Gap Analysis vantagens e desvantagens para uma avaliação da Rede Natura 2000 em Portugal



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Presented to the Iberian Congress of Entomology, Evora 1999 Gap Analysis vantagens e desvantagens para uma avaliação da Rede Natura 2000 em Portugal MIGUEL ARAÚJO 1 Macroecology and Conservation Unit, University of Evora, Portugal Email: mba@uevora.pt Resumo: Gap Analysis permite a identificação de lacunas de representação de biodiversidade em áreas para conservação. Neste estudo analisaram-se os padrões de representação de 34 espécies, constantes do anexo II da Directiva Habitats, nos 31 sítios propostos para a rede Natura 2000. Quatro espécies da Directiva Habitats não se encontram representadas na Rede proposta. A observação do padrão de representação das espécies sugere a hipótese de que grupos bem conhecidos, do ponto de vista taxonómico (p.e. plantas vasculares e os répteis), estejam melhor representados, na Rede, que espécies cuja taxonomia é menos bem conhecida (p.e. briófitos e pteridófitos). As potencialidades e limitações da utilização de Gap analysis para avaliação da Rede Natura 2000, em Portugal, são discutidas. Introdução Gap Analysis é um programa desenvolvido pelo Biological Resource Division (US, Geological Survey), nos EUA, com vista à identificação de lacunas de representação de biodiversidade (p.e. espécies e habitats) em áreas protegidas (Scott et al 1993; Kiester et al 1996). A metodologia de trabalho pode generalizar-se a 4 fases fundamentais: (1) cartografia dos elementos de biodiversidade que se pretendem conservar; (2) cartografia das áreas protegidas; (3) identificação de lacunas de representação de biodiversidade nas áreas protegidas; (4) identificação de áreas adicionais para conservação e estudo das diferentes alternativas. Nos EUA o programa Gap Analysis é considerado central no processo de selecção de áreas para conservação. Na Europa, aplicações de Gap Analysis têm-se restringido a estudos de carácter metodológico (Castro Parga et al 1996; Williams et al 1996; Araújo submetido; Araújo & Sérgio, 1998) ainda que, p.e., o primeiro estudo tenha suscitado a classificação de uma área protegida na Serra Nevada, em Espanha (Moreno et al 1998).

Neste artigo discutem-se as potencialidades e limitações de utilização de Gap Analysis no contexto Português. Para o efeito utilizam-se dados de distribuição de 34 espécies da fauna e flora de Portugal constantes no Anexo II da Directiva Habitats (Directiva 92/43/CEE) e uma cartografia da lista de 31 sítios propostos, pelo Estado Português, para a Rede Natura 2000 (Resolução 142/97). Todos os dados estão localizados numa malha de 993 quadrículas UTM de 10 por 10 km. As análises são realizadas com auxilio do programa informático WORLDMAP (Williams, 1996). Dados Introduziram-se no sistema informático WORLDMAP (Williams, 1996) dados de distribuição de 34 espécies da fauna e da flora Portuguesa constantes do Anexo II da Directiva Habitats (ver Anexo I para lista de espécies e origem dos dados). A presença destas espécies é, segundo a Directiva, critério de selecção de áreas para a Rede Natura 2000 (Directiva 92/43/CEE). As espécies consideradas compreendem: 22 Plantas vasculares; 3 Pteridófitos; 4 Briófitos; 4 Répteis e 1 Anfíbio. No total incluíramse 664 registos. A cartografia das áreas propostas para a Rede Natura 2000 (Resolução 142/97) foi sujeita a uma rasterização em quadrículas UTM de 10 por 10 km (Fig. 1b-c). Apenas as quadrículas com mais de 1/3 da sua área cobertas, pela Rede, foram consideradas como tendo presença de sítios da Rede Natura 2000. Excepção para as quadrículas localizadas no limite da faixa costeira ou no limite com a fronteira Espanhola. Nestes casos as áreas foram consideradas para análise qualquer que fosse a proporção da área total da quadrícula ocupada. Métodos O processo de Gap Analysis desenvolveu-se em 4 etapas: (1) Cartografia da riqueza de espécies com base na sobreposição de mapas de 34 espécies do Anexo II da Directiva Habitats; (2) Cartografia da lista de áreas propostas para a Rede Natura 2000 em quadrículas UTM de 10 por 10 km; (3) Identificação de lacunas de representação através da sobreposição dos mapas produzidos em 1 e 2; (4) Identificação do número mínimo de áreas adicionais, necessárias, para representação de todas as espécies consideradas na Rede Natura 2000 e exploração da flexibilidade entre soluções alternativas. 2

A identificação do número mínimo de áreas, necessárias, para uma representação completa de todas as espécies foi realizada recorrendo a uma versão modificada do algoritmo iterativo de Margules et al 1988. O algoritmo selecciona, num primeiro passo, as áreas com espécies com ocorrências iguais ou inferiores ao objectivo de representação. Por exemplo, se o objectivo for representar todas as espécies pelo menos uma vez, o algoritmo selecciona, na primeira etapa, todas as áreas com espécies que ocorram apenas em uma quadrícula. Estas áreas são consideradas insubstituíveis dado o objectivo de representação pré-estabelecido. Uma vez identificadas estas áreas o algoritmo prossegue seleccionando as áreas com maiores incrementos de complementaridade entre as espécies mais raras. Estas áreas são consideradas flexíveis pois existem soluções alternativas que podem ser exploradas de forma interactiva utilizando o interface desenvolvido no WORLDMAP. O processo de selecção termina uma vez que o objectivo de representação for alcançado. Resultados e discussão Os resultados do Gap Analysis encontram-se representados na Figura 1. Das 34 espécies da Directiva Habitats, consideradas para análise, 4 não se encontram representadas na lista de 31 sítios propostos para a Rede Natura 2000. Entre estas, contam-se, 1 planta vascular (Jasione lusitanica), 1 Pteridófito (Ophioglossum polyphylum), 1 Briófito (Bryoerythrophyllum campylocarpus) e 1 Réptil (Lacerta monticola). O registo de Ophioglossum polyphylum baseia-se na colheita de um único exemplar (L.S. Carvalho, comunicação pessoal). Dado que prospeções ulteriores não confirmaram a presença deste pteridófito excluímos este registo e consideramos, apenas, 3 espécies como não representadas (Anexo 2). 3

a) b) c) Figura 1 Gap Analysis de espécies do anexo II da Directiva Habitats e da lista de 31 sítios proposta para a rede Natura 2000: a) riqueza específica de espécies do anexo II da Directiva Habitats (cores representam um gradiente de riqueza sendo as cores quentes, p.e., vermelho, indicativas de maior número de espécies e as cores frias, p.e., azul, de menor número de espécies; b) Identificação de lacunas de representação na lista de áreas proposta para a rede Natura 2000 (círculos cinzentos). A quadrículas a vermelho representam áreas onde ocorrem espécies não representadas na Rede; c) áreas adicionais necessárias para uma representação completa de todas as espécies consideradas na Rede. Quadrículas a vermelho representam áreas insubstituíveis para o objectivo de representação de todas as espécies pelo menos uma vez, i.e., áreas onde ocorrem espécies com apenas um registo. Quadrículas a laranja são áreas cuja flexibilidade pode ser explorada, i.e., outras soluções podem ser exploradas sem comprometer o objectivo de representação. As espécies da Directiva não representadas na Rede ocorrem em 14 quadrículas UTM de 10 por 10 km (Fig. 1b). O número mínimo de áreas necessárias para uma representação completa seriam 3 quadrículas de escolha flexível (a laranja na Fig.1c), já que existem alternativas. A área seleccionada a vermelho (carácter insubstituível) corresponde ao registo único de Ophioglossum polyphylum que se supõe ser erróneo. Para as restantes 3 espécies as alternativas são (ver mapas de distribuição das 3 espécies no anexo II): Jasione lusitanica - Qualquer uma das 5 quadrículas onde se regista a ocorrência desta planta vascular (NG10, NF26, NF25, NF23 e NF22) não está contemplada na lista de sítios em análise para inclusão na Rede Natura 2000. Para cumprimento do 4

texto da Directiva Habitats, em Portugal, seria necessário contemplar áreas adicionais para representação desta espécie. Bryoerythrophyllum campylocarpus - Qualquer uma das 4 quadrículas onde se regista a ocorrência deste Briófito (NG34, NF48, NF47, NE56) não está contemplada na lista de sítios em análise para inclusão na Rede Natura 2000. Para cumprimento do texto da Directiva Habitats, em Portugal, seria necessário contemplar áreas adicionais para representação desta espécie. De notar que esta, além de constar do anexo II da Directiva, é considerada prioritária. Uma possiblidade já sugerida, pelo segundo autor deste artigo, ao ICN, seria o alargamento do sitio do Rio Minho de forma a incluir o Corno do Bico (bacia do Rio Coura), sitio onde se conhecem registos, ainda que antigos, desta espécie (NG34). Os registos dos sitios de Famalicão (NF48) e de Santo Tirso (NF47) também são antigos pelo que requerem confirmação. A espécie está confirmada para a Serra do Buçaco mas o carácter turistico dest sitio poderá dificultar a aplicação de normas de conservação. Lacerta monticola - Existem 4 áreas possíveis (PE17, PE16, PE27, PE26) todas elas localizadas na Serra da Estrela. Esta área está incluída na lista de sítios em análise para eventual inclusão na rede Natura 2000. Para cumprimento ao texto da Directiva Habitats e representação desta espécie, em Portugal, seria necessário incluir o sitio da Serra da Estrela. Uma análise da relação entre o número de representações na Rede e o número total de registos revela uma forte interdependência (r 2 =0,93) entre os dois factores (Fig. 2). Esta interdependência não é surpreendente já que se espera que, quanto mais comum fôr uma espécie maior seja a probabilidade de representação em áreas de conservação. 5

Figura 2 - Relação entre o número de registos de cada uma das 34 espécies da Directiva Habitats e o número de representações nas áreas propostas para a Rede Natura 2000. Uma análise dos residuais mostra, porém, que o padrão de representação não é equivalente para todos os organismos. As plantas vasculares e os répteis apresentam um padrão de representação superior ao esperado de uma relação perfeita com o número de registos. Os briófitos e os pteridófitos apresentam um padrão de representação oposto. Este resultado sugere a hipótese de que espécies menos conspícuas da Directiva Habitats, p.e., briófitos e pteridófitos, tenham uma probabilidade de representação, nas áreas propostas para a Rede Natura 2000, inferior a outros organismos cujos taxonomia é mais conhecida. Se for este o caso deveria procurar dar-se particular atenção a estes organismos e assegurar que o nível de representação, dos mesmos, é suficiente para assegurar a sua persistência no território Português.. Conclusões Os resultados demonstram a utilidade da utilização de procedimentos de Gap analysis para avaliar redes de conservação e seleccionar áreas adicionais. O facto de as lacunas de representação nas 3 espécies do anexo 2 da Directiva Habitats provir de uma análise parcelar sobre o universo total de amostragem (as espécies utilizadas correspondem aos dados disponíveis e não ao conjunto total das espécies do Anexo II da Directiva) sugere que uma análise completa pode aumentar o número de áreas 6

candidatas a selecção no quadro da Rede Natura 2000. O padrão de representação das 34 espécies revela que as plantas vasculares e os répteis se encontram, na generalidade, melhor representados que os briófitos e pteridófitos. Este resultado sugere a hipótese de existência de um padrão geral de sub-representação entre espécies cuja taxonomia é menos bem conhecida. A ser confirmada esta hipótese deveria ser dada particular atenção a estes organismos. As vantagens de utilização de Gap Analysis em processos de selecção e avaliação de redes de áreas para conservação podem resumir-se da seguinte forma: a) Dados A realização de Gap analysis obriga a centralização e estandardização de um conjunto de dados, por vezes dispersos, de distribuição de biodiversidade (p.e., habitats e/ou espécies que se pretendem preservar), assim como de áreas de conservação. b) Eficiência - Uma vez operacionalizado o processo (i.e. alimentação da base de dados e sua ligação a um sistema de informação geográfico) é possível explorar soluções eficientes no quadro dos dados existentes e critérios estabelecidos. c) Flexibilidade - Com a abordagem Gap os graus de liberdade de cada decisão são tornados explícitos. Por exemplo, se o resultado de uma decisão de conservação estiver em conflito com outros usos, possíveis cenários são facilmente explorados. d) Transparência - O diagnóstico e os cenários oferecidos pela utilização da abordagem Gap são baseados em critérios simples, objectivos e repetíveis. A transparência do processo permite a sua fácil comunicabilidade com possíveis agentes interessados, p.e., ONG s, autarquias, proprietários, etc. Ainda que as vantagens de Gap analysis sejam óbvias e a sua aplicação desejável, no quadro dos instrumentos de selecção e avaliação de redes de conservação, é importante estar consciente de algumas limitações: a) Dados Dados deficientes dão origem a resultados deficientes. Ainda que este facto seja inerente a qualquer processo de decisão baseado em dados, informação ou conhecimento, métodos baseados na automatização de processos analíticos de decisão são particularmeote sensíveis à qualidade dos inputs. Particular atenção deve ser dada ao tipo de dados que se utiliza em relação às respostas que se procuram obter. b) O processo de Gap Analysis dá indicações sobre lacunas de representação e sobre áreas adicionais para selecção. Nenhuma informação é, porém, 7

contemplada sobre critérios de selecção de áreas quando existirem alternativas. Para que o processo seja completo será necessário incluir informação sobre a probabilidade de persistência, das populações, nas diferentes áreas alternativas. Tal, requer informação sobre viabilidade populacional e sobre a vulnerabilidade de cada área face a ameaças externas. c) O processo de Gap Analysis não contempla análises de custo benefício das diferentes alternativas de selecção de áreas adicionais. Para que o processo seja realista será necessário avaliar as consequências de diferentes alternativas relativamente ao montante dos custos e resultados de conservação que se petendem obter. Agradecimentos MA é financiado pelo programa PRAXIS XXI (contrato BD/9761/96). Agradece-se a Sofia Rodrigues pelo envio da cartografia das áreas propostas para a rede Natura 2000 e discussão dos resultados. A Lurdes Serpa Carvalho e Francisco Rego pela revisão crítica do manuscrito. Referências Araújo, M.B. (1999) - Distribution patterns of biodiversity and the design of a representative reserve network in Portugal. Diversity and Distributions 5, 151-63. Araújo, M.B. & Sérgio, C. (1998) Priority areas for bryophyte conservation. Poster to 3 rd European Conference on the Conservation of Bryophytes: The scientific basis for bryophyte conservation. Trodheim, Norway, August-September 1998. Castro Parga, I., Moreno Saíz, J.C., Humphries, C.J. & Williams, P. (1996a) Strengthening the Natural and National Park System of Iberia to conserve vascular plants? Bot. J. Linn Soc.121, 189-206. Kiester, A.R., Scott, J.M., Csuti, B., Noss, R., Butterfield, B., Sahr, K. & White, D. (1996) Conservation priorization using gap data. Conservation Biology 10(5),1332-42. Margules, G.R., Nicholls, A.O. & Pressey, R.L. (1988) Selecting networks of reserves to maximise biological diversity. Biological Conservation 43, 63-76. Moreno, J. C., Castro, I., Humphries, C.J. & Williams, P.H. (1998) Conservación de la biodiversidad en la Península y Baleares. Que hacer a partir de los datos florísticos? Quercus 144, 19-22. Scott, J.M., Davis, F., Csuti, B., Noss, R. Butterfield, B., Groves, C., Handerson, H., Caicoo, S., D Erchia, F., Edwards, T.C., Ulliman, J. & Wright, R.G. (1993) - Gap 8

analysis: a geographical approach to protection of biological diversity. Wildlife Monographs 123,1-41. Williams, P.H. (1996) WORLDMAP 4 WINDOWS: Software and help document 4.1. Privately distributed, London, UK. Williams, P.H., Gibbons, D., Margules, C., Rebelo, A., Humphries, C. & Pressey, R. (1996) A comparison of richness hotspots, rarity hotspots and complementary areas for conserving diversity using British birds. Conservation Biology. 10, 15-74. 9