CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO INFANTIL: algumas questões para o debate sobre a Base Nacional Comum para Educação Infantil

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Transcrição:

CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO INFANTIL: algumas questões para o debate sobre a Base Nacional Comum para Educação Infantil Profa. Ms. Marlene Oliveira dos Santos UFBA-FACED-GEPEICI-EPIS Salvador, 25 de maio de 2015.

De onde partimos... Da compreensão de que é o currículo da Educação Infantil vem sendo construída, historicamente, em um campo de disputa de poder, que envolve interesses político-econômicos e pedagógicos. Esses interesses produzem tensionamentos, decisões, afirmações e conquistas que se repercutem tanto na formulação e execução de políticas públicas para a Educação Infantil como nas experiências do cotidiano com as crianças de 0 a 5 anos e 11 meses de idade em instituições de Educação Infantil. (SANTOS; RIBEIRO; VARANDAS, 2014, p. 95)

A complexidade do tema envolve pensar também sobre... O que está em jogo não diz respeito apenas à concepção e à construção de uma Base Nacional Comum para o currículo da Educação Infantil, mas à defesa de um determinado projeto de sociedade e de educação para as crianças brasileiras de 0 a 5 anos e 11 meses.

A complexidade do tema envolve pensar também sobre (continuação)... A relação/articulação entre a criação de um Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica, a formulação de uma Política de Avaliação Nacional da Educação Infantil (ANEI), a apresentação do documento Brasil Pátria Educadora e a proposição de uma Base Nacional Comum do Currículo para a Educação Infantil.

A complexidade do tema envolve pensar também sobre (continuação)... - A identidade da Educação Infantil como primeira etapa da Educação Básica (ainda em construção). - Ampliação do tempo de ensino obrigatório (4-17 anos de idade). A obrigatoriedade da matrícula pela família das crianças de 4 e 5 anos de idade na pré-escola (universalização da matrícula até 2016). - A aproximação, cada vez mais, da pré-escola do currículo dos anos iniciais do ensino Fundamental.

Algumas questões... 1. O que as propostas pedagógicas para a Educação Infantil dos municípios brasileiros (os que possuem), analisadas na pesquisa nacional realizada em 2009, vêm nos mostrando sobre as Práticas cotidianas na Educação Infantil? 2. A quem interessa a construção e a implementação de um currículo de Base Nacional Comum para a Educação Infantil?

Algumas questões (continuação)... 3. Quem tem influenciado mais os municípios na elaboração e vivência do currículo da Educação Infantil? O MEC ou as grandes Editoras? 4. Temos feito críticas severas à adoção de sistemas apostilados e à compra de livros didáticos para Educação Infantil pelas Secretarias Municipais de Educação. Temos dito NÃO às apostilas e aos livros didáticos para as crianças da creche e da pré-escola, mas os municípios, ao desistirem da compra desses materiais, podem preencher esse vácuo com o quê?

Algumas questões (continuação)... 4. As DCNEI, da forma como estão elaboradas, dão conta do preenchimento desse vácuo? 5. Por que temos tanto receio de sermos mais diretos no que tange às orientações curriculares para a Educação Infantil?

Algumas constatações... 1. Depois de quase 6 anos da promulgação das atuais DCNEI já temos dados e informações que mostram que, elas por si só, não estão sendo suficientes, como documento orientador do currículo, para ressignificar/alterar as práticas pedagógicas no cotidiano das instituições de Educação Infantil dos municípios baianos. Temos alguns municípios/escolas mobilizados e com iniciativas positivas na educação das crianças de 0 a 5 anos e 11 meses de idade que podem ser potencializadas com a ampliação de políticas públicas locais e nacionais. (Pesquisa caracterização da Educação Infantil no estado da Bahia ).

Algumas constatações (continuação)... 2. Se estamos considerando as DCNEI como o currículo para a Educação Infantil, temos que elaborar outros materiais orientadores para os professores que detalhem as concepções, os princípios e os eixos expostos nesse documento. Precisamos ser mais diretos, sem ser diretivos, no que diz respeito ao currículo da Educação Infantil.

Algumas constatações (continuação)... 3. Professores estão interrogando sobre a especificidade da Educação Infantil e de seu currículo, sobre o que trabalhar com os bebês, com as crianças pequenas e com as crianças maiores? Escutar e acolher essas vozes é um bom caminho para construir um currículo mais próximo de quem está cotidianamente com as crianças e suas famílias, e de um sistema de ensino ainda em processo de organização e de implementação de suas diretrizes e orientações.

Algumas constatações (continuação)... 4. As iniciativas de formação continuada e de assessoramento técnico-pedagógico aos municípios voltadas para a qualificação dos profissionais da Educação Infantil, para a organização e estruturação da Educação Infantil como primeira etapa da Educação Básica não podem ser interrompidas e/ou finalizadas sob a justificativa da falta de recursos financeiros. Ao contrário, a continuidade e a ampliação dessas políticas é uma das condições fundamentais para o avanço na consolidação de uma Educação Infantil de qualidade.

O debate sobre a Base Nacional Comum não é linear. Ele é multifacetado e complexo, com muitos interesses em disputa. E o que nos interessa?

Afirmar que... Temos concepções de currículo negociadas em orientações e diretrizes para a Educação Infantil: - Criança - Professor - Formação - Espaço-ambiente - Tempo - Materialidade - Conhecimento/saberes/Aprendizagem - Número de criança/professor - Relação família-escola - Avaliação

Afirmar que... O avanço e a qualidade que se espera do currículo da Educação Infantil estão intrinsecamente relacionados com a condição de trabalho disponibilizada para o professor e demais profissionais da educação, com a infraestrutura dos espaços físicos e com a materialidade, bem como com a realização de concursos públicos específicos para a Educação Infantil. A Educação Infantil faz integra a Educação Básica e que ela possui suas especificidades.

Afirmar que... É preciso diminuir a distância entre o que está escrito nas diretrizes e outros documentos orientadores do currículo e o cotidiano das instituições de Educação infantil. Não defendemos um currículo nacional, mas que queremos orientações mais detalhadas que auxiliem o professor da Educação Infantil na organização da ação pedagógica com crianças de 0 a 5 anos e 11 meses de idade.