ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO DOS FATORES DE RISCO PARA DOENÇA CORONARIANA DOS SERVIDORES DO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ Natália Ribeiro (PIBIC/CNPq/FA-UEM), Ana Paula Vilcinski Oliva (Orientador), e-mail: apvoliva@uem.br Universidade Estadual de Maringá/ Departamento de Enfermagem/Maringá, PR. Área: Ciências da Saúde. Subárea: Enfermagem. Palavras-chave: epidemiologia, risco cardiovascular, funcionários. Resumo Trata-se de um estudo descritivo exploratório no qual se buscou observar e descrever a distribuição de fatores de risco para doença coronariana entre os servidores do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Estadual de Maringá. A pesquisa foi realizada no período entre 1de agosto de 2009 a 31 de julho de 2010, sendo colhidas neste período informações referentes a 83 docentes. As informações foram obtidas por meio de um formulário aplicado aos docentes, sendo investigados os seguintes fatores: IMC, circunferência abdominal, pressão arterial, rotina e resultados de exames laboratoriais, histórico familiar e pessoal de doenças crônicas e cardiovasculares, hábitos alimentares, tabagismo, alcoolismo, estresse e sedentarismo. A detecção de fatores de risco para doença coronariana foi bastante alarmante, visto que apenas 2,41% não apresentaram nenhum dos fatores estudados. Introdução A doença coronariana encontra-se entre as patologias que atingem o sistema cardiovascular. A observação de evidências acerca destas doenças aponta para a grande relevância deste tema e a importância de estudos que contemplem o mesmo. Para Alfenas e Carvalho (2008) trata-se de um problema complexo de saúde publica, devido não só ao alto índice de mortalidade, sendo apontadas como as principais causas de morte, em relação às demais, como também em decorrência dos encargos econômicos gerados ao setor saúde. Segundo Forti et al ( 2003) a doença coronariana secundária a aterosclerose é hoje a principal causa de morbidade e mortalidade nas sociedades industrializadas. Perozin et al (2004) afirmam ainda que trata-se de um problema de crescente prevalência e de etiologia multifatorial,ou seja, sua gênese se deve a diversos fatores, sendo assim, sua prevenção passa pelo reconhecimento de um conjunto destes. Segundo o Ministério da Saúde o termo risco diz respeito à chance de uma pessoa sadia vir a desenvolver uma doença em decorrência da
exposição a determinados fatores, consequentemente esses fatores que aumentam o risco de adoecimento são chamados fatores de risco. São conhecidos diversos fatores de risco para o desenvolvimento de doença coronáriana, Medina; Fishimann e Gus (2002) citam a hipertensão arterial, tabagismo, dislipidemias, obesidade, sedentarismo, diabetes mellitus e antecedentes familiares. Sarno et al (2009) chamam atenção para a relevância da investigação de fatores de risco pois permite detectar tendências e assim planejar e implantar ações preventivas. Eyken e Moraes (2009) ressaltam ainda que 80% das mortes por doenças cardiovasculares estão associadas a fatores de risco já conhecidos. No presente estudo procurou-se detectar a ocorrência de fatores de risco para doença coronariana, para que assim fosse possível antever a possibilidade de desenvolvimento da mesma. Materiais e métodos Trata-se de um estudo descritivo exploratório no qual se buscou observar e descrever a distribuição de fatores de risco para doença coronariana entre os servidores do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Estadual de Maringá. A pesquisa foi realizada no período entre 1de agosto de 2009 a 31 de julho de 2010, neste período foram colhidas informações referentes a 83 docentes dos departamentos de Enfermagem, Medicina, Odontologia, Educação Física, Analises Clínicas e Farmácia. As informações foram obtidas por meio de um formulário aplicado aos docentes que se encontravam em seus departamentos nos dias das entrevistas, sendo assim a amostra foi escolhida de forma aleatória. O questionário foi dividido em três partes: a primeira foi composta por questões referentes a dados pessoais, medidas antropométricas, pressão arterial, rotina e resultados de exames laboratoriais, histórico pessoal e familiar de doença crônica, histórico familiar de morte por doenças do aparelho cardiovascular, hábitos alimentares, tabagismo e alcoolismo. A segunda parte constituía-se na aplicação do Ipaq (International Physical Activity Questionaire), visando avaliar o nível de atividade física/ sedentarismo dos entrevistados. Finalmente a terceira parte consistia na aplicação da Escala de Estresse Percebido, sendo este também um dos fatores investigados. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Maringá e a pesquisa iniciada após assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Resultados e Discussão A amostra foi constituída por 83 docentes de seis departamentos do Centro de Ciências da Saúde, destes 28 (33,73%) pertenciam ao sexo masculino, enquanto 55 (66,27%) pertenciam ao sexo feminino.
A faixa etária variou de 25 a 64 anos, sendo que a maioria- 54, 22%, situou-se entre 45 e 54 anos, em segundo lugar ficou a faixa entre 35 e 44 anos com 20,48% dos entrevistados e em terceiro e quarto lugares as idades entre 55 e 64 anos com 13,25% e 25 a 34 anos com 12,05%. Foram encontrados dez hipertensos ou 12,05%, que foram assim considerados por apresentarem pressão arterial 140x90 mmhg no momento da pesquisa ou que se declararam hipertensos em tratamento. O grau de estresse foi obtido através do escore alcançado por cada pesquisado na Escala de Estresse, foram considerados como fator de risco os graus moderado e alto. Os moderadamente estressados somaram 62,65% da amostra, enquanto os com alto nível de estresse apenas 1,2% A ocorrência de qualquer tipo de doença crônica foi considerada fator de risco, vinte e cinco ou 30,12% dos pesquisados declararam o acometimento por estas doenças. Quanto aos antecedentes familiares 61,44% declararam possuir parentes acometidos por doença cardiovascular ou óbito na família em decorrência destas. O tabagismo, fator amplamente associado à doença coronariana foi referido por sete dos pesquisados, já o consumo de bebidas alcoólicas foi declarado por 42,16%, porém apenas três destes afirmaram freqüência superior a três vezes por semana. Quanto à rotina de exames, apenas 3,61% afirmaram não se submeterem regularmente a exames laboratoriais. A análise dos resultados revelou que 32,72% dos pesquisados apresentavam colesterol total a cima do desejado, já os com triglicerídeos e glicemia acima do normal foram 25,45% e 9,09% respectivamente. O consumo de frutas, verduras e legumes referido foi igual ou superior a cinco vezes por semana por mais de 80% e somente oito referiram ingerir carnes ou alimentos gordurosos mais de quatro vezes por semana. Segundo avaliação do questionário de atividade física os indivíduos classificados como irregularmente ativos representaram 14,45% e os sedentários 13,25% da amostra. O calculo do Índice de Massa Corporal (IMC) apontou que 22,89% dos docentes estavam acima do peso e a obesidade foi apontada em 14,86%. Em relação à circunferência abdominal, encontrava-se aumentada em 18,07% e muito aumentada em 49,39% dos pesquisados. Apenas 2,41% não apresentaram nenhum fator de risco citado, 28,91% apresentaram de um a dois, 38,56% de três a quatro, 26,51% somaram cinco ou seis e os que apresentaram sete, oito ou nove fatores simultâneos foram 3,61%. Os fatores de maior ocorrência foram: circunferência abdominal aumentada ou muito aumentada, presente em 67,46% dos docentes, seguida pelo estresse moderado apresentado por 62,65% e por antecedentes familiares de doença cardíaca relatada por 61,44%, sendo que a simultaneidade destes três fatores se deu em 27,71% da amostra.
A já conhecida correlação entre o nível de atividade física e a massa corporal ficou clara à medida que 82,60% dos entrevistados considerados irregularmente ativos ou sedentários apresentaram também IMC e/ou circunferência abdominal acima dos valores normais, além disso, todos os pesquisados que apresentaram pelo menos um resultado alterado para os exames pesquisados também apresentaram IMC e/ou circunferência abdominal elevados. Outro ponto a ser considerado é que dos dez hipertensos encontrados, sete apresentavam mais de cinco fatores de risco simultâneos, sendo os de maior ocorrência a circunferência abdominal elevada, seguida pelos antecedentes familiares de doença cardiovascular. Cabe ainda ressaltar que dos três participantes que declararam não se submeterem regularmente a exames, dois foram considerados hipertensos. Conclusões A detecção de fatores de risco para doença coronariana foi bastante alarmante, visto que apenas 2,41% não apresentaram nenhum dos fatores estudados. O alto nível declarado de antecedentes familiares para doença cardíaca afirma a grande ocorrência destas doenças entre a população e chama atenção para o fator genético associado a elas. Já a alta freqüência de fatores modificáveis indica a necessidade de medidas de conscientização e prevenção da saúde. Referências Alfenas, R.C.G.; Carvalho, G.Q. Indice glicêmico: uma abordagem crítica acerca de sua utilização na prevenção e no tratamento de fatores de risco cardiovasculares. Ver. Nutrição. 2008, 21, 577-587. Forti et al. Fatores de risco para aterosclerose em crianças e adolescentes com historia familiar de doença arterial coronariana prematura. J. Pediatria.2003, 80, 135-140. Perozin et al. Prevalencia de fatores de risco de doença arterial coronária em funcionários de hospital universitário e sua correlação com estresse psicológico. J.Bras. Patol.Med.Lab. 2004,40, 240-247. Medina, C.; Fischmann, A.; Gus, Iseu. Prevalência dos fatores de risco da Doença Arterial Coronariana no estado do Rio Grande do Sul. Arq. Bras. Cardiol. 2002,78,478-483 Sarno et al. Freqüência de hipertensão arterial e fatores associados: Brasil, 2006. Rev. Saúde Publica. 2009, 43, 98-106. Eyken,E.B.B.D.; Moraes, C.L. Prevalência de fatores de risco para doenças cardiovasculares entre homens de uma população urbana do Sudeste do Brasil. Cad. Saúde Pública. 2009, 25, 111-123.