O Fantasma de Canterville Oscar Wilde

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Transcrição:

Ilustrações ROMERO CAVALCANTI O Fantasma de Canterville Oscar Wilde O artista plástico Romero Cavalcanti começou a desenhar com 13 anos e acabou se transformando em um dos ilustradores mais respeitados no Brasil e no exterior. Nasceu na Paraíba, mas mora no Rio de Janeiro desde 1970. Durante muito tempo, viveu em uma casa que lembrava as de filme de terror. Ele jura que ela não era mal-assombrada, mas será que suas ilustrações foram inspiradas em fantasmas reais? Um fantasma habilidoso vê o feitiço virar contra o feiticeiro quando a casa que ele assombrava passa a ser aterrorizada pelos novos proprietários, para lá de vivos. Tradução e prefácio BRAULIO TAVARES ISBN 978-85-7734-189-4 capa fantasma de canterville_cs5.indd 1 Quando o irlandês Oscar Wilde, um dos maiores autores do século XIX, escreveu O fantasma de Canterville, ele tinha uma pergunta importante em mente: o que seria do mundo se fossem os fantasmas que tivessem medo de gente? Nesta assustadora e divertida história, um fantasma inglês centenário precisa enfrentar uma rude família de norte-americanos modernos que ousa invadir sua casa (muito bem assombrada por sinal) e tem a ousadia de não se deixar arrepiar tão facilmente. 24/06/11 18:33

Oscar Wilde

Oscar Wilde tradução e prefácio braulio tavares ilustrações romero cavalcanti

Uma divertida crônica das tribulações do fantasma de Canterville Chase, depois que seus salões ancestrais tornaram-se o lar do Ministro Norte- -Americano na Corte de St. James.

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PREFÁCIO Esta noveleta de Oscar Wilde é um clássico da literatura infantil, e surgiu numa época em que se questionava a antiga literatura de terror. Já na segunda metade do século XIX, escritores e críticos faziam uma desconstrução dos romances góticos cheios de velhos castelos, noites tempestuosas, maldições seculares, tragédias de famílias nobres e espectros penitentes, que imploram perdão ou vingança. Esse tipo de romance, que floresceu no século XVIII, já era alvo, cem anos depois, de sátiras e paródias variadas. A ideia inicial de Wilde parece ter sido que seria engraçada uma situação em que as pessoas vissem, sim, o fantasma, mas isso não tivesse o menor efeito sobre elas. E que, ao invés de infernizar a vida dos vivos, o fantasma fosse infernizado por eles. A primeira publicação desse texto foi em fevereiro de 1887, na revista The Court and Society Review, e depois ele foi incluído no volume Lord Arthur Savile s Crime and Other Stories (1891). Foi o primeiro texto em prosa publicado por Wilde, que viria a ficar famoso nos anos seguintes pelas suas numerosas peças teatrais, encenadas em Londres com enorme êxito, e pelo seu romance O retrato de Dorian Gray (1890). 9

O fato de Wilde estrear como escritor com contos dessa natureza pode se dever a circunstâncias pessoais. Seus filhos Cyril e Vyvyan haviam nascido respectivamente em 1885 e 1886, e Wilde, que era um pai carinhoso, costumava contar histórias para os dois garotos. Sua esposa, Constance, também publicou um livro de histórias infantis que ouvira de sua avó, There Was Once Grandma s Stories, em 1888. Em todo caso, os últimos anos do século XIX foram uma época em que, nas letras britânicas, os contos de fadas e os livros para crianças alcançaram um grau de sofisticação literária poucas vezes igualado. O sucesso das séries de contos folclóricos recolhidos e editados por Andrew Lang (doze volumes, publicados entre 1889 e 1910) comprova também o grande apelo popular desse tipo de literatura. Wilde afirmava que escreveu seus contos infantis em parte para as crianças, e em parte para aqueles que ainda conservam aquelas faculdades que temos na infância, como a capacidade de se maravilhar, a alegria, e a capacidade de encontrar a simplicidade naquilo que é estranho e sutil. O fantasma do livro é Sir Simon de Canterville, que em 1565 assassinou a própria esposa. O que acaba parecendo uma premonição do poema mais famoso de Wilde, a Balada do cárcere de Reading, escrito dez anos depois, em 1897, no qual estão os famosos versos: 10

Pois todo homem mata aquilo que ama, e cada um que escute bem: alguns o fazem com um olhar amargo outros com uma palavra de elogio o covarde o faz com um beijo e o homem valente com uma espada. Wilde foi famoso em Londres na época em que suas peças lotavam os teatros e suas frases espirituosas eram repetidas por todos. Celebrizou- -se por seu temperamento sarcástico e suas observações ferinas, que não perdoavam nada nem ninguém. Em O fantasma de Canterville, esse temperamento está suavizado, e o que poderia ser um sarcasmo corrosivo se transforma em uma ironia brincalhona, quando ele satiriza ao mesmo tempo as tradições aristocráticas inglesas e a mentalidade utilitária e pouco imaginativa da família norte-americana. O fantasma é o grande personagem do livro, inclusive por ser, afinal de contas, mais um ator do que um simples nobre. Para assombrar os corredores de Canterville Chase, ele adota os mais variados disfarces e se transforma numa verdadeira antologia de tipos macabros, nenhum dos quais, infelizmente, consegue arrepiar os cabelos dos novos inquilinos da mansão. Braulio Tavares escritor, compositor e especialista em literatura fantástica 11