A Atividade dos Psicólogos Jurídicos do Tribunal de Justiça da Paraíba Camila Yamaoka Mariz Maia Mestranda em Psicologia Social pela Universidade Federal da Paraíba (maiacamila@hotmail.com) Anísio José da Silva Araújo Universidade Federal da Paraíba Ana Paula Lima da Silva Universidade Federal da Paraíba Resumo: A Psicologia Jurídica é uma área emergente da ciência psicológica, quando comparada às áreas tradicionais de atuação da Psicologia, como a clínica e a organizacional, e tem como característica sua interface com o Direito. Costa e Cruz (2005) afirmam que o percurso realizado desde o surgimento das primeiras atividades psicológicas desenvolvidas no âmbito do Poder Judiciário demonstra que as organizações de Justiça constituem um campo propício à atuação do psicólogo, tendo em vista o volume de conflitos que para elas convergem. Sabaté (apud Brito, 1993) diz ainda que, a idéia de que todo o Direito, ou grande parte dele, está impregnado de componentes psicológicos justifica a contribuição da Psicologia na obtenção da eficácia jurídica. A história nos mostra que a primeira aproximação da Psicologia com o Direito ocorreu no final do século XIX e originou o que ficou conhecido como a psicologia do testemunho. Esta, segundo Altoé (2004), procurava verificar, por meio do estudo experimental dos processos psicológicos, a fidedignidade do relato do sujeito envolvido em um processo jurídico. Brito (1993) afirma que o que se pretendia era verificar se os processos internos propiciam ou dificultam a veracidade do relato. Essa verificação era realizada através da aplicação de testes, buscando-se a compreensão dos comportamentos dos sujeitos envolvidos na ação jurídica. Desta história inicial decorreu uma prática voltada quase que exclusivamente à realização de perícia. A finalidade da perícia assenta-se, segundo Amaral Santos (apud Silva, 2003), na conveniência ou necessidade de fornecer ao juiz informações que escapam ao seu conhecimento jurídico, por mais culto ou instruído que ele seja, ou ao senso comum. Por lidar com aspectos subjetivos, conscientes e inconscientes, que estão além do alcance da objetividade jurídica, a perícia deve ser sempre considerada como necessária. O psicólogo que atua nas Instituições Jurídicas exerce a função de Perito, e, de acordo com Silva (2003), o perito psicólogo é um profissional de confiança do juiz, com conhecimentos técnico-científicos suficientes para realizar as atividades periciais, devidamente registrado no órgão de classe competente (Conselho Regional de Psicologia - CRP) e em pleno gozo de suas atribuições profissionais. Os peritos assumem o compromisso de imparcialidade na avaliação dos casos, comprometendo-se a fornecer um parecer técnico-psicológico sobre as questões formuladas pelo magistrado e de responder aos quesitos elaborados pelos advogados das partes e pelo ministério público (Bernardes, 2005). Muitas pessoas buscam o Judiciário com a esperança de que o poder decisório do juiz resolva seus problemas. O que ocorre, porém, de acordo com Silva (2003), é uma transferência da responsabilidade de
decisão para a figura do juiz, buscando neste uma solução mágica e imediata para todos os conflitos. Por isso, o juiz pode (e deve) recorrer ao auxílio do psicólogo jurídico para dirimir os conflitos ocorridos na dinâmica familiar, trazidos às Varas da Infância e Juventude ou às Varas de Família, a exemplo de questões que envolvem tutela, adoção, curatela, casamento, incapacidade para os atos da vida civil, pedidos de guarda de criança ou adolescente, entre outras. O que se busca, através dos procedimentos e funções desse profissional, é uma forma de auxiliar o poder decisório do juiz ou do promotor, de modo a respeitar e proteger os direitos das pessoas envolvidas no processo, especialmente os direitos das crianças e/ou adolescentes. O trabalho do psicólogo jurídico que, em sua fase inicial, quase que se restringia a fazer perícia e emitir parecer, hoje tem ganhado novas modalidades, ou seja, seu trabalho tem sido também o de informar, apoiar, acompanhar e dar orientação pertinente a cada caso atendido nos diversos âmbitos do sistema judiciário. Já há, nesse sentido, uma preocupação com a promoção da saúde mental das pessoas que estão envolvidas em causas junto à justiça. Silva (2003) chama atenção para o fato de que, a principal dificuldade para a solidificação do campo da psicologia jurídica consiste na ausência de formação nessa especialidade na maioria dos cursos de graduação e pós-graduação das universidades públicas e privadas brasileiras. Diante de tudo isso, o objetivo geral desse estudo é analisar a atividade dos psicólogos que atuam no Tribunal de Justiça da Paraíba. Como objetivos específicos, destacamos os seguintes: Analisar a relação entre o trabalho prescrito (a tarefa) e o trabalho real (a atividade) dos psicólogos que atuam junto à justiça; identificar as fontes de prazer e sofrimento existentes no trabalho; identificar/compreender as estratégias de defesa elaboradas por esses psicólogos; investigar as relações dos psicólogos: com os pares e outros profissionais; com os magistrados e com os usuários do serviço; analisar o grau de autonomia dos psicólogos frente aos outros saberes profissionais; colaborar na delimitação do trabalho do psicólogo jurídico, em nível local e nacional, tendo por referência a atividade. Para dar conta de tais objetivos utilizamos dois aportes teóricos: a Ergonomia da atividade (Guérin et al., 2001) e a Psicodinâmica do Trabalho (Dejours, 1980, 1994). A Ergonomia situada ou da atividade que, como a própria denominação sugere, tem como objeto de estudo a atividade, em contraposição à tarefa/prescrição. É uma disciplina que vem oferecendo uma contribuição importante no sentido de repensar as situações de trabalho, viabilizando a descoberta de uma defasagem entre o trabalho prescrito e o trabalho real. O trabalho prescrito é aquele que é estabelecido a priori pela gerência, e o trabalho real, por sua vez, é aquele efetivamente desenvolvido pelos trabalhadores. O trabalho real é testemunho do investimento técnico, afetivo, cognitivo e criativo dos trabalhadores mobilizados para reinterpretar as tarefas e/ou prescrições. Tal defasagem responde pela mobilização de uma inteligência prática no sentido de gerir as variabilidades das situações de trabalho. Uma outra abordagem que nos ajuda a refletir a relação trabalho/saúde é a Psicodinâmica do Trabalho (PDT), disciplina voltada à discussão da relação trabalho e saúde mental, a partir da análise do sofrimento e das defesas acionadas para minimizá-lo. Procura, desse modo, entender o destino desse sofrimento: a
desmobilização, o adoecimento, que tanto pode encaminhar-se para a descompensação ou para a criatividade e originalidade, e o prazer no trabalho. De acordo com Dejours e Abdoucheli (1994), entre o trabalho e o sofrimento interpõe-se um indivíduo que compreende sua situação, que é capaz de agir e de se defender de forma singular. A perspectiva metodológica adotada nesse estudo é de base qualitativa e os participantes da pesquisa são 10 psicólogos que trabalham no Tribunal de Justiça da Paraíba, particularmente 06 no Setor Psicossocial e 04 nas 1ª e 2ª Varas da Infância e Juventude. O Setor Psicossocial atende às Varas de Família, onde os casos envolvem divórcio (consensual ou litigioso), com ou sem disputa da guarda dos filhos menores, regulamentação das visitas, modificação da guarda, pensão alimentícia, investigação de paternidade. Aos psicólogos é demandada a análise dos aspectos psicológicos das pessoas envolvidas em processos judiciais, sobretudo no que se refere às questões afetivocomportamentais da dinâmica familiar, ocultas nas relações processuais e que garantam o direito e o bem estar da criança e/ou adolescente, a fim de auxiliar o juiz na tomada de uma decisão que melhor atenda ás necessidades dessas pessoas. As Varas da Infância e da Juventude lidam, predominantemente, com questões ligadas à atos infracionais cometidos por adolescentes, adoção, maus tratos, negligência dos pais ou responsáveis, abuso sexual e acolhimento da criança ou adolescente em instituições. Nestes casos, a presença e o acompanhamento direto do psicólogo são fundamentais para um adequado estudo de caso e redação de um laudo pericial que auxilie o juiz na tomada de uma decisão mais favorável aos interesses da criança e/ou adolescente. Como técnicas de pesquisa, utilizamos a entrevista individual semi-estruturada e o grupo de discussão. No tocante a entrevista, Minayo (1998) a considera um instrumento privilegiado de produção de dados para as ciências sociais, pois a fala é reveladora de condições estruturais, sistemas de valores, normas e símbolos, além de representações de grupos determinados, em condições históricas, sócioeconômicas e culturais específicas. Assim como as entrevistas individuais, os grupos de discussão também devem ser valorizados, seja em si mesmo seja como técnica complementar. Nesse caso, o interesse se volta para as opiniões, relevâncias e valores dos entrevistados. De acordo com as entrevistas já realizadas, mas ainda em fase de análise, podemos destacar, como antecipação de resultados, que devido ao Tribunal de Justiça da Paraíba não contemplar em seu organograma a função de psicólogo jurídico, a inserção profissional desses profissionais, nos setores onde trabalham, não se deu por via de concurso público, sendo, desta forma, todos cedidos de outros setores ou até mesmo de outras instituições, o que facilita também a ocorrência do desvio de função, o que causa uma certa insegurança nesses profissionais. Outra questão que vem emergindo na análise dessas entrevistas é a da insatisfação salarial, já que esses profissionais não recebem uma gratificação específica por ocupar tal cargo. Foi apontado como falta de reconhecimento o fato de a instituição não investir em treinamentos na equipe, como também ao fato de que a equipe não recebe retorno dos processos atendidos, ou seja, não tomam conhecimento das decisões do juiz nos casos em que atuaram. A nossa perspectiva nesse estudo é, por meio do mergulho na atividade do Psicólogo jurídico,
compreender melhor o seu trabalho, os métodos de que se utiliza, os dilemas e variabilidades enfrentadas e as soluções encontradas. Desse modo, estaremos contribuindo para a consolidação de um campo de atuação da Psicologia que vem adquirindo uma importância crescente. Eixo Temático: Trabalho Apresentação A Psicologia Jurídica é uma área emergente da ciência psicológica, quando comparada às áreas tradicionais de atuação da Psicologia, como a clínica e a organizacional, e tem como característica sua interface com o Direito. Costa e Cruz (2005) afirmam que o percurso realizado desde o surgimento das primeiras atividades psicológicas desenvolvidas no âmbito do Poder Judiciário demonstra que as organizações de Justiça constituem um campo propício à atuação do psicólogo, tendo em vista o volume de conflitos que para elas convergem. Sabaté (apud Brito, 1993) diz ainda que, a idéia de que todo o Direito, ou grande parte dele, está impregnado de componentes psicológicos justifica a contribuição da Psicologia na obtenção da eficácia jurídica. A história nos mostra que a primeira aproximação da Psicologia com o Direito ocorreu no final do século XIX e originou o que ficou conhecido como a psicologia do testemunho. Esta, segundo Altoé (2004), procurava verificar, por meio do estudo experimental dos processos psicológicos, a fidedignidade do relato do sujeito envolvido em um processo jurídico. Brito (1993) afirma que o que se pretendia era verificar se os processos internos propiciam ou dificultam a veracidade do relato. Essa verificação era realizada através da aplicação de testes, buscando-se a compreensão dos comportamentos dos sujeitos envolvidos na ação jurídica. Essa verificação era realizada através da aplicação de testes, buscando-se a compreensão dos comportamentos dos sujeitos envolvidos na ação jurídica. Desta história inicial decorreu uma prática voltada quase que exclusivamente à realização de perícia. A finalidade da perícia assenta-se, segundo Amaral Santos (apud Silva, 2003), na conveniência ou necessidade de fornecer ao juiz informações que escapam ao seu conhecimento jurídico, por mais culto ou instruído que ele seja, ou ao senso comum. Por lidar com aspectos subjetivos, conscientes e inconscientes, que estão além do alcance da objetividade jurídica, a perícia deve ser sempre considerada como necessária. O psicólogo que atua nas Instituições Jurídicas exerce a função de Perito, e, de acordo com Silva (2003), o perito psicólogo é um profissional de confiança do juiz, com conhecimentos técnico-científicos suficientes para realizar as atividades periciais, devidamente registrado no órgão de classe competente (Conselho Regional de Psicologia - CRP) e em pleno gozo de suas atribuições profissionais. Os peritos assumem o compromisso de imparcialidade na avaliação dos casos, comprometendo-se a fornecer um
parecer técnico-psicológico sobre as questões formuladas pelo magistrado e de responder aos quesitos elaborados pelos advogados das partes e pelo ministério público (Bernardes, 2005). As questões humanas tratadas no âmbito do direito e do judiciário são das mais complexas. Segundo Altoé (2004), o que está em questão é o modo como as leis que regem o convívio dos homens e das mulheres em uma dada sociedade pode facilitar a resolução dos conflitos. Muitas questões não são meramente burocráticas ou processuais, mas revelam situações delicadas, difíceis e dolorosas, como: pais que disputam a guarda de seus filhos ou que reivindicam direito de visitação, pois não conseguem fazer um acordo amigável com o pai ou a mãe de seu filho; maus-tratos e violência sexual contra crianças, praticado por um dos pais ou pelo(a) companheiro(a); casais que anseiam adotar uma criança por terem dificuldades de gerar filhos; pais que adotam e não ficam satisfeitos com o comportamento da criança e devolvem-na ao Juizado; jovens que se envolvem com drogas/tráfico, ou, passam a ter outros comportamentos que transgridem a lei, e seus pais não sabem como fazer para ajudá-los. Muitas pessoas buscam o Judiciário com a esperança de que o poder decisório do juiz resolva seus problemas. O que ocorre, porém, de acordo com Silva (2003), é uma transferência da responsabilidade de decisão para a figura do juiz, buscando neste uma solução mágica e imediata para todos os conflitos. Por isso, o juiz pode (e deve) recorrer ao auxílio do psicólogo jurídico para dirimir os conflitos ocorridos na dinâmica familiar, trazidos às Varas da Infância e Juventude ou às Varas de Família, a exemplo de questões que envolvem tutela, adoção, curatela, casamento, incapacidade para os atos da vida civil, pedidos de guarda de criança ou adolescente, entre outras. O que se busca, através dos procedimentos e funções desse profissional, é uma forma de auxiliar o poder decisório do juiz ou do promotor, de modo a respeitar e proteger os direitos das pessoas envolvidas no processo, especialmente os direitos das crianças e/ou adolescentes. Brito (2005) afirma que hoje, o exercício da Psicologia Jurídica nas diversas instituições não se restringe à elaboração de psicodiagnósticos ou à identificação de patologias, apesar de reconhecer a contribuição que este procedimento pode oferecer à Justiça. Há necessidade de que os profissionais, a partir de parâmetros de sua especialidade, possam responder sobre o valor de sua intervenção junto à Justiça, desmistificando a visão de um trabalho estritamente de cunho pericial. Deste modo, o trabalho do psicólogo jurídico que, em sua fase inicial, quase que se restringia a fazer perícia e emitir parecer, hoje tem ganhado novas modalidades, ou seja, seu trabalho tem sido também o de informar, apoiar, acompanhar e dar orientação pertinente a cada caso atendido nos diversos âmbitos do sistema judiciário. Já há, nesse sentido, uma preocupação com a promoção da saúde mental das pessoas que estão envolvidas em causas junto à justiça.
Silva (2003) chama atenção para o fato de que, a principal dificuldade para a solidificação do campo da psicologia jurídica consiste na ausência de formação nessa especialidade na maioria dos cursos de graduação e pós-graduação das universidades públicas e privadas brasileiras. Diante de tudo isso, o objetivo geral desse estudo é analisar a atividade dos psicólogos que atuam no Tribunal de Justiça da Paraíba. Como objetivos específicos, destacamos os seguintes: Analisar a relação entre o trabalho prescrito (a tarefa) e o trabalho real (a atividade) dos psicólogos que atuam junto à justiça; identificar as fontes de prazer e sofrimento existentes no trabalho; identificar/compreender as estratégias de defesa elaboradas por esses psicólogos; investigar as relações dos psicólogos: com os pares e outros profissionais; com os magistrados e com os usuários do serviço; analisar o grau de autonomia dos psicólogos frente aos outros saberes profissionais; colaborar na delimitação do trabalho do psicólogo jurídico, em nível local e nacional, tendo por referência a atividade. Para dar conta de tais objetivos utilizamos dois aportes teóricos: a Ergonomia da atividade (Guérin et al., 2001) e a Psicodinâmica do Trabalho (Dejours, 1980, 1994). A Ergonomia situada ou da atividade que, como a própria denominação sugere, tem como objeto de estudo a atividade, em contraposição à tarefa/prescrição. É uma disciplina que vem oferecendo uma contribuição importante no sentido de repensar as situações de trabalho, viabilizando a descoberta de uma defasagem entre o trabalho prescrito e o trabalho real. O trabalho prescrito é aquele que é estabelecido a priori pela gerência, e o trabalho real, por sua vez, é aquele efetivamente desenvolvido pelos trabalhadores. O trabalho real é testemunho do investimento técnico, afetivo, cognitivo e criativo dos trabalhadores mobilizados para reinterpretar as tarefas e/ou prescrições. Tal defasagem responde pela mobilização de uma inteligência prática no sentido de gerir as variabilidades das situações de trabalho. Uma outra abordagem que nos ajuda a refletir a relação trabalho/saúde é a Psicodinâmica do Trabalho (PDT), disciplina voltada à discussão da relação trabalho e saúde mental, a partir da análise do sofrimento e das defesas acionadas para minimizá-lo. Procura, desse modo, entender o destino desse sofrimento: a desmobilização, o adoecimento, que tanto pode encaminhar-se para a descompensação ou para a criatividade e originalidade, e o prazer no trabalho. De acordo com Dejours e Abdoucheli (1994), entre o trabalho e o sofrimento interpõe-se um indivíduo que compreende sua situação, que é capaz de agir e de se defender de forma singular. Método
A perspectiva metodológica adotada nesse estudo é de base qualitativa e os participantes da pesquisa são 10 psicólogos que trabalham no Tribunal de Justiça da Paraíba, particularmente 06 no Setor Psicossocial e 04 nas 1ª e 2ª Varas da Infância e Juventude. O Setor Psicossocial atende às Varas de Família, onde os casos envolvem divórcio (consensual ou litigioso), com ou sem disputa da guarda dos filhos menores, regulamentação das visitas, modificação da guarda, pensão alimentícia, investigação de paternidade. Aos psicólogos é demandada a análise dos aspectos psicológicos das pessoas envolvidas em processos judiciais, sobretudo no que se refere às questões afetivocomportamentais da dinâmica familiar, ocultas nas relações processuais e que garantam o direito e o bem estar da criança e/ou adolescente, a fim de auxiliar o juiz na tomada de uma decisão que melhor atenda ás necessidades dessas pessoas. As Varas da Infância e da Juventude lidam, predominantemente, com questões ligadas à atos infracionais cometidos por adolescentes, adoção, maus tratos, negligência dos pais ou responsáveis, abuso sexual e acolhimento da criança ou adolescente em instituições. Nestes casos, a presença e o acompanhamento direto do psicólogo são fundamentais para um adequado estudo de caso e redação de um laudo pericial que auxilie o juiz na tomada de uma decisão mais favorável aos interesses da criança e/ou adolescente. Como técnicas de pesquisa, utilizamos a entrevista individual semi-estruturada e o grupo de discussão. No tocante a entrevista, Minayo (1998) a considera um instrumento privilegiado de produção de dados para as ciências sociais, pois a fala é reveladora de condições estruturais, sistemas de valores, normas e símbolos, além de representações de grupos determinados, em condições históricas, sócio-econômicas e culturais específicas. Assim como as entrevistas individuais, os grupos de discussão também devem ser valorizados, seja em si mesmo seja como técnica complementar. Nesse caso, o interesse se volta para as opiniões, relevâncias e valores dos entrevistados. Antecipação dos Resultados De acordo com as entrevistas já realizadas, mas ainda em fase de análise, podemos destacar, como antecipação de resultados, que devido ao Tribunal de Justiça da Paraíba não contemplar em seu organograma a função de psicólogo jurídico, a inserção profissional desses profissionais, nos setores onde trabalham, não se deu por via de concurso público, sendo, desta forma, todos cedidos de outros setores ou até mesmo de outras instituições, o que facilita também a ocorrência do desvio de função, o que causa uma certa insegurança nesses profissionais.
Outra questão que vem emergindo na análise dessas entrevistas é a da insatisfação salarial, já que esses profissionais não recebem uma gratificação específica por ocupar tal cargo, o que resulta no fato de que os mesmos não possuem seus salários equiparados, ou seja, desenvolvem a mesma função, com salários diferentes. Foi apontado como falta de reconhecimento, alem da questão salarial, o fato de a instituição não investir em treinamentos na equipe, como também ao fato de que a equipe não recebe retorno dos processos atendidos, ou seja, não tomam conhecimento das decisões do juiz nos casos em que atuaram. A nossa perspectiva nesse estudo é, por meio do mergulho na atividade do Psicólogo jurídico, compreender melhor o seu trabalho, os métodos de que se utiliza, os dilemas e variabilidades enfrentadas e as soluções encontradas. Desse modo, estaremos contribuindo para a consolidação de um campo de atuação da Psicologia que vem adquirindo uma importância crescente. Referências Bibliográficas ALTOÉ, S. <http://www.estig.ipbeja.pt/~ac_direito/psicologia_juridica.pdf>. Acesso em abril de 2004. AMARAL SANTOS, M. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil. São Paulo: Saraiva, 2º vol., 15ª ed. (1993). BRITO, L. M. T. Separando: Um Estudo Sobre a Atuação do Psicólogo nas Varas de Família. Rio de Janeiro: UERJ. (1993). BRITO, L. M. T.. Reflexões em Torno da Psicologia Jurídica. In: Cruz, R. M. & Maciel, S. K. & Ramirez, D. C. (Orgs.) (2005). O Trabalho do Psicólogo no Campo Jurídico. São Paulo: Casa do Psicólogo. (2005) COSTA, F. N. & Cruz, R. M.. Atuação de Psicólogos em Organizações de Justiça do Estado de Santa Catarina. In: Cruz, R. M. & Maciel, S. K. & Ramirez, D. C. (Orgs.) (2005). O Trabalho do Psicólogo no Campo Jurídico. São Paulo: Casa do Psicólogo. (2005) DEJOURS, C. A loucura do Trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho. São Paulo: Cortez-Oboré. (1992). DEJOURS, C. Addendun: da Psicopatologia à Psicodinâmica do Trabalho. In: Lanmam, S. & SznelWar, L. I. (Orgs) (2004). Cristophe Dejours: da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ; Brasília: Paralelo 15. (1993). DEJOURS, C. & ABDOUCHELI, E. Itinerário Teórico em Psicopatologia do Trabalho. In: Dejours, C., Abdoucheli, E. & Jayet, C. Psicodinâmica do Trabalho: Contribuições da Escola Dejouriana à Análise da Relação Prazer, Sofrimento e Trabalho. São Paulo: Atlas. (1994). DEJOURS, C. Novas Formas de Organização do Trabalho e Lesões por Esforços Repetitivos (LER): abordagem através da psicodinâmica do trabalho. In: Sznelwar, L. I. & Zidan, L. (Orgs). N. O trabalho humano com sistemas informatizados no setor de serviços. São Paulo: Plêiade. (2000).
GUÉRIN et al. Compreender o trabalho para transformá-lo. São Paulo: Edgard Blucher. (2001). MINAYO, M. C. S. Pesquisa Qualitativa em Saúde.São Paulo Rio de Janeiro: ed. HUCITEC ABRASCO. 2ª ed. (1993). MINAYO, M. C. S. (Org), Deslandes, S. F., Neto, O. C. & Gomes, R. Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. Petrópolis RJ: Vozes, 9ª ed. (1998). SILVA, D.M.P. Psicologia Jurídica no Processo Civil Brasileiro: a interface da psicologia com direito nas questões de família e infância. São Paulo - Casa do Psicólogo. (2003).