Cenografia (e indumentária) ANTON TCHEKHOV Anton Tchekhov 1860-1904
Uma unidade entre cenografia e self muito única e especial no seu tempo. O QUE A DRAMATURGIA DE TCHEKHOV EXIGE COMO CENOGRAFIA? O palco demanda um certo grau de artifício... Não há uma quarta parede. Além disso, o palco é arte, o palco reflete a quintessência da vida e não há necessidade de introduzir nada supérfluo nele. (Tchekhov) Um escritor simbolista preso a um palco naturalista (Aronson) Para Tchekhov, os elementos concretos do mudo externo eram manifestações de estados emocionais dos seres.os cenários eram mapas virtuais para a psique A identificação da personagem com o cenário é tão completa que se o cenário sair, a personagem cessaria de existir.
COMO SERIA O CENÁRIO IDEAL PARA TCHEKHOV? Nem ele sabia. Porque não existia ainda, provavalmente?
PANO DE FUNDO CENOGRÁFICO: O DUQUE DE SAXE-MEININGEN A Companhia Meininger (Meiningen hoje é Alemanha, o Ducado acabou na Segunda Guerra Mundial) Estilo naturalista. Foi influenciado, por sua vez, pelas montagens de Shakespeare feitas pelo ator inglês Charles Kean. Georg II, Duque de Saxe-Meiningen (1826-1914)
Desenhos feitos por Georg II. Romanos em Júlio César (dir.) e Cleópatra (acima). Note o nível de detalhes e a precisão histórica. Estilo de Planchet, Racinet e Hottenroth
Cenário dos Meininger para Hamlet O Duque de Saxe-Meiningen influencia duas grandes figuras:
PANO DE FUNDO CENOGRÁFICO: ANDRÉ ANTOINE, DO THÊATRE LIBRE 1887 1858-1943 Peças do Théâtre Libre: frágeis em enredo, mas densas em implicações sociais e psicológicas Conceito da quarta parede
Montagem de O Pato Selvagem, de Ibsen, com direção de Antoine, em 1906. Utilizaram pinus norueguês na construção do cenário, para obter mais veracidade. NÃO CHEIRA UM POUCO A MARKETING, TAMBÉM?
Montagem de A Terra, de Zola, com direção de Antoine, em 1902. Galinhas de verdade soltas no palco.
E... Finalmente para discussão...
Konstantin Aleksiêiev (1863-1938) Nome artístico: Konstantin Stanislavski Stanislavski em As Três Irmãs- no papel de Verchínin
Stanislavski só vai conhecer mais profundamente a obra da Companhia Meininger na segunda visita deles a Moscou. Em 1885, na primeira visita, um crítico severo os analisa: Alexander Ostrovski, um dos grandes dramaturgos russos. Ele acha que a Companhia tem coisas ótimas: boa movimentação de grupo, disposições de palco muito belas e eficazes, batalhas bem desenvolvidas. Salienta como era boa a iluminação e todo o tipo de efeitos especiais.
Mas é severo quanto ao que classifica como excesso de naturalismo : Eles colocam no palco uma réplica exata de uma estátua de Pompéia e cópias exatas de taças romanas, o que é totalmente desnecessário porque este tipo de item só poderia ser apreciado por um expert e um expert no palco, já que de longe ninguém poderia ver itens tão pequenos quanto uma taça de vinho. Para o espectador, basta que o cenário, figurinos e adereços não violem a verdade histórica da época representada - absoluta fidelidade soa mesmo como pedantismo.
Na Companhia Meininger, até mesmo Júlio César parece um adereço em cena. O que Kronegk (o produtor do espetáculo) esquece é que ele não está exibindo um show de bonecos de cera ou de tableaux vivants, que ele não está mostrando cenas da história romana, mas que seus atores estão atuando numa peça de Shakespeare, e que é impossível representar Júlio César sem talento. A interpretação deles não nos deixa com aquela sensação de satisfação que se recebe de uma obra de arte. Extraído de MAGARSHACK, David. Stanislavsky: A Life, páginas 41-43.
Mas também há outro problema, além da tchurma Meininger...
Convenções bastante rígidas para a produção de espetáculos. As opções de figurino eram as seguintes, de acordo com Stanislavski: Trajes na linha do Fausto (de origem espanhola) Huguenotes (de origem francesa e protestante) Trajes ao estilo de Molière Trajes dos boiardos
Planta Baixa do Teatro De Arte de Moscou
Proporção frontal
Ele vai começar com uma grande pesquisa museológica. Coloca a companhia em um trem e vai pelo interior comprando Antiguidades e tecidos de 300 anos para por em cena, no Czar Fiódor Ivannovitch, de 1898. Claro que a estreia foi coisa nunca vista em Moscou.
Foi a Fase Histórica, naturalista-realista.um tiro no pé, pois foi o que entrou para a história? Apesar de todas as suas experimentações? Claro que encobria a frágil formação dos atores, iniciantes que depois se tornariam monstros sagrados. Entre eles, Meyerhold. Compensava-se visualmente o espectador. O figurino e os cenários eram ferramentas externas para compensar a não elaboração interna das personagens.
FASES DISTINTAS DO TRABALHO DE STANISLAVSKI, NA INTERPRETAÇÃO, QUE AFETAM A CRIAÇÃO DE CENÁRIOS E FIGURINOS: Naturalista realista- lentamente,ele percebe que não é necessário que o traje seja peça museológica para a concretização da personagem. Passa a trabalhar com a hipótese de peças semelhantes, mas não históricas. Depois, passa pelo psicologismo, em que os trajes complemenatm o trabalho mental do ator. Finalmente, nas ações físicas, a coisa muda bastante de figura e o figurino passa a ser uma criação de suporte para o ator, e não o contrário ( o ator que serve ao figurino)
Ato II, Cena 2 O Czar Fiódor Ivannovitch, de 1898
O Czar Fiódor Ivannovitch
Maquete do Czar Fiódor Ivannovitch
Ato III de O Czar Fiódor Ivannovitch- a mulher a direita é Olga Knipper-Tchekhova
Coleção de trajes de Stanislavski- Casa Museu Stanislavski
Coleção de trajes de Stanislavski- Casa Museu Stanislavski
A Donzela de Neve, de Ostróvski 1900
Exposição de trajes do espetáculo A Donzela de Neve. Museu do Teatro de Arte de Moscou.
Ralé, de Górki. 1902
TCHEKHOV E O TEATRO DE ARTE DE MOSCOU Olga Knipper-Tchekhova e Tchekhov
A Gaivota, de Tchekhov 1898
Caderno de direção de Stanislavski- 500 notas, em processo simbolista. Feitas em uma torre na fazenda do irmão na Ucrânia. Fracasso da montagem anterior da Vera Komissarjevskaya, em 1896.Tchekhov afirma que A Gaivota é uma comédia. (!?!?) S. e T. discordam em (quase) tudo. T. implica com tudo, até com as calças que S. veste para fazer Trigórin, o escritor. Montagem simbolista? O início sim. O tédio da vida no campo e da vida em si.
Em Minha Vida na Arte, p.303, ele diz:...um jovem desesperadamente apaixonado, por falta do que fazer e de maneira absurda, coloca aos pés de sua amada uma linda gaivota branca morta. Trata-se de um magnífico símbolo de vida. Simbolista, portanto.
Ainda em Minha Vida na Arte, p.303: Outro exemplo: o aparecimento de um maçante professor prosaico, que durante toda a peça importuna a mulher com uma única frase com a qual lhe apoquenta a paciência: vamos embora, a criancinha está chorando... Quase naturalismo.
Ainda em Minha Vida na Arte, p.303: E no final: uma noite de outono, as gotas da água da chuva batendo na janela, o silêncio, o jogo de cartas e ao longe uma valsa triste de Chopin; depois esta se cala. Em seguida um disparo...uma vida que termina. Isto já é impressionismo. Vale lembrar que hoje enquadramos a peça no psicologismo tchekhoviano.
A Gaivota, de Tchekhov 1898
A Gaivota, de Tchekhov 1898 Trigorine(S) e Arkadina (Olga Knipper)
A Gaivota, de Tchekhov 1898
A Gaivota, de Tchekhov 1898
Tio Vânia, de Tchekhov 1899 S. Como Astrov
Tio Vânia, de Tchekhov 1899 Cena do Ato I
Tio Vânia, de Tchekhov 1899 Cena do Ato III
As três Irmãs, de Tchekhov 1901 V.Simov
As três Irmãs, de Tchekhov 1901 V.Simov
As três Irmãs, de Tchekhov 1901 V.Simov
As três Irmãs, de Tchekhov 1901 V.Simov
O Cerejal, de Tchekhov 1904 Desenhos de Simov
O Cerejal, de Tchekhov 1904
O Cerejal, de Tchekhov 1904
O Cerejal, de Tchekhov 1904
Quem poderiam ter sido os parceiros Ideais de Tchekhov no período? Ah, se ele soubesse...
ADOLPHE APPIA 1862-1928 Appia antes de 1923
Cenário da Floresta de Parsifal
Sugestões, liberdade de criação imaginativa nas mãos do espectador Ataque frontal ao estilo declamatório Crítica mortal e mordaz aos telões pintados, incompatíveis com o corpo humano e a verdade cênica Isso entre outras coisas...
A CAVALGADA DAS VALQUÍRIAS
Edward Gordon Craig
A PAIXÃO SEGUNDO SÃO MATEUS, DE BACH
Isso para não falar nas teorias psicanalíticas de Sigmund Freud sobre o inconsciente. Para os cenógrafos, simbolicamente, as portas do inconsciente... Freud em1922
A contemporaneidade finalmente traduziu a cenografia de Tchekhov. Talvez os russos sejam os melhores nessa tradução?
Exposição Nosso Tchekhov- 20 anos depois Quadrienal de Cenografia de Praga-2007
Jardim das Cerejeiras
Jardim das Cerejeiras
Aleksei Kondratiev Oleg Sheintzis 1949-2006 Tio Vânia Teatro Tabakov, Moscou 2004
PRÓXIMO SLIDE: Mart Kitaev Mikhail Platanov As Três Irmãs Teatro Jovem em Fontanka São Petersburgo Dirigido por Semyon Spivak
PRÓXIMO SLIDE: Sergei Barkhin O violino dos Rothshild Yale Repertory Theater Teatro dos Jovens Espectadores de Moscou Moscou, 2004 Direção: Kama Ginkas
Atenção! Bibliografia: ARONSON, Arnold. Looking into the abyss. USA: The University of Michigan Press, 2008. STANISLAVKI, Constantin. Minha Vida na Arte. Rio: Civ. Brasileira, 1989. TAKEDA, Christiane Layher. Cartas do Teatro de Arte de Moscou. São Paulo: Perspectiva,2003. VIANA, Fausto. O figurino teatral e as renovações do século XX. São Paulo: Estação das Letras e cores, 2010.
Obrigado! faustoviana@uol.com.br http://tramasdocafecomleite.wordpress.com