PESCA DESPORTIVA EM ALBUFEIRAS DO CENTRO E SUL DE PORTUGAL: CONTRIBUIÇÃO PARA A REDUÇÃO DA EUTROFIZAÇÃO POR BIOMANIPULAÇÃO Relatório Final de Protocolo de Investigação Lisboa, Outubro 2010
EQUIPA TÉCNICA Profª Maria Teresa Ferreira (Coordenadora), ISA Engº Adolfo Franco, AFN Engª Susana Amaral, ISA Engº António Albuquerque, ISA Com a colaboração do Prof Ramiro Neves (IST) Engº David Brito (IST)
Capítulo VIII. Conclusões e Recomendações No que toca à actividade de pesca desportiva Os pescadores recreativos de Portugal Continental são, maioritariamente, do género masculino, denotando-se uma maior incidência de praticantes com idades compreendidas entre os 30 e os 50 anos. É um desporto praticado, principalmente, por indivíduos com uma situação profissional activa e por reformados e estudantes, que na sua generalidade não estão integrados em Clubes ou Associações. A principal despesa em que incorrem é na compra dos equipamentos e materiais de pesca. No entanto, para além deste investimento inicial, existem ainda outros gastos inerentes às deslocações que têm de realizar despesas com combustível e outros custos com o transporte, refeições e até em certos casos estadia; para além de todos os iscos e engodo, anzóis, bóias, e outros materiais que vão tendo de adquirir para as suas pescarias. É ainda de salientar o contributo desta actividade recreativa no desenvolvimento de diversos sectores da economia, directa ou indirectamente, através de: venda de licenças de pesca; comércio de equipamento e materiais para a prática da pesca; comércio de literatura da especialidade, revistas; DVD s; canais de televisão; transportes; indústria hoteleira e restauração; comércio local e regional; turismo em espaço rural; etc. No que diz respeito ao ordenamento da pesca desportiva, mais concretamente às concessões de pesca desportiva, tendo em conta a informação recolhida no inquérito realizado às entidades gestoras das 161 concessões de pesca desportiva estudadas, pode concluir-se que estas zonas ordenadas apresentam características bastante distintas entre si, quer a nível do meio envolvente, quer em termos de afluência por parte dos pescadores desportivos, bem como em relação a medidas de gestão implementadas, fazendo-se essas diferenças sentir tanto a nível regional como de forma mais localizada. Estas zonas são principalmente procuradas pelos pescadores da freguesia ou do concelho, ou das freguesias ou concelhos limítrofes. Poucas são as concessões de pesca que têm registos das espécies e das quantidades capturadas. As que possuem esses registos, maioritariamente diários, são concessões predominantemente salmonídeas (nas regiões Norte e Centro) ou algumas Para efeitos bibliográficos o presente capítulo deve ser citado como: Ferreira, M.T. (2010). Conclusões e Recomendações. Pesca Desportiva em Albufeiras do Centro e Sul de Portugal: Contribuição para a redução da eutrofização. Instituto Superior de Agronomia. Lisboa: VIII.1-VIII. VIII.1
concessões do Sul onde predomina a pesca do achigã, denotando-se assim uma maior preocupação por parte das entidades concessionárias em implementar algumas medidas de gestão do recurso piscatório. Neste protocolo foram sistematizadas e analisadas as informações sobre os pescadores e actividade da pesca, que tinham sido recolhidos em inquéritos no início da década. Juntamente com as informações já antes sistematizadas e obtidas a partir do histórico de concursos de pesca (três relatórios de protocolo entre a DGRF/AFN e o ISA referentes aos pesqueiros da zonas norte, centro e sul do país), e ainda as informações referentes às Concessões de Pesca obtidas no presente protocolo, está traçado o cenário dos agentes e da actividade pesca desportiva em Portugal, e reunidas as condições para a actuação da AFN nas várias vertentes da sua competência nesta temática. Nomeadamente recomenda-se: a) A implementação de um sistema de monitorização permanente e a longo prazo, do perfil de pescador e de pescado, baseado na recolha de informação nos principais pesqueiros identificados; b) A utilização dos inquéritos e outra informação para a determinação do valor económico da pesca desportiva, regional e nacional, através da aplicação de modelos económicos de valoração de recursos naturais (uma primeira tentativa foi realizada no projecto PAMAF Estudo Estratégico para as Pescas Continentais Portuguesas (que a DGRF/AFN foi parceira), mas carece de continuidade); c) A publicação de um pequeno livro de caracterização da pesca em águas interiores em Portugal, à semelhança de instituições congéneres, e.g. Central Fisheries Board of Ireland; d) A elaboração de um Guia Técnico de Boa Condução de Concessões de Pesca e de Pesqueiros, complementado com visitas periódicas às Concessões e com acções de formação biológica e sócio-económica; e) Uma forte promoção na comunicação social e em fóruns adequados (e.g. Conselhos de Região Hidrográfica, Conselho Nacional da Água) destes elementos publicados, da mais-valia da pesca desportiva e das acções da AFN no âmbito desta actividade. No que toca à carga piscícola em albufeiras A carga piscícola de albufeiras está relacionada, entre outros factores, com a eutrofização destas massas de água e com a ocorrência de eventos de mortalidade piscícola, resultantes de processos ainda insuficientemente predictíveis. A própria ocorrência dos eventos de mortalidade não está caracterizada ainda. No entanto, acredita-se em geral que a carga piscícola está associada à ocorrência de mortalidade de peixe e que a manipulação da biomassa piscícola pode contribuir para a prevenção destes acidentes. Ora a carga piscícola é uma variável de difícil obtenção através dos métodos convencionais de pesca, começando a VIII.2
ser utilizado à escala europeia a ecossondagem para a quantificação da biomassa piscícola. Assim, colocaram-se duas questões: a) que informações podemos extrair dos eventos de mortalidade ocorridos no passado? e b) como determinar expeditamente e em rotina a carga piscícola utilizando a ecossondagem? Este protocolo forneceu a informação necessária sobre as metodologias adequadas e necessárias para implementar esta técnica, e foi iniciada a caracterização de eventos de mortalidade ocorridos no passado. Como acções, recomendamse: a) A conclusão da caracterização de eventos de mortalidade piscícola e a criação de um sistema de alerta e registo sistemático destes eventos; b) A ecossondagem rotineira de base anual das albufeiras mais importantes para a pesca desportiva, bem como das albufeiras onde se conjuguem os factores potenciadores da ocorrência de mortalidade piscícola, de acordo com as conclusões metodológicas obtidas neste estudo, e com ciclos de pesca com redes para calibração a cada 6 anos; c) A gestão dos habitats dos pesqueiros das albufeiras ecossondadas com base nas informações recolhidas, numa base anual e personalizada; d) Concertação de acções de gestão com as autoridades regionais da água, na medida que a eutrofização é um elemento chave neste processo. No que toca à eutrofização pela actividade da pesca Neste protocolo, foram caracterizados do ponto de vista nutritivo os principais engodos utilizados por pescadores portugueses. A partir das cargas de nutrientes afluentes à albufeira do Maranhão e modelação de parâmetros de qualidade da água, e sabendo que diferentes quantidades e tipos de engodo podem ter consequências eutrofizacionais diferentes, foram testadas várias cargas, concluindo-se que para níveis pequenos a médios de número de pescadores e de quantidades de engodo utilizadas, as consequências para a eutrofização não são relevantes. Por outro lado, que aconteceria se nos concursos, a totalidade ou parte do pescado não fosse devolvido à água, como é habitual? Poderia contribuir para diminuir a carga de nutrientes na coluna de água? As simulações sugerem igualmente que apenas grandes quantidades de peixe removido influenciam significativamente a qualidade da água. Como recomendações, poderíamos sugerir: a) Implementação de limites de carga de engodo nos concursos de pesca, ou de recolha obrigatória de parte do pescado; b) Prática da pesca desportiva com restrições na devolução à água de determinadas espécies, nomeadamente a carpa, em albufeiras em risco; c) Concertação de acções de gestão pesqueira com as autoridades regionais da água, na medida que a eutrofização é um elemento chave neste processo. VIII.3
Como comentário final, podemos afirmar que as actividades desenvolvidas no projecto permitiram ultrapassar algumas das faltas de informação impeditivas de uma actuação tecnicamente sustentada no âmbito da gestão piscícola e ecológica de albufeiras, para a evolução para um paradigma futuro de plena integração das populações piscícolas como parte determinante do funcionamento ecológico de albufeiras, e da pesca desportiva como uma das actividades com maior potencial como ferramenta de manipulação "soft" destes sistemas. VIII.4