DESENVOLVIMENTO DE SOBREMESA FERMENTADA SIMBIÓTICA À BASE DE SOJA VERDE SABOR LIMÃO

Documentos relacionados
TÍTULO: FERMENTAÇÃO DE EXTRATO HIDROSSOLÚVEL DE SOJA VERDE POR BACTÉRIAS PROBIÓTICAS

FERMENTAÇÃO DE EXTRATO HIDROSSOLÚVEL DE SOJA VERDE POR BACTÉRIAS PROBIÓTICAS. Fernanda Arré Chiarella ¹; Cynthia Jurkiewicz Kunigk ²

EFEITO DA CONCENTRAÇÃO DE CULTURAS PROBIÓTICAS NA FERMENTAÇÃO DE UMA BEBIDA DE SOJA

INFLUÊNCIA DO PREPARO DO INÓCULO NA SOBREVIVÊNCIA DE BACTÉRIAS PROBIÓTICAS ENCAPSULADAS LIOFILIZADAS

PROBIÓTICOS E PREBIÓTICOS

COMPARAÇÃO DOS PROCESSOS FERMENTATIVOS DA POLPA DE COCO VERDE E DO LEITE POR BACTÉRIAS LÁCTICAS. Karina Fernandes Pimentel 1 ; Eliana Paula Ribeiro 2

II Seminário dos Estudantes de Pós-graduação

Avaliação da influência de massa base liofilizada de Passiflora edulis nas características microbiológicas de iogurte probiótico

AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE DE MICRORGANISMOS EM DERIVADOS LÁCTEOS PROBIÓTICOS COMERCIALIZADOS NA CIDADE DE CURRAIS NOVOS/RN

INFLUÊNCIA DE PREBIÓTICOS E DE FARINHA INTEGRAL DE AVEIA NA SOBREVIVÊNCIA DE BACTÉRIAS PROBIÓTICAS EM BEBIDA SIMBIÓTICA À BASE DE ARROZ

LISTA DE QUADROS E TABELAS. Delineamento experimental tipo simplex centroide para a otimização do uso de proteínas lácteas em iogurtes probióticos.

AVALIAÇÃO DA COMPOSIÇÃO, COR E ACEITAÇÃO SENSORIAL DE BEBIDA PROBIÓTICA PRODUZIDA COM EXTRATO DE SOJA VERDE

ENUMERAÇÃO DE BACTÉRIAS LÁCTICAS DE LEITES FERMENTADOS COMERCIALIZADOS EM VIÇOSA, MG

Por que consumir alimentos Probióticos e prebióticos?

5º Congresso de Pesquisa

APLICAÇÃO DE PROBIÓTICOS ENCAPSULADOS EM BARRA DE FRUTA. Aluna de Iniciação Científica da Escola de Engenharia Mauá (EEM/CEUN-IMT); 2

CARACTERÍSTICAS MICROBIOLÓGICAS E DE TEXTURA DE LEITE FERMENTADO PROBIÓTICO COM ADIÇÃO DE FARINHA DE BANANA VERDE

ENCAPSULAÇÃO E SECAGEM DE MICRORGANISMOS PROBIÓTICOS. Henrique Ortuño Moreno ¹; Cynthia Jurkiewicz Kunigk ²

CATEGORIA: CONCLUÍDO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE SUBÁREA: NUTRIÇÃO INSTITUIÇÃO: CENTRO UNIVERSITÁRIO DO INSTITUTO MAUÁ DE TECNOLOGIA

HIDRÓLISE DA LACTOSE A PARTIR DA ENZIMA - PROZYN LACTASE

TÍTULO: MICROENCAPSULAÇÃO DE LACTOBACILLUS PROBIÓTICO E APLICAÇÃO EM SMOOTHIE

MICROENCAPSULAÇÃO DE LACTOBACILLUS PROBIÓTICO E APLICAÇÃO EM SMOOTHIE

Alimentos Prebióticos

Profª Drª Maria Luiza Poiatti Unesp - Campus de Dracena

Graduação em Biotecnologia Disciplina de Biotecnologia Microbiana II. Probióticos. Por que devemos consumí-los diariamente?

Critério: Saúde/bem-estar: alimentos funcionais

ELABORAÇÃO DE BEBIDA A BASE DE EXTRATO HIDROSSOLÚVEL DE SOJA (Glycine max L.) E POLPA DE CUPUAÇU (Theobroma grandiflorum)

QUALIDADE FÍSICO-QUÍMICA DE IOGURTES COMERCIALIZADOS EM VIÇOSA (MG) 1. Introdução

Autores Tais Helena Martins Lacerda Ivana Cristina Spolidorio Macknight Izael Gressoni Junior Valmir Eduardo Alcarde. Apoio Financeiro Fap

INTRODUÇÃO. Leites Fermentados LEITES FERMENTADOS. Leites Fermentados. Leites Fermentados 30/07/2014

AVALIAÇÃO MICROBIOLÓGICA DE BEBIDAS LÁCTEAS ADQUIRIDAS NO COMÉRCIO VAREJISTA DO SUL DE MINAS GERAIS 1

ELABORAÇÃO DE BEBIDA LÁCTEA ACIDIFICADA

AGROINDUSTRIALIZAÇÃO PRODUTOS DERIVADOS DO LEITE

Contagem Padrão em Placas. Profa. Leila Larisa Medeiros Marques

A IMPORTÂNCIA DOS PROBIÓTICOS NA MICROBIOTA INTESTINAL HUMANA

ACEITABILIDADE SENSORIAL E INTENÇÃO DE COMPRA DE IOGURTE SABOR CAFÉ

COMPORTAMENTO DE CULTURAS DE BIFIDOBACTÉRIAS NA PRESENÇA DE HIDROLISADO PROTEICO DE SORO DE LEITE

AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE DAS BACTÉRIAS LACTOBACILLUS ACIDOPHILUS E BIFIDUMBACTERIUM BIFIDUM EM QUEIJO MINAS FRESCAL PRODUZIDO A APRTIR DE RETENTATOS.

O papel das fibras nos alimentos. Mestrando: Joel Pimentel de Abreu

Microbilogia de Alimentos I - Curso de Engenharia de Alimentos Profª Valéria Ribeiro Maitan

AGROINDUSTRIALIZAÇÃO PRODUTOS DERIVADOS DO LEITE

PARÂMETROS DE QUALIDADE DA POLPA DE LARANJA

CONTAGEM DE BACTÉRIAS ÁCIDO-LÁCTICAS TOTAIS EM IOGURTES PROBIÓTICOS PRODUZIDOS NO ESTADO DE PERNAMBUCO.

ANEXO III PROCEDIMENTOS BÁSICOS DE CONTAGEM

UTILIZAÇÃO DA BATATA YACON NA ALIMENTAÇÃO HUMANA COMO FONTE DE PRÉ-BIÓTICO

PRODUTOS DERIVADOS DO LEITE. Ângela Maria Fiorentini

ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS DE BEBIDAS LÁCTEAS FERMENTADAS POTENCIALMENTE PROBIÓTICAS PRODUZIDAS A PARTIR DO APROVEITAMENTO DA CASCA DA JABUTICABA.

ELABORAÇÃO DE RICOTA FERMENTADA EM PASTA POTENCIALMENTE SIMBIÓTICA

I SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA EMBRAPA ACRE

ENCAPSULAÇÃO DE BACTÉRIAS PROBIÓTICAS EM ALGINATO DE CÁLCIO E FARINHA DE BANANA VERDE

ELABORAÇÃO DE IOGURTE CASEIRO SABORIZADO COM CAFÉ E CHOCOLATE

10º Congresso Interinstitucional de Iniciação Científica CIIC a 04 de agosto de 2016 Campinas, São Paulo ISBN

Probióticos Definição e critérios de seleção

APOIO TÉCNICO AO PROJETO FÁBRICA DE OPORTUNIDADES

EFEITO DA ADIÇÃO DE SORO DE QUEIJO SOBRE AS CARACTERÍSTICAS SENSORIAIS DE BEBIDAS LÁCTEAS FERMENTADAS SABOR UVA

PRÓBIÓTICOS-PREBIÓTICOS E MICROBIOTA

ANÁLISE COMPARATIVA DA POPULAÇÃO VIÁVEL DE BACTÉRIAS LÁTICAS E QUALIDADE HIGIÊNICA INDICATIVA DE TRÊS MARCAS DE LEITES FERMENTADOS

ACEROLA (MALPIGHIA, SSP.)

AVALIAÇÃO DA RESISTÊNCIA GASTRINTESTINAL DE BACTÉRIAS PROBIÓTICAS ENCAPSULADAS EM ALGINATO DE CÁLCIO

Digestão enzimática do amido de milho pela ptialina da saliva

Instrução normativa 62/2003: Contagem de coliformes pela técnica do NMP e em placas

Aceitação sensorial de bebida láctea, sob diferentes concentrações de soro

FIBRAS: por que consumi-las?

Natália de Oliveira Correia ¹; Eliana Paula Ribeiro ². Aluna de Iniciação Científica da Escola de Engenharia Mauá (EEM/CEUN-IMT); 2

DESENVOLVIMENTO DE TÉCNICA DE CONTAGEM DIFERENCIADA POR PLAQUEAMENTO PARA LINHAGENS PROBIÓTICAS PURAS E EM MISTURA

ANÁLISE MICROBIOLÓGICA DE BISCOITOS TIPO COOKIE SABOR CHOCOLATE COM DIFERENTES TEORES DE FARINHA DE UVA

Avaliação da vida de prateleira do iogurte sabor morango, enriquecido com concentrado proteico de soro, quinoa e linhaça dourada

Formulação de bebida láctea fermentada sabor pêssego utilizando substratos alternativos e cultura probiótica

Biomassa de Banana Verde Polpa - BBVP

VII Semana Acadêmica da UEPA Marabá

AVALIAÇÃO DA PRODUÇÃO DE ÁCIDO LÁCTICO E DO CRESCIMENTO DE BACTÉRIAS LÁCTICAS DURANTE DESENVOLVIMENTO DE IOGURTE

Saiba como escolher o melhor tipo de iogurte

PROPRIEDADES REOLÓGICAS E FÍSICO-QUÍMICAS DE IOGURTE E BEBIDA LÁCTEA DA REGIÃO DO TRIÂNGULO MINEIRO

FERMENTADOS: ASPECTOS TECNOLÓGICOS

TÍTULO: APLICAÇÃO DE TÉCNICAS DE MICROBIOLOGIA PREDITIVA EM PATÊ DE PEITO DE PERU PARA BACTÉRIAS LÁTICAS

ELABORAÇÃO E ACEITAÇÃO DE PÃO COM REDUÇÃO DE CLORETO DE SÓDIO E CARACTERÍSTICAS FUNCIONAIS

Consumo x Alimentos x Nutrientes. Profª Ms.Sílvia Maria Marinho Storti

VIABILIDADE DE BACTÉRIAS LÁTICAS EM LEITES FERMENTADOS COMERCIALIZADOS NA CIDADE DE MONTES CLAROS, MG.

Meios de cultura bacteriano

ELABORAÇÃO DE SORVETE DE MORANGO COM CARACTERÍSTICAS PROBIÓTICAS E PREBIÓTICAS

Comunicado137 Técnico

INFORMAÇÃO NUTRICIONAL DE BEBIDA À BASE DE EXTRATOS DE ARROZ E DE SOJA INFORMAÇÃO NUTRICIONAL DE BEBIDA À BASE DE EXTRATOS DE ARROZ E DE SOJA

AVALIAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE IOGURTE FUNCIONAL DE LEITE DE CABRA COM SABOR DE FRUTOS TROPICAIS

Carboidratos em Alimentos

BIOQUÍMICA DOS ALIMENTOS: AMIDO RESISTENTE E FIBRAS (aula 2) Patricia Cintra

Sorvete de geleiada de morango com hibisco (Hibiscus sabdariffa L.)

ADIÇÃO DE INULINA EM IOGURTE INFLUENCIA AS PROPRIEDADES TEXTURAIS E FÍSICO-QUÍMICAS

SUPLEMENTOS ALIMENTARES: STATUS DA REGULAMENTAÇÃO NO BRASIL E PERSPECTIVAS FUTURAS

POTENCIAL PROBIÓTICO IN VITRO DE BACTÉRIAS E LEVEDURAS ISOLADAS DE BEBIDA ÁLCOOL-ÁCIDA DE MURICI FERMENTADA COM GRÃOS KEFIR

BEBIDA FERMENTADA FUNCIONAL UTILIZANDO EXTRATO AQUOSO DE COCO FUNCTIONAL FERMENTED DRINK USING COCONUT AQUEOUS EXTRACT. Apresentação: Pôster

Revista Intellectus N 30 Vol 2 DESENVOLVIMENTO DE LEITE FERMENTADO SIMBIÓTICO 1. Development of Symbiotic Fermented Milk

AVALIAÇÃO DE PARÂMETROS DE QUALIDADE FÍSICO- QUÍMICOS DE SUCOS TROPICAIS

DESENVOLVIMENTO DE SORVETE PROBIÓTICO À BASE DE EXTRATO HIDROSSOLÚVEL DE ARROZ

Alimentos Funcionais: potencialidades do Centro-Oeste. Profa. Dra. Katiuchia Pereira Takeuchi Universidade Federal de Goiás - UFG

11º ENTEC Encontro de Tecnologia: 16 de outubro a 30 de novembro de 2017

Bebida Fermentada de Soja

INTENÇÃO DE COMPRA DE BISCOITOS TIPO COOKIE SABOR CHOCOLATE COM DIFERENTES TEORES DE FARINHA DE UVA

AVALIAÇÃO SENSORIAL DE SORVETE COM DIFERENTES CONCENTRAÇÕES DA FARINHA DE MACAÚBA

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE FÍSICO-QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DO LEITE CRU E DO LEITE PASTEURIZADO COMERCIALIZADOS NO OESTE DE SANTA CATARINA

Programa Analítico de Disciplina TAL453 Tecnologia de Produtos Lácteos Fermentados

Transcrição:

DESENVOLVIMENTO DE SOBREMESA FERMENTADA SIMBIÓTICA À BASE DE SOJA VERDE SABOR LIMÃO Leili Sia Guerreiro¹; Cristiane Maria Barra da Matta²; Cynthia Jurkiewicz² ¹ Aluna de Iniciação Científica da Escola de Engenharia Mauá (EEM/ CEUN-IMT); ² Professora da Escola de Engenharia Mauá (EEM/CEUN-IMT). Resumo. O objetivo desse trabalho foi desenvolver uma sobremesa fermentada simbiótica à base de soja verde sabor limão e avaliar a influência do amido resistente e da inulina na sobrevivência de bactérias probióticas. A sobremesa foi obtida após a fermentação do extrato hidrossolúvel de soja verde pela cultura probiótica, composta por Lactobacillus acidophilus, Bifidobacterium animalis e Streptococcus thermophilus. Um planejamento fatorial 2 2 com 2 pontos centrais foi realizado em duplicata, totalizando 12 ensaios, para verificar a influência dos prebióticos, amido resistente e inulina na sobrevivência das bactérias probióticas. A variação da concentração de inulina de 1 para 5% favoreceu a sobrevivência de L. acidophilus e S. thermophilus. O aumento da concentração de amido resistente de 0,67 para 3,83% influenciou apenas a sobrevivência de S. thermophilus na sobremesa armazenada por 22 dias a 5 C. Os prebióticos não influenciaram significativamente a contagem de B. animalis na sobremesa, que permaneceu acima de 10 7 UFC.g -1 ao final de 22 dias de estocagem. Introdução O atual cenário do mercado de consumo tem sido caracterizado por buscas de alimentos funcionais e benéficos à saúde, devido a mudanças nos hábitos alimentares dos consumidores. Além disso, há aqueles consumidores com intolerância a certas substâncias presentes nos alimentos, como a lactose. Sendo assim, a indústria de alimentos tem buscado atender todas essas exigências desenvolvendo produtos que atendam as necessidades dos consumidores. O consumo de alimentos probióticos e prebióticos estimula a multiplicação de bactérias benéficas no intestino e por consequência inibem a multiplicação de patógenos. Esses alimentos são denominados funcionais, que são alimentos ou ingredientes que além de suas funções nutricionais básicas, produzem efeitos metabólitos e/ou fisiológicos ao organismo, conforme afirma a Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde no Brasil (1999). A associação de ingredientes prebióticos e micro-organismos probióticos é conhecida como simbiótica, portanto, um alimento simbiótico têm as mesmas propriedades de ambas substâncias (Prebiotics and probiotics, 2009). O amido é uma grande reserva de energia para as plantas e vegetais, pode ser encontrado em raízes, sementes e tubérculos (RIBEIRO; SERAVALLI, 2010). É constituído por dois polímeros, amilose e amilopectina e é classificado de acordo com sua susceptibilidade à hidrólise enzimática. O amido resistente pode ser definido como aquele que não é absorvido e/ou digerido no intestino delgado de indivíduos saudáveis (VIEIRA; RIBEIRO, 2011). Pelo fato de não ser digerível, serve como substrato para bactérias probióticas no colon, atuando como prebiótico. A inulina é um polissacarídeo extraído da raiz da chicória. Sua característica prebiótica está relacionada ao seu fator bifidogênico que estimula as bifidobactérias presentes no cólon, de modo a atuar no sistema imunológico do hospedeiro e a reduzir os níveis das bactérias patogênicas no intestino (SAAD, 2006). A soja é um grão de consumo mundial crescente, com origem em países com clima temperado, mas com a modificação genética foi possível criar variedades capazes de crescerem em regiões tropicais, sendo o Brasil o segundo maior produtor de soja do mundo.

Esse grão é considerado um alimento com alto valor nutritivo, sendo uma excelente fonte de fibras, carboidratos e proteínas. Do ponto de vista funcional a soja possui substâncias capazes de prevenir algumas doenças, como o câncer de cólon (MORAES, 2009). Como a soja madura apresenta um sabor residual forte, surgiu à necessidade de novas alternativas que melhorassem a palatabilidade de produtos com esse grão. A alternativa encontrada foi a soja verde, que nada mais é do que a soja madura quando antecipada sua colheita, ainda no estágio verde. Porém, a soja verde oferece melhor digestibilidade por conta do baixo teor de oligossacarídeos e está isenta da ação da lipoxigenase, enzima responsável pela formação de compostos voláteis que conferem o sabor residual (LIU, 1997). O objetivo desse trabalho foi desenvolver uma sobremesa simbiótica à base de soja verde e avaliar a influência das substâncias prebióticas, amido resistente e inulina, na sobrevivência dos micro-organismos probióticos durante o armazenamento do produto. Materiais e Métodos Produção da sobremesa O preparo da sobremesa foi dividido em cinco etapas, a obtenção do extrato hidrossolúvel de soja verde, mistura das matérias-primas, pasteurização, fermentação e aromatização. Inicialmente a soja verde pré-cozida (Veggie) foi aquecida por 7 minutos em água fervente e em seguida a água foi descartada. A soja cozida foi cominuída por 2 minutos em liquidificador (Walita modelo RI) na proporção de uma parte de soja para duas partes de água potável. Posteriormente a massa obtida foi filtrada em chapéu chinês, sendo o filtrado denominado de extrato hidrossolúvel de soja. A sobremesa foi preparada com 80% de extrato hidrossolúvel de soja, 0,06 de fosfato tricálcio (BKG adicon), 0,80% de carboximetil celulose (CMC Cekol 30000, Vagler Systems), 9% de sacarose (União) e água potável. Os prebióticos amido resistente (Hi-Maize 290, Corn Products Brasil) e inulina (Orafit GR, Clariant) foram adicionados de acordo com o planejamento fatorial apresentado na Tabela 1. As matérias-primas em pó foram previamente homogeneizadas e incorporadas ao extrato de soja e à agua, sob agitação manual com bastão de vidro. A mistura acondicionada em béquer foi pasteurizada em banho termostático a 85 C por 5 minutos e resfriada a 37 C. A 85 C o amido já atingiu sua temperatura de gelatinização e as proteínas da soja preciptaram, formando ligações intermoleculares com água, resultando em um gel alimentício, que caracteriza uma sobremesa. Na etapa de fermentação 0,02% de cultura lática ABT (CHR HANSEN, composta por Bifidobacterium animalis, Lactobacillus acidophilus e Streptococcus thermophilus) foi adicionada à mistura e essa foi incubada a 37 o C até atingir ph 5,0. Após o resfriamento a 10 C foram incorporados 0,06% de aroma de torta de Limão (FU-640-198-1 Givaudan) e 6,50% de suco concentrado de limão (Limonjal) em 93,40% de mistura fermentada. Após a aromatição, a sobremesa foi armazenada a 5 o C. Delineamento experimental Foi realizado um Planejamento fatorial 2 2 com 2 pontos centrais em duplicata para verificar a influência dos prebióticos, amido resistente e inulina, na sobrevivência das bactérias probióticas, totalizando 12 ensaios. As variáveis independentes amido resistente (X 1 ) e inulina (X 2 ) foram estudadas em 3 níveis (-1, 0, 1). Os níveis codificados e reais das variáveis independentes e as combinações dos 12 ensaios estão apresentados na Tabela 1. Como variáveis dependentes foram consideradas, a população de Lactobacillus acidophilus, Bifidobacterium animalis e Streptococcus thermophilus, o ph e a acidez da sobremesa com 1, 15 e 22 dias de armazenamento a 5 o C. O tempo de fermentação da sobremesa também foi analisado. A ordem da realização dos ensaios foi aleatória. Os resultados do planejamento

foram avaliados com auxílio do software Minitab versão 15 (Minitab INC State College, EUA). Tabela 1- Condições dos ensaios de acordo com o Planejamento Fatorial. Amido resistente Inulina Codificada Não Codificada Não Ensaio Codificada Codificada X 1 X 2 1-1 0,67-1 0,89 2 1 3,83-1 0,89 3-1 0,67 1 5,12 4 1 3,83 1 5,12 5-1 0,67-1 0,89 6 1 3,83-1 0,89 7-1 0,67 1 5,12 8 1 3,83 1 5,12 9 0 2,25 0 3 10 0 2,25 0 3 11 0 2,25 0 3 12 0 2,25 0 3 Análises físico-químicas Foram determinados o ph e a acidez titulável, em duas replicatas, durante o processo de fermentação e nos dias 1, 15 e 22 de armazenamento da sobremesa a 5 C. O ph foi determinado em potenciômetro Micronal modelo V, conforme descrito na A.O.A.C. (ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTS, 1995). A acidez titulável, expressa em porcentagem, foi determinada titulando-se 10,0 g de amostra, diluída em 50,0 ml de água destilada, com solução de NaOH a 0,10 mol.l -1 utilizando 2 gotas de fenolftaleína na amostra como indicador. Análises microbiológicas As análises microbiológicas foram realizadas na sobremesa, conforme descrito por OLIVEIRA (2009), após 1, 15 e 22 dias de armazenamento do produto a 5 C. Uma amostra de 10 g da sobremesa foi inicialmente diluída em 90 g de solução salina 0,85% estéril. Essa mistura foi homogeneizada em Stomacher (Seward) por 1 minuto à rotação de 260 rpm. Em seguida, foram realizadas sucessivas diluições utilizando 10 ml da diluição anterior em 90 ml de solução salina 0,85% estéril. Na enumeração de Bifidobacterium animalis foi utilizada a técnica de inoculação em profundidade. Primeiramente, adicionou-se 1 ml das duas últimas diluições nas placas de Petri, vertendo o meio de cultura Agar MRS (Oxoid) suplementado com 0,5% de solução de dicloxacilina sódica monohidratada (Sigma) a 0,01%, 1,0% de solução de cloreto de lítio (Vetec) a 10% e 0,5% de solução de L-cisteína a 10% (Vetec) e homogeneizando em seguida. Após a solidificação, as placas foram incubadas em anaerobiose (Anaerogen, Oxoid) a 37 C por 72 horas em estufa (marca Fanem modelo 002CB). Para a contagem de Lactobacillus acidophilus foi utilizada a técnica de inoculação em superfície. Adicionou-se 0,1 ml de duas diluições adequadas, nas placas contendo Agar MRS (Oxoid), espalhando-as com o auxílio de alça de Drigalski estéril. As placas foram incubadas em condição de anaerobiose (Anaerogen, Oxoid) a 43 C por 72 horas em estufa incubadora B.O.D. (marca Marconi modelo MA415).

Para a quantificação de Streptococcus thermophilus foi utilizada a técnica de inoculação em profundidade com adição de sobrecamada. Inicialmente, adicionou-se 1 ml de duas últimas diluições nas placas de Petri, vertendo o meio de cultura Agar M17 (Oxoid) adicionado de 5% de solução de lactose (Vetec) 10% e homogeneizando em seguida. Após a solidificação, foi adicionada uma sobrecamada de meio. As placas foram incubadas a 37 C por 72 horas em estufa (marca Fanem, modelo 002CB). Os métodos microbiológicos foram realizados seguindo as instruções do Bergey s manual of systematic bacteriology. Resultados e Discussão A Tabela 2 apresenta o tempo de fermentação de cada ensaio. A análise de variância mostrou que o amido resistente e a inulina não influenciaram significativamente o tempo de fermentação da sobremesa. O tempo médio de fermentação de todos os ensaios foi de (234 ± 11) minutos. Tabela 2- Tempo de fermentação. Tempo de Ensaio fermentação (min). 1 217 2 250 3 225 4 250 5 230 6 230 7 240 8 240 9 217 10 240 11 225 12 240 A partir da avaliação estatística realizada com os valores apresentados na Tabela 3, verificou-se que o amido resistente e a inulina não influenciaram significativamente nos valores de ph da sobremesa, porém influenciaram significativamente a acidez titulável.

Tabela 3- Valores de acidez titulável e ph. Dias 1 15 22 Ensaio Acidez titulável Acidez titulável Acidez titulável ph ph ph 1 0,71 4,08 0,63 4,16 0,61 4,11 2 0,46 4,44 0,56 4,28 0,40 4,51 3 0,52 4,32 0,47 4,39 0,46 4,44 4 0,60 4,20 0,58 4,27 0,69 4,24 5 0,55 4,23 0,55 4,10 0,55 4,23 6 0,56 4,26 0,61 4,11 0,36 4,19 7 0,61 4,12 0,69 4,10 0,56 4,36 8 0,56 4,17 0,53 4,19 0,50 4,21 9 0,46 4,36 0,48 4,36 0,51 4,22 10 0,47 4,35 0,47 4,29 0,47 4,29 11 0,44 4,46 0,46 4,45 0,46 4,46 12 nd nd nd nd nd nd nd - valores não determinados. O ph médio de todas as formulações de sobremesa manteve-se constante em (4,3 ± 0,1) durante os 22 dias de armazenamento. Esse valor está próximo ao encontrado por OLIVEIRA (2009) em leite fermentado, que variou em média de (4,5 ± 0,1) para (4,2 ± 0,1). A acidez da sobremesa também permaneceu constante, em 0,55%, ate o 15º dia de armazenamento. No tempo 22 dias de armazenamento, houve uma interação significativa entre o amido resistente e a inulina na acidez da sobremesa. Observou-se que na sobremesa com amido, um aumento na concentração de inulina, resultou em um aumento da acidez de 0,4 a 0,6 %. A Tabela 4 apresenta os resultados das contagens microbiológicas durante os tempos 1, 15 e 22 dias de armazenamento para todos os ensaios. Tabela 4- Resultados das contagens de L. acidophilus (La), B. animalis (Ba) e S. thermophilus (St) nos tempos 1, 15 e 22 dias de armazenamento da sobremesa a 5ºC para os 12 ensaios. Log UFC/g La Ba St Ensaio 1 15 22 1 15 22 1 15 22 1 6,84 6,03 5,72 8,07 7,89 8,00 8,07 7,88 7,82 2 6,86 6,67 6,81 7,92 7,54 7,53 8,30 8,19 8,16 3 6,51 6,04 6,91 7,84 7,50 7,38 8,24 8,28 8,08 4 6,91 6,85 6,96 8,02 7,83 7,54 8,27 8,22 7,56 5 6,92 6,67 6,23 8,00 7,89 6,81 8,36 7,90 7,62 6 7,10 6,22 6,73 8,41 8,31 7,94 8,31 8,17 7,88 7 6,82 nd nd 7,58 7,98 7,42 8,22 8,28 8,10 8 6,70 nd nd 7,99 7,69 7,53 8,14 8,22 7,90 9 6,78 6,27 5,43 7,75 8,10 7,99 8,14 8,22 7,90 10 7,05 5,58 5,31 7,89 8,05 7,68 8,19 8,28 8,31 11 6,79 5,93 5,93 8,13 7,99 7,87 8,01 8,32 8,36 12 6,56 5,39 5,09 7,66 7,81 nd 8,19 8,29 8,24 nd valores não determinados

Com 1 e 15 dias de armazenamento, o amido resistente e a inulina não influenciaram significativamente a população de L. acidophilus. Em 22 dias de armazenamento, a população de L. acidophillus, na sobremesa com maior concentração de inulina e amido apresentou 0,6 Log UFC.g -1 a mais do que nas menores concentrações dos prebióticos. A população de L. acidophillus na sobremesa armazenada por 22 dias foi correlacionada com a concentração de amido resistente e inulina através da equação 1, onde x 1 e x 2 representam, respectivamente, a concentração codificada de amido e de inulina. O modelo apresentou um coeficiente de correlação de 0,92.. 6,65 0,27 0,28 1 Para a população de B. animalis não houve influência significativa do amido e da inulina, possivelmente pelo fato da própria soja verde conter nutrientes suficientes para a sobrevivência do micro-organismo. Em relação à população de S. thermophillus, observou-se que no tempo 15 dias de armazenamento o amido resistente e a inulina influenciaram significativamente a contagem. A diferença na contagem do micro-organismo entre as sobremesas com maior e menor concentração do prebiótico foi de 0,20 Log UFC.g -1, para o amido resistente e de 0,30 Log UFC.g -1 para a inulina. Embora a diferença seja estatisticamente significativa, essa variação foi muito pequena, não apresentando uma importância prática. Durante todo o período de armazenamento, a população de S. thermophillus permaneceu maior que a dos probióticos, o que também foi observado por Oliveira (2009). Observa-se pelos resultados da Tabela 5 que após 22 dias de armazenamento da sobremesa a 5 ºC todos os ensaios apresentaram contagens de probióticos entre 2,6 x 10 9 e 1,0 x 10 10 UFC por 100 g de produto, atendendo a recomendação da legislação no consumo diário entre 10 8 a 10 9 UFC. A elevada população de probióticos nas sobremesas pode ser atribuída à boa adaptação dos probióticos ao produto, principalmente Bifidobacterium animalis subsp. lactis. Tabela 5 - Condições dos ensaios e população total de micro-organismos probióticos na porção de 100 g de sobremesa com 22 dias de armazenamento. Amido resistente Inulina Probióticos* (UFC.porção -1 ) 0,67 0,89 1,0 x 10 10 3,83 0,89 4,0 x 10 9 0,67 5,12 3,2 x 10 9 3,83 5,12 4,4 x 10 9 0,67 0,89 8,1 x 10 8 3,83 0,89 9,2 x 10 9 0,67 5,12 2,6 x 10 9 3,83 5,12 3,4 x 10 9 2,25 3,00 5,6 x 10 9 A sobrevivência dos microrganismos probióticos na sobremesa desenvolvida à base de soja verde pode ser comparada com a da bebida láctea, conforme visto em alguns estudos. Krüger et al. (2008) desenvolveram uma formulação contendo 30% de extrato hidrossolúvel de soja, 36,6% de leite de vaca e 33,3% de soro e a contagem total de L. delbrueckii subsp. bulgaricus, L. acidophilus e Bifidobacterium foi de 1 x 10 6 UFC.ml -1 no 22 dia de armazenamento. O leite fermentado simbiótico desenvolvido por Oliveira & Jurkiewicz

(2009) também apresentou 2,2 x 10 7 UFC.g -1 na contagem de L. acidophilus e B. animalis após 22 dias de armazenamento a 10 C. Conclusões O aumento da concentração de amido e inulina na sobremesa à base de soja verde não influenciou a sobrevivência de B. animalis. O aumento da concentração de inulina favoreceu a sobrevivência de L. acidophilus na sobremesa armazenada por 22 dias. A sobremesa a base de soja verde com polpa de limão, mostrou ser um produto adequado para o veículo do probiótico Bifidobacterium animalis. Referências Bibliográficas A.O.A.C. (1995) Association of Official Analytical Chemists. CUNNIFF, P. Official Methods of Analysis of AOAC international. v. 2, Arlington. BRASIL. Ministério da Saúde. (2012) Lista de alegações de propriedade funcional aprovadas. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Brasília. 2008. Disponível em http:/www.anvisa.gov.br/. Acesso em 09/05/2012. BRASIL. Portaria n.398, de 30 de Abril de 1999. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Disponível em http:/www.anvisa.gov.br/. Acesso em 02/072012. Krieg, N.R.; Sneath, P.H.A. (ed.) (1984) Bergey s manual of systematic bacteriology. v. 2. London: Williams & Wilkins. Krüger, R. et al. (2008) Desenvolvimento de uma bebida láctea probiótica utilizando como substratos soro de leite e extrato hidrossolúvel de soja. Araraquara: Brazilian Journal of Food and Nutrition, 43-53. Liu, K. Soybeans Chemistry, Technology and Utilization. (1997) 2ª ed. New York: Chapman & Hall. Moraes, C.S.; Pastore, G.M.; Sato, H.H.; Park, Y.K. (2009) Isoflavonas de Soja e Suas Atividades Biológicas. São Paulo: Livraria Varela,. Oliveira, L.B.; Jurkiewicz, C.H. (2009) Influência de inulina e goma acácia na viabilidade de bactérias probióticas em leite fermentado simbiótico. Brazilian Journal of Food Technology, 138-144. Prebiotics and Probiotics. (2009) UK, Wiley-Blackwell. Ribeiro, E.P.; Seravalli, E.A.G. (2007) Química de alimentos. 2ª ed. São Paulo: Ed. Blucher. SAAD, S. M. I. (2006) Probióticos e prebióticos: O estado da arte. São Paulo: Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas. Vieira, T.A.; Ribeiro, E.P. (2011) Desenvolvimento de sobremesa láctea simbiótica. São Caetano do Sul: CEUN/EEM.