Os Efeitos da Licença Maternidade sobre Salários e Emprego da Mulher no Brasil

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Transcrição:

Os Efeitos da Licença Maternidade sobre Salários e Emprego da Mulher no Brasil Sandro Sacchet de Carvalho Sergio Firpo Gustavo Gonzaga Departamento de Economia PUC-Rio Novembro 2005

Estrutura da Apresentação Motivação e Objetivos Considerações Teóricas Literatura sobre Efeitos da Licença Maternidade Dados e Metodologia Resultados Conclusão

Motivação Mais de cem países estabeleceram algum tipo de licença maternidade ou legislação que visasse proteger a mulher no mercado de trabalho. Os rendimentos femininos tendem a ser inferiores aos masculinos nos mercados de trabalho de todos os países para os quais existem dados disponíveis.

Motivação Parte desse diferencial talvez seja influenciado pelo de a mulher arcar com a maior parte do trabalho familiar. A legislação referente à licença maternidade pode ter um papel fundamental sobre a inserção da mulher no mercado de trabalho. Em agosto foi apresentado ao Senado Federal um projeto de lei que prevê a extensão da licença para seis meses.

Objetivos Este trabalho irá procurar estudar os efeitos da licença maternidade, utilizando o experimento natural proporcionado pela constituição de 88 que elevou a licença de 12 semanas para 120 dias. Procuraremos responder qual o impacto do aumento da licença em 88 sobre o salário e o emprego da mulher no mercado de trabalho.

Considerações Teóricas Efeitos de curto prazo da licença maternidade: Na medida em que a provisão do benefício impõe um custo sobre o empregador, a licença maternidade levará a uma queda de demanda relativa por trabalhadoras em idade fértil. Pelo lado da oferta, se trabalhadoras que valorizam o benefício, a licença maternidade levará a uma maior oferta de trabalho das mulheres em idade fértil. Nesses termos preveríamos uma queda no salário médio das mulheres e um efeito ambíguo sobre o emprego.

Considerações Teóricas

Considerações Teóricas Efeitos dinâmicos da licença: A decisão de se afastar por mais tempo do que permite a licença acarreta o abandono do capital humano específico à empresa acumulado. A trabalhadora provavelmente receberá um salário maior no antigo emprego do que em um novo emprego. Se elevar o tempo da licença faz com que um número menor de mulheres se demitam, a licença pode levar a um maior salário médio das mulheres.

Literatura sobre os efeitos da licença maternidade Os resultados refletem as questões dos custos que recaem sobre os empregadores dos incentivos que são gerados para as trabalhadoras. Os efeitos que a licença maternidade causa sobre os salários das trabalhadoras tendem a ser ligeiramente negativos, porém insignificantes. Os efeitos sobre emprego tendem a serem positivos

Literatura sobre os efeitos da licença maternidade Waldfogel (1999) e Ruhm (2003) concluem que a FMLA (EUA) não possuem efeitos tanto sobre salário quanto sobre emprego. Ruhm (1998) estudando países europeus conclui que o direito a licenças curtas tem efeito positivo de cerca de 3% sobre o emprego e pouco efeito sobre salários, já licenças mais longas elevam em 4% o emprego e diminuem em 2% os rendimentos. Zveglich e Rodgers (2003) para Taiwan, mostra que licença maternidade os resultados mostram um impacto positivo de 4,5% sobre as horas trabalhadas, 2,5% sobre o emprego e um impacto insignificante sobre os salários.

Dados e metodologia Utilizamos dados da PME para o período entre janeiro de 86 e dezembro de 91. Usamos a metodologia de diferenças em diferenças. Y = α + βw + γ trat * const + u it it 1tratit + γ 2constit + γ 3 Grupo de tratamento: mulheres com carteira entre 20 e 35 anos de idade. Grupos de controle: - Homens com carteira entre 20 e 35 anos de idade - Mulheres com carteira com mais de 35 anos - Mulheres sem carteira entre 20 e 35 anos. it it it

Resultados Efeitos sobre salários: Dados Agrupados Grupo de controle 88-89 86-91 86-91(c/ dummies para os anos) Homens com carteira -0.000 (0.006) 0.006 (0.005) 0.005 (0.005) Mulheres entre 36 e 65 0.013 (0.009) -0.004 (0.007) 0.001 (0.007) Erros Padrões robusto para cluster entre parênteses * significante a 5%; ** significante a 1%

Resultados Quando estimamos separadamente por escolaridade captamos um efeito mais negativo para as trabalhadoras com pouca educação. Também captamos um efeito positivo de longo prazo para as trabalhadoras mais educadas.

Resultados Para melhor captar os efeitos de longo prazo sobre salários, usamos os dados de painel da PME, aplicando a metodologia de Hausman e Taylor(1981). Efeitos sobre salários: Modelos HT Grupo de Controle Todos 0 a 4 5 a 8 Anos de Estudo 9 a 11 mais de 11 Homens com carteira 0.000 (0.005) 0.011 (0.010) -0.019 (0.008)* -0.014 (0.009) 0.011 (0.015) Mulheres entre 46 e 65 0.036 (0.006)** 0.049 (0.010)* 0.052 (0.012)** 0.020 (0.014) 0.081 (0.019)* * significante a 5%; ** significante a 1%

Resultados Testes de Robustez: Efeitos sobre a duração do emprego e a probabilidade de se demitir Homens com carteira Todos Anos de Estudo 0 a 4 5 a 8 9 a 11 mais de 11 Duração do emprego -0.009 0.048-0.066 0.177-0.063 (0.080) (0.143) (0.140) (0.154) (0.274) Probabilidade de se demitir -0.002 0.001 0.004-0.006-0.013 (0.009) (0.004) (0.016) (0.020) (0.032) * significante a 5%; ** significante a 1%

Resultados Teste de Robustez: Tratamento Fictício (Modelos HT) Escolaridade 86 Homens com carteira 87 89 90 86 Mulheres entre 46 e 65 87 89 90 Todos -0.009 (0.004)* 0.010 (0.005)* 0.004 (0.006) 0.040 (0.004)** 0.043 (0.008)** 0.036 (0.009)** 0.044 (0.010)** -0.023 (0.009)* 0 a 4-0.014 (0.006)* 0.006 (0.008) 0.004 (0.010) 0.072 (0.008)** 0.064 (0.010)** 0.035 (0.012)** 0.040 (0.013)** 0.016 (0.012) 5 a 8-0.012 (0.007) -0.002 (0.009) -0.027 (0.010)** 0.046 (0.008)** 0.040 (0.016)* 0.056 (0.020)** 0.063 (0.021)** -0.009 (0.017) 9 a 11-0.023 (0.007)** -0.009 (0.010) -0.013 (0.012) 0.033 (0.008)** 0.056 (0.024)* 0.074 (0.032)* 0.107 (0.035)** 0.071 (0.027)** mais de 11-0.001 (0.010) 0.025 (0.014) 0.038 (0.017)* 0.030 (0.012)* 0.091 (0.032)** 0.126 (0.043)** 0.044 (0.045) 0.035 (0.034) * significante a 5%; ** significante a 1%

Resultados Efeitos da licença sobre emprego Grupo de controle 86-87 88-89 90-91 Homens com carteira 0,008 (0,006) 0,004 (0,007) -0,002 (0,007) Mulheres entre 36 e 65 0,001 (0,008) 0,004 (0,010) 0,002 (0,009) Notas: Desvios padrões entre parênteses obtidos por bootstrap 100 repetições. *significante a 5%; ** significante a 1%.

Resultados Efeitos da licença sobre taxa de participação Grupo de controle 86-87 88-89 90-91 Homens com carteira 0,007 (0,003)* -0,004 (0,005) 0,016 (0,004)** Mulheres entre 36 e 65 0,006-0,005 0,001 (0,003)* (0,003) (0,003) Notas: Desvios padrões entre parênteses obtidos por bootstrap 100 repetições. * significante a 5%; ** significante a 1%.

Resultados Efeitos da licença sobre emprego formal Grupo de controle 86-87 88-89 90-91 Homens com carteira 0.019 (0.005)** 0.015 (0.005)** -0.002 (0.005) Mulheres entre 36 e 65-0.003-0.006 0.007 (0.007) (0.006) (0.005) Notas: Desvios padrões entre parênteses obtidos por bootstrap 100 repetições * significante a 5%; ** significante a 1%.

Resultados A licença parece ter tido um impacto reduzido sobre salários no curto prazo. Não encontramos evidências de que a licença tenha eleva os salários das mulheres no longo prazo. Também não encontramos efeitos sobre o emprego, taxa de participação ou formalidade.

Conclusão O pouco efeito sobre salários corrobora a idéia de que a legislação impõe poucos custos ao empregador. A licença parece não ter elevado a retenção das mulheres no mercado de trabalho, ou mesmo sua oferta de trabalho. Nova proposta de licença provavelmente teria também impactos reduzidos.