Palavras -chave: Protagonismo feminino - Heloneida Studart - Cultura Política. Relações de Gênero.

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Transcrição:

HELONEIDA STUDART: UMA ESCRITORA, MUITOS FEITOS, AS RELEMBRANÇAS TRANÇADAS NO TEAR DA HISTÓRIA RESUMO Elinalva Alves de Oliveira Mestre em Educação UECE E-mail:elinalvaalves@yhaoo.com.br Ana Maria do Nascimento Doutoranda -UFC, Bolsista da FUNCAP e-mail:rinaestrela@gmail.com Este artigo se propõe a abordar a história de Heloneida Studart, cujo olhar se encaminha para a perspectiva da cultura política, as relações de gênero e as lutas feministas. Investiga a articulação entre os modelos então prescritos e as reivindicações de mulheres que se lançaram e por isso se destacaram na cena pública. Para isso recorremos aos depoimentos e entrevistas dadas à revista Manchete, ao Jornal do Brasil, assim como aos estudos de Girão (1986), Cunha (2008), Rago (2003), como suporte teórico; utiliza ainda fontes imagéticas sobre o Brasil e seus movimentos, com foco na ação dessas mulheres, incluindo a ação da própria Heloneida Studart, cuja luta coincide com a história do feminismo brasileiro. Encontra como resultado, que ela tem sido lembrada com respeito e admiração por sua forte militância nos diversos lugares por onde passou, ocupando diferentes papéis: 1) como escritora, no movimento feminista; 2) no parlamento, ou como jornalista, onde foi incansável batalhadora contra a opressão sofrida pelas mulheres e na reivindicação ao reconhecimento dos seus direitos. Palavras -chave: Protagonismo feminino - Heloneida Studart - Cultura Política. Relações de Gênero. Introdução Na pretensa ideia de reavivar, junto à sociedade civil e, em particular, à literatura e aos estudiosos, pesquisadores e interessados na memória daqueles que compuseram de forma altiva e patriótica os momentos mais decisivos de nossa história, passo a escrever sobre Maria Heloneida Studart Soares Orban, cidadã fortalezense, escritora, jornalista, radialista, ensaísta, teatróloga, feminista, política e mãe, aspectos importantes da história politica e social que lhe dão por direito estar presente nas coisas de seu tempo.

Alguns desconhecem sua luta e trajetória, seu desempenho em momento e cenários decisivos da história nacional, por certo, devido a uma relativa carência de divulgação dos seus feitos. Ao reescrever por meio de dados existentes para a posteridade o perfil dessa versátil escritora na dimensão pessoal, política e social, este resgate histórico vem perpetuar, embora de forma simples, a presença da imortal Heloneida Studart, revividas graças às lembranças protegidas em seus escritos, contribuição expressada na sua luta para alcançar a democracia, justiça e igualdade social, ao longo dos tempos. Em reconhecimento ao valor da eminente escritora e mulher pública presente nos destinos do País e no universo feminino é que entendemos a importância do passado reavaliando nossa visão no presente. Convido então a todos, a tomar conhecimento da existência dessa escritora brasileira e a ressaltar as virtudes que enalteceram seus dias entre nós e na atividade política que ela tanto honrou. O tempo, o início, um recorte na história. O tempo, na sua marcha inexorável em busca do amanhã, teima em deixar o ontem à sombra do esquecimento. Assim, pessoas de singular, porém valiosa contribuição na formação de nossa sociedade, que compõem o nosso patrimônio tecido no mosaico histórico e social, têm suas trajetórias de vidas perdidas em qualquer recanto, apagadas da lembrança e da memória. Nessa elaboração que ficará nos registros, relato um fato da história do Brasil, iniciado na região Nordeste, no Ceará, a presença de uma destemida criatura que não se abate frente ao pseudo, determinismo da época, mas se faz combativa e vai à luta rompendo padrões vigentes. Franzina, porém valente, lhes apresento uma escritora com muitos feitos. Teve como companheiro de sua vida o engenheiro têxtil e administrador de empresa Franz Orban, com quem teve seis filhos do sexo masculino e uma filha adotiva. De temperamento alegre, possuía hábitos simples; foi escritora, jornalista, radialista, ensaísta, teatróloga, feminista, mãe e política brasileira.

Esteve também nos acirrados debates da Televisão brasileira de concessão pública, a TVE que divulgava programas educacionais, aulas, conferências, palestras e debates, sem caráter comercial. Heloneida participava do "Sem Censura" (onde atuou durante dois anos, todas as quartas-feiras), dos programas de rádio e da publicação de artigos nos principais jornais cariocas. Considerada uma das 100 brasileiras mais importantes do século XX, foi cotada entre 1.000 mulheres em 2006, pela Fundação de Mulheres Suíças para concorrerem ao prêmio Nobel da Paz. Dentre elas, 52 eram brasileiras (inclusive a escritora, jornalista cearense, e parlamentar carioca) que estavam lembradas e citadas. Em seus seis mandatos parlamentares de deputada estadual pelo Estado do Rio de Janeiro conseguiu por meio de legislação, trabalhar em três frentes: para as mulheres, para os trabalhadores, e projetos ecológicos, primando pela defesa da democracia e da justiça social. Seus feitos ficaram marcados na história por sua participação por ocasião da Assembleia Constituinte, no chamado "lobby do batom 1 cuja luta voltava-se para a inclusão de direitos trabalhistas específicos para mulheres, como a licença-maternidade de 120 dias. Nesse evento, a bancada feminina adotou o lema: "constituinte pra valer tem que ter palavra de mulher" (Studart, 2005). Conquistou na bancada do Parlamento estadual carioca, o direito da mulher de ser também chefe de família, eliminando o pátrio poder e a administração dos bens familiares somente pelo homem, o reconhecimento na igualdade salarial por trabalho igual e, segundo Heloneida, o mais difícil: aumentar para quatro meses o período de licença maternidade, para mulheres trabalhadoras formais. Foi responsável por leis para melhoria da condição de vida das mulheres e trabalhadores. A Lei 2.648/1996 beneficiou as mães de baixa renda possibilitando realizar, gratuitamente, o exame de DNA 2 ; a Lei 3.814/2002 permite que o serviço 1 Durante a Constituinte de 1988, a bancada de mulheres representando os interesses femininos nas discussões do Parlamento nacional formou um lobby nacional, o "lobby do batom", destacando-se aí Heloneida Studart que em sintonia com os movimentos populares conseguiram a aprovação de mais de 80% das reivindicações encaminhadas aos congressistas na área dos direitos da mulher. 2 O DNA é a maior macromolécula celular, sua estrutura identifica os seres vivos e apresenta características próprias permitindo, em indivíduos de uma mesma espécie, diferenciá-los.

público conceda um dia de licença por ano aos funcionários com 40 anos ou mais para exame preventivo de câncer. A Lei 4.103/2003 determinava que as unidades públicas e conveniadas de saúde realizassem cirurgia reconstrutiva de mama em mulheres mutiladas em decorrência do câncer; e a Lei 4.119/2003, garantindo a distribuição gratuita de medicamentos para tratamento e monitoramento da diabetes. Entre suas muitas tarefas, a escritora e deputada implantou o projeto "Libertas quae sera tamen", no Rio de Janeiro, incluindo os adolescentes em uma ação educativa cultural, esclarecendo ao público as lutas de libertação do povo brasileiro. Nesse sentido, encenaram as peças: Tiradentes, O Zé de Vila Rica, Bárbara do Crato e Frei Caneca. Essas ações, segundo Heloneida, focavam [...] os alunos das escolas públicas. Os atores eram adolescentes do Morro da Babilônia e do Chapéu Mangueira, quase todos negros". Essas peças foram dirigidas por Wilma Dulcetti, ficando por quatro anos em cartaz. Em 2007, afastada da vida parlamentar, assume os cargos de diretora do Centro Cultural da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro e do Fórum de Desenvolvimento Estratégico Jornalista Roberto Marinho, desse Estado. Entretanto, na manhã do dia 3 de dezembro de 2007, na cidade maravilhosa, deixa a convivência terrena aos 82 anos, em consequência de uma parada cardíaca. Um dia antes, havia sido eleita presidente da zonal de Laranjeiras do Partido dos Trabalhadores. A protagonista desta história é uma pequena notável que se tornou grande aos olhos de muitos, Maria Heloneida Studart Soares Orban, nasceu em Fortaleza Ceará, aos 9 dias do mês de abril de 1925, época em que Fortaleza em sua geografia urbana e costumes era uma cidade provinciana, vivendo o conflito da chegada dos primeiros ares da modernidade. Dizia ter pele morena em meio a uma família de "louras lindas". Conforme ressalta em seus escritos (Studart, 2005, s/p): nasci num casarão cheio de mulheres. O casarão do meu avô tinha sete alcovas, para que as mulheres não fossem às janelas, nem fossem vistas, pois as alcovas só abriam para dentro da casa. O casarão do meu avô tinha um piano na sala e seis empregadas na cozinha. As filhas se casavam e continuavam morando no casarão.

Nascida no meio de uma família ilustre, conservadora, cuja descendência materna tinha laços familiares bem dados, era sobrinha-neta do ilustre médico e historiador Barão de Studart 3 e, pelo lado paterno, o lado da família do meu pai, dos Bezerra de Menezes, que sempre foi profundamente subversivo, do líder abolicionista Antonio Bezerra de Menezes, um geógrafo reconhecido. Sua mãe era Edite Studart e seu pai Vicente Soares. Desde cedo, revelava o desejo pelo conhecimento, queria ser escritora, esta era sua meta prioritária de vida. Seguindo os costumes das famílias abastadas da época, o aprendizado escolar se deu no Colégio Imaculada Conceição administrado pelas irmãs Vicentinas de Fortaleza. Ali o ambiente exigia recato e muita oração, o que para Heloneida foi celeiro fértil para, aos nove anos, iniciar a escrever as suas histórias. E foi no texto intitulado A menina que fugiu do frio que se deu o encontro literário da promissora escritora com o mundo literário. Segundo Heloneida, quem lhe ensinou as primeiras letras, de fato, foi uma serviçal, hoje tratada como empregada doméstica, a quem suas tias chamavam "a negra", descendente de índios que, de forma nada convencional, alfabetizou-a clandestinamente. Desde cedo, teve o incentivo do pai, possuidor de uma biblioteca com mais de dois mil livros e que costumeiramente afirmava: "Você é a mais linda porque é a mais inteligente. Quando o tempo passar elas serão menos lindas e você estará mais inteligente". Assim, o pai despertara na filha o gosto pela leitura, o apego aos livros, à literatura (Idem). Nos tempos de férias escolares, seguiam à casa de praia da família em Iguape (no município de Aquiraz, muito próximo a Fortaleza) - relembra Heloneida (2005), acho que comecei a ser feminista quando eu tinha uns seis anos no Ceará, e a minha família ia passar as férias no interior, na praia, ao passarmos por um botequim, eu vi na parede um cartaz que até hoje não me sai dos olhos, onde estava escrito: Mulher aqui 3 Guilherme Chambly Studart, o Barão de Studart (1856-1938), médico, intelectual, historiador e vice-cônsul do Reino Unido no Estado. Fundador do Instituto Histórico Geográfico e Antropológico do Ceará (1887) preservou a historiografia cearense. Foi abolicionista, dedicando-se à caridade e à filantropia. Tornou-se membro de inúmeras instituições, fundou a Academia Cearense de Letra (1894) e o Círculo dos Operários Católicos de Fortaleza (1915), dentre outras.

só diz três coisas: Entra menino, Xô, galinha, e Sim, senhor. Esse Sim, senhor me marcou profundamente. Fiquei muito impressionada com isso. Outro episódio que a revoltava partiu de uma tia ao lhe afirmar: "Heloneida, fique certa que mulher não tem querer são preparadas para se tornarem esposas aos 17 anos, aos 18, sem ir para a faculdade, sem trabalhar fora, e passando do governo do pai para o governo do marido. Eu tinha 7 anos e resolvi que ia passar a minha vida mostrando que mulher tinha querer sim. A protagonista, aos 12 anos, decidiu que esse não seria o seu destino, nas rodas da família e repetia sua decisão que muito escandalizava e chocava aos seus. Com a idade de 13 anos, estando em sua residência em Fortaleza, ouviu gritos de pavor. Percebeu virem da casa de Bete, mocinha linda, que usava tranças, no cabelo. Quis saber a razão de tudo aquilo, do grito ecoado. Sai de casa e apenas uma hora depois conhece o fato, diz a escritora em fragmento de sua crônica memorialista "O poder desarmado" (2001), Jornal do Brasil, Rio de Janeiro: A linda mocinha de tranças, Bete fora acusada de não ser mais virgem e os dois irmãos a subjugavam em cima de sua estreita cama de solteira, para que o médico da família lhe enfiasse a mão enluvada entre as pernas e decretasse se tinha ou não o selo da honra. Como o lacre continuava lá, os pais respiraram, mas a Bete nunca mais foi à janela, nunca mais dançou nos bailes e acabou fugindo para o Piauí, ninguém sabe como, nem com quem. (Jornal do Brasil, 2001) Para Heloneida (2005), esses fatos permaneceram vivos em sua consciência; por isso, indagava: que poder é esse que a família e os homens têm sobre o corpo das mulheres. Antes, para mutilar, amordaçar, silenciar. Hoje, para manipular, moldar, escravizar aos estereótipos? Realmente, era atenta ao mundo que lhe rodeava e em nota citada no Jornal do Brasil, em 06/02/2001, pontuou mais um daqueles episódios cotidianos: Eu tinha apenas 14 anos, quando Maria Lúcia tentou escapar, saltando o muro alto do quintal de sua casa, para se encontrar com o namorado. Agarrada pelos cabelos e dominada, não conseguiu passar no exame ginecológico. O laudo médico registrou vestígios himenais

dilacerados e os pais internaram a pecadora no reformatório Bom Pastor para se esquecer do mundo. Esqueceu, morrendo tuberculosa. (Jornal do Brasil, 06/02/2001) Relembra que, aos 16 anos, empreende nova aventura. Segue ao interior do Ceará, de carona; vai tentar arranjar uma certidão para antecipar a sua maioridade. Com seus 21 anos, então, decide ir morar com o tio Osvaldo Studart, deputado pelo PSD no Rio de Janeiro, a capital da República à época, centro disseminador de cultura do país. Lá chegando, em 1949, vai cursar Ciências Sociais na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ali também firma-se profissionalmente como colunista, no jornal O Nordeste, sendo porta voz oficiosa da Igreja Católica expondo suas opiniões, suscitando polêmicas. Ao chegar ao Rio, foi logo trabalhar no Serviço Social da Indústria (SESI). Lá passou a comandar uma experiência nova: a biblioteca ambulante, que consistia num ônibus com um acervo de 500 livros, um microfone que transmitia para fora e uma aparelhagem de cinema que passava filme em qualquer parede. O trabalho era emprestar livros nos conjuntos habitacionais de trabalhadores. Ali também conheceu Franz Orban, seu futuro marido. Para Heloneida (2005): esse trabalho teve uma grande função na minha politização. Passei a ter um contato direto com os operários, eles falavam comigo, e fui me aprofundando na questão da injustiça social. Foi aí que começou a minha militância política. Embora exercendo outras atividades, nada a desviou do seu objetivo; sua tenacidade é admirável, mesmo em tenra idade se interessava por coisas além do seu tempo, e sua passagem pela vida literária, também, tem presença em Fortaleza, ao integrar o quadro de escritoras da Casa de Juvenal Galeno, participando da denominada Ala Feminina 4, dirigida por Henriqueta Galeno, escritora célebre que estimulava a atuação das mulheres nas letras cearenses. 4 Em 1936, a insigne beletrista Henriqueta Galeno, "a Joana d'arc das letras e das artes no Ceará" (definição dada pelo Dr. Mariano Martins, deputado estadual) criou no "Templo Sagrado" - a Casa Iluminada do Poeta Juvenal Galeno - a "Falange Feminina. Guardiã do "Templo", essa extraordinária "sacerdotisa" resolveu romper as barreiras e os grilhões que, encarceravam o "pensamento feminino", sufocando os eflúvios d'alma impossibilitando o registro da emoção. Fonte: (Wikipédia). Acesso em novembro /2014.

A Organização das Nações Unidas (ONU) institui o ano de 1975 como o Ano Internacional da Mulher nominando os anos de 1975 a 1985 como a Década da Mulher em todo o mundo. Na Revista Manchete, em seus pontuados escritos, Heloneida ressaltava a situação das mulheres e as relações entre os sexos, destacando: Ao ficar para trás, aquecendo a primeira panela, a mulher se viu condenada a aquecer outras panelas, pelos séculos dos séculos, enquanto o homem foi utilizando progressivamente da roda, o motor, a eletricidade, a fissão do átomo 5. [...] É em torno desta panela, ancestral que muitos querem que a mulher, em 1975, viva, como vivia a sua antepassada do neolítico. (Revista Manchete, nº1187, 18/01/1975: 28) Dando continuidade à veia literária, de posse dos originais de A primeira pedra, romance (1953), incentivada por sua madrinha literária, Rachel de Queiroz, cearense, escritora, a primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras (ABL), teve ânimo para publicá-lo. Então, edita o romance pela Saraiva. Nesse livro, dialoga com os estereótipos criados para a mulher ao longo da história ocidental em âmbito (religioso, político, jornalístico, médico, jurídico, imagético e literário) surgindo aí um certo dever feminino. O campo fértil se alastra, e nova produção é apresentada, desta feita a obra, Dize-me o teu nome - romance (1955), editado pela Livraria São José, alcançando sucesso de público e de crítica. Prefaciado por Alceu Amoroso Lima, é premiado pela Academia Brasileira de Letras (ABL) e laureado com o prêmio Orlando Dantas, do jornal Diário de Notícias no Rio de Janeiro. A respeito do livro, comenta Tristão de Ataíde (1955), citado por Girão e Sousa: É, antes de tudo, um romance escrito com uma simplicidade original como deve ser a verdadeira simplicidade estilística que não se confunde com a vulgaridade terra a terra, como tantos falsos escritores acreditam, pois não basta ser retórico para escrever bem. (GIRÃO e SOUSA, 1987, p. 220) 5 Quebra do núcleo de um átomo. Fonte: (Wikipédia). Acesso em dezembro /2014.

No Brasil, os anos de 1964 a 1985 trazem um cenário de supressão de direitos constitucionais, censura, perseguição política e repressão àqueles contra o nominado regime militar. Era um tempo em que falar de direitos era difícil, e a ditadura traz tempos difíceis para a escritora que ficou desempregada e até presa por algumas semanas em 1969, no presídio feminino São Judas Tadeu, na Rua da Relação, 40, esquina com a Rua dos Inválidos, no Centro do Rio de Janeiro. Ali, em meio ao ambiente hostil de repressão, escreve roteiros para o teatro rendendo bons frutos pelas peças Quero meu filho e Não roubarás exibida pela mídia brasileira, com sucesso. Passada essa dura experiência, Heloneida, vai laborar no jornal Correio da Manhã, um dos mais respeitáveis e longevos periódicos do país fundado em 1901, na cidade do Rio de Janeiro, recheado por críticas, editoriais e troças com a política e a sociedade local. Como redatora na Revista Manchete, fundada por Adolpho Bloch em 1952, ali permaneceu por dez anos, sendo porta-voz de denúncias acerca da condição das mulheres clamando a atenção de muitos, retratando os fatos sem rodeios, pois tinha voz autorizada. Sobre a festejada data do Dia Internacional da Mulher, em 18 de janeiro de 1975, escreve na Revista uma reportagem intitulada: 75, o ano da Mulher. Comenta que: Foram precisos sete mil anos de História contando-se do momento em que o homem começou a marcar as primeiras inscrições na pedra para que a mulher tivesse, finalmente, a atenção voltada para os seus problemas específicos. [...] O ano de 1975 será, portanto, um ano de reivindicações feministas. Em que as mulheres, como qualquer outra categoria oprimida, pretendem dizer vários bastas e proclamar outros tantos vivas. (MANCHETE revista nº1187, 18/01/1975: 26). Em seguida, descortinando nuances do cotidiano feminino por meio das experiências pessoais tidas no trabalho e fora dele, escreveu com maestria o ensaio Mulher, objeto de cama e mesa (1974) em cujos textos e imagens fala sobre a condição da mulher, seu corpo, sua representação. Publicado pela Editora Vozes (RJ), vendeu 280 mil exemplares, um best-seller que está em sua 27ª edição.

Realiza-se o Congresso Internacional de Mulheres no México, em 1975, e Heloneida faz a cobertura jornalística vinculada à Revista Manchete. Elas e outras destacadas personalidades presentes ao evento, ao retornarem ao Brasil, idealizam a primeira entidade feminista: o Centro da Mulher Brasileira (CMB). Foram elas: Rose Marie Muraro 6, Branca Moreira Alves, Moema Toscano. Segundo estas: "[...] não valia a pena só mudar as leis e que a luta tinha que ir mais fundo". Por esta ousada iniciativa, foram perseguidas pela polícia, mesmo assim, segundo afirmam: foi [...] um rastilho de pólvora", muitas mulheres aderiram às novidades e à luta, assim como a outras agremiações. Segundo Rago (2003), "[...] feministas das novas gerações defendiam prioritariamente as políticas do corpo e as questões da sexualidade". CUNHA (2008: 273), citando Heloneida Studart, diz que ela seguia aliando militância feminista e jornalismo e, como redatora do programa de rádio de Cidinha Campos 7 na Rádio Manchete elabora com Rose Marie Muraro, por sugestão de Juca Chaves 8, um roteiro de impacto: Homem não entra. O texto era um monólogo que objetivava sacudir as mentes femininas discutindo as mais diversas questões emergidas no ato teatral encenado nos palcos de várias cidades inclusive em Fortaleza, no Teatro José de Alencar ficando em cartaz por cinco anos, com sessões sempre lotadas. Logo após findar o cruel regime militar, a escritora apresenta três novos romances, nominando-os de "Trilogia da Tortura". O primeiro, O pardal é um pássaro azul (1975), traduzido em quatro idiomas, impresso pela Editora Círculo do Livro, São Paulo, reflete o papel político, a relação entre poder e discurso, o ver e dizer o mundo 6 Rose Marie Muraro, desde cedo lutou contra as dificuldades, físicas e sociais. Nasceu praticamente cega, mas a deficiência foi o grande desafio de sua vida. Somente aos 66 anos de idade, ao recuperar parte da visão por meio cirúrgico, viu o rosto pela primeira vez. Estudou Física, escreveu e editou livros, responsabilizou-se por publicações polêmicas e contestadoras. Foi pioneira ao levantar o problema da mulher no Brasil moderno. Em 1992, recebeu o titulo de Personalidade Intelectual do Ano pela União Brasileira de Escritores. Por nove vezes esteve indicada por várias instituições Mulher do Ano e duas vezes uma das Mulheres do Século. Foi nomeada Cidadã Honorária de Brasília (2001) e de São Paulo (2004). Recebeu o prêmio Teotônio Vilela, em comemoração aos 20 anos da anistia no Brasil. Em 2005 recebeu o título de Matrona do Feminismo no Brasil. 7 Jornalista, radialista e política brasileira, é paulista. Fonte: Wikipédia, Nov/2014. 8 Crítico do regime militar, da imprensa e do próprio mercado fonográfico. É cantor e compositor. Vive em São Paulo. Fonte: Wikipédia, Nov/2014.

contribuindo na criação do novo. Em francês recebeu o título de Le cantique de Memeia, em alusão à protagonista. No Canadá o livro teve formato de edição de bolso. Em O estandarte da agonia, segundo romance (1981), obra que ela considerou sua melhor produção literária, narra às memórias da era repressiva, pontuando nuances da vida de Zuleika Angel (Zuzu Angel), estilista brasileira de moda, sua amiga, mãe do militante político Stuart Angel Jones (desaparecido) e da jornalista Hildegard Angel. Encerrando a trilogia, brinda o público com O torturador em romaria, romance (1986) cujo protagonista é um torturador que transita entre o Rio de Janeiro e o Ceará em sua missão e peregrinação. Três anos depois, ofereceu mais uma obra de destaque e impacto, lançando Mulher, a quem pertence seu corpo? (1989), ensaio publicado pela Editora Vozes (Rio de Janeiro - Petrópolis). Está na 6ª. Edição. São de sua autoria A culpa, romance, (1963); Deus não paga em dólar, romance (1968) foi retirado do mercado literário durante a repressão, considerado pela crítica, um marco da literatura brasileira. A deusa do rádio e outros deuses, romance (1970), e China, o Nordeste que deu certo, reportagem (1977). O estandarte da agonia, romance (1981). No reino da boneca encantada (s/d); Selo das despedidas, romance (2000). Jesus de Jaçanã, romance (2000), relata a saga de um nordestino sem terra, também traduzido para o francês; Luiz, o santo ateu, biografia (2006) da vida do potiguar Luiz Maranhão Filho, professor, advogado, jornalista, ex-deputado estadual do RN e importante militante político do PCB, preso durante a ditadura militar, desaparecido desde abril de 1974. Em 2003, a escritora concorreu a uma cadeira na Academia Brasileira de Letras (ABL), um espaço hegemônico da cultura patriarcal, porém foi preterida na disputa com Marco Maciel. Colaborou com artigos, ensaios e crônicas, na Tribuna da Imprensa, O Globo e O Pasquim, dentre outros periódicos da cidade carioca. Como redatora e produtora do Programa de Cidinha Campos na rádio Tupi, ali permanecendo até o ano de 1982, quando passou a trilhar novos rumos, direcionados à vida parlamentar. Uma nova estrada, outra história.

Heloneida logrou êxito em seis legislaturas na Assembleia Leislativa do Rio, sendo seu último partido, o Partido dos Trabalhadores (PT). A longa carreira parlamentar começa em 1978 no Estado do Rio de Janeiro, onde residia desde tenra idade, quando deixou Fortaleza. Heloneida (2005) comenta assim esse início: um grupo de esquerda resolveu apresentar nomes para tentar a legenda do MDB. Não sei por que, pensaram no meu. Eu nem tinha ideia de como se fazia uma campanha política. Separaram para mim as favelas da Tijuca: Formiga, Borel e São Carlos. Naquele tempo as favelas eram pacíficas e eu subia aquilo todo fim de semana. ( HELONEIDA, 2005, p.?) Na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), exerceu vários cargos importantes: foi vice-presidente da Comissão Parlamentar de Controle do Meio-Ambiente, integrou as comissões especiais dos direitos da mulher tratando sobre os direitos de reprodução, assim como da apuração das condições de atendimento da população nessa área; atuou, ainda, como vice-líder da bancada do PT (de 1991 a 1995; de 1995 a 1999). Sua atuação como parlamentar lhe permitiu exercer cargos de destaque. Foi presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro no período de 1981 a 1982; presidiu uma comissão especial que apurava denúncias nas formas de arrecadação e distribuição dos direitos autorais no Rio de Janeiro. Foi presidente da Comissão Permanente de Defesa dos Direitos Humanos na mesma Casa Parlamentar. Nos anos de 2002 a 2006, foi primeira vice-presidente da Alerj, participando de projetos importantes como a fundação da TV Alerj, da construção e inauguração do Centro Administrativo da Casa, na Rua da Alfândega. Em 2007, a ex-deputada foi nomeada para os cargos de diretora do Centro Cultural e do Fórum de Desenvolvimento Estratégico do Estado do Rio de Janeiro Jornalista Roberto Marinho, da Assembleia Legislativa. Algumas considerações: arrematando os fios da História

Vivendo, na sua grande maioria, sob o jugo de um sistema machista, patriarcal, os questionamentos sobre a ausência de direitos, a exclusão feminina da vida pública formavam o cenário da cultura política do país. Heloneida Studart foi uma voz atuante na luta em favor da conquista dos direitos das mulheres e contra a opressão e o preconceito impostos. Ela contribuiu com essa velada problemática. Sua luta e engajamento concorreram para alargar o ideal feminista, propiciar o debate e, assim, deu visibilidade às indagações pertinentes que se estamparam nas ações que realizou, em seus escritos, nos livros, na tribuna do parlamento ao aprovar diversas leis. Suas obras, baseadas em eventos históricos (embora fosse sutil ao mencioná-los) trazem forte traço autobiográfico, disposto pelo romance, que vão aquém de belas e criativas narrativas sobre o amor unindo história e ficção, recompondo costumes, personagens e acontecimentos. Está, aqui, a razão para se contar e espalhar esta história para que venha a ser conhecida, principalmente por aqueles que não puderam desfrutar e conviver com esta cidadã cearense, conhecida como a Sra. Heloneida Studart. Seu empenho e luta se destinaram, principalmente, para as mulheres necessitadas e marginalizadas; suas reivindicações revelaram os problemas e condições sociais da mulher, com os quais ela se identificou. Em O poder desarmando (2005), reflete: é preciso voltar os olhos para a população feminina como a grande articuladora da paz. E para começar, queremos pregar o respeito ao corpo da mulher. Dizia sempre: eu sou uma mulher que deu certo, que fez carreira política, fez carreira literária (Studart, 2003). Não deixou fortuna alguma, fez política sem intenção de auferir lucros econômicos, não poupou esforços para diminuir as desigualdades sociais. Incansável na luta partilhava todas as conquistas. E, vale pontuar, teve ética também na política. Referências

CUNHA, Cecília. Uma escritora feminista: fragmentos de uma vida. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v.16, n.1, jan./abr. 2008, p. 271-276. ERGAS, Yasmine. O sujeito mulher. O feminismo dos anos 1960-1980. In: DUBY, Georges; GIRÃO, Raimundo; SOUSA, Maria da Conceição. Heloneida (Maria) Studart. In: Dicionário da literatura cearense. Fortaleza: Imprensa Oficial do Ceará, 1987. p. 219-220. RAGO, Margareth. Os feminismos no Brasil: dos anos de chumbo à era global. Revista Estudos Feministas, n. 3, jan./jul. 2003. Disponível em: http://www.unb.br/ih/his/gefem/ labrys3/web/bras/marga1.htm. Acesso em: 11 fev. 2013. STUDART, Heloneida. O corpo das mulheres é desarmado. Jornal do Brasil, 25 out. 2005. Entrevista: Entrevista no Caderno B. Disponível em http:/jbonline.terra.com.be/jb/papel/cadernob/2005/10/22. Acesso em: 13 fev. 2013. Depoimento: STUDART, Heloneida. Heloneida Studart (depoimento, 1999). Rio de Janeiro, CPDOC/ALERJ, 2003. Periódico: STUDART, Heloneida. O poder desarmado. Jornal do Brasil, 6 fev. 2001.