Geól. M.Sc, Empresa: Roma-Estudos, Projetos e Supervisão Ltda (Consultor): Porto Alegre RS, (51) ,

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ESTUDO GEOLÓGICO-GEOTÉCNICO DAS ESCAVAÇÕES DO CANAL DE RESTITUIÇÃO DA BARRAGEM DE JATI NO ESTADO DO CEARÁ: ESTRUTURAS GEOLÓGICAS CONDICIONANTES DE RUPTURAS DE TALUDES EM ROCHA Kray Sadi de Mello 1 ; Alexandre de Sousa Fontenelle 2 ; Claudio Nehme Larivoir 3 Fernando Carlos Albuquerque dos Santos 4 Resumo O vertedorouro da barragem de Jati, quando finalizado, descarregará em uma bacia de dissipação revestida de concreto com escoamento da água em declive ao longo de um canal de restituição com cerca de 500 m de comprimento. As escavações para construção do canal resultaram em taludes na lateral direita e esquerda com alturas entre 10 e 27 m em rochas metamórficas da Província Borborema com idades entre 620 e 660 Ma. Estudos petrográficos, geológico estrutural e geomecânicos foram desenvolvidos para caracterização e interpretação das rochas. No mapeamento executado foram identificadas estruturas geológicas diversas, zonas de alteração intempérica contendo saprólitos, falhas e, três a quatro sistemas de fraturas (famílias), dois identificados como secundários. Estão presentes ainda, falhas de cisalhamento preenchidas por cataclasitos alterados e dobramentos, que quando escavados acabam por gerar grandes rupturas de flanco, identificados neste trabalho como planos de slickensides principais (PSP). Os resultados dos estudos geológico e geomecânico mostram entre outros problemas identificados que dois planos de slickensides também presentes (fraturamentos secundários) quando interceptam o terceiro plano (plano principal), geram rupturas de grande porte que tendem a causar a progressão nos processos de instabilidade ao longo do tempo. Os sistemas de classificação geomecânica utilizados neste trabalho foram RMR (rock mass ratio), SMR (slope mass ratio) e alguns parâmetros do Sistema Q e RMi. Abstract The Jati spillway, when finalized, will download in a basin dissipation coated concrete with water drainage downhill along a spillway channel about 500 m long. Excavations for channel construction resulted in slope on the right and left side, with heights between 10 and 27 m, in metamorphic rocks of the Borborema Province aged 620 and 660 Ma. For rock characterization, were executed petrographic, structural geological and geomechanical classification. Several geological structures, weathering rocks, saprolitc surfaces, faults and joint systems (sets) have been identified in geological-geotechnical mapping. Shear faults filled by cataclastic rocks and synclinal folds when excavated, start large fold s flank failures, known here as main slickensides planes (MSP). The result of geological and geomechanical study shows that two slickensides planes when intersect the third plane (main plane), they generate large failures which cause the continuity of instability processes. The geomechanical classification systems used in this study were RMR (rock mass ratio), SMR (slope mass ratio) and some parameters of the Q System and RMi. Palavras-Chave dobras; slickensides; falhas de cisalhamento; RMR; SMR 1 Geól. M.Sc, Empresa: Roma-Estudos, Projetos e Supervisão Ltda (Consultor): Porto Alegre RS, (51) 3029-1337, Kray@romaprojetos.com.br 2 Eng. Civil. D.Sc, Ministério da Integração Nacional Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias do Nordeste Setentrional PISF, Brejo Santo CE, (88) 3531-1071, alexandre.fontenelle.mi@gmail.com 3/4 Eng. Civil. Ministério da Integração Nacional Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias do Nordeste Setentrional PISF, Brejo Santo CE, (88) 3531-1071, clarivoir@gmail.com-fernando.carlos.mi@gmail.com 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 1

1. INTRODUÇÃO O presente trabalho é resultado do acompanhamento geológico-geotécnico em consultorias de assistência técnica às obras do Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias do Nordeste Setentrional (PISF). Estas resultaram em relatórios de estudos, interpretações e avaliação geológico-geotécnica das escavações da área de escoamento do vertedouro entre as estacas 4 e 25 do canal de restituição da Barragem de Jati, reproduzidos de forma resumida neste artigo. Os acompanhamentos desta obra específica iniciaram em novembro de 2013 com previsão de término para dezembro deste ano. A Barragem de Jati está localizada a cerca de 1,6 quilômetros da cidade homônima no estado do Ceará com acesso pela rodovia CE 153 em direção a São José do Belmonte PE, figura 1. Esta importante obra é parte integrante do Trecho II no Eixo Norte, formado por um total de 5 trechos de obras. O Eixo Norte tem início com a captação no Rio São Francisco, após a Barragem de Sobradinho, no reservatório de Itaparica, nas proximidades da Ilha Assunção, próximo a Cabrobó PE. O Trecho II com 105,6 km de extensão inicia-se na barragem do reservatório de Jati, passando pelo açude já existente de Atalho, atravessando outros 4 reservatórios, 3 aquedutos, um conjunto de diques, vinte pontes e 11 passarelas, passando por fim pela Serra do Cuncas pelos túneis Cuncas I e Cuncas II chegando no Estado da Paraíba. Figura 1. Localização da Barragem de Jati no Estado do Ceará. Trecho II Eixo Norte Lote V-PISF 2. CARACTERÍSTICAS DA BARRAGEM DE JATI Segundo dados de projeto, Consórcio Hidroconsult-MWH Brasil (2012), a barragem de Jati tem uma altura superior a 69,4 m de altura com cota de coroamento 488,80, comprimento longitudinal 1.885 m e um reservatório com capacidade de armazenamento de 27,84 hm 3 que recebe as águas de integração do Trecho I a uma vazão da ordem de 92,95 m 3 /s. O vertedouro tem 160 m de comprimento e cota da soleira a 487,15 com NA Max Maximorum 487,79, sendo estimada uma lâmina d água de cerca de 0,64 m e, 1,73 m com 172 m 3 /s para vazões de 10.000 anos. O escoamento excedente da barragem ocorrerá por um canal de restituição ou canal de descarga, com cerca de 500 m de comprimento, localizado em planta por 25 estacas, com espaçamento de 20 metros. As escavações têm início no eixo da barragem na cota 481, estaca 0 do canal de restituição, até a cota 416 na estaca 25, figura 2. A conformação definida para o canal rápido é em desníveis sucessivos com média de 7 metros de altura entre eles em corte vertical, proporcionando uma velocidade de água de impacto em cada desnível da ordem de 11,7 m/s, Gomes (2014). 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 2

Figura 2. Planta de Situação do Projeto da Barragem de Jati. Modificado de Consórcio Hidroconsult-MWH do Brasil (2012). Planta1220-DES-1111-20-15-002 3. CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICA As rochas presentes na fundação da barragem, nas escavações do canal de restituição e na casa de força, fazem parte do Grupo Cachoeirinha e encontram-se no domínio tectônico da Zona de Cisalhamento do Caboclo entre os lineamentos Patos e Pernambuco. Este conjunto estratigráfico e tectônico são parte integrante da Província Borborema, Schobbenhaus & Campos in CPRM (2008). Segundo Trompette (1994), a região onde está inserida a área de estudo pertence a subdivisão da Província Borborema denominada Zona Transversal. Na figura 3 podese observar a localização da barragem no contexto geológico e tectônico. O Grupo Cachoeirinha é formado por rochas metassedimetares dos tipos metassiltitos e metarenitos com contribuição de rochas metavulcânicas inferior a 3%. O estudo das escavações no canal de restituição avaliou a presença de rochas metavulcânicas em abundância, com presença ainda de filitos e xistos. As rochas identificadas pelos autores no mapeamento geológico-geotécnico e a partir dos resultados petrográficos foram interpretadas como pertencentes a Formação Santana dos Garrotes de Medeiros & Jardim de Sá (2009). Segundo a bibliografia consultada as rochas pertencentes à esta formação foram datadas como sendo do Criogeniano ao início do Edicariano com 660 a 620 Ma, figura 4. A jusante das obras da barragem de Jati, em uma outra obra foram identificados metaconglomerados pertencentes a unidade Serra do Olho, nas fundações do viaduto em construção da CE 153 que passará sobre o Canal de Integração. 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 3

Figura 3. Localização da Barragem de Jati no Esquema Geológico de Medeiros & Jardim de Sá (2009) a partir de coordenadas geográficas 7 42 12 e 39 00 24 para o eixo da barragem. Figura 4. Escavação do Canal de Restituição da Barragem de Jati. Metassiltitos e metavulcânicas pertencentes a Formação Santana dos Garrotes de Medeiros & Jardim de Sá (2009). 3.1 Mapeamento Geológico Estrutural Na face dos taludes, foram identificadas diversas estruturas geológicas nas rochas como falhas por cisalhamento, figura 5 e dobramentos recumbentes do tipo sinclinal, gerando planos de slickensides, e ainda três a quatro sistemas de fraturas (famílias). A geometria das fraturas é inclinada, sendo seccionadas por famílias de fraturas subverticais formando um padrão de ruptura em cunhas. A partir do mapeamento geológico-estrutural das principais descontinuidades presentes nos maciços rochosos identificados foram obtidas suas atitudes (orientação e mergulho do plano) onde verificou-se que o trend principal das falhas de cisalhamento são NE/SW enquanto os sistemas de fraturas F1 são NW/SE. A determinação do cone de atrito, Hoek & Bray (1981) (Friction Cone) foi definida a partir dos planos das descontinuidades como mostra a figura 6. 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 4

E10 E11 PSP: strike 180 Dip 36 Figura 5 Estruturas geológicas mapeadas entre as estacas 10 e 11. Talude Lado Esquerdo, com Planos de Falha de Cisalhamento denominados de Planos de Slickensides Principal (PSP). F1/F2 (planos de faturamento secundários formadores de cunhas de ruptura). A B Figura 6 Projeção estereográfica de Schmidt-Lambert (Equal-area). A, planos de falhas e fraturas e Diagrama de Roseta. B - O círculo vermelho indica o cone de atrito (Software Stereonet versão 8.0-2012). 4. CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA E GEOMECÂNICA A caracterização geotécnica e geomecânica foi desenvolvida considerando as variações litológicas a geologia estrutural, petrografia e métodos de classificação como RMR (Rock Mass Rating) de Bieniawski (1978,1989 e 1993), SMR (Slope Mass Rating), de Romana et al (2003), alguns dos parâmetros do Q System, de Barton et al (1974) e do RMi de Palmström (1982) in Hoek (2000). O maciço foi classificado conforme as características do material rochoso a partir do sistema RMR (Rock Mass Rating System, Bieniawski, 1989). Assim foram estimados os parâmetros para interpretação das classes geomecânicas das escavações, e segundo as orientações do ISRM (International Society for Rock Mechanics - 1983). Figura 7. Dobramentos ao Longo do Canal de Restituição. Estacas 11 a 12, e entre a 6 e 7 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 5

As rochas aflorantes nas fundações da barragem de Jati, escavações do canal de restituição e da área de implantação da casa de força, constituem uma miscelânea de rochas metamórficas típicas de cinturões de dobramentos, como metassiltitos, metarenitos, metavulcânicas, filitos, xistos e gnaisses (figura 7). Encontram-se estruturas geológicas com características geotécnicas diversas como zonas de alteração e material saprolítico nas faces escavadas ou no interior das falhas, três ou quatro sistemas de fraturas (famílias), sendo dois identificados como principais, falhas de cisalhamento preenchidas por material cataclasado e dobramentos que quando escavados acabam por gerar grandes rupturas de flanco sob a forma de planos de slickensides principais (PSP), comentados na sequência. O resultado deste estudo geológico e geomecânico levanta a questão de que outros dois planos de slickensides (critério de nomenclatura usado nos sistemas de classificação geomecânica, e.g. RMR e Q System) também estão presentes. Quando estes três planos se interceptam geram rupturas de grande porte e estas rupturas após ocorridas tendem a desencadear uma série de outras rupturas sucessivas aumentando os processos de instabilidade ao longo do tempo. A figura 8 mostra os parâmetros geomecânicos, algumas das estruturas geológicas identificadas em estudos de taludes rochosos e um exemplo de ruptura em cunha ocorrida no lado direito do canal cerca de um mês após o mapeamento de campo. Figura 8. Esquema mostrando os parâmetros e estruturas geológicas a serem consideradas em um estudo de engenharia de taludes rochosos Wyllie (1999) in Wyllie & Mah (2005). Ao lado ruptura em cunha nos taludes do lado Direito prestes a ocorrer. Foto obtida em novembro de 2013, Mello (2014). As rochas fragmentadas acima e o material saprolítico escorregou em dezembro de 2013. 4.1. Estudo Petrográfico e Interpretação das Microestruturas da Rocha Complementarmente ao estudo geomecânico foi realizada a interpretação geológica estrutural e petrográfica das rochas escavadas o que revelou a escala dos fraturamentos no maciço rochoso em nível microscópico até a escala regional. Na análise microscópica realizada em 3 amostras de rocha, em uma amostra de metassiltito de estrutura maciça, esta apresentou em sua maioria textura de granulação fina a média. O tamanho dos cristais em sua maioria, são de tamanhos de 0,02 a até 0,5 mm com uma leve orientação. Quanto a mineralogia, a rocha é formada pelos seguintes percentuais de minerais identificados na lâmina de sigla TJ03: quartzo (55%); sericita (33 %); biotita (10%) e opacos (2%). As microfraturas e microfalhas no metassiltito ocorrem preenchidas ou não por óxido de ferro, observar a rocha em escala microscópica em luz natural e luz polarizada nas figuras 9E e 9F. 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 6

A identificação das microestruturas na rocha permitiu abordar o problema de forma mais ampla, podendo se constatar que por mais complexas que sejam as medidas adotadas para as contenções dos taludes, sempre poderão ocorrer reativações destas microestruturas por alívio de tensão enquanto os taludes estiverem expostos. Este tipo de comportamento vem sendo confirmado a partir de observações de fraturas de alívio que se formaram entre os meses de novembro de 2013 e março de 2015, com ocorrência de várias rupturas neste intervalo de tempo. Figuras 9E e 9F. Fotomicrografia de metassiltito com presença de microfalhas (setas) preenchidas por óxido de ferro com menos de 0,1 mm de abertura. Foto E luz natural, Foto F luz polarizada. Ser (mineral sericita), Bt (mineral biotita), FeO (óxido de ferro) 4.2. Resistência a Compressão Uniaxial A resistência à compressão uniaxial da rocha (δc) é a máxima tensão que suporta um corpo cilíndrico ou cúbico quando submetido a um carregamento compressivo axial até a ruptura. A relação entre a altura e o diâmetro varia entre 2,5 a 3 vezes para corpos cilíndricos e mesma altura, comprimento e largura para corpos cúbicos. A resistência a compressão uniaxial é um parâmetro amplamente utilizado nas diferentes teorias e modelos de comportamento de maciços rochosos. A determinação deste parâmetro foi obtida em laboratório a partir de amostras extraídas das escavações, implicando na preparação dos corpos de prova com forma cilíndrica em poucas amostras devido a dificuldade na obtenção de amostras de boa qualidade. A partir dos resultados dos ensaios de compressão uniaxial foi possível determinar o índice de resistência de diferentes tipos rochosos, o qual forneceu dados importantes para a classificação geomecânica do maciço. As amostras ensaiadas foram filitos, metassiltitos e metavulcânicas ou arenitos vulcanogênicos (segundo a petrografia), as quais apresentaram baixa resistência a compressão e baixa resistência ao cisalhamento entre blocos (inferência a partir da razão Jr/Ja. Barton, 1974 in Hoek (2000). As resistências a compressão uniaxial encontradas foram 2,4 MPa, 3,7 MPa e 62,59 MPa características de rocha muito ruim a branda. 4.3 Resultados da Classificação Geomecânica Os resultados apresentaram a classificação geomecânica destas formações rochosas e o resultado destas formações rochosas utilizando métodos de classificação de maciços rochosos como RMR, SMR, Q System e RMi que permitiram adequações aos elementos de projeto como ancoragens. O RMR foi convertido para SMR, específico para avaliação de taludes e utilizado em conjunto com o RMR, Mello & Dias (2006). O método SMR considera ainda a possibilidade de instabilidade em taludes rochosos, através de processo de deslizamento planar, cunha ou tombamento de blocos (planar failure, wedge 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 7

failures, topping failures), condicionados por elementos estruturais, tais como: juntas, fraturas, falhas e descontinuidades presentes na massa rochosa, figuras 10 e 11. A partir da classificação de Bieniawski, o RMR foi adaptado para descrever a classificação em função das condições geométricas dos taludes, sendo calculado a partir da equação SMR= [RMR- (F1x F2 x F3)] +F4, conforme Romana et al (2003). A partir das transformações foram calculados os valores de SMR relativo as áreas de mapeamento já escavadas do canal de restituição do vertedouro determinando-se os valores de SMR das paredes rochosas dos taludes, tabela 1. Rochas metamórficas de baixo e médio grau Figuras 10 e 11. Figura do Lado esquerdo, rupturas do tipo topping failure. Figura do Lado Direito B. Wedge Failure. Ambas no Lado Esquerdo do Canal do Vertedouro Tabela 1. Transformações do RMR (Rock Mass Rating) em SMR (Slope Mass Rating). ESTACA ESTACA RMR CLASSES QUALIDADE SMR CLASSES QUALIDADE INICIAL FINAL Valores RMR Valores SMR 4LD 6LD 38 IV RUIM 30 IV RUIM 4LE 6LE 47 III REGULAR 39 IV RUIM 6LD 8LD 38 IV RUIM 30 IV RUIM 6LE 8LE 47 III REGULAR 39 IV RUIM 8LE 9LE 42 III REGULAR 34 IV RUIM 8LD 9LD 42 III REGULAR 34 IV RUIM 9LD 10LD 42 III REGULAR 34 IV RUIM 9LE 10LE 42 III REGULAR 34 IV RUIM 10LD 13LD 38 IV RUIM 30 IV RUIM 10LE 11LE 32 IV RUIM 24 IV RUIM 11LE 13LE 38 IV RUIM 30 IV RUIM 13LE 14LE 38 IV RUIM 30 IV RUIM 14LE 15+10LE 18 V MUITO RUIM 10 V MUITO RUIM 15LE 17LE 32 IV RUIM 24 IV RUIM 13LD 18LD 41 III REGULAR 33 IV RUIM 18LD 22LD 49 III REGULAR 41 III REGULAR 17LE 22LE 49 III REGULAR 41 III REGULAR 23LE 25LE 46 III REGULAR 38 IV RUIM 22LD 25LD 46 III REGULAR 38 IV RUIM 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 8

5. CONCLUSÕES Os dados de mapeamento geológico-geotécnico com monitoramento visual dos processos de ruptura e movimentação de blocos rochosos é um importante acervo de informações para interpretação de processos de instabilidades atuantes em encostas devendo sempre ser mantido e atualizado pelos profissionais que atuam em determinada obra ou pesquisa científica. Os dados petrográficos e resultados de ensaios de compressão uniaxial nas amostras coletadas mostraram que se as interpretações ocorressem pelo caráter simplesmente táctil-visual ou inferência pelo uso do martelo no caso da compressão uniaxial e da coesão, estas informações implicariam em valores errôneos nas classes geomecânicas e na abordagem do problema em especial. Outra característica que chama a atenção, são os critérios geomecânicos na identificação dos planos de slickensides uma vez que na área de estudo foram identificados três planos distintos, sendo um deles denominado como Plano de Slickenside Principal (PSP), que dentro de uma abordagem especificamente geológica seria o único plano com características de espelho de falha ao longo do qual ocorrem os escorregamentos e rupturas. Necessário ainda se faz, trazer a discussão do papel dos dobramentos, pouco considerados nos sistemas de classificação geomecânica e exemplos de diversas causas de rupturas associadas a flanco de dobras. Desta forma, os resultados dos trabalhos permitiram adequações em elementos de projeto como escolha das distribuições das ancoragens e utilização de outras formas de tratamento para os maciços rochosos. Pode-se afirmar que o trabalho resgata a importância do mapeamento geológico-geotécnico com destaque para as inspeções visuais dos processos de ruptura e de elementos que potencializam essas rupturas como planos de slickensides, juntas, fraturas, falhas, zonas de cisalhamento e alteração e por fim dobramentos. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao Ministério da Integração Nacional pelo suporte oferecido, acesso aos relatórios e dados de projeto, consultorias e apoio na elaboração e divulgação deste trabalho. Ao geólogo Paulo Gilberto Redmaque Mateus Carneiro, aos Engenheiros Civis Fernando Sperotto Brum, gerente de obras, Eliseu Ribeiro Corrêa, Othilio Moura Filho e Thomé Freitas Lins de Souza, profissionais da Supervisora Magna Engenharia Ltda no apoio aos trabalhos de campo e envio de amostras ao laboratório, orientação para execução dos ensaios e encaminhamento das amostras coletadas para elaboração das classificações petrográficas. Ao geólogo Francisco Diones Oliveira Silva pelo apoio na classificação petrográfica. Nossos agradecimentos a Construtora Serveng, Hidroconsult e aos membros da equipe da gerenciadora Consórcio Concremat-Arcadis Logos, Geól. Dr. Paulo Jorge Rosa Carneiro pelas excelentes discussões geológicas sobre os problemas geológicos do PISF, Eng. Civil Leonardo Feitosa Saraiva e Eng. Civil Gilmar Teixeira (in memorian). REFERÊNCIAS BARTON et al (1974) in HOEK E. (2000) - Rock Engineering. Free on-line book available at the Hoek's Corner. BIENIAWSKI, Z.T. (1978) - Determining Rock Mass Deformability - Experience From Case Histories. International Journal of Rock Mechanics and Geomechanics. Abs., 15, 237-247. BIENIAWSKI, Z.T (1989) Engineering Rock Mass Classifications. John Wiley, p.251. 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 9

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