SUPRESSÃO DE PLANTAS DANINHAS EM SISTEMAS DE CULTIVO DE MILHO SAFRINHA Germani Concenço (1), Gessi Ceccon (1), Rodolpho Freire Marques (2), Sabrina Alves dos Santos (3), Ilce Rojas Marschall (3), Igor Vinicius Talhari Correia (3) Introdução Vários fatores podem reduzir a produtividade das culturas, dentre eles a interferência de plantas daninhas. Em média cerca de 20-30% do custo de produção de uma lavoura se deve ao custo de controle das plantas daninhas (VIVIAN, 2013). Devido a isto, métodos complementares ao controle químico, como a rotação de culturas, vêm sendo utilizados. O milho safrinha, muitas vezes, é a melhor opção após a colheita da soja. Em grande parte, sendo semeado no sistema de consórcio com braquiária, garantindo melhor cobertura do solo após a colheita e contribuindo significativamente para redução da proliferação de plantas daninhas na safrinha (CECCON et al., 2010; SOUZA et al., 2006). Objetivou-se com este estudo analisar a composição da comunidade infestante após um e três anos de cultivos agrícolas repetidos, pós-soja, na ausência de rotação de culturas. Material e Métodos O ensaio foi conduzido na estação experimental da Embrapa Agropecuária Oeste, localizada nas coordenadas geográficas 22º 16' S e 54º 49' W, a 408 m de altitude. O delineamento experimental foi em blocos casualizados, com quatro repetições. As dimensões da parcela foram de 10 m x 25 m. Todos os tratamentos foram semeados no primeiro decêndio de março, sempre precedidos do cultivo de soja Roundup Ready. Durante o cultivo de soja nenhum herbicida com efeito residual foi utilizado. As áreas foram dessecadas anualmente no final de setembro, usando 1,08 kg ha -1 e. a. de glifosato. Após a colheita da soja, foram implantados os seguintes tratamentos na 1 Engenheiro-Agrônomo, Dr., Pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste, BR 163, km 253, 79804-970 Dourados, MS, germani.concenco@embrapa.br; 2 Engenheiro-Agrônomo, Doutorando em Produção Vegetal na Universidade Federal da Grande Dourados, Rodovia Dourados/Itahum, km 12 - Dourados, MS; 3 Estagiários da área de Manejo Sustentável de Plantas Espontâneas, Embrapa Agropecuária Oeste, BR 163, km 253, 79804-970 Dourados, MS. [1]
safrinha: (T1/T6) milho solteiro semeado em linhas espaçadas em 90 cm, com 45.000 plantas ha -1 ; (T2/T7) milho solteiro semeado em linhas espaçadas de 45 cm, com 45.000 plantas ha -1 ; (T3/T8) milho a 90 cm entre linhas com 45.000 plantas ha -1 em consórcio com Brachiaria ruziziensis, semeada nas entre linhas do milho com 20 plantas m -1 ; (T4/T9) B. ruziziensis solteira semeada em linhas espaçadas em 45 cm, com 40 plantas m -1 ; e (T5/T10) feijão-caupi variedade BRS Guariba, semeado em linhas espaçadas em 45 cm, resultando em 20 plantas m -1. Os tratamentos T1 a T5 consistiram na avaliação realizada na safra de soja subsequente, no mês de novembro, após um ano de distintos cultivos na safrinha; e os T6 a T10 consistiram na avaliação dos mesmos tratamentos, em área adjacente, onde os mesmos tratamentos foram conduzidos por três anos, portanto na quarta safra de soja. Para a avaliação fitossociológica, utilizou-se um quadrado metálico com área de 0,25 m² que foi lançado aleatoriamente 10 vezes em cada área. As plantas encontradas foram identificadas, coletadas e armazenadas por espécie. Posteriormente foram colocadas em estufa com circulação forçada a 60º C, para determinação da massa seca. Foram calculados os índices de densidade, frequência e dominância relativa e o valor de importância de cada espécie. Posteriormente, as áreas foram agrupadas quanto à similaridade de infestação, por análise multivariada de agrupamento, com base nos coeficientes de Jaccard pelo método de agrupamento UPGMA. Todas as análises foram realizadas no ambiente estatístico R. Resultados e Discussão Na área sob primeiro cultivo (Figura 1), os tratamentos foram similares quanto ao número de plantas daninhas, com aproximadamente 10 exemplares por m 2 ; o consórcio milho-braquiária, no entanto, resultou em mínima ocorrência de plantas daninhas no primeiro ano de cultivo na área, com uma planta daninha por m 2 (Figura 1). Quando estes resultados foram comparados aos obtidos com os mesmos cultivos com três anos consecutivos de implantação, observa-se que somente o consórcio milho-braquiária e a braquiária solteira foram capazes de manter os níveis de infestação baixos. Mesmo a braquiária, utilizada isoladamente, não foi capaz de neutralizar o aumento da ocorrência de plantas daninhas na ausência de rotação de culturas, uma vez que, após três anos de cultivo, a infestação foi maior em áreas com braquiária solteira do que sob o [2]
consórcio milho-braquiária (Figura 1). Após três anos de cultivo na ausência de rotação de culturas, os tratamentos com milho solteiro a 90 cm entre linhas e feijão-caupi, resultaram em níveis de infestação 43,7 e 138,5% superiores aos respectivos tratamentos no primeiro ano de cultivo. Como a avaliação foi efetuada em estádios iniciais de desenvolvimento das plantas daninhas, a massa seca das infestantes não apresentou diferenças entre tratamentos (Figura 1). Figura 1. Número de plantas daninhas ( ) e massa seca ( - g m -2 ) da parte aérea da comunidade infestante nos diferentes cultivos, em função do tempo de manejo. Embrapa Agropecuária Oeste, Dourados, MS, 2013. Nas análises fitossociológicas (Tabela 1) são apresentadas somente as quatro principais espécies infestantes em cada área, sendo as demais, quando ocorreram, agrupadas como "Outras espécies". Como regra geral, a espécie daninha mais importante no primeiro ano, normalmente não foi a mais importante no mesmo tratamento após três anos de cultivo da mesma sucessão (Tabela 1). Assim, por exemplo, milho solteiro semeado a 90 cm entre linhas, por três anos, ocasiona redução na ocorrência de picãopreto, mas acaba favorecendo o cordão-de-frade (Tabela 1). Similarmente, a braquiária tanto solteira como consorciada com milho, promoveu redução na ocorrência de picãopreto. Na área de primeiro ano, como espécie daninha de maior proliferação, destaca-se o picão-preto, representando 80%, 93% e 87,5% do total de exemplares detectados nas áreas de milho solteiro 90 cm, consórcio milho+braquiária e braquiária solteira, respectivamente; similarmente, o caruru-roxo foi a espécie com maior densidade na área de feijão-caupi, com 83% do número de indivíduos (Tabela 1). Nas áreas de três anos de sucessão, o picão- [3]
preto permaneceu com maior densidade somente na área de milho solteiro a 45cm entrelinhas, representando 45% dos indivíduos de espécies infestantes naquele tratamento (Tabela 1). O caruru-roxo, que esteve presente mas com importância secundária no primeiro ano na maioria das áreas, foi a espécie com maior número de indivíduos no consórcio, na braquiária solteira e no feijão-caupi, respectivamente com 75%, 92% e 23% do número de indivíduos, no terceiro ano (Tabela 1). O caruru-roxo se destacou das demais espécies por apresentar acima de 50% de frequência relativa no terceiro ano, nas áreas de consórcio e de braquiária solteira (Tabela 1). No milho solteiro semeado a 90 cm entre linhas, a corda-de-viola foi a espécie com maior habilidade de crescimento e ocupação do espaço disponível, representando 84% da massa seca total das plantas na área. Após três anos, no entanto, a espécie foi substituída por outras (Tabela 1). O milho solteiro a 45 cm entre linhas apresentou somente picãopreto no primeiro ano; após três anos, a corda-de-viola dominou 46% do espaço disponível. O consórcio milho-braquiária apresentou somente duas espécies daninhas em ambas as áreas (um e três anos de cultivo), sendo que no primeiro ano o picão-preto representou 99% da dominância, enquanto após três anos as duas espécies dividiram quase equitativamente a área disponível (Tabela 1). No feijão-caupi, o caruru roxo foi a espécie mais dominante em ambas áreas (um e três anos de sucessão). O Valor de Importância (V.I.) de infestação para as espécies constatadas no estudo indicou que, para milho solteiro a 90 cm entre linhas, no primeiro ano de implantação, o picão-preto e a corda-de-viola representaram cerca de 85% da infestação; após três anos de cultivo, a ocorrência de espécies na mesma área foi mais equitativa (Tabela 1). O milho solteiro a 45 cm entre linhas, que na área de um ano praticamente não apresentou infestação, na área de três anos de cultivo apresentou diversas espécies daninhas, com máximo V.I. de 26% para a espécie de maior ocorrência (Tabela 1). Na área de consórcio, destacou-se o desaparecimento do picão-preto após três anos, e o aumento da ocorrência de caruru-roxo neste sistema de cultivo. Para feijão-caupi, no primeiro ano ocorreram somente três espécies daninhas, sendo o caruru responsável por 77% da importância de infestação; no terceiro ano o número de espécies foi maior e, embora o caruru tenha continuado como a planta daninha mais importante no sistema, sua importância foi reduzida para 28% (Tabela 1). [4]
Tabela 1. Densidade, frequência, dominância e índice de valor de importância de espécies daninhas, em função de sistema de cultivo e tempo de implantação. Embrapa Agropecuária Oeste, Dourados, MS, 2013. Espécie DE(%) FR(%) DO(%) IVI (%) Espécie DE(%) FR(%) DO(%) IVI (%) Milho 90cm 1 ano Milho 90cm 3 anos B. pilosa 80 33,33 15,87 43,07 L. nepetifolia 50 50 16,67 38,89 I. purpurea 10 33,33 84,13 42,49 B. ruziziensis 25 16,67 70 37,22 A. hybridus 10 33,33 0 14,44 A. hybridus 25 33,33 13,33 23,89 Milho 45cm 1 ano Milho45cm 3 anos B. pilosa 100 100 100 100 B. pilosa 45,45 18,18 14,81 26,15 Consórcio milho + Brachiaria 1 ano I. purpurea 9,09 9,09 46,3 21,49 A. hybridus 13,64 27,27 14,81 18,57 R. brasiliensis 9,09 9,09 12,96 10,38 Outras 22,73 36,36 11,11 23,40 Consórcio Milho + Brachiaria 3 anos B. pilosa 93,75 50 99 81,25 A. hybridus 75 66,67 40 60,56 A. hybridus 6,25 50 1 18,75 L. nepetifolia 25 33,33 60 39,44 Brachiaria solteira 1 ano Brachiaria solteira 3 anos B. pilosa 87,5 50 99 79,17 A. hybridus 92,31 75 71,43 79,58 A. hybridus 12,5 50 1 20,83 B. ruziziensis 7,69 25 28,57 20,42 Feijão-caupi 1 ano Feijão-caupi 3 anos A. hybridus 83,33 50 99 77,44 A. hybridus 22,58 21,43 42,45 28,82 R. brasiliensis 8,33 25 0,5 11,28 E. heterophylla 16,13 21,43 26,89 21,48 C. juncea 8,33 25 0,5 11,28 L. nepetifolia 32,26 14,29 16,51 21,02 I. purpurea 6,45 7,14 11,32 8,3 Outras 22,59 35,71 2,83 20,38 DE = densidade relativa (%); FR = frequência relativa (%); DO = dominância relativa (%); IVI = índice de valor de importância (%). A análise de agrupamento por similaridade indicou a formação de cinco grupos homogêneos quanto à semelhança de ocorrência de espécies daninhas. O grupo 1 foi formado somente pelo tratamento milho 45-1; o grupo 2 reuniu os tratamentos milho solteiro a 90 cm entre linhas, o consórcio milho-braquiária, e a braquiária solteira, todos no primeiro ano de implantação; o terceiro grupo reuniu os mesmos tratamentos, após três anos de implantação; o quarto grupo foi formado somente por feijão-caupi no primeiro ano de cultivo, e o quinto grupo pelos tratamentos milho 45 cm solteiro e feijão-caupi, ambos [5]
com três anos de implantação. A similaridade indicou que o tempo de manejo diferencial da área foi um dos grandes responsáveis pela composição da comunidade infestante na área. Figura 2. Análise multivariada de agrupamento por similaridade de ocorrência de espécies daninhas, com base no coeficiente de Jaccard. Coeficiente decorrelação cofenética = 0,95. Embrapa agropecuária Oeste, Dourados, MS, 2013. Conclusões Deve-se utilizar culturas que proporcionem elevada quantidade de palha, e esta palhada deve ser formada por resíduos com alta relação C/N. Os sistemas milho de 90 cm e feijão-caupi, são os tratamentos que proporcionaram maiores aumentos no nível de infestação por plantas daninhas ao longo do tempo. Independente do sistema de cultivo na safrinha, a rotação de cultivos ao longo dos anos evita a seleção de determinadas espécies mais adaptadas àquele sistema de manejo da área. Referências CECCON, G.; NETO, A. L. N.; PALOMBO, L. Uso de herbicidas no consórcio de milho safrinha com Brachiaria ruziziensis. Planta Daninha, Viçosa, MG, v. 28, n. 2, p. 359-364, jun. 2010. SOUZA, L. S.; VELINI, E. D.; MARTINS, D.; ROSOLEM, C. A. Efeito alelopático de capim-braquiária (Brachiaria decumbens) sobre o crescimento inicial de sete espécies de plantas cultivadas. Planta Daninha, Viçosa, MG, v. 24, n. 4, p. 657-668, dez. 2006. VIVIAN, R. A importância das plantas daninhas na agricultura. [S.l.]: Portal Dia de Campo, 2013. Disponível em: <http://www.diadecampo.com.br/zpublisher/materias/materia.asp? id=24187&secao=artigos%20especiais>. Acesso em: 01 out. 2011. [6]