Jornalismo em balões: A reportagem em quadrinhos a serviço da criatividade narrativa 1

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Transcrição:

Jornalismo em balões: A reportagem em quadrinhos a serviço da criatividade narrativa 1 Antonio Laudenir Oliveira dos SANTOS 2 Universidade Federal do Ceará (UFC) RESUMO Este trabalho visa contribuir no debate sobre a contribuição do gênero Jornalismo em quadrinhos (JHQ) na produção jornalística atual. É necessário refletir acerca da possibilidade da reportagem em quadrinhos cumprir sua missão de informar o leitor a partir da junção de relatos verídicos pelo recurso visual. Outra proposta possível é entender como essa plataforma pode conferir excelência à narrativa jornalística. PALAVRAS-CHAVE: Jornalismo; Quadrinhos; Comunicação; Narrativa. Introdução É próprio do humano a propensão em identificar, armazenar e contar histórias. Os primeiros depoimentos gráficos se configuraram entre formas primitivas de sociedade. Ainda na Era Paleolítica, as primeiras expressões eram muito simples. Consistiam em traços feitos nas paredes das cavernas, ou nas mãos em negativo. Somente muito tempo depois de dominar a técnica é que o ser humano começou a desenhar e a pintar animais. (PROENÇA, 2007) Os grupos humanos desse período esperavam que a forma como os animais eram desenhados, influenciaria diretamente na aquisição da caça. Pode-se pensar aquela rudimentar utilidade gráfica. Novamente seguindo o pensamento de Proença (2007), caso a figura representada mostrasse um animal mortalmente ferido no desenho, poderia caçá-lo na vida real. (PROENÇA, 2007, p.11). Outro exemplo da utilização de imagens sequenciais com o objetivo de contar histórias pode ser encontrado no antigo Egito. A exploração desse recurso tinha um valor precioso, visto que reportavam o cotidiano e as crenças deste povo. McCloud (2005) sugere, por exemplo, indícios em antigas pinturas egípcias (não os hieróglifos, que eram 1 Trabalho apresentado no DT 1 Jornalismo do XV Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste realizado de 14 a 16 de junho de 2012. 2 Estudante de Graduação 4.º semestre do Curso de Jornalismo da UFC, email: aljornalismos@gmail.com 1

a escrita desse povo), como uma de 1.300 a.c. para a tumba do escriba Menna, onde uma série de acontecimentos ordenados são identificados, mas sem texto, sem requadros separando uma cena da outra, e lendo-se em ziguezague (McCloud, 2005). Santos (2009) elucida que na Europa do final do século XV era possível para a população o acesso a chamada Bíblia dos pobres - livro com passagens bíblicas relatadas por meio de palavras e imagens era um incunábulo xilográfico adquirido por aqueles que não dominavam a leitura e assimilavam por meio de elementos pictóricos (desenhos) justapostos sequencialmente. (SANTOS, 2009). Desde essa época muito se avançou em termos de tecnologia gráfica. Os quadrinhos posteriormente cresceram como meio de comunicação de massa de alcance bastante popular que agrada ao público em geral. Desde seu surgimento, os quadrinhos acompanharam grandes eventos da sociedade moderna e hoje se estabelecem como um vetor cultural abrangente. Sobre os quadrinhos nos fala o escritor e cartunista Spiegelman: Os quadrinhos são um meio de expressão bastante denso. Transmitem informações muito concentradas em relativamente poucas palavras e imagenscódigo simples. Isso parece ser um modelo de como o cérebro formula pensamentos e lembranças. Pensamos na forma de desenhos. Os quadrinhos tem demonstrado com frequência como servem bem para contar histórias de aventuras cheias de ação ou humor, mas a pequena escala de imagens e o caráter direto desse meio, que tem algo a ver com a escrita à mão, permitem aos quadrinhos um tipo de intimidade que também os torna surpreendentemente adequados para autobiografia. (SPIEGELMAN, 2001, p. VII-VIII) Jornalismo e Balões A recente no Brasil temos o caso da revista Piauí. New Yorker e mais Muitas datas e especulações giram em torno do surgimento dos quadrinhos, ou arte sequencial como define o desenhista e escritor Will Eisner (EISNER, 1995). Sua associação com as páginas dos jornais surge, mais especificamente, em cadernos 2

dominicais onde em 1896 nasce o personagem The Yellow Kid, considerada por alguns como a primeira história em quadrinhos. Seu criador, Richard Fenton Outcalt, trouxe um novo elemento: o balão, recurso gráfico onde são reunidas as falas e pensamentos dos personagens e que, de certa forma, constitui característica estética e comunicativa primordial dentro da nona arte. Dessa forma, a pesquisadora Luyten (1985) observa que os quadrinhos ã códigos de signos : ã que define a hi (LUYTEN 1985 11 e 19). Ainda sobre a gênese da relação entre arte sequencial e a mídia impressa, o teórico canadense Marshall Mcluhan descreve essa aproximação: As estórias em quadrinhos (...) possuem uma forma de expressão altamente participante, perfeitamente adaptada à forma em mosaico do jornal. Dão também um sentido de continuidade de continuidade de um dia para o outro. Também as noticias sobre pessoas são de baixo teor informacional e por isso convidam que o leitor as preencha, exatamente como acontece com a imagem da televisão (...). (MCLUHAN, 2007, p. 189). N ã ã. E isto incentiva ã leitor, uma vez que, para entender o poder gráfico da HQ, é preciso ã (EISNER, 1995. p. 8). Para Silva (2012) é necessário delimitar as relações entre as duas nomenclaturas afins com o objetivo de evitar a confusão em seu uso. O autor explica brevemente, de quadrinhos e com quadrinhos para impedir que hajam. O primeiro termo significa em conjunto das duas linguagens. - ã. Já o jornalismo de quadrinhos refere-se aquele especializado. (SILVA, 2012). 3

Reportagem em HQ O jornalista e cartunista maltês Joe Sacco é atualmente o nome mais exaltado ou lembrado quando trata-se da temática Jornalismo em Quadrinhos. A constante circulação e divulgação de sua obra, disponibilidade de entrevistas e a quantidade de trabalhos acadêmicos costumam fazer do autor uma referência. É interessante perceber que, apesar do pioneirismo em nomear o Jornalismo em quadrinhos e dar visibilidade a essa nova linguagem híbrida, o jornalista e quadrinista maltês Joe Sacco não é o único, tampouco o primeiro a experimentar a forma narrativa do JHQ. Embora a obra de Sacco ã jornalismo em quadrinhos, houve precursores. Maus entrevista no formato de HQ, onde o artista entrevista Vladek, seu pai, que relata ao filho sua juventude em guetos d. Por exemplo, em 1988, a editora e roteirista de quadrinhos Joyce Brabner produziu um livro reportagem em quadrinhos chamado Brought to Light. Como não havia ainda um nome para esse conceito, o livro foi apresentado como um graphic docudrama (DUTRA, 2003: 14). Tal forma de produzir o livro foi inovadora para o Jornalismo em HQ. A produção brasileira Duas iniciativas de contínuas publicações sobre reportagens em quadrinhos no mundo podem ser destacadas: o site Archcomix e o Cartoon Movement. Este último divulga diariamente em sua programação mais de cem colaboradores, distribuídos em cerca de sessenta países, entre eles o jornalista e pesquisador brasileiro Augusto Paim. Em 2011, Paim acompanhado do desenhista MauMau acompanharam a ocupação do Morro do Alemão, no Rio de Janeiro. Com Inside the Favelas, o jornalista tinha como objetivo desmistificar e problematizar a questão da ocupação do Morro do Alemão e buscar um olhar mais próximo da favela, diferente do praticado pela grande mídia. Já a reportagem em quadrinhos A Marcha da Maconha relatou a experiência de dois jornalistas presentes a esta manifestação. Os repórteres entrevistaram os 4

militantes, além de registrarem os momentos através de fotos. Através desse material, reproduziram em seu produto o que a simbiose entre jornalismo e a nona arte é possível: não se perder o cunho informativo jornalístico, nem a artisticidade dos quadrinhos. Este trabalho fez parte de uma publicação produzida na Universidade Federal da Bahia. Outros exemplos seguem o ritmo das academias. Dois trabalhos de conclusão de cursos de Jornalismo em Imperatriz e em Natal tiveram reportagens em quadrinhos, O Repórter Ó ã : U F O que vai ser M ã Em Dezembro de 2012, o Instituto Itaú Cultural de São Paulo, através do Programa Rumos Jornalismo Cultural publicou por meio da jornalista Bárbara Pustai a reportagem N -se inédito, pois além de recortar as origens da reportagem em quadrinhos, Pustai lançou-se na produção de uma reportagem nessa plataforma. 5

Diante da experiência, a jornalista elaborou um infográfico onde é explicitado todas as etapas de uma produção de reportagem em quadrinhos. Nota-se que a presença do desenhista recupera a função do operador de câmera, quando tratamos de uma matéria em vídeo. 6

A narrativa criativa Diante desse atual cenário o processo que viabiliza a produção jornalística dentro da plataforma quadrinhos ainda não possui uma identidade brasileira. Este trabalho opta por entender que a universalidade permitida pela linguagem presente na nona arte permite que os mais distintos temas sejam publicados. A reportagem em quadrinhos deve obedecer estritamente aos dois universos que compõe esse gênero. A apuração, a profundidade e a busca pelos fatos verídicos devem obedecer a liberdade e ludicidade que os elementos gráficos dos quadrinhos reúne. É comum aos relatos destes profissionais que a experiência mostrou-se como algo totalmente diferente do jornalismo praticado atualmente. Há, durante o processo. O que pode ser definido como resgate de um jornalismo romântico (PAIM, 2012). O profissional vai à rua e experimenta as situações. Dessa forma, é capaz de reproduzir com mais riqueza o recorte noticiado. Ao ousar investir em um novo modo narrativo, esses profissionais dedicaram ao jornalismo um serviço que deve ser comum à sua área: informar e oferecer um produto de qualidade. A linguagem do quadrinho empresta ferramentas narrativas extras dentro do processo de montagem da notícia. REFERÊNCIAS ADORNO, Theodor W. Dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985. ALVIM, Érica Magalhães Silva. História, memória e reportagem nos quadrinhos: Maus, de Art Spiegelman. São Paulo: PUC, 2005. [Trabalho de Conclusão de Curso - Especialização em Jornalismo] CALVINO, Italo. Seis propostas para o próximo milênio: lições americanas São Paulo: Companhia das Letras, 1990. CAMPOS, Maria, LOMBOGLIA, Ruth. HQ: uma manifestação de arte IN: LUYTEN, Sonia M. Bibe (org.). Histórias em quadrinhos: leitura crítica. São Paulo: Ed. Paulinas, 1985. DUTRA, Antonio Aristides Correia. Quadrinhos e Jornal uma correspondência biunívoca. São Paulo São Paulo. 2000. 7

ECO, Umberto. Leituras de Steve Canyon. In Apocalípticos e Integrados. São Paulo: Perspectiva, 2004. 6ª ed. EISNER, Will. Quadrinhos e arte sequencial. São Paulo: Martins Fontes, 1995. KUNCZIK, Michael. Conceitos de Jornalismo Norte e Sul: Manual de Comunicação. MARTINEZ, Luciana. Fugir do conflito ao contar a História é impossível, diz Joe Sacco. Disponível em <http://oglobo.globo.com/mundo/fugir-do-conflito-ao-contar-historiaimpossivel-diz-joe-sacco-5832646> Acesso em 10/09/2012. McLOUD, Scott. Desvendando os quadrinhos. São Paulo: MBooks, 2005. MCLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação como extensões do homem. São Paulo: Cultrix, 2007. MOYA, Álvaro de. História das histórias em quadrinhos. São Paulo: Brasiliense, 1993. PAIM, Augusto. Jornalismo em quadrinhos: os filhos de Joe Sacco. Disponível em http://www.revistadacultura.com.br:8090/revista/rc44/index2.asp?page=materia1 Acesso em 10/09/2011. PUSTAI, Bárbara. O jogo da notícia. Disponível em http://jogodanoticia.wordpress.com/ Acesso em 12/12/2012. RAMOS, Paulo. A leitura dos quadrinhos. São Paulo: Contexto, 2009. SACCO, Joe. Área de segurança Gorazde: a guerra na Bósnia Oriental 2. ed rev. São Paulo: Conrad, 2005. SACCO, Joe. Uma história de Sarajevo. São Paulo: Conrad, 2005. Tradução de Rafael Varela Jr. São Paulo: USP/ ComArte, 1997. SANTOS, R, E. Histórias em Quadrinhos e mídia digital: linguagem, hibridização e novas possibilidades estéticas e mercadológicas IN: SANTOS, Roberto Elísio dos/ VARGAS, Herom/ CARDOSO, João Batista F. (orgs.). Mutações da cultura midiática 1. Ed. São Paulo: Paulinas, 2009. 8