LIÇÃO 2 - AS CARTAS DO APOCALIPSE Texto Bíblico: Apocalipse 1.4-20 Motivação O que distingue um seguidor de Jesus de alguém que não o tem como Senhor? Há alguma diferença entre um cristão e um não-cristão? Essas perguntas fazem todo o sentido hoje, da mesma forma como faziam na época do Apocalipse. Elas querem responder à questão sobre a forma como um crente deve se portar no meio de uma sociedade hostil ao senhorio de Cristo. Exposição bíblica O APARECIMENTO DO FILHO DO HOMEM A primeira seção do Apocalipse é intitulada de Seção das Cartas. São sete cartas escritas para sete igrejas da província romana da Ásia, parte do que é atualmente a Turquia. É uma seção que começa no capítulo 1.4 e se estende até o final do capítulo 3. As cartas, especificamente, estão nos capítulos 2 e 3, já que antes, João narra para aqueles que ouvem o Apocalipse o seu encontro com Jesus. Todo discípulo de Jesus sonha em ver seu Senhor. Isso aconteceu com João de uma forma maravilhosa. Ele se encontrava exilado na ilha de Patmos, em função de alguma perseguição sofrida. O apóstolo não dá detalhes sobre a perseguição, mas esclarece que estava na ilha por causa "da Palavra de Deus e pelo testemunho de Jesus" (Ap 1.9). Naquele lugar, isolado e desolado, João foi arrebatado em Espírito, no dia do Senhor para ver o Filho do Homem. A expressão "Filho do Homem" foi usada frequentemente por Jesus durante seu ministério. Sem mesmo olhar para os demais evangelhos, estas passagens de Mateus indicam que essa era a sua forma preferida de se autointitular: Mateus 8.20; 9.6; 10.23; 11.19; 13.41; 16.13; 16.27; 18.11; 19.28; 24.30; 26.2; 26.64.
Em sua visão inaugural, João descreve seu encontro com o Filho do Homem, o Senhor Jesus, por meio de símbolos que se repetirão nas cartas para as igrejas. Cada aspecto da descrição é uma afirmação cristológica: o cinto de ouro que cinge seu peito simboliza a realeza de Jesus; os cabelos brancos apontam para sua sabedoria; os olhos como fogo indicam seu conhecimento penetrante; os pés como latão reluzente reconhecem sua firmeza e estabilidade; a voz de muitas águas representam autoridade; e a espada na boca é a Palavra de Deus. Diante de uma visão como esta, não restava alternativa senão a prostração e a adoração. João se prostra em espírito diante de Jesus, visto em sua glória, e recebe dele a missão de encaminhar uma mensagem para sete igrejas (os sete castiçais) da província da Ásia. AS SETE CARTAS A carta de Éfeso é dominada por temas da história do Éden (árvore da vida e paraíso de Deus). Esmirna é uma carta de vida e morte. A Igreja de Pérgamo é chamada para um confronto. Tiatira precisa se fortalecer. Sardes é exortada a buscar paciência. Filadélfia é alertada com as imagens da porta aberta e do pilar do templo. Laodicéia, por sua vez, encerra o ciclo de cartas. Seus membros deveriam entender o que era realmente importante para Deus. Com exceção de Sardes, todas as cartas apresentam evocações de momentos diferentes da história do povo de Deus no Antigo Testamento: em Éfeso, criação; em Esmirna, Êxodo; em Pérgamo, deserto e conquista da Terra Prometida; em Tiatira, o Templo e em Laodicéia, o exílio. A leitura das cartas parece indiciar que as igrejas estavam em dúvida sobre a forma como se deveria viver a vida cristã. Isso as dividia em grupos ou partidos, o que tornava ainda mais difícil servir a Deus. Pela leitura das cartas, e a análise da relação entre elogios e críticas que o Filho do Homem faz para cada igreja, é possível traçar um quadro geral:
Igrejas mais divididas internamente: Éfeso, Sardes, Pérgamo e Tiatira. Parecem ser o principal foco das atenções do Apocalipse. Uma igreja não recebe elogios e sequer encorajamento: Laodicéia. Os membros desta igreja estavam seguindo um tipo de cristianismo que os afastava do Caminho. Duas igrejas recebem muitos elogios e encorajamentos: Esmirna e Filadélfia. Não contém chamada ao arrependimento ou qualquer tipo de ameaça, ao mesmo tempo em que recebem fortes louvores. Ao contrário de Laodicéia, são as igrejas que com mais atenção seguem o Caminho. O quadro a seguir dá uma ideia geral dos elogios e promessas, das críticas e ameaças: IGREJA ELOGIO CRÍTICA AMEAÇA PROMESSA Éfeso (Ap 2.1-7) Esmirna (Ap 2.8-10) Pérgamo (Ap 2.12-17) - Trabalho árduo e perseverança; - Falta de tolerância com o pecado na igreja; - Intolerância com os falsos profetas; - Sofrimento por Cristo; - Ódio pelas obras dos nicolaítas. - A igreja sofre, mas é rica na graça de Deus; - Perseguida injustamente por judeus. - Obedece semsem amor; - Não amam como no princípio. - É adoradora - Tolera de verdade; pessoas como - Fiel mesmo nobalaão. centro da perseguição. arrependimento, ficará sem o candelabro. Caso não haja arrependimento, Jesus vai trazer o juízo sobre eles. Se for fiel até a morte, receberá a coroa da vida.
Tiatira (Ap 2.18-29) Sardes (Ap 3.1-6) Filadélfia (Ap 3.7-13) Laodicéia (Ap 3.14-22) - Boas obras, amor, fé, serviço, perseverança e crescimento. Alguns não se contaminaram. Pouca força, mas guardou o nome. Tolera a Jezabel e a imoralidade espiritual na igreja. Parece viva, mas não tem vida. É morna, indiferente, miserável, cega, pobre e nua. Para os discípulos Para os que de Jezabel, morte não seguem e sofrimento. Jezabel, autoridade sobre as nações. Jesus vai trazer o juízo sobre ela. Será vomitada se não se arrepender. Para os puros, a companhia de Jesus. Jesus vai guardar até o fim. EM CRISE COM A SOCIEDADE Enquanto essas igrejas estavam enfrentando crises e divisões internas, ainda precisavam se preocupar com adversários de fora das comunidades. Estes poderiam ser divididos em dois grupos: de um lado estariam aqueles ligados ao judaísmo. Seriam os que se dizem judeus, mas não o são, expressão que implica que eles deveriam fazer parte de um grupo de judeus da Ásia. Para o Filho do Homem, eles não eram verdadeiros judeus, mas sinagoga de Satanás. (Ap 2.9; 3.9) Do outro lado, também como adversário externo, pode-se perceber o contexto social mais amplo, que provocou a morte de Antipas (Ap 2.13), prenderá outros e levará muitos à morte dentro em breve (Ap 2.10). Esse contexto é personalizado na besta, que persegue e mata quem se recusa a adorá-la (Ap 11.7; 13.7-8). Nos tempos de João, este grande adversário era o Império Romano e sua estrutura social, política e religiosa. A principal crise com o estado nos tempos de João residia na questão do culto imperial. Para os propósitos imperiais, ele servia como uma expressão de lealdade e gratidão da parte dos cidadãos. João revela para as igrejas,
entretanto, que o Culto Imperial era sinal de fidelidade ao adversário do Filho do Homem, o grande Dragão. Justamente por isso, as igrejas deveriam esperar perseguição para um futuro próximo. Curiosamente, dentro das igrejas haviam pessoas, lideradas por figuras chamadas simbolicamente de balamitas, nicolaítas e falsos profetas que entendiam que não havia problema nenhum nessas práticas religiosas da sociedade. Para eles, participar do Culto Imperial era apenas uma atividade cívica, sem implicações para a fé em Cristo. Dentre estes líderes, destaca-se a figura de Jezabel, a líder da Igreja de Tiatira. Relação com a vida As cartas do Apocalipse manifestam diferentes perspectivas das igrejas daquela época quanto à forma de se relacionar com o contexto social. O que alguns líderes achavam ser simplesmente prática cívica, o Apocalipse descreve profeticamente como prostituição e idolatria. Isso nos indica a forma como Jesus deseja que seus filhos vivam no mundo. Ele nos manda agir na sociedade como "sal da terra" e "luz do mundo". Não é para fugir do mundo, mas agir nele sem assumir seus valores, suas práticas, suas ambições. Há elementos da sociedade que são irreconciliáveis com o seguimento de Jesus, como a corrupção, a ganância e o prazer a qualquer custo. E neste caso, não podemos negociar nossos valores em prol de benefícios sociais, quaisquer que sejam eles. Para pensar e agir Jesus andou entre nós durante seu ministério manifestando no corpo cansaço, fome, dor e angústia. Após a ressurreição, entretanto, ele está glorificado em todo esplendor no céu. A visão do Filho do Homem deve arder nosso coração em confiança no poder de Jesus para cumprir cada uma de suas promessas, especialmente a que aparece em Apocalipse 1.7: "eis que vem com as nuvens".
Leituras diárias: Segunda-feira - Apocalipse 2.1-7 Terça-feira - Apocalipse 2.8-11 Quarta-feira - Apocalipse 2.12-17 Quinta-feira - Apocalipse 2.18-29 Sexta-feira - Apocalipse 3.1-6 Sabado - Apocalipse 3.7-13 Domindo - Apocalipse 3.14-22