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Orquestra Municipal faz sua segunda apresentação

A Orquestra Municipal de Uberaba e a Orquestra Jovem da Fundação Cultural fazem hoje sua segunda apresentação na mesma semana, visto que, no último sábado, realizaram sua primeira apresentação como orquestra, na Igreja Santa Rita, para um grande e emocionado público. Composta por cordas e percussão, a Orquestra Municipal, além das apresentações e concertos a serem realizados, tem o intuito de formar profissionalmente os futuros músicos uberabenses, através, sobretudo, da Orquestra Jovem da FCU, onde alunos têm aulas com os músicos e professores da Escola de Cultura e Arte de Uberaba. Os recursos para as apresentações são custeados pela Fundação Cultural do município, através da Lei de Apoio ao Artista. O diretor artístico e maestro da Orquestra Municipal, Eliézer Tiago, diz que colocar a orquestra para tocar é a realização de um sonho sonhado por várias gerações de músicos uberabenses. Em meados de 2014, a atual gestão municipal, por intermédio da Fundação Cultural, deu um importante passo na

realização deste ideal: contratou três músicos residentes e atuantes em Uberaba a fim de definir as diretrizes para que a Orquestra existisse por direito, já que de fato ela acontece. Finalmente, depois de muito estudo, trabalho e perseverança, em julho deste ano, foi instituída a orquestra, explica o maestro Eliézer. O segundo concerto da Orquestra Municipal e da Orquestra Jovem acontece hoje (11), às 19h, no Memorial Chico Xavier, com um repertório que vai do erudito ao folclórico, passando pelo popular. A entrada é franca.

Exposições Consciência Negra celebram Em alusão ao Dia da Consciência Negra, a ser celebrado no próximo dia 20, a fotógrafa e jornalista Ruth Gobbo estende o varal na Biblioteca Municipal, para expor um pouco de sua arte, com a exposição Varal de Corpos Inclusão, série de fotografias que celebram a cultura africana e abolição da escravatura. As fotos foram tiradas durante apresentações teatrais do Festival de Teatro de Ouro Preto. Para Ruth, o varal é a forma mais simples de democratizar sua arte, para tocar de forma honesta. Além da mostra fotográfica, acontecerá, de forma simultânea, a exposição Mulher: coragem e força: Carolina Maria de Jesus, que abordará a trajetória da escritora negra. Nascida em

Sacramento, Carolina Maria se mudou para São Paulo em 1947, momento em que surgiam as primeiras favelas na cidade. Apesar do pouco estudo, tendo cursado apenas as séries iniciais do primário, ela reunia em casa mais de 20 cadernos com testemunhos sobre o cotidiano da favela, um dos quais deu origem ao livro Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada, publicado em 1960. As exposições estão no hall de entrada da Biblioteca Municipal e estarão para visitação durante todo o mês de novembro. 6 obras indispensáveis para refletir sobre a Consciência Negra No mês da Consciência Negra, conheça seis obras importantes que analisam e estimulam o pensamento crítico acerca dos papeis social do negro na história do país e do mundo e suas variadas representatividades nos cinemas.

Amistad (EUA, 1997) As lentes de Stephen Spielberg constroem de forma altiva a narrativa da verídica tripulação do navio espanhol La Amistad. Já considerado um clássico da década de 90 marcado por quatro indicações ao Oscar, Amistad narra a história de um grupo de africanos na situação de escravos a bordo de um navio negreiro, em que, após se rebelarem e tomarem o comando da nau, tentam voltar a sua terra de origem, porém o navio é aprisionado e levado aos Estados Unidos. Em solo americano, estas pessoas vistas como propriedades são julgadas por crime de assassinato e presas. Todos esses acontecimentos trazem uma discussão que acabam funcionando como combustível para a ação abolicionista na América do Norte. Ganga Zumba (Brasil, 1964) A película conhecida por ser um dos grandes marcos do Cinema Novo, traz a atuação visceral de Antônio Pitanga na pele de Ganga Zumba o primeiro líder do quilombo dos Palmares. O filme coloca em cena um arsenal completo de elementos

africanos como rituais e danças magistralmente interpretado pela companhia Filhos de Ganghi (maior afoxé do mundo). Quando Antão nome de batismo de Ganga Zumba passa a ter conhecimento de que estaria fadado a se tornar rei, já que sua falecida mãe foi uma rainha africana, resolve que seu destino é partir em busca de Palmares, lugar conhecido por ser protegido por orixás. A obra de Cacá Diegues é muito bem executada e, historicamente, bem fundamentada. O filme está disponível de forma gratuita na internet. 12 Anos de Escravidão (EUA, 2013) O ganhador de três estatuetas douradas da Academia, incluindo Melhor Filme, Roteiro adaptado e Atriz coadjuvante (lançando Lupita Nyong o ao estrelato) narra a impetuosa e violenta jornada real de Solomon Northup (Chiwetel Ejiofor), o homem negro livre que, sequestrado no estado de Washington, torna-se escravo por 12 anos nas lavouras de Louisiana antes de ser liberto. Muitas discussões densas perpassam toda a narrativa, deixando de lado clichês como o do homem branco que descobre que a escravidão é algo ruim ou romances entre brancos e negros. Ao contrário, o espectador está diante de uma obra crua repleta de elementos que entregam um filme a altura de seu tempo. A Negação do Brasil (Brasil, 2000)

O documentário de Joel Zito Araújo é um poderoso aparato de memórias e pesquisas do diretor, acerca do papel de atores negros em produções da teledramaturgia brasileira. O filme pensa os estereótipos em papeis atribuídos a atores afrodescendentes, de forma a traçar a forte influência que as novelas transmitiram através da identidade étnica dos negros no Brasil. Para o criador da obra, a televisão é somente o reflexo de uma sociedade que nega sua própria realidade, uma negação do Brasil. Quanto Vale ou é Por Quilo (Brasil, 2005) O filme faz uma belíssima analogia entre o antigo sistema de comércio de escravos e as atuais ONG s que fazem da miséria uma fonte de exploração, que na prática deveriam defender os interesses dos afrodescendentes. A película livremente inspirada no conto Pai e Mãe de Machado de Assis esquematiza os principais elementos de duas épocas de semelhanças assustadoras. Se no século XVIII período de escravidão declarada existiram os capitães do mato que, objetivando o lucro, caçavam e vendiam escravos aos senhores de terra, hoje em dia, tapando o vácuo do Estado em assistência social, o

conhecido Terceiro Setor faz uso da miséria visando, igualmente, o lucro. Quanto Vale ou É Por Quilo projeta em tela um Brasil onde os valores estão em constante crise. Essa é mais uma obra que está disponível de forma gratuita na internet. Branco Sai, Preto Fica (Brasil, 2014) A construção do longa é proposta através de imagens e sons que aos poucos entrega uma história trágica e igualmente complexa. O cinema de Adirley Queirós é mais um grito das classes pobres dentro da nossa democracia racial. Conta a história de dois homens negros, habitante de uma das maiores periferias de Brasília, profundamente marcados pela atuação truculenta e criminosa de uma polícia declaradamente racista. O fabuloso da película de Queirós está em como os acontecimentos vão ser narrados. Por achar não adequado, os personagens resolvem contar a história levando em consideração outras formas de se narrar o passado. Branco Sai, Preto Fica, tem muito de documentário, mas também de ficção científica e musical pop. O filme talvez nos apresente um apartheid cuja sociedade prefere não descortinar.

Perfil Sidney Pires

A música começou acontecer para Sidney Pires em 1971, quando foi trabalhar na equipe técnica do conjunto do Rosset. Nunca pensei que ali eu estaria selando minha vida profissional. Me lembro como se fosse hoje, eu na porta do Parque Fernando Costa para a primeira viagem. Quando a famosa perua Combi chegou, me despedi de minha mãe e entrei com o meu chefe de equipe formada por dois carregadores e um motorista (grande equipe, kkkk), conta Sidney. O primeiro de incontáveis bailes foi em Nova Granada, próxima de São José do Rio Preto. Continua narrando Naquela época quase todo músico era universitário, e brincavam comigo de igual para igual. Eu me senti em casa, pois eu estava tentando me encontrar na vida e tinha sido aceito numa tribo acima do meu horizonte. Naquela época, os profissionais de baile tinham jornada dobrada, como carregar e montar todo o equipamento, operar a iluminação (que era manual) durante as 5 horas de duração do baile, e após o mesmo, desmontar e carregar a Combi pra voltar pra casa. Minha mãe perguntou como tinha sido a viagem, e eu respondi que foi ótimo e que na próxima semana seriam três dias de eventos, e quando ela me perguntou se eu iria continuar, eu respondi na lata Lógico! Naquele momento estava selando minha vida profissional no maravilhoso mundo da música lembra Sidney.

O primeiro efeito da música em Sidney foi em 1966 quando foi assistir o conjunto Poligonais no auditório da rádio em Patos de Minas onde morava na época. Eram 6 ou 7 cabeludos tocando ieieie. Eu e meus amigos ficamos o dia inteiro na porta do hotel admirando aqueles caras que a gente só via nos videotapes das Tvs em preto e branco. Ali ele conheceu grandes músicos em início de carreira que se tornariam um grande sucesso nacional. Quando foi morar em Uberaba, morou ao lado do clube Associação Musical de Uberaba era um salão popular dirigido pelo Sr. Langerton, que era músico e maestro da Banda Musical Municipal. Era como uma família, de onde nasceram os Mugstones, o antigo Poligonais. Eles eram um sucesso nacional e viviam na estrada, aqui e ali, até o nordeste tocando todos os dias em excursão. O sucesso era tanto que para uma apresentação dos Mugstones, os prefeitos das cidades vizinhas decretavam feriado municipal para aproveitar a passagem deles pela região, porque sabiam que seria casa cheia e pegavam a renda para dar uma incrementada social na cidade, e de quebra já faziam campanha pra angariar votos. O Brasil daquela época era bem mais barato. Os mesmos foram pro Rio de Janeiro e fizeram uma apresentação no Canecão que nem eles mesmos previam a importância para o show bis do Brasil relembra Sidney. Sidney Pires testemunhou coisas incríveis, como um show com a atração internacional Billie Holiday, que teria na sequência um cantor em início de carreira com o nome de Roberto Carlos, que vendo o tamanho do evento foi embora, cabendo aos Mugstones fazer a sequência até o final, sem terem noção da importância disto para música brasileira nas próximas décadas. Nos anos 70, no auge da jovem guarda, Uberaba chegou a ter 65 conjuntos de ieieie. Tinha o conjunto do Rosset onde eu trabalhava, Som Especial 7, Dimensom que nasceu do encontro

de alunos do Colégio São Benedito, que fornecia bolsas para alunos que tocassem um instrumento ou cantassem, o Conjunto Califórnia que era dirigido por um militar com nome de Adão Soldado que tocava sax na banda do quartel, outro Adão, o Cavuca, montou um conjunto com o nome de Mobile 2000, por causa da proximidade dos anos 2000 que representava pra nós um futuro promissor pro país, propagado pelos dirigentes. A entrada feroz da música eletrônica e dos DJs, além da globalização da mídia comercial foi um baque para estas bandas artesanais. Os conjuntos sofreram grandes baixas pelo custo operacional e a falta de equilíbrio entre DJs e Bandas ao vivo narra Sidney. Se transferiu então para o teatro amador, porém com qualidade profissional, pois era feito por universitários antenados com os movimentos políticos e apoiado por grandes cabeças pensantes do momento. Isso me ajudou muito culturalmente O próximo passo foi trocar a técnica pela comercialização e produção de eventos. Os pessimistas de plantão me diziam: Como você vai vender você não fala nem português corretamente? Eu disse: Eu aprendo o que der. continua Sidney Minha coragem e a força da juventude me empurrou pra um mercado de ponta no país. Na época, os universitários ouviam uma música de qualidade, a verdadeira MPB, com grandes nomes da música brasileira como Toquinho e Vinícius, MPB 4, Chico Buarque, Elis Regina, Quarteto em Cy, Simone, João Bosco, Ivan Lins e outros No mesmo nível, Uberaba por ser uma cidade universitária, era contemplada por um circuito universitário. Me liguei a um produtor de Campinas, onde produzi Bailes e Formaturas. Neste período foi trabalhar como representante de uma firma em Ribeirão Preto com a representação de todas banda de ponta de São Paulo e Rio de Janeiro. Foi quando lançou no Triângulo Mineiro, um grupo que despontava como o melhor grupo de bailes do Brasil: Edinho Show. Na sequência fizeram uma excursão nos Estados Unidos da América e voltaram com o nome de Santa

Cruz. Em 1985, Sidney organizou uma feira agrícola em Uberaba com os maiores nomes da música brasileira da época, começando com Ney Matogrosso (com o mesmo show que tinha aberto o Rock in Rio naquele ano), Elba Ramalho, Alcione, Milionário e José Rico, Morais Moreira e Armandinho, Erva Doce, Gilliard, a banda Primeira Mão como base, e Elke Maravilha como apresentadora. Mas nada é perfeito. O parceiro na ocasião designado pelo escritório E&C Produções (Roberto Carlos), quando viu o valor final do contrato da programação que chegou à cifra de 3 milhões de dólares, fez uma trapaça e associou a empresa Studio Um de São Paulo (Manoel Poladian) e puxou o tapete do escritório do Roberto Carlos e do Grupo Santa Cruz. Sem saber de nada, fiz todo trabalho de logística, que era a minha função, sendo socorrido em parte pelo líder do Grupo Primeira Mão, Armando, que me pôs a par do que tinha acontecido lamenta Sidney. Foi quando foi pra São Paulo dirigir o escritório do Grupo Santa Cruz. A temporada com eles valeu muito para seu conhecimento profissional, e quando voltou, continuou com as representações, com uma bagagem muito maior. Foi quando um garoto cabeludo me procurou pedindo para eu representar a banda dele com um nome engraçado de kreddo que era ligada ao Rock. Eu fui lá ver como era e tive uma grande surpresa, pois encontrei um bando de garotos adolescentes cheio de sonhos e disposição para herdar a história musical de um futuro Uberaba. Lá eu vi nascer o Marco guitarrista, hoje Dr. Marco Aurélio cirurgião plástico, guitarrista da Banda Outubro. Ricardinho Morais, baixista, hoje na produção do grande evento semanal do município Domingo na Concha também atuando no instrumento, João Borges, que ficava escondido atrás de uma bateria de acrílico, provando ser grande homem de frente com um visual incrível para época, com uma cabeleira ruiva bem americanizada. Um Afro alto, único adulto do grupo, o querido Geraldo Mathias tocando uma boa guitarra base, um baixinho invocado conhecido como Rato responsável pela luz,

e um rapaz alto, bem jovem e magrinho responsável pelo som com o nome de Ryger Gomes. Eu falei pro João Você arruma um baterista, venha pra frente cantar e fazer performance, pois era uma figura bem curiosa e bem vista pelos jovens. E procure um tecladista, pois as músicas exigem muito um teclado. Em uma manhã, João chegou em minha casa empunhado um belo violão, eu ainda estava dormindo, ele entrou no meu quarto, chegou, sentou numa cama ao lado e começou a tocar. Para minha surpresa, ele era infinitamente melhor guitarrista que baterista, confirmando um sentimento que eu tinha, quando eu fui no ensaio deles. Na sequência de ensaios e ajustes, um dia cheguei lá e tinha um baixinho como nome de Pedrinho muito educado pelos padrões dos garotos da época que me foi apresentado como futuro tecladista do grupo, além de uma alternância na bateria com os outros membros. Surgiu então a oportunidade na Exposição do Parque Fernando Costa de fazer a abertura do Show de uma banda de renome nacional, o Dr. Silvana e Cia. A banda Base da Exposição naquele ano, que já era sucesso aqui era a Apolo s Band. Sidney perguntou ao pessoal da banda qual seria um repertório interessante, pois já havia presenciado bandas regionais sendo tiradas do palco antes do final da segunda música, pois a prioridade era o público e não o grupo. Eles deixaram o Kreddo fazer a abertura e continuando a pesquisa de músicas, um amigo colocou uma fita cassete no carro que tinha All Night Long, do Lionel Richie que foi usada no encerramento das Olimpíadas de Los Angeles, com um efeito de lanternas no escuro. Sidney apresentou a música para o pessoal do Kreddo, e sugeriu que os arranjos de sopro e orquestra da versão original fossem feitos pelos vocais dos meninos, à la Edinho Santa Cruz. A música ainda teve uma bela introdução com um arranjo à capela, com a batida da bateria e com uma mix pra música Palco de Gilberto Gil. Resultado: a grande atração da noite foi ofuscada pelos garotos desconhecidos, e quem me contou isso foram os músicos do Apolo s Band. Em meio às lágrimas de emoção em ver um garotos cabeludos, principiantes, assustando

ídolos da mídia emocionado. e músicos experientes, conta Sidney Atualmente, seja no Teatro Municipal Vera Cruz, em eventos particulares aqui e fora de Uberaba, ou nas produções do Teatro do SESI, Sidney Pires continua contribuindo para a música e a cultura da região. História viva. Saara

Já se aproxima a hora do almoço, quando chegamos ao Saara, na Rua Tristão de Castro. O bar oferece salgados e comida árabe. Agora já tem poucos salgados na estufa, a foto não vai ficar boa, alerta o senhor Jorge Adib Miziara, proprietário do bar. Ex-vendedor da antiga loja Pan Mac, seu Jorge também foi dono de lanche por oito anos antes de montar o Saara, junto com a irmã, já falecida. Minha irmã veio a falecer e eu continuei e estou aqui isso tudo de tempo (21 anos), já enfrentei altos e baixos, diz. Casado com uma professora, com filhos já formados, ele trabalha sozinho, fabricando pessoalmente todos os salgados e atendendo os clientes. Esse foi o jeito que encontrou para baixar as despesas e manter o negócio em funcionamento. O segredo é procurar ganhar menos e diminuir as despesas. Os filhos acabaram não se interessando pelo negócio do pai e

seguiram outros rumos. Um deles ainda vem ajudá-lo no bar de vez em quando. Seu Jorge reconhece deficiências no ponto onde o bar foi instalado. O ponto não é bom não, não tem estacionamento, não tem acesso para pedestre estou aqui só porque sou sozinho mesmo, se fosse para ter muita despesa eu não estaria mais, porque o local não oferece condições. Apesar disso, a clientela do Saara é fiel e vem de longe para consumir os salgados. Eu tenho muitos anos, né? Então tem muita gente que conhece e vem. Entre os frequentadores, alguns políticos. Tenho muito amigo vereador, deputado, comenta. Em geral, os horários de almoço e final de tarde são de maior movimento. Muita gente busca os salgados para levar. Ele conta, orgulhoso, como aprendeu a fazer os salgados. Foi curiosidade. Eu fui aprendendo e desenvolvendo meu sistema, minha massa. A minha massa é minha massa, não tem cópia não, salienta. Para ele, o movimento está diminuindo consideravelmente nos últimos anos. Já teve duas crises, uma de 99 a 2000 e agora essa que tem um ano e pouco. Essa agora está só piorando, reflete. Mesmo aposentado, seu Jorge vacila quando perguntado se pensa em fechar o bar, para descansar. É, eu já tô pensando mas, enquanto não tem nada pra fazer, vamos continuando Os apreciadores dos salgados agradecem!

Entre chapéus, botas e selas Quem passa pela Praça Doutor Jorge Frange, esquina com a Rua São Benedito, há mais de trinta anos se depara com a Selaria Santos Reis. A loja é

apinhada de artigos em couro, botinas, botas, chapéus, selas, cintos, berrantes, entre outros produtos, adquiridos, em sua maioria, por trabalhadores rurais. O comprador pode encontrar todo tipo de material que um verdadeiro peão de boiadeiro precisar. O proprietário, Odair Gonçalves Figueiredo, de 67 anos, abriu a loja em 1984. Natural de Conceição das Alagoas, Odair conta que começou nesse ramo porque o irmão tinha uma representação de chapéus importados e juntos começaram a vender chapéus em exposições agropecuárias. Na exposição agropecuária, o pessoal começou a pedir botas, chapéus, cintos e tal aí eu só tinha o chapéu, conta, divertido. Aí foi onde eu montei a selaria, com todos os acessórios, botas, chapéus, cintos, freios, esporas, selas, canivete, faca, facão, esclarece. E por que o nome Santos Reis? É que sou do mês de janeiro, nasci no dia 06, dia de Santos Reis, explica. As vendas prosperaram ao longo dos anos e ele afirma que vendia bem suas mercadorias. Vendia bem, mas agora caiu com essa crise aí, do Lula, do PT, né? Caiu Até 2002 foi bom, mas do ano passado pra cá, caiu demais. Esse ano tá crítico, o povo tá sem poder aquisitivo, né? Ganha muito mal, não dá para as obrigações, aí o consumo cai, né? Apesar disso, Odair não pensa em desistir do negócio. Ainda há clientes interessados em seus produtos. Em geral, pessoas da zona rural, pequenos proprietários e peões. Principalmente pessoas de origem mais humilde. Os mais ricos são mais

seguros, não gostam de gastar. Chapéu, por exemplo, quem compra é o pessoal mais humilde, diz. Também entre o pessoal da cidade há bastante procura por chapéus e cintos. Os melhores meses, de acordo com Odair, são junho, julho e dezembro. Devido às quadrilhas, junho e julho são os meses que eu mais vendo. Em dezembro também, que é mês de natal, eles querem dar presente pra um e pra outro, né?, conclui. Ao contrário do esperado, o período da Expozebu não é mais tão bom para as vendas. Mês de maio já foi muito bom, mas agora a exposição caiu 70%. Cobram muito caro pra entrar lá, não tem divulgação nenhuma, não tem show, não tem rodeio, então as vendas caem, explica pesaroso. A renda da loja, juntamente com a aposentaria que ele pagou como autônomo ao longo dos anos, é suficiente para sua sobrevivência. Ele é divorciado e tem três filhos. Dá uma rendinha razoável, vou tocando o barco aqui por enquanto. Tá ruim, mas pode melhorar, né? Quando melhorar eu já tô com a loja bem montada, o imóvel é meu, não pago aluguel mas se eu tivesse que pagar aluguel eu não teria condições de tocar não, afirma. E assim, seguro em suas escolhas, Odair segue entre seus chapéus, botas e selas atendendo aos seus clientes com o jeito calmo e paciente com que nos recebeu para essa conversa.

Rei da Vitamina A famosa galeria Rio Negro, no centro de Uberaba, abriga há 48 anos uma das mais antigas casas de suco e vitaminas da cidade: a Bomboniere Rio Negro Rei da Vitamina, fundada pelo

senhor Mário Toitio. É sua filha, dona Regina Célia Toitio, quem conta a história do lugar, já que hoje comanda o negócio do pai, falecido em 2010, com 86 anos. Senhor Mário nasceu em Ribeirão Preto, onde trabalhou com plantações; dona Regina não sabe precisar a data em que o pai veio para Uberaba mas, no início, ele possuía um mercadinho de verduras, próximo ao Colégio Marista Diocesano. A ideia de trabalhar com vitamina foi dele e do meu tio, Sérgio. Eles começaram com a vitamina lá na praça Rui Barbosa, em 54 aí depois meu pai veio sozinho para a Arthur Machado e depois para a galeria, onde a loja já tem 48 anos, conta. O barulho de liquidificador preparando as vitaminas é constante enquanto conversamos com dona Regina. Mesmo assim, ela diz que o movimento no local caiu muito nos últimos tempos, principalmente depois da implantação do BRT. O movimento diminuiu 40% com o BRT. Mas graças a Deus a gente tem os fregueses antigos, agora tem os netos que sempre vêm aqui, pondera. Ela conta que um dos frequentadores mais famosos foi Chico Xavier, que ia muito ao local. Eu tinha foto dele aqui, aí eu emprestei pra um pessoal e eles não me devolveram, lamenta. Nos tempos áureos, a loja funcionava até tarde. Antigamente ele trabalhava até dez, onze horas da noite. Quando tinha o Cine Metrópole, às vezes ele ficava até meia noite, lembra. Com a loja, seu Mário conseguiu criar seis filhos. Para três ele pagou faculdade particular, então, quer dizer, a luta dele foi grande. Mas ele conseguiu nós formamos, destaca.

Dona Regina não chegou a trabalhar com o pai na bomboniere, porque formou-se como professora, mas parou de trabalhar quando os filhos nasceram. Tempos depois, acabou se envolvendo com o comércio. Chegou a ter uma lanchonete na própria galeria Rio Negro, o Bar Eldorado, também tradicional na cidade. Um de seus irmãos assumiu a vitamina após o falecimento de seu Mário, mas depois abriu uma hamburgueria. Então dona Regina fechou o Eldorado e passou a cuidar da bomboniere. Atualmente, ela conta com a ajuda do filho mais velho e mais dois funcionários para tocar o negócio. Tem ainda dois filhos, morando fora de Uberaba; a filha mora no exterior e Uberlândia. o filho mais novo, em A viúva de seu Mário já está com idade avançada e apresenta problemas de saúde, por isso dona Regina tem que se dividir entre a vitamina e os cuidados com a mãe. Mas pretende manter o negócio do pai. Isso aqui é o sonho da vida dele, por isso preciso continuar enquanto puder, conclui.

Bar do Pezão de pai para filho, há mais de 50 anos Uma linda e antiga foto estampa o freezer onde são guardadas as bebidas. Nela estão Edson, ainda menino, em pose solene com o pai, a mãe e a irmã.

Edson virou Pezão, apelido que dá nome ao bar, aberto por seu pai, Divino José Moreira, em 1965 no bairro Santa Marta. Na fachada está exposta uma faixa em homenagem aos fundadores, pelos 50 anos de existência do bar, comemorados em 2015. Com uma fala mansa e educada, Pezão nos conta que aos onze anos começou a trabalhar ali com seu pai. Desde menino, eu que ficava aqui.. daí depois de 9 anos ele morreu e eu continuei sozinho. Tem 42 anos que ele morreu o bar fez 51 anos em agosto, esclarece. Seu Divino trabalhava vendendo verduras numa carroça, mas por problemas de saúde, teve que parar e montou o bar. Ele montou um barzinho numa sala que tinha aqui, porque não aguentava mais trabalhar com carroça, lembra. Emocionado, Pezão recorda que estudava para o vestibular de medicina quando assumiu o bar. Eu deixei de estudar pra medicina e virei dono de bar mas aqui também ajudo os fregueses de outro jeito, porque as pessoas sempre vem aqui com algum problema, perguntando alguma coisa e eu tenho que responder qualquer coisa, não posso deixar o freguês sem uma resposta, né?, brinca. Pezão sempre trabalhou sozinho mas, depois de casado, a esposa passou a ajudá-lo. É ela quem faz todos os salgados vendidos no bar. Temos coxinha, croquete, bolinho de arroz, bolinho de bacalhau, enumera. Aliás, a coxinha é famosa na cidade, vem gente de longe para experimentar. E de fato, comprovamos que a fama é justa; a coxinha é realmente deliciosa!

O casal possui apenas um filho, que trabalha com Sistemas de Informação e não tem tempo para ajudar no bar. No local tem também uma pequena mercearia. Enquanto conversávamos, um cliente entra para comprar ovos. O bar é aberto todos os dias às onze da manhã e fecha geralmente em torno de meia noite. O movimento é regular e possui uma clientela assídua, do Santa Marta e também de outros bairros. Vem gente do Pacaembu, Morumbi, Manoel Mendes, do Centro tem freguês de todo estilo, afirma. Sem fazer propaganda, Pezão recebe seus clientes como amigos. E, para ele, este é o segredo da longevidade de seu bar. Atender os fregueses bem, conversar, saber entender cada um, no seu jeito de ser, para atender bem. A gente é que tem que se adaptar a eles, explica. Além disso, ele mantém uma clientela mais selecionada. Eu evito gente que possa causar problema, para não ter briga, conclui. Dos clientes mais antigos, Pezão afirma que alguns frequentam o bar diariamente. Ele destaca um que bate ponto no local há cinquenta anos. Tem um que todo dia vem aqui. Ele, bebia, bebia demais parou de beber, e hoje ele vem aqui tomar café, conta. Esse e outros viraram fregueses de café desde a época de sua mãe trabalhando no bar. Ela gostava e fazia o café aqui e aí os fregueses que gostavam

tomavam o café, relembra. O Bar do Pezão é repleto de boas histórias e de gente alegre como Dona Maria Tomázia, vizinha há vários anos, que chega para comprar um refrigerante. Ela se anima ao saber que contaremos essa história no jornal. Eu vi o Pezão nascer, afirma, com um sorriso contagiante. Mesmo frequentado por vizinhos, amigos e gente de bem, algumas vezes o bar foi arrombado por marginais. Há dois anos tive que fazer uma reforma os ladrões entravam por um forro de madeira que tinha aqui., mostra Pezão. Em álbuns de fotografias que exibe orgulhoso, Pezão registra suas memórias. O local antes e depois da reforma, os amigos frequentadores inclusive o ex-jogador do Flamengo, Rodrigo Mendes e muitas crianças. Algumas aqui eu vi crescer no bar, e hoje já trazem os filhos pra eu ver, conta. Nesse ambiente familiar e hospitaleiro, é fácil perceber como o bar sobreviveu à inclemência do tempo. Mais do que comida e bebida, Pezão oferece a seus fregueses, com seu jeito simples e afável, sua atenção, paciência e amizade. E, é claro, deu muita vontade de sentar, pedir uma cerveja e ficar ouvindo as histórias desses 50 anos de existência.

De tudo um pouco Baldes, vassouras, filtros, panelas, ferragens, cordas, ferramentas, peneiras, lâmpadas, churrasqueiras, varas de pescar Mercadorias dos mais diversos tipos, que podem ser encontradas em um só lugar. Ou melhor, dois: o Comercial Saad e a Casa Temos Tudo, lojas que funcionam no mesmo endereço, na rua Capitão Manoel Prata, no bairro São Benedito, há 60 anos. Inicialmente era um só estabelecimento, que foi dividido em dois, permanecendo o atendimento familiar e a variedade de produtos.

Na esquina com a rua Veríssimo, funciona a Casa Temos Tudo, que nome adequado! A poucos passos dali, fica o Comercial Saad. No letreiro da fachada, junto ao nome da loja, uma descrição também mais que apropriada: temos de tudo para sua casa, fazenda, construção e indústria. O Comercial Saad existe há 60 anos, primeiramente era tudo um cômodo só. Em 1982, o comércio foi dividido entre os irmãos Saad Melen Saad e Antônio Saad. Assim, há 35 anos, Antônio ficou com o ponto da esquina, a Casa Temos Tudo, e Saad ficou com o empreendimento que leva o nome da família. Outro irmão, Charabel, não toma parte nos negócios: foi trabalhar no INSS, em Brasília. Na Casa Temos Tudo, conversamos com o senhor Antônio e a filha, Fádia Tomé Saad, que há 30 anos atende junto com o pai. Quando a loja surgiu, as ruas eram de terra e as casas na região eram poucas, bem como os comércios. O Comercial Saad atendia todos os tipos de necessidades, praticamente. Antes eu vendia secos e molhados também, arroz, feijão, tudo a granel, lembra seu Antônio. Doces diversos também estavam entre as mercadorias encontradas. Mas era tanta coisa que o cômodo ficou pequeno, por isso os gêneros alimentícios saíram das prateleiras. E porque também a cidade, o comércio da região foi crescendo, foram aparecendo mercados e outros lugares onde se achavam esses produtos. Mas ainda vendemos refrigerante e cerveja. Pinga, não, joguei tudo fora: não gosto de pinguço, diz dona Fádia. Enquanto falamos com os comerciantes, clientes vão sendo atendidos. Um compra dez metros de corda, outro leva parafusos para cama. Sempre comprei aqui, meu pai, aliás, já era freguês, conta um dos fiéis compradores, o marceneiro Garibaldi Costa Ciabotti. Meu tio também, compra fechadura, dobradiça, a gente vem porque aqui acha de tudo, e

abre até sábado e domingo, comenta. Outro cliente pede uma vassoura, ou melhor, só o cabo, outro quer uma panela, e dona Dora Marilda Cruz procura uma mola para um picador de legumes. Vim lá de perto da Medalha comprar aqui, diz. Tem cliente até de outras cidades, emenda dona Marlene. Uma balança antiga é uma relíquia da loja, e funciona até hoje, pesando até 20 quilos. Pouca coisa mudou na estrutura do comércio desde os primeiros dias. Alguns hábitos, porém, não são mais os mesmos. Não vendemos mais fiado, afirma dona Marlene. O senhor Antônio, no começo, quando os arredores eram mato, confiava só na palavra dos fregueses. Depois, vieram as notinhas, mas até esse costume foi abolido: fiado, não. A crise foi o que mais mudou ao longo desses anos. Você vai andando aí e só vê comércio fechado, ponto para alugar, lamenta dona Marlene. Perto dali, no Comercial Saad, além do nome original, também é mantido o estilo do armazém. A diferença para o empório vizinho é que aqui não abre aos domingos. Mas as semelhanças são muitas, no arranjo das mercadorias: alguns produtos ficam no chão, outros em prateleiras, outros nos velhos balcões com vitrines e, claro, não faltam artigos que ficam pendurados no teto. Dona Marlene Elias Saad, viúva de seu Saad, assumiu o balcão há 12 anos, quando o marido faleceu. Investiu e montou no prédio ao lado as clínicas onde atendem os filhos Kaissor e Karine. Outro filho, Faissor, hoje ajuda a mãe no atendimento. Ele é dentista, mas veio de Brasília para me ajudar, já estou ficando velha, diz dona Marlene, que, na verdade, não precisaria falar velha, mas

sim experiente, já que tem que entender de que vende. Por exemplo, mostra um serrote do dá os detalhes. Tem umas coroas escondidas, original, diz, mostrando os desenhos das relevo na lâmina. tudo um pouco do tipo Greaves e se o serrote for coroas em alto- Os serrotes são algumas das peças históricas do estoque. Tem outras ferramentas, como chaves inglesas, que não são mais fabricadas, são relíquias, destaca. Há ainda itens que só seriam encontrados ali, como as plantadeiras manuais (matracas) e cabos de carpideiras manuais. Precisou de alguma coisa para a cozinha, a oficina, o banheiro, o rancho, a reforma, o jardim, a fazenda? Passa lá na Casa Temos Tudo e no Comercial Saad. Provavelmente você encontra o que procura. E, certamente, tem um pouco de história e uma prosa boa.

Empoderação das Pretas caminha para intensificar ações dos projeto Ainda tentando assimilar a conquista de um Prêmio Nacional, a estudante Paula Karine Assis Ferreira, de 26, anos, recebeu o Uberaba Popular para falar sobre a importância de ter o trabalho, realizado por ela e os jovens do Coletivo Afrontar-se, reconhecido em uma premiação de R$ 20 mil. A estudante de Comunicação faz parte do Projeto Empoderação das Pretas, fruto do Coletivo Afrontar-se. Há um ano, o grupo debate a igualdade racial. Um trabalho árduo de jovens negros

que sonham com uma sociedade igualitária. Foi este sonho visionário de valorização da comunidade negra que abriu as portas para o Antonieta de Barros, prêmio oferecido a jovens comunicadores, negros e negras, que fazem a diferença na sua comunidade. Com apenas um ano de estrada, eles foram coroados com a escolha da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir). O projeto, sem fins lucrativos, tem como foco a reconstrução social e o resgate étnico cultural da ancestralidade africana e eleva o nome de Uberaba para outras partes do país. Agora, todos sabem que aqui foi plantada a semente da transformação e que os negros têm onde se apoiar e dar voz à luta social que vem sendo travada por séculos. Afinal, o negro agora conta com um canal onde poderá promover a transformação social, econômica e cultura na comunidade uberabense. Paula Karine UP Como surgiu o projeto?

PK O Empoderação nasceu de uma forma totalmente despretensiosa. Foi a união das ideias da Agnes, Eduarda, minhas e de outras meninas. A gente sentiu a necessidade de sentar, conversar e debater sobre nós. De falarmos de nós mesmos. Nosso primeiro encontro tinha umas 20 pessoas no máximo, hoje são mais de 60 meninas. O projeto cresceu e passou a ser organizado pelo Coletivo Afrontar-se. Ganhou outros formatos e, agora, atende também crianças da cidade. Com o prêmio, queremos concretizar o projeto. Ao final de dois anos vamos intensificar os encontros, as palestras e as ações. Para fechar o ciclo vamos escrever um livro reportagem fixando o projeto e contar o que fizemos nestes dois anos. UP Qual foi a reação ao receber a notícia do prêmio? PK Foi uma surpresa muito grande a conquista. Competimos com projetos muito bons, do país inteiro, e ficamos em décimo segundo lugar de um total de cinquenta participantes. Eu não imaginava que teria uma proporção tão grande. Esse reconhecimento da Secretaria de Promoção e Igualdade foi muito legal. Esta visibilidade que eles deram para gente é muito importante. Nós, do projeto, estamos felizes de poder mostrar o que realmente a gente faz. O projeto ele foi inscrito pelo Nelson que é administrador. Ele que faz parte de um movimento em Barretos. Como eu disse, não tínhamos pretensão nenhuma. Falamos: vamos inscrever o projeto e se der certo deu. E, de repente, chegou a notícia que ele foi classificado. Foi muito legal mesmo. Foi muito bom! UP Você nasceu e foi criada em Uberaba? PK Sim, meus pais moram e trabalham aqui. UP Qual foi seu primeiro contato com o movimento negro? PK Os meus pais, são negros formados em Uberaba e sempre

tiveram também dificuldade de enfrentar a questão do preconceito racial. Então, vendo a luta deles, eu comecei a me interessar por esta questão do preconceito. Venho de uma família de pessoas que batalha muito. Meu pai é jornalista e minha mãe é pedagoga. Os dois sempre lutaram para dar a mim e ao meu irmão uma educação diferenciada. Acima de tudo, nos preparando para superar as barreiras sociais. Meu primeiro contato com o movimento negro foi baseado na experiência dos meus pais. Aqui em Uberaba já teve um movimento negro engajado na causa social. Meus pais participavam e eu cheguei a ter contato algumas vezes com o movimento antigo. Eu acho que por motivos políticos, não deu certo e não foi para frente. Hoje, eu faço Comunicação Social e vejo a necessidade de dar continuidade à este resgate da nossa ancestralidade. Enxerguei que era preciso reativar este movimento. E junto com outros amigos, junto com a Agnes, que também está à frente do Coletivo Afrontar-se. UP Qual o papel da mulher negra hoje na sociedade? PK A mulher negra sofre muito mais com o preconceito racial do que as outras mulheres. Isso é fato. O Empoderação das Pretaas veio para suprir estas necessidades de trabalhar com as mulheres negras de Uberaba. É trazê-las para junto de nós, para que elas tenham um momento de falar sobre elas. Socialmente elas não têm este momento. Tem também a questão da troca de experiências, de poder se apoiar em alguém para sair de situações de racismo. É uma agressão que a gente vive o tempo todo, porque o racismo é estrutural. Vimos a necessidade da mulher negra ter em quem se apoiar, para que, lá fora, ela saiba lidar com tudo o que é relacionado ao preconceito racial. UP É importante também que nossos filhos sejam educados para lidar com esta cultura social presente no país?

PK Trabalhamos com o Empoderação Kids e a página do Coletivo, no Facebook tem um vídeo do encontro feito comcrianças, em Uberlândia, pela Agnes e a Eduarda com crianças. É importante que as crianças tenham este contato mesmo. Principalmente, as crianças negras que sofrem com o racismo tão enraizado na sociedade. Estas crianças crescerão com esta visão errada do sistema, por isso, precisamos desconstruir isso desde agora. O importante é orientas estas crianças para que elas vejam o coleguinha branco ou índio sem distinção de raça ou de cor. Devemos trabalhar todos os lados. A gente costuma falar que não existe racismo reverso. A criança branca não sofre racismo, mas, mesmo assim, ela precisa ser orientada para não praticar nenhum ato racista. Já as crianças negras precisam ser empoderadas para que aprendam lidar com esta questão diariamente. Para ser um adulto mais seguro e com o amor próprio lá em cima. UP Quando a gente fala de respeito pela cultura de um povo, não dá para deixar de fora a religião. Como você vê o preconceito voltado para as religiões de matriz africana? PK A intolerância religiosa é bastante presente na sociedade. Uberaba tem muito terreiro de umbanda e candomblé. É importante trazê-los tpara dentro do projeto porque está associando à cultura africana e os preconceituosos acham que são religiões do mal. Muita gente não entende, por exemplo, como funciona um terreiro de candomblé. Eles associam à macumba, pelo fato de ser uma religião africana, então, é legal desmistificar esta visão. E este resgate deve ser feito, também, por causa da questão cultural. As religiões africanas estão presentes no Brasil e fazem parte da história da construção deste país. É importante conhecer a história e dar continuidade ao legado dos nossos ancestrais.