Anticorpos anti-brucella canis e anti-brucella abortus em cães de Araguaína, Tocantins

Documentos relacionados
42º Congresso Bras. de Medicina Veterinária e 1º Congresso Sul-Brasileiro da ANCLIVEPA - 31/10 a 02/11 de Curitiba - PR 1

Pesquisa de anticorpos anti-brucella canis em cães provenientes da região metropolitana de Salvador

Fatores de risco e presença de anticorpos contra Brucella canis e amostras lisas de Brucella em cães do município de Araguaína, Tocantins, Brasil

ARS VETERINARIA, Jaboticabal, SP, v.29, n.3, , ISSN

Palavras-chave:Brucelose. IDGA. Sorológicos. Canino. Keywords: Brucellosis. IDGA. Serological. Canine.

Avaliação da Ocorrência de Anticorpos Anti-Brucella abortus em Caprinos da Região Semiárida do Estado de Pernambuco

PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia.

Situação epidemiológica da brucelose bovina no Estado de Santa Catarina

INCIDÊNCIA DE BRUCELOSE BOVINA EM MACHOS DESTINADOS À REPRODUÇÃO, NO MUNICÍPIO DE UBERLÂNDIA, MINAS GERAIS

RESSALVA. Atendendo solicitação do autor, o texto completo desta tese será disponibilizado somente a partir de 04/04/2016.

ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DE Brucella canis EM PATOS, PARAÍBA, BRASIL RESUMO

Palavras-chave: Alagoas. Canino. Brucelose. Keywords: Alagoas. Canine. Brucellosis.

Toxoplasma gondii em Tamanduá Bandeira (Myrmecophaga tridactyla, Linnaeus 1758) da região Noroeste do Estado de São Paulo

Situação epidemiológica da brucelose bovina no Distrito Federal

RELATOS DE CASO INCIDÊNCIA DE BRUCELOSE ANIMAL NA REGIÃO SUL DE MINAS GERAIS EM REBANHOS POSITIVOS AO TESTE DO ANEL DO LEITE: NOTA TÉCNICA

Soroprevalência e fatores de risco associados à infecção por Brucella canis em cães da cidade de Campina Grande, estado da Paraíba

Associação entre brucelose e ocorrência de abortamentos em bovinos do Estado do Espírito Santo Nota Prévia

Levantamento Sorológico da Brucelose em Bovinos da Raça Sindi no Semiárido Pernambucano

PREVALÊNCIA DE BRUCELOSE BOVINA ENTRE REBANHOS FORNECEDORES DE LEITE DE UM LATICÍNIO EM ITIRAPUÃ, ESTADO DE SÃO PAULO

OCORRÊNCIA DE AGLUTININAS ANTI - Brucella abortus EM REBANHOS BOVINOS DA ILHA DE SÃO LUÍS - MA

Imunodifusão em gel de agar e soroaglutinação rápida para a detecção de anticorpos Anti-Brucella canis

BRUCELOSE BOVINA PNCEBT

Ciência Rural ISSN: Universidade Federal de Santa Maria Brasil

Resumo. Introdução. Palavras-chave: Sorologia. Diagnóstico. Brucelose canina. Brucella canis.

ELISA INDIRETO PARA BRUCELOSE BOVINA UTILIZANDO VACINA B19 E EPS COMO ANTÍGENOS

11 a 14 de dezembro de 2012 Campus de Palmas

05/03/2017. Zoonose. Cocobacilos gram (-) Colônias Lisas B. suis (A e M) B. abortus (A) B. melitensis (M)

Detecção de DNA de Brucella spp. em amostras de sangue e de suabe vaginal ou prepucial de cães do município de Natal, Rio Grande do Norte, Brasil

SITUAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA DA BRUCELOSE BOVINA NO BRASIL: BASES PARA AS INTERVENÇÕES

DETECÇÃO DE ANTICORPOS ANTI-BRUCELLA EM PLASMA SEMINAL E SORO DE BOVINOS DETECTION OF ANTI- BRUCELLA ANTIBODIES IN PLASMA SEMINAL AND CATTLE SERUM

Tipos de estudos epidemiológicos

AVALIAÇÃO DE BACTÉRIAS VIÁVEIS AO VENCIMENTO EM VACINAS B19 CONTRA BRUCELOSE COMERCIALIZADAS NO BRASIL

RESPOSTA SOROLÓGICA DE BEZERRAS TABAPUÃS VACINADAS COM CEPA B19 de Brucella abortus

PERFIL DA POPULAÇÃO CANINA DOMICILIADA DO LOTEAMENTO JARDIM UNIVERSITÁRIO, MUNICÍPIO DE SÃO CRISTÓVÃO, SERGIPE, BRASIL

Prevalência de sorologias positivas para BVD, Neospora e IBR em rebanhos bovinos leiteiros do Sul de Minas Gerais

ARS VETERINARIA, Jaboticabal, SP, v.29, n.3, , ISSN

Laboratório de Parasitologia Veterinária, Universidade Federal da Fronteira Sul- UFFS- Campus Realeza- Paraná

BRUCELOSE BOVINA, REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.

LINFADENITE CASEOSA EM REBANHOS OVINOS NO ESTADO DE MINAS GERAIS, BRASIL: PREVALÊNCIA E INFORMAÇÕES DE MANEJO

Semina: Ciências Agrárias ISSN: X Universidade Estadual de Londrina Brasil

Inquérito soroepidemiológico para brucelose em suídeos do Brasil

Situação epidemiológica da brucelose bovina no Estado de Rondônia

DETERMINAÇÃO DA PREVALÊNCIA DAS PRINCIPAIS DOENÇAS DA REPRODUÇÃO NO REBANHO BOVINO DA REGIÃO DE UBERABA-MG

Prevalência de anticorpos anti-toxoplasma gondii e anti-neospora caninum em rebanhos caprinos do município de Mossoró, Rio Grande do Norte

Universidade Federal de Pelotas Medicina Veterinária Zoonoses. Diagnóstico laboratorial Brucelose TESTE DO 2-MERCAPTOETANOL

Circular. Avaliação da persistência de anticorpos vacinais em bezerras bubalinas vacinadas com a cepa B19 de Brucella abortus.

Comparação do ELISA indireto no diagnóstico da brucelose em rebanho bovino vacinado e não vacinado 1

SISTEMA DE CADASTRO E ANÁLISE DO EXAME DE BRUCELOSE

Situação epidemiológica da brucelose bovina no Estado do Mato Grosso do Sul

ANÁLISE EPIDEMIOLÓGICA DA INFECÇÃO PELO VÍRUS DA DIARREIA VIRAL BOVINA EM REBANHOS DA AGRICULTURA FAMILIAR, NA MICRORREGIÃO DO BREJO PERNAMBUCANO

REQUISITOS ZOOSANITÁRIOS DOS ESTADOS PARTES DO MERCOSUL PARA A IMPORTAÇÃO DE EMBRIÕES OVINOS COLETADOS IN VIVO

42º Congresso Bras. de Medicina Veterinária e 1º Congresso Sul-Brasileiro da ANCLIVEPA - 31/10 a 02/11 de Curitiba - PR 1

Palavras-chave: Brucella abortus. Mycobacterium bovis. Saúde pública. Prevalência. Sudoeste do Paraná.

Bioestatística Aula 4

Ciência Rural ISSN: Universidade Federal de Santa Maria Brasil

OCORRÊNCIA DE ANTICORPOS ANTI-Brucella ovis EM OVINOS DE SINOP E REGIÃO, MATO GROSSO, BRASIL

Curitiba, 05/05/2016

Avaliação de métodos diretos e indiretos de diagnóstico da brucelose em. cães naturalmente infectados

CidadeUniversitáriaPauloIV Tirirical - SãoLuís/MA. Fone: (98) /site:

Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v.61, supl. 1, p.6-13, Situação epidemiológica da brucelose bovina no Estado da Bahia

Validação interlaboratorial do teste de polarização fluorescente para o diagnóstico sorológico da brucelose bovina

Diagnóstico da brucelose canina: dificuldades e estratégias Canine brucellosis diagnosis: pitfalls and strategies

CERTIFICAÇÃO DE FAZENDAS Perguntas mais frequentes

Programa Analítico de Disciplina VET346 Epidemiologia Veterinária

Situação epidemiológica da brucelose bovina no Estado do Rio Grande do Sul

Circular Técnica. Recomendações para o Controle da Brucelose Bovina no Estado de Mato Grosso do Sul. Introdução ISSN X

Diagnóstico sorológico da brucelose bovina em animais adultos

BIOESTATÍSTICA AULA 4. Anderson Castro Soares de Oliveira Jose Nilton da Cruz. Departamento de Estatística/ICET/UFMT

Universidade Federal de Pelotas Medicina Veterinária Zoonoses. Diagnóstico laboratorial Brucelose TESTE DO 2-MERCAPTOETANOL

Situação epidemiológica da tuberculose bovina no Estado de Mato Grosso

Discente do Curso de Medicina Veterinária da Unime, Lauro de Freitas, BA - Brasil, b

Palavras- chave: Leishmaniose; qpcr; cães. Keywords: Leishmaniases; qpcr; dogs.

Ocorrência da brucelose e tuberculose bovina e percepção de riscos no Mato Grosso do Sul, Brasil*

Epidemiologia Descritiva CURSO DE EPIDEMIOLOGIA VETERINÁRIA, ACT Prof. Luís Gustavo Corbellini EPILAB /FAVET - UFRGS

AVALIAÇÃO SOROLÓGICA DE Leptospira spp. E Brucella spp. EM AOUDADS DO ZOOLÓGICO DE CURITIBA-PR

Situação epidemiológica da brucelose e tuberculose bovinas no circuito pecuário 2 do Estado de São Paulo, Brasil, 2011

PERFIL METABÓLICO E ENDÓCRINO DE EQUÍDEOS

ASSOCIAÇÃO DA CARGA PARASITÁRIA NO EXAME CITOLÓGICO DE PUNÇÃO BIÓPSIA ASPIRATIVA DE LINFONODO COM O PERFIL CLÍNICO DE CÃES COM LEISHMANIOSE VISCERAL.

Palavras-chave: canino, tripanossomíase, Doença de Chagas Key-words: canine, trypanosomiasis, chagas disease

Situação epidemiológica da brucelose bovina no Estado do Espírito Santo

Detecção molecular de Brucella canis em cães do Município de Cuiabá, Estado de Mato Grosso

INSTITUTO DE VETERINÁRIA

BRUCELOSE BOVINA NO ESTADO DE RORAIMA: ESTUDO RETROSPECTIVO

epidemiológica da brucelose bovina no Assentamento Nossa Senhora Aparecida no município de Mariluz no estado do Paraná, Brasil *

ANÁLISE RETROSPECTIVA DO DIAGNÓSTICO DE MICOPLASMOSE ANIMAL PELA PCR NO PERÍODO

GUSTAVO COELHO JARDIM

Situação epidemiológica da brucelose bovina no Estado de Goiás

Iuri Coelho Greve Graduando de Medicina Veterinária da UNIME, Lauro de Freitas - BA.

Sistema de monitoria e vigilância em saúde animal. CURSO DE EPIDEMIOLOGIA VETERINÁRIA, ACT Prof. Luís Gustavo Corbellini EPILAB /FAVET - UFRGS

DETECÇÃO DE BRUCELLA CANIS EM CÃO DO MUNICÍPIO DE MINEIROS-GO.

FREQUÊNCIA DE ANTICORPOS CONTRA O HERPESVÍRUS BOVINO TIPO 1 (BHV-1) EM BOVINOS LEITEIROS NÃO VACINADOS NA BACIA LEITEIRA DA ILHA DE SÃO LUÍS-MA

Título - Arial 44pt - Bold

DESAFIOS DA LEPTOSPIROSE NO BRASIL

Fernandes Alves et al., Revista Brasileira de Higiene e Sanidade Animal (v.11, n.3) p , jul - set (2017)

DIAGNÓSTICOS REPRODUTIVOS A CAMPO. Andressa da Silva Curtinaz Dante Ferrari Frigotto

OCORRÊNCIA DE TUBERCULOSE EM REBANHO BUBALINO (Bubalus bubalis VAR. BUBALIS-LINNEUS, 1758) EM UMA PROPRIEDADE DO MUNICÍPIO DE ARARI, MARANHÃO, BRASIL

Transcrição:

167 Anticorpos anti-brucella canis e anti-brucella abortus em cães de Araguaína, Tocantins Antibodies anti-brucella canis and anti-brucella abortus in dogs from Araguaína, Tocantins, Brazil Elaine Maria Seles DORNELES 1 ; Helcileia SANTOS 2 ; Silvia MINHARRO 2 ; Josefa Moreira do NASCIMENTO-ROCHA 2 ; Luis Antônio MATHIAS 3 ; Maurício Gauterio DASSO 4 ; Carolina Daros TIENSOLI 1 ; Marcos Bryan HEINNEMAN 1 ; Andrey Pereira LAGE 1 1 Laboratório de Bacteriologia Aplicada do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte-MG, Brasil 2 Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal do Tocantins, Araguaína-TO, Brasil 3 Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Reprodução Animal da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal-SP, Brasil 4 Instituto de Pesquisas Veterinárias Desidério Finamor, Eldorado do Sul-RS, Brasil Resumo Os objetivos deste estudo foram determinar a soroprevalência da infecção por Brucella canis e Brucella abortus e avaliar os possíveis fatores de risco associados à infecção em cães no município de Araguaína, Tocantins. Soros de 374 cães, pertencentes à zona urbana do município de Araguaína-Tocantins, foram analisados pelas técnicas de imunodifusão em ágar gel (IDGA), para pesquisa de anticorpos contra Brucella canis, e antígeno acidificado tamponado (AAT) e polarização fluorescente (FPA) para detecção de anticorpos contra Brucella abortus. Dos 374 soros testados para presença de anticorpos contra B. abortus, 21 foram reagentes no AAT, entretanto todos foram negativos pela FPA. À prova do IDGA 167 animais foram reagentes resultando em uma prevalência para B. canis de 44,53% (IC 95%; 39,43 a 49,72). A avaliação de possíveis fatores de risco associados à soropositividade para B. canis não revelou a existência de relação entre a infecção e as variáveis individuais estudadas. Assim, o presente estudo permite concluir que não houve animais infectados por B. abortus e que a infecção por B. canis está disseminada nos cães do município de Araguaína, Tocantins. Palavras-chave: Brucelose canina. Epidemiologia. Brasil. Imonodifusão em ágar gel. Abstract The aims of the present study were to determine the seroprevalence of infection by Brucella canis and Brucella abortus and to evaluate possible risk factors for infection in dogs from Araguaína, Tocantins, Brazil. Sera from 374 dogs, of the urban zones of the municipality, from both sexes, were submitted to the agar-gel immunodiffusion for Brucella canisantibodies and to rose Bengal test (AAT) and fluorescence polarization assay (FPA) for Brucella abortus-antibodies. From the 374 tested dogs, 21 reacted in the AAT, but no one was positive in the FPA. The seroprevalence of B. canis infection found in Araguaína, Tocantins, Brazil, was 44.53% (95% IC; 39.43 to 49.72). No association was found among seropositivity for B. canis and the risk factors studied. Thus, data from the present study showed that there was no infection by B. abortus among dogs in the sample and that infection by B. canis is widespread and at high prevalence in Araguaína, Tocantins, Brazil. Keywords: Canine brucellosis. Epidemiology. Brazil. Agar-gel immunodiffusion. A brucelose canina é uma enfermidade infectocontagiosa, que causa aborto e infertilidade nas fêmeas e epididimite e atrofia testicular nos machos. Pode acometer também canídeos silvestres, o homem e raramente gatos 1,2. A infecção, na grande maioria dos casos, é ocasionada pela Brucella canis, no entanto a Brucella abortus pode estar envolvida 3. Desde a sua descrição nos Estados Unidos em 1966 4, a doença já foi comprovada em vários países, podendo-se afirmar que está mundialmente distribuída 2. Correspondência para: Andrey Pereira Lage Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais Av. Antônio Carlos 6627, CEP 30123-970, Caixa postal 567, Belo Horizonte MG Fax: +55 31 3409 2080 e-mail: alage@vet.ufmg.br Recebido: 04/03/2010 Aprovado: 09/02/2011

168 No Brasil, inquéritos sorológicos identificaram a presença de anticorpos contra os agentes da brucelose canina em vários locais, com frequências variando de 0,84% a 58,3%, mostrando que a doença é prevalente no país e responsável por problemas reprodutivos nos cães, com inúmeros prejuízos aos criadores, e possível fonte para infecções humanas 3,5,6,7,8,9,10,11,12,13. Considerando-se o caráter zoonótico da brucelose canina, sua interferência na vida reprodutiva do animal e a grande inserção dos cães na sociedade, o objetivo deste estudo foi determinar a prevalência da infecção por Brucella canis e Brucella abortus em cães no município de Araguaína, Tocantins, e avaliar os possíveis fatores de risco associados a essas infecções. O inquérito epidemiológico foi conduzido no segundo semestre de 2005 durante a campanha de vacinação antirrábica do Município de Araguaína, Tocantins, em parceria com o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) da Prefeitura Municipal de Araguaína. O número de animais necessário ao ensaio foi calculado estimando-se uma prevalência de 50%, com intervalo de confiança de 95% e um erro de 5% 14, resultando em uma amostra de 374 animais. A coleta foi realizada em 54 postos de vacinação, distribuídos em bairros da zona urbana do município. O número de animais amostrados por posto foi proporcional ao número de animais estimado para atendimento pelo CCZ (11870 cães), sendo coletada uma amostra a cada 10 animais vacinados. Sangue de 373 cães, de ambos os sexos, foi coletado por punção da veia cefálica e os soros foram separados e estocados a -20 o C até o momento das análises. Para cada animal foi preenchida uma ficha de identificação contendo dados individuais (idade) e informações referentes a hábitos e vida reprodutiva (acesso à rua, contato com outros animais, castração e acasalamento). A pesquisa de anticorpos contra Brucella canis foi realizada pela técnica de imunodifusão em ágar gel (IDGA), segundo Souza et al. 10, empregando-se antígeno solúvel de Brucella ovis (Instituto de Pesquisas Veterinárias Desidério Finamor - IPVDF, Brasil). Para a pesquisa de anticorpos anti-brucella abortus, empregou-se, como triagem, o teste do antígeno acidificado tamponado (AAT) (Instituto de Tecnologia do Paraná - TECPAR, Brasil) e, como teste confirmatório, a prova de polarização fluorescente [FPA ( Brucella abortus antibody test kit -Brucella FPA ), Diachemix, USA] 15,16,17. Os dados sorológicos, a prevalência, o intervalo de confiança e as associações foram calculados e analisados segundo Noordhuizen et al. 14. O cálculo das associações entre a soropositividade e as variáveis referentes a características individuais e hábitos dos animais foi realizado por meio de análise univariada, utilizando-se os testes de qui-quadrado e exato de Fisher, empregando-se um erro α de 0,05 18. Todas as análises estatísticas foram realizadas empregando o software EPI-Info 6.04 19. Dos 374 soros pesquisados para presença de anticorpos séricos contra B. abortus, 21 aglutinaram no AAT, entretanto todos foram negativos pela FPA. À IDGA para B. canis foram encontrados 167 cães positivos em 96,29% dos postos de vacinação, o que resultou em prevalência de 44,53% (IC95%: 39,43 a 49,72). As evidências sorológicas indicam que a prevalência de infecção por B. canis é alta e está disseminada nos cães do município de Araguaína, Tocantins. Os dados relativos à prevalência de brucelose canina no Brasil são variáveis e as comparações com o presente estudo são dificultadas em decorrência de diferenças de delineamento amostral e ensaios sorológicos empregados 3. Utilizando antígenos de superfície, o teste de IDGA, pode apresentar problemas de reação cruzada com outros microrganismos, além de dificuldades de interpretação 20. Considerando estes aspectos, alguns trabalhos têm mostrado a ocorrência de resultados falsos positivos, sobretudo quando se utiliza antígenos de superfície como o LPS 21,22 De modo contrário, a imunodifusão em ágar gel empregando

169 antígenos intracitoplasmáticos é um método com especificidade de 100%, apesar de poder apresentar problemas de sensibilidade diagnóstica com uma proporção significativa de resultados falso-negativos, sobretudo, em infecções recentes 20,23. Discrepâncias na sensibilidade e especificidade diagnóstica do teste de IDGA podem ser observadas em função de diferentes estirpes, protocolos ou antígenos empregados na prova. No entanto, ainda considerando-se esses pontos, a soroprevalência de B. canis encontrada em cães de Araguaína está entre as mais elevadas. Ademais, como o teste de IDGA empregado possui boa especificidade, mas pode apresentar problemas de sensibilidade diagnóstica em algumas situações 20, a prevalência real pode ser superior à estimada. A análise de todas as variáveis levantadas como possíveis fatores de risco para B. canis não revelou a existência de associação entre estas e a soropositividade, os resultados estão sumarizados na tabela 1. A inexistência de associação estatística entre as características individuais dos animais e a infecção por B. canis também foi observada em outros estudos realizados no Brasil 12,24,25. A alta prevalência de infecção por B. canis encontrada em Araguaína pode ter contribuído para a ausência de significância entre a infecção por B. canis e todas as variáveis estudadas 14. A ocorrência de abortos em cadelas já foi constatado como fator associado à infecção por B. canis 13, no entanto essa variável não foi aqui estudada. A ausência de animais positivos à prova confirmatória para diagnóstico da infecção por B. abortus pode estar ligada ao baixo risco de infecção a que os animais estavam submetidos, considerando-se que foram pesquisados animais da zona urbana. Isso dificulta o contato dos cães com a principal fonte de in- Tabela 1 - Animais positivos e negativos para a infecção por Brucella canis em cães do município de Araguaína, Tocantins, segundo os possíveis fatores de risco associados à brucelose canina e à probabilidade de ocorrência ao acaso (P) na análise univariada Fator de risco Positivo Negativo P Idade 0,182 Até 1 ano 45/98 53/98 2 a 3 anos 78/159 81/159 Acima de 3 anos 10/32 22/32 Castração 0,558 Sim 6/11 5/11 Não 86/189 103/189 Acesso à rua 0,439 Sim 69/159 90/159 Não 74/155 81/155 Contato com animais 0,385 Sim 70/150 80/150 Não 30/74 44/74 Filhotes 0,908 Sim 39/92 53/92 Não 26/60 34/60 Acasalamento 0,625 Sim 63/144 81/144 Não 74/159 85/159

170 fecção de B. abortus para os carnívoros, material de aborto ou parto de vacas infectadas, cuja prevalência é alta no Estado do Tocantins 26,27. Assim, o presente estudo permite concluir que não houve animais infectados por B. abortus na população estudada e que a infecção por B. canis está altamente disseminada em cães do município de Araguaína, Tocantins. Agradecimentos Este estudo foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais - Fapemig, (Belo Horizonte, Brasil), FEP-MVZ Coordenação Preventiva (Belo Horizonte, Brasil) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq (Brasília, Brasil). EMSD, CDT e APL foram apoiados por bolsas do CNPq. Referências 1. CARMICHAEL, L. E.; JOUBERT, J. C. Transmission of Brucella canis by contact exposure. Cornell Veterinary, v. 78, n. 1, p. 63-73, 1988. 2. WANKE, M. M. Canine brucellosis. Animal Reproduction Science, v. 82, n. 83, p. 195-207, 2004. 3. MIRANDA, K. L.; COTTORELLO, A. C. P.; POESTER, F. R.; LAGE, A. P. Brucelose canina. Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, n. 47, p. 66-82, 2005. 4. CARMICHAEL, L. E. Abortion in 200 beagles (New Report). Journal of American Veterinary Medical Association, v. 149, n. 15, p. 1126, 1966. 5. WALD, V. B.; FERNANDES, J. C. T. Sorologia da brucelose canina no município de Porto Alegre, RS. Arquivos da Faculdade de Veterinária UFRGS, v. 4, n. 5, p. 92-95, 1976. 6. GERMANO, P. M. L.; VASCONCELLOS, S. A.; ISHIZUKA, M. M.; PASSOS, E. C.; ERBOLATO, E. B. Prevalência de infecção por Brucella canis em cães da cidade de Campinas SP, Brasil. Revista da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo, v. 24, n. 1, p. 27-34, 1987. 7. SCHLEMPER, S. R. M.; VAZ, A. K. Inquérito sorológico para brucelose canina por Brucella canis na região do planalto catarinese, Brasil. Revista Brasileira de Medicina Veterinária, v. 12, p. 8-12, 1990. 8. MELO, S. M. B.; AGUIAR, P. H. P.; NASCIMENTO, R. M.; FREIRE, S. M. Avaliação sorológica por imunodifusão em gel de ágar para diagnóstico de Brucella canis em cães no distrito de Monte Gordo Camaçari Bahia. Arquivos da Escola de Medicina Veterinária da UFBA, v. 19, n. 1, p. 119-127, 1998. 9. MEGID, J.; BRITO, A. F.; MORAES, C. C. G.; FAVA, N.; AGOTTANI, J. Epidemiological assessment of canine brucellosis. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 51, n. 5, p. 439-440, 1999. 10. SOUZA, L. A.; VIANA, R. C. A.; MICHALICK, M. S. M.; REIS, J. K. P.; LAGE, A. P. Prevalência de infecção por Brucella canis em Belo Horizonte - MG. Revista Brasileira de Medicina Veterinária, v. 24, n. 3, p. 127-131, 2002. 11. MORAES, C. C. G.; MEGID, J.; SOUZA, L. C.; CROCCI, A. J. Prevalência da brucelose canina na microrregião da serra de Botucatu, São Paulo, Brasil. Arquivos do Instituto Biológico, v. 69, n. 2, p. 7-10, 2002. 12. ALMEIDA, A. C.; SANTORELLI, A.; BRUZADELLI, R. M. Z.; OLIVEIRA, M. M. N. F. Soroepidemiologia da brucelose canina causada por Brucella canis e Brucella abortus na cidade de Alfenas, MG. Arquivos Brasileiros de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 56, n. 2, p. 275-276, 2004. 13. VASCONCELOS, R. T. J.; ALVES, C. J.; CLEMENTINO, I. J.; ARAÚJO NETO, J. O.; ALVEZ, F. A. L.; BATISTA, C. S. A.; BERNARD, F.; SOTO, F. R. M.; OLIVEIRA, R. M. de; AZEVEDO, S. D. de. Soroprevalência e fatores de risco associados à infecção por Brucella canis em cães da cidade de Campina Grande, estado da Paraíba. Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal, v. 9, n. 3, p. 436-442, 2008. 14. NOORDHUIZEN, J. P. T. M.; FRANKENA, K.; VANDERHOOFD, C. M.; GRAAT, E. A. M. (Ed.). Application of quantitative methods in veterinary epidemiology. Wageningen: Wagenigen Press, 1997. 445 p. (Tropical Animal Health and Publication, v. 30, n. 12). 15. ALTON, G. G.; JONES, L. M.; ANGUS, R. D.; VERGER, J. M. Techniques for the brucellosis laboratory. Paris: INRA, 1988, 190 p. 16. NIELSEN, K.; LIN, M.; GALL, D.; JOLLEY, M. Fluorescence polarization immunoassay: detection of antibody to Brucella abortus. Methods, v. 22, n. 1, p. 71-76, 2000. 17. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose. Manual técnico do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose PNCEBT. Brasília: MAPA/ DSA/DSA, 2006. 184 p. 18. SAMPAIO, I. B. M. Estatística aplicada à experimentação animal. 2. ed. Belo Horizonte: Fundação de Ensino e Pesquisa em Medicina Veterinária e Zootecnia, 2002. 265 p. 19. DEAN, A. G.; DEAN, J. A.; COULOMBIER, D. EPI INFO, version 6.02b: a word processing, database and statistics program for epidemiology on micro-computers. Atlanta, Georgia: Center for Disease Control, 1995. 20. MINHARRO, S.; COTTORELLO, A. C. P.; MIRANDA, K. L.; STYNEN, A. P. R.; ALVES, T. M.; LAGE, A. P. Diagnóstico da brucelose canina: dificuldades e estratégias. Revista Brasileira Reprodução Animal, v. 29, n. 3/4, p. 167-173, 2005. 21. JOHNSON, C. A.; WALKER, R. D. Clinical signs and diagnosis of Brucella canis infection. Compendium on Continuing Education, v. 14 n. único, p.763 772, 1992. 22. CARMICHAEL, L. E., SHIN, S. J. Canine brucellosis: a diagnostician s dilemma. Seminars in Veterinary Medical and Surgery (Small Animals), v. 11, n. 3, p. 161 165, 1996. 23. KEID, L. B.; SOARES, R. M.; VASCONCELLOS, S. A.; MEGID, J.; SALGADO, V. R.; RICHTZENHAIN, L. J. Comparison of agar gel immunodiffusion test, rapid slide agglutination test, microbiological culture and PCR for the

171 diagnosis of canine brucellosis. Research in Veterinary Science, v. 86, n. 1, p. 22-26, 2009. 24. AZEVEDO, S. S.; VASCONCELLOS, S. A.; ALVES, C.J.; KEID, L. B.; GRASSO, L. M. P. S.; MASCOLLI, R.; PINHEIRO, S. Inquérito sorológico e fatores de risco para a brucelose por Brucella canis em cães do município de Santana de Parnaíba, Estado de São Paulo. Pesquisa Veterinária Brasileira, v, 23, n. 4, p. 156-160, 2003. 25. PORTO, W. J. N.; PINHEIRO JUNIOR, J. W.; MOTA, R. A. Associação entre distúrbios reprodutivos e anticorpos anti-brucella sp em cães atendidos em clínicas particulares da cidade de Maceió-AL. Revista Brasileira de Ciência Veterinária, v. 15, n. 1, p. 6-9, 2008. 26. CARMICHAEL, L. E. Brucella canis. In: NIELSEN, K.; DUNCAN, J. R. Animal brucellosis. Boca Raton: CRC Press, 1990. p. 335-350. 27. OGATA, R. A.; GONÇALVES, V. S. P.; FIGUEIREDO, V. C. F.; LÔBO, J. R.; RODRIGUES, A. L.; AMAKU, M.; FERREIRA, F.; FERREIRA NETO, J. S.; DIAS, R. A. Situação epidemiológica da brucelose bovina no Estado do Tocantins. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 61, p. 126-134, 2009. Suplemento, 1.