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Poesia de: Andreia Santos - João Felinto Neto - Barata Cichetto Quintiniano - Karin - Renan Tempest - Arys Gaiovani Sr. Arcano - Paulo Fontenelle de Araujo Com influências de: Cruz e Sousa - Álvares de Azevedo - Gonçalves Dias

Fanzine nº 4 Publicação independente Março de 2016 Edição: Sr. Arcano COLABORADORES DESTA EDIÇÃO: Ÿ Andreia Santos - com o poema MINHAS ASAS NEGRAS Ÿ João Felinto Neto - com o poema DAMA NEGRA Ÿ Barata Cichetto - com o poema UMA SENHORA PUTA Ÿ Quintiniano - com o poema CANÇÃO Ÿ Karin - com o poema MENINA Ÿ Renan Tempest - com o poema SONETO GÓTICO Ÿ Arys Gaiovani - com o poema QUERIA PODER DIZER ADEUS... Ÿ Sr. Arcano - com o poema DAMA DEMÔNIA Ÿ Paulo Fontenelle de Araujo - com o poema UM CASAMENTO Você pode colaborar nas próximas edições enviando um e-mail com seu poema para: contato@senhorarcano.com Para entrar em contato com qualquer autor deste fanzine, solicite antes uma autorização ao editor, através do e-mail acima. Esta publicação não repassa a terceiros e-mail, telefone ou qualquer outra forma de contato de seus autores sem a permissão dos mesmos. Distribuição gratuita. Todos os direitos reservados. Você não pode fazer uso comercial dos textos desta obra sem a devida permissão dos autores. Gratidão, a ti, ó Musa; pois me ofereces consolo. CAPA E FOTOS: Fabiana Nery - Ovídio

Minhas asas negras Minhas asas negras Elas estão voando agora Eu apenas dei as minhas esperanças para alguém Porque eu estou cansada delas Minhas asas negras Elas estão voando agora Eu não me importo mais Para voar em dias de tempestade Eu não me importo mais Se a queda pode vir Minhas asas negras Deixaram-me segura E eu posso ouvir os ecos de sua tristeza E eu posso sentir a sua dor Quebrando-lhe o tempo todo em mim Minhas asas negras Elas estão voando agora Não há mais tempo para nós Não há mais nenhuma razão Poesia de: Para nos mantermos assim... Tão longe e tão perto Muitas vezes para nos perdermos De nós mesmos... Minhas asas negras Deixaram-me segura agora...

Dama negra Poesia de:

Uma senhora puta Poesia de:

Canção I Morrer... findar... dormir! Dormir um pouco e um tanto, Ter ao seio da terra Que há de enxugar-me o pranto. Dar adeus ao futuro, E aos dias da semana; São pobres os que ficam, Adeus, ó raça humana! Sem a ânsia de encontrar Qualquer coisa que seja, Mas dêem-me a ouvir apenas Os sinos de uma igreja. III Morrer... morrer de amor, talvez. Fartar o peito de paixões, E esperar que alguém me desbanque, Mas se tiver dois corações... E os meus montões de livros: Nada. Nem Mozart, Schubert ou Ravel. Apenas ficará cismando Um verso meu sobre o papel. E sobre as lindas flores: Não! Porquanto seja por um triz, Não as esbanje em minha campa, Que as caveiras não têm nariz... II E se não me derem luz, De que irei reclamar? Sei bem dos males do mundo Por ter o dom de enxergar... Fui na vida o não e o sim. Venci! Também fui vencido... Desgarro da espada e escudo Certo do dever cumprido. Não quero que ninguém siga Esses caminhos que trilho; Que maior fica a Desgraça Se dada aos olhos de um filho! Poesia de:

Poesia de: Menina

Soneto gótico Poesia de:

Queria poder dizer adeus... Como tudo, sempre acontece com o espessar da bruma noturna, infelizmente sofro, tenho toda alma marcada tão tristemente. Coexiste vida com lapsos do sono almejado em agonia soturna? Descanso não sobrevêm, mesmo na tranquila obscuridade latente. Sôfrego é que lançaria um olhar a guisa da despedida para o lugar, aqui onde errei tanto tempo, numa existência sempre descuidada. Quem antes me conheceu, sabe que não estava com medo do luar, dos argênteos reflexos da lua, no silêncio chão da noite arrastada. Turbilhões no coração me arrastaram para uma tosca penedia, infecunda dos sonhos e devaneios, grisadas costas sem limites, sobre um rio rugindo, singular na encosta da pedra me quedaria. Todos disseram que a ventura para sempre estaria lá sepultada; Ela, lânguida, pálida, raios prateados me traria íntimos alvitres, queria poder dizer adeus a esta campa onde jaz ossada alvejada.

Dama demônia Dama demônia... lembro da última vez que estive com você. Era uma noite triste e você veio rapidamente, sumindo logo em seguida, apenas dizendo que estava indo conhecer o dia. Conhecer o dia... era isso o que eu dizia, sempre, quando queria me libertar das sombras da noite, da dor. E na verdade, esse era o nosso sonho: conhecer o dia. Dama demônia, nós sonhávamos com uma vida diferente, longe da degradação da sociedade. O problema é que precisamos estar perto dela para viver. Onde mais encontraríamos sangue? E matar animais sempre parece mais injusto. Existem tantos humanos que merecem morrer... Por outro lado, sempre há esperança, e acredito que com o tempo eles acabam aprendendo... Dama demônia, já não sei mais o que estou dizendo. O que a sociedade tem em comum com nós dois? E acho que vai ser muito difícil que eu consiga me livrar da noite, porque conhecer o dia significa que eu tenha que me libertar de você. Por isso tenho medo. Tenho medo, demônia, de conhecer o dia. Só o que conheço é a noite e você faz parte dela. Libertar-me das correntes que me prendem à noite, fazer isso por impulso, é como arrancar meu coração.

Dama demônia, você é a minha noite. E quando se foi pela última vez, numa despedida silenciosa e cheia de mistério, também foram com você todos os meus sonhos. E eu sonho, demônia. Acordado ou dormindo... nem sei mais o que está se passando, acho que é delírio, mas sonho com você o tempo inteiro. Tanto que às vezes posso jurar que a vejo bem diante de meus olhos! Dama demônia, acho que sonhei que você me dizia o quanto lhe fazia falta desenhar suas palavras de sentimentos noturnos... E no ápice de meu delírio, sonhei com um ritual, com seu corpo dançando próximo a uma fogueira, atraindo-me cada vez mais para perto de você. Dama demônia, ouvi o som dos sinos de uma capela ecoando nessa noite tenebrosa, e invadindo meus delírios. Minha mente vaga de forma insana e sem rumo quando penso em você... sempre.... Dama demônia...... Sua cor preferida é o vermelho. Está na roupa que você usa, no sangue que banha seu corpo, nos seus lábios cheios de veneno... Está nas suas unhas que arranham suas vítimas, e que me ferem profundamente o coração... É o vermelho do seu olhar que me hipnotiza e me faz cair no abismo da insanidade... e sou engolido pelo seu báratro; Seu veneno espalha-se no ar através do perfume ardente e levemente amargo de seu corpo e cabelos, que exalam vapores ao meu redor. E eu declino, submerso, num mar de sangue... É o calor do seu corpo, queimando... em brasa, num inferno rodeado por pentagramas; É o seu tempo de vida como assassina: 666 anos aprisionando minha alma em suas correntes de pecado. Minha diaba, o vermelho de seu nome vem do sangue que escorre dos poros de todo o seu corpo, e eu o sinto em minhas mãos... e em minha língua quando estou lambendo toda a sua pele;

Poesia de:

Um casamento Preparou-se o teu casamento, aliança entre os átomos dos noivos. Átomos que provam: o que Deus une, o homem não separa, nem pela fissão nuclear. E a benção do padre seria braços despencam sobre o casal. Mas, no instante do sim, tornou-se nítido; quem tu trazias era a garota da vitrine, senão a própria vitrine. E tua noiva degelou-se, bailarina glacial em mo-vi-men-to, perdeu os ligamentos, escorreu pelo véu, molhou a cerimônia, diluiu aquela relação amorosa, em que achavas, confluiria para ti, o desejável, o intenso, e a sensação do amor: um dia galos longínquos cantariam em tuas manhãs. Poesia de: Apesar disso o sino tocou. O teu casamento cumpriu-se, Cumpriu-se no corte, queridos! Você e tua esposa, agora de mãos dadas, devem retirar o primeiro pedaço do bolo da aniquilação.

A imagem das musas como inspiradoras das artes mostra a força do legado helênico à cultura ocidental. De seu nome deriva o termo museu, lugar inicialmente destinado ao estudo das ciências, letras e artes, atividades protegidas pelas musas. Na mitologia grega, as musas eram deusas irmãs desde tempos remotos no monte Hélicon, da Beócia, onde eram festejadas a cada quatro anos, e na Pércia, Trácia. Inicialmente, eram as inspiradoras dos poetas. Mais tarde sua influência se estendeu a todas as artes e ciências. Na Odisséia Homero menciona nove musas, que constituíam um grupo indiferenciado de divindades. A diferenciação teve início com Hesíodo, que chamou-as Clio, Euterpe, Talia, Melpômene, Terpsícore, Érato, Políminia, Urânia e Calíope (ou Caliopéia), esta a líder das musas. Eram filhas de Mnemósine (Memória). Na relação de Hesíodo - que embora seja a mais conhecida, não é a única - os nomes são significativos. Érato, por exemplo, significa adorável e Calíope, a de bela voz. Em geral as musas eram tidas como virgens, ou pelo menos não eram casadas, o que não impede que lhes seja atribuída a maternidade de Orfeu, Reso, Eumolpo e outros personagens, de alguma forma ligados à poesia e à música, ou relacionados à Trácia. Estátuas das musas eram muito usadas em decoração. Os escultores representavam-nas sempre com algum objeto, como a lira ou o pergaminho, e essa prática pode ter contribuído para a distribuição das musas entre as diferentes artes e ciências. As associações entre as musas e suas áreas de proteção, no entanto, são tardias e apresentam muitas divergências. De maneira geral, Clio se liga à história; Euterpe, à música; Talia, à comédia; Melpômene, à tragédia; Terpsícore, à dança; Urânia, à astronomia; Érato, à poesia lírica; Polímnia, à retórica; e Calíope, à poesia épica. Mesmo na mitologia greco-romana existem outros grupos de musas, de cunho mais regional, como o das musas Méleta, da meditação; Mnema, da memória; e Aede, protetora do canto e da música.

Toda a poesia - e a canção é uma poesia ajudada - reflete o que a alma não tem. Por isso a canção dos povos tristes é alegre e a canção dos povos alegres é triste. (Fernando Pessoa)

Divina Por: Cruz e Sousa (1861-1898) Eu não busco saber o inevitável Das espirais da tua vã matéria. Não quero cogitar da paz funérea Que envolve todo o ser inconsolável. Bem sei que no teu circulo maleável De vida transitória e mágoa seria Há manchas dessa orgânica miséria Do mundo contingente, imponderável. Mas o que eu amo no teu ser obscuro E o evangélico mistério puro Do sacrifício que te torna heroína. São certos raios da tu alma ansiosa E certa luz misericordiosa, E certa auréola que te fez divina! Minha musa Por: Álvares de Azevedo (1831-1852) Minha musa é a lembrança Dos sonhos em que eu vivi, É de uns lábios a esperança E a saudade que eu nutri! É a crença que alentei, As luas belas que amei E os olhos por quem morri! Os meus cantos de saudade São amores que eu chorei, São lírios da mocidade Que murcham porque te amei! As minhas notas ardentes São as lágrimas dementes Que em teu seio derramei! Do meu outono os desfolhos, Os astros do teu verão, A languidez de teus olhos Inspiram minha canção... Sou poeta porque és bela, Tenho em teus olhos, donzela, A musa do coração! Se na lira voluptuosa Entre as fibras que estalei Um dia atei uma rosa Cujo aroma respirei... Foi nas noites de ventura, Quando em tua formosura Meus lábios embriaguei! E se tu queres, donzela, Sentir minh'alma vibrar, Solta essa trança tão bela, Quero nela suspirar! E dá repousar-me teu seio... Ouvirás no devaneio A minha lira cantar!

A minha musa Por: Gonçalves Dias (1823-1864) D Anacreonte o gênio prazenteiro, Que de flores cingia a fronte calva Em brilhante festim, Tomando inspirações à doce amada, Que leda lh enflorava a ebúrnea lira; De que me serve, a mim? Canções que a turba nutre, inspira, exalta Nas cordas magoadas me não pousam Da lira de marfim. Correm meus dias, lacrimosos, tristes, Como a noite que estende as negras asas Por céu negro e sem fim. É triste a minha Musa, como é triste O sincero verter d amargo pranto D órfã singela; E triste como o som que a brisa espalha, Que cicia nas folhas do arvoredo Por noite bela. É triste como o som que o sino ao longe Vai perder na extensão d ameno prado Da tarde no cair, Quando nasce o silêncio involto em trevas, Quando os astros derramam sobre a terra Merencório luzir. Ela então, sem destino, erra por vales, Erra por altos montes, onde a enxada Fundo e fundo cavou; E pára; perto, jovial pastora Cantando passa e ela cisma ainda Depois que esta passou. Além da choça humilde s ergue o fumo Que em risonha espiral se eleva às nuvens Da noite entre os vapores; Muge solto o rebanho; e lento o passo, Cantando em voz sonora, porém baixa, Vêm andando os pastores.

Outras vezes também, no cemitério, Incerta volve o passo, soletrando Recordações da vida; Roça o negro cipreste, calca o musgo, Que o tempo fez brotar por entre as fendas Da pedra carcomida. Então corre o meu pranto muito e muito Sobre as úmidas cordas da minha Harpa, Que não ressoam; Não choro os mortos, não; choro os meus dias Tão sentidos, tão longos, tão amargos, Que em vão se escoam. Nesse pobre cemitério Quem já me dera um lugar! Esta vida mal vivida Quem já ma dera acabar! Tenho inveja ao pegureiro, Da pastora invejo a vida, Invejo o sono dos mortos Sob a laje carcomida. Se qual pegão tormentoso, O sopro da desventura Vai bater potente à porta De sumida sepultura:

Livro do mês Os poemas desta obra falam sobre amor e sombras, sentimentos ardentes e sedução, onde inovação e ousadia são as palavras certas para definir o que sua arte por vezes apresenta: dominação, submissão e sexo! Versos que, em sua maioria rimados, foram construídos com o encanto de uma sensualidade noturna, dando um aspecto sublime à poesia de Sr. Arcano, um autor que trabalha suas ideias cercado por um ambiente de mistérios e encantos, como um artesão das sombras dando vida às suas escrituras de beleza e magia. Editora: Independente Páginas: 48 - Tipo: impresso Autor: Sr. Arcano à venda no site oficial do autor: senhorarcano.com