliographic. MEY, Eliane Serrão Alves. Algumas questões sobre o ensino da representação descritiva, ou a catalogação na berlinda. 2005. Disponível em: <http://www. ofaj.com.br/textos.html>. Acesso em: 15 jul. 2005. Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, Nova Série, São Paulo, v.3, n.2, p.100-106, jul-dez. 2007. 105

MEY, Eliane Serrão Alves. Introdução à catalogação. Brasília, DF: Briquet de Lemos/Livros, 1995. 123 p. MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: repensar a reforma reformar o pensamento. 10. ed. Rio de Janeiro : Bertrand Brasil, 2004. PEREIRA, Ana Maria; RODRIGUES, Renata. A educação continuada do catalogador: o caso da Universidade do Estado de Santa Catarina. Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, v.7, n.1, p. 219-239, 2002. ROWLEY, Jennifer. Informática para bibliotecas. Brasília, DF: Briquet de Lemos, 1994. 307 p. TILLETT, Barbara B. Cataloging for the future. 2004. Disponível em: <http://puboff.lis.uiuc.edu/catalog/windsor/windsor_tillett.html>. Acesso em: 15. Jun. 2005. ELISA CAMPOS MACHADO emachado2005@gmail.com Docente na Escola de Biblioteconomia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro UNIRIO. Av. Pasteur, 458, sala 404 Prédio CCH Urca, Rio de Janeiro, RJ CEP:22290-040/ Brasil ROSANGELA ROCHA VON HELDE rosangelavonhelde@gmail.com Bibliotecária da Fundação Biblioteca Nacional, PLANOR Plano Nacional de Recuperação de Obras Raras. Av. Rio Branco, 219/39 - Centro - Rio de Janeiro, RJ CEP: 20.040-008/ Brasil SABRINA DIAS DO COUTO sabrinadias05@hotmail.com Aluna do 6º período da Escola de Biblioteconomia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro UNIRIO. Av. Pasteur, 458, sala 404 Prédio CCH Urca, Rio de Janeiro, RJ CEP:22290-040/ Brasil Recebido para publicação em: 15/09/07 Aceito para publicação em: 08/12/07 Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, Nova Série, São Paulo, v.3, n.2, p.100-106, jul-dez. 2007. 106