UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE Curso de Tecnologia em Cerâmica Trabalho de Conclusão de Curso

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Transcrição:

UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE Curso de Tecnologia em Cerâmica Trabalho de Conclusão de Curso ESTUDO do controle da espessura de camada de vitrosa em peças especiais de cerâmica Sabrina Arcaro Adriano Michael Bernardin, Dr. Eng. 1 Resumo: O setor de decoração da indústria cerâmica utiliza as matérias-primas com o custo mais elevado. A decoração acontece geralmente por serigrafia, e ainda para efeito de alto-relevo, uma camada de vidrado é aplicada a seco, a denominada vitrosa. Desta forma, este estudo objetiva avaliar o efeito da espessura de camada de vitrosa na qualidade de peças especiais do tipo listelo, produzidas em escala de laboratório. Duas vitrosas de teste (#60 e #100) foram comparadas com uma vitrosa padrão, tendo sido aplicadas a seco sobre substratos já vidrados em três gramaturas (3, 7 e 10g), sendo estes queimados em ciclo de biqueima (1150ºC, 40min). As vitrosas foram caracterizadas química (FRX) e termicamente (dilatometria óptica), e a superfície das vitrosas queimadas foi caracterizada por colorimetria e sua espessura de camada por microscopia (MEV). Os resultados indicaram que a vitrosa padrão pode ser substituída sem redução da qualidade. Palavras-chave: vidrados, colorimetria, fritas cerâmicas, decoração a seco. 1. Introdução A necessidade de se revestir ambientes fez com que a indústria cerâmica passasse por variações consideráveis e contínuas, o que repercutiu na maior automatização do processo e numa melhoria da qualidade do produto. Em vista disso, todos os setores da indústria cerâmica estão cada vez mais se aperfeiçoando, visando menos desperdício e mais economia. Com o setor de decoração não é diferente, principalmente pelo fato de no setor de decoração serem utilizadas as matérias-primas com o custo mais elevado em toda a indústria cerâmica. 1 professor orientador

A vitrosa é um vidrado moído finamente e aplicado a seco, com o intuito de dar um aspecto de auto-relevo nas peças especiais. Todavia, para que ocorra um bom aproveitamento dessa matéria-prima é necessário um estudo rigoroso da espessura da camada sobre a peça, para que não ocorra desperdício de um material com custo tão elevado, e ao mesmo tempo não modifique a qualidade e as características visuais da peça. A produção de revestimentos cerâmicos aumenta ano a ano devido ao crescimento de vendas tanto no mercado interno como externo, aumentando também a produtividade. Este fato ocorre devido à automatização e às inovações tecnológicas (MENEGON e LUZ, 2009). Segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica (ANFACER, 2010), o setor de revestimentos cerâmicos brasileiro é constituído por 94 empresas, com 117 plantas industriais, instaladas em 18 estados. O Brasil é o segundo maior consumidor e produtor mundial de revestimentos cerâmicos, e o quinto maior exportador, resultado de um país que produz produtos cerâmicos de elevada qualidade devido à avançada tecnologia utilizada, mostrando-se adequados tanto para pequenos detalhes em ambientes internos quanto para grandes escalas ao ar livre, além de serem oferecidos nos mais variados padrões e texturas. Contudo, devido à alta competitividade entre as empresas nesse setor, torna-se necessária a busca pela maximização dos resultados obtidos com os equipamentos e recursos disponíveis. São constantes os esforços para se obter a máxima produção e o maior índice de produtos de primeira classe, ao menor custo de fabricação praticável (MELCHIADES et al., 2006). De acordo com Sherev (1997 apud ALLEGRETTI, 2004), a placa cerâmica é constituída basicamente pela combinação de argila e quantidades diversas de feldspato e quartzo. As matérias-primas previamente selecionadas são dosadas e trituradas, formando uma suspensão chamada de barbotina, que depois de atomizada é prensada. Após a secagem, uma de suas superfícies é engobada e esmaltada. A placa é então queimada à temperatura ideal para cada tipologia, originando o revestimento cerâmico propriamente dito.

As peças especiais, sobretudo os listelos, são fabricadas na maioria das vezes há partir de massa de monoporosa, em outros casos há partir de massa de porcelanato. Têm formatos pequenos e são utilizadas para dar efeito aos ambientes. Na maioria das vezes são fabricadas por biqueima. A decoração acontece geralmente por serigrafia, e ainda para efeito de alto-relevo, uma camada de vidrado é aplicada a seco, a denominada vitrosa. Esta técnica, que a princípio foi desenvolvida fundamentalmente com o objetivo de obter novos efeitos decorativos mais atrativos que os existentes, é atualmente considerada uma das mais adequadas para obtenção de superfícies vidradas de alto desempenho técnico, tal como elevada resistência à abrasão e resistência ao risco (AMORÓS, 2001). São empregados materiais em pó, em geral de pequeno tamanho de partícula, cujo principal requisito é a obtenção de um bom grau de fluidez, para que não sejam produzidas falhas de aplicação que possam deteriorar o efeito decorativo desejado. Em outros casos são aplicados materiais de maior tamanho de partícula com a finalidade de proteção para incrementar a dureza ou a resistência à abrasão da superfície dos revestimentos (BERTO, 2000). O vidrado seco (na forma de pó, granilha ou aglomerado) é aplicado sobre uma camada recém-aplicada de vidrado base ainda úmido, para que as partículas secas se fixem sobre a superfície da peça. Em certas ocasiões, para fixar melhor o material granulado depositado, são utilizadas colas ou ainda um recobrimento na forma de uma segunda camada de vidrado, aplicado geralmente a disco. Além disso, com vistas à obtenção de efeitos decorativos específicos, sobre a camada de vidrado base já seca é aplicada, mediante serigrafia, uma cola, para que durante a aplicação dos grânulos secos à superfície só sejam fixados aqueles que foram depositados sobre o ligante. Utilizando diferentes tipos de granilhas ou aglomerados (coloridos, transparentes, opacos) e combinando adequadamente a aplicação a seco com as técnicas de decoração via úmida antes mencionadas, podem ser obtidos inúmeros efeitos decorativos (AMORÓS, 2001). Ainda segundo Amorós (2001), durante a aplicação do vidrado a seco não devem ser produzidas segregações por diferenças de tamanhos das partículas, nem acúmulo de

material em diferentes regiões da peça, pois estes fenômenos podem gerar irregularidades indesejadas na superfície da peça. Para isto, não só é imprescindível que o material a ser aplicado apresente uma distribuição de tamanho de partículas adequada e uma boa fluidez, mas também, como já se indicou anteriormente, que se disponha dos equipamentos apropriados. Com base no tamanho de partícula do material que se aplica e no processo de obtenção, estes produtos se classificam em pós, granilhas e aglomerados. Na figura 1 pode-se observar a técnica de aplicação de vidrado a seco. Figura 1. Esquema da técnica de aplicação de vidrado via seca, onde o vidrado passa através de uma peneira e cai sobre o suporte em movimento. Fonte: Martins, 2001. A vitrosa apresenta tamanhos de partícula reduzidos, entre 60 e 200 μm, e é constituída, geralmente, por uma mistura de pigmentos e fritas. Estes produtos foram os primeiros a ser utilizados neste tipo de aplicação (efeito marmorizado) e, depois de um auge inicial, foram sendo progressivamente substituídos por outros. Para uma aplicação adequada é indispensável que a distribuição de tamanhos das partículas seja bem controlada e apresente uma fluidez aceitável (AMORÓS, 2001). Desta forma, este estudo objetiva avaliar o efeito da espessura de camada de vitrosa na qualidade de peças especiais do tipo listelo, produzidas em escala de laboratório.

2. Materiais e Métodos Este trabalho foi desenvolvido no laboratório de cerâmica da UNESC, em parceria com a Cerâmica Valore LTDA, sendo utilizada uma vitrosa padrão, e uma vitrosa teste com dois tamanhos de partícula diferentes (#60 e #100) que foram aplicadas a substratos cerâmicos crus. A composição química das vitrosas foi determinada por fluorescência de raios X (FRX) e seu comportamento térmico por dilatometria ótica (microscopia óptica). Para a análise química por FRX, o Lítio e o Boro foram analisados por absorção atômica. As amostras foram preparadas como pérola fundida, utilizando espectrometria por dispersão de comprimentos de onda (WDS, Philips PW2400). A dilatometria óptica das amostras foi realizada em corpos de prova prensados (~2 MPa) com 7% de umidade, com dimensões de 4mm de diâmetro por 2mm de altura. O ensaio foi realizado com taxa de aquecimento de 10 C/min, de 20 C a 1400 C, utilizando-se a técnica de microscopia de aquecimento (MISURA HT). O tamanho de partícula das vitrosas foi mensurado por difração a laser (CILAS modelo 1064) com as amostras na forma de uma suspensão cerâmica, sendo a leitura executada durante 30s, após aplicação de ultrassom. Após caracterização das fritas, as mesmas foram aplicadas sobre placas previamente queimadas, porém com engobe e vidrado cru, em um processo de biqueima rápida. O processo de aplicação das vitrosas foi por serigrafia plana manual a seco, sendo que vitrosas com três distribuições de tamanhos de partículas (padrão (#80), #100 e #60) foram aplicadas sobre a camada de vidrado ainda úmida. As vitrosas também foram aplicadas em 3 pesos de aplicação: 7g como padrão, além de 3g e 10g. Após aplicação, as placas cerâmicas foram levadas à estufa por cinco minutos para retirada de umidade existente na peça, e logo após as mesmas foram queimadas em um forno a rolos a gás contínuo na temperatura de 1150ºC, com ciclo de 40 min. Finalmente, com as amostras queimadas foram determinadas a cor, textura e brilho de superfície das amostras. A cor e o brilho foram determinados pela técnica de

espectrofotometria, utilizando-se um espectrofotômetro com geometria esférica d-8 (BYK-GARDNER) com leituras entre 400nm a 700nm, ângulo de observação de 10 e iluminante D65. O brilho foi determinado utilizando-se o mesmo equipamento, mas com ângulo de reflexão de 60. A textura foi determinada visualmente. Após sinterização, a microestrutura dos vidrados foi analisada por microscopia eletrônica de varredura (MEV, Philips XL30). As amostras foram analisadas em sua seção transversal, com objetivo de medir a espessura da camada de vitrosa aplicada. Para análise, as amostras foram cortadas e a seção transversal das mesmas foi recoberta com ouro. Foi medida a espessura da camada de vidrado, e então a espessura da camada de vitrosa. Os resultados são a média de 5 medidas. 3. Resultados e discussão Os resultados da análise química das vitrosas empregadas estão apresentados na tabela 1. Tabela 1. Análise Química (FRX e AAS) das vitrosas empregadas Elem. (%) SiO 2 Al 2 O 3 Na 2 O K 2 O CaO MgO B 2 O 3 BaO ZnO ZrO 2 Li 2 O Vitrosa padrão 58,5 8,3 0,3 4,3 9,9 0,7 2,9 3,2 10,1 0,2 - Vitrosa #60 e #100 70,2 7,1 5,3 2,8 0,6 0,3 10,7 1,9 0,1 0,2 0,3 Fonte: Autora (2010). Observando-se a análise química da vitrosa padrão, observa-se que ela possui um alto percentual dos óxidos de cálcio, que aumenta a estabilidade química e mecânica dos vidrados, e de zinco, que aumenta a resistência ao ataque químico e a dureza dos vidrados, porém reduzindo seu coeficiente de expansão térmica. Por sua vez, as vitrosas #60 e #100 têm mesma composição química. Nestas, pode-se perceber um

maior teor de sílica, o que tende a aumentar a viscosidade e as temperaturas características da frita. Porém, o elevado teor de borato e soda tende a reduzir o valor destas propriedades (AMARANTE JUNIOR, 1993). Desta forma, a vitrosa (#100 e #60) é diferente do padrão. Os resultados da caracterização térmica das vitrosa padrão, #100 (mais fina) e #60 (mais grossa) apresentam-se na tabela 2. Tabela 2. Temperaturas características (dilatometria óptica) das vitrosas padrão, #100 e #60 Temperatura ( C) Sinterização Amolecimento Esfera Meia Esfera Fusão Vitrosa Padrão 870 895 1066 1130 1203 Vitrosa #100 717 879 1030 1244 1319 Vitrosa #60 734 910 1068 1318 1386 Fonte: Autora, 2010. Analisando-se os resultados do ensaio de dilatometria óptica, tabela 2, percebe-se que as vitrosas #60 e #100 possuem temperatura de sinterização mais baixa em relação à vitrosa padrão, e temperatura de fusão mais alta; isto significa que as vitrosas #60 e #100 apresentam maior intervalo de trabalho que a vitrosa padrão, ou seja, apresentam menor temperatura de sinterização, porém maior temperatura de fusão. Deste modo, torna-se mais fácil o controle de textura e brilho destas vitrosas pela adequação da curva de queima. Além disso, a vitrosa #100, sendo mais fina que a vitrosa #60, apresenta temperaturas características mais baixas, efeito do menor tamanho de partícula para a vitrosa #100. A tabela 3 apresenta os resultados do ensaio de colorimetria para a vitrosa padrão e as vitrosas #60 e #100 para as três gramaturas de aplicação, ou seja, 3g, 7g (padrão) e 10g. As curvas obtidas nos ensaios de difração a laser estão apresentadas nas figuras 2, 3 e 4:

Figura 2 Distribuição de tamanho de partícula da vitrosa padrão. Fonte: Autora, 2010. Figura 3 Distribuição de tamanho de partícula da vitrosa teste #100. Fonte: Autora, 2010.

Figura 4 Distribuição de tamanho de partícula da vitrosa teste #60. Fonte: Autora, 2010. Ao analisar as figuras 2, 3 e 4, percebe-se que a vitrosa padrão (figura 2) possui uma distribuição de tamanho de partícula monomodal, com diâmetro médio D 50 de 98,4 µm, 90% da distribuição abaixo de 213,8 µm e 10% da distribuição abaixo de 22,8 µm, sendo uma distribuição de tamanhos mais larga. A vitrosa #100, (figura 3) também possui uma distribuição de tamanho de partícula monomodal, com diâmetro médio D 50 de 104,8 µm, 90% da distribuição abaixo de 189,6 µm e 10% da distribuição abaixo de 31,9 µm, apresentando assim uma distribuição de tamanhos mais estreita que a padrão, apesar de apresentar um diâmetro médio maior. Finalmente, a vitrosa #60 (figura 4), possui uma distribuição de tamanho de partícula monomodal, com diâmetro médio D 50 de 154,6 µm, maior que o padrão, 90% da distribuição abaixo de 327,7 µm e 10% da distribuição abaixo de 41,5µm, sendo também uma distribuição de tamanhos mais larga. Assim, a vitrosa #100 apresenta distribuição similar à padrão, um pouco mais estreita, e a vitrosa #60 apresenta tamanhos de partículas bem maiores que a padrão.

Tabela 3. Coordenadas colorimétricas para a vitrosa padrão, vitrosa #60 e vitrosa #100 Coordenada L* a* b* G ΔL* Δa* Δb* ΔG ΔE CMC Padrão 7g 89,41 0,25 0,86 88,2 #60 92,39 0,38 1,32 85,6 2,98 0,13 0,46-2,6 1,26 #100 92,61 0,42 1,43 75,2 3,2 0,17 0,57-13 1,42 Padrão 3g 90,51 0,45 0,92 87 1,1 0,2 0,06-1,2 1,12 #60 89,19 0,76 0,64 84,2-0,22 0,51-0,22-4 0,60 #100 93,06 0,52 1,4 79,8 3,65 0,27 0,54-8,4 3,70 Padrão 10g 91,43 0,47 0,89 92,5 2,02 0,22 0,03 4,3 2,03 #60 92,38 0,52 1,67 84,2 2,97 0,27 0,81-4 3,09 #100 92,54 0,43 1,54 83,5 3,13 0,18 0,68-4,7 3,05 Fonte: Autora, 2010. A coordenada L* indica a luminosidade de uma superfície, variando em uma escala entre 0 (preto) a 100 (branco). O eixo b* indica variação de tonalidade entre azul (-b*) e amarelo (+b*), e o eixo a* indica variação de tonalidade entre verde (-a*) e vermelho (+a*). Os Δs indicam a variação das coordenadas em relação a um padrão, sendo o ΔE CMC a variação total, ou desvio de tonalidade em relação o padrão. Finalmente, G é a medida do brilho da superfície da amostra, em relação a um ângulo de 60º. Analisando-se a tabela 3, a vitrosa padrão, com aplicação de 7g, apresenta-se clara (L*~89), com bom brilho (G~88) e cor levemente amarelada (b*~0,9). Variações de tonalidade ou luminosidade inferiores a 0,5 não são perceptíveis pelo olho humano, podendo ser desprezadas. Por sua vez, a vitrosa #100 com aplicação de 7g apresentou-se mais clara (ΔL*~3) e mais amarelada (Δb*~0,6) que o padrão, e com uma drástica redução de brilho (ΔG=-13). A vitrosa #60 com aplicação de 7g também se apresenta mais clara (ΔL*~3) e mais amarelada (Δb*~0,5) que a vitrosa padrão, com variação imperceptível de brilho (ΔG~-3). Deve ser observado que uma diferença de brilho menor que 5 unidades (ou 5%) não é perceptível pelo olho humano. Por sua vez a vitrosa padrão com aplicação de 3g, tabela 3, apresenta-se mais clara (ΔL*~1), com menor brilho que a padrão de 7g (ΔG~-1,2) e sem variação de tonalidade

aparente em relação ao padrão 7g. A vitrosa #100 com aplicação de 3g apresenta-se mais clara (ΔL*~3,5) e sem variação de tonalidade aparente, mas com redução de brilho (ΔG~-8,4) em relação ao padrão. A vitrosa #60 com aplicação de 3g apresentouse mais escura (ΔL*~-0,22), porém sem alteração visível de tonalidade ou brilho em relação ao padrão. Finalmente, a vitrosa padrão com aplicação de 10g, tabela 3, apresenta-se mais clara (ΔL*~2), com alto brilho (ΔG~4,3) e sem alteração de tonalidade visível em relação ao padrão com aplicação de 7g. A vitrosa #100 com aplicação de 10g apresenta-se mais clara (ΔL*~1) e mais amarelada (b*~0,7), mas com redução de brilho (ΔG~-9) em relação ao padrão. A vitrosa #60 com aplicação de 10g apresentou-se mais clara (ΔL*~3,13), mais amarelada (b*~0,7), mas com redução de brilho (ΔG~-4) em relação ao padrão De todas as condições analisadas, pode-se perceber que, em relação à vitrosa padrão com aplicação de camada de 7g, a vitrosa #60, aplicação de 7g, é a melhor alternativa para substituição do padrão, pois se apresenta mais clara, e não sofre alteração de tonalidade ou brilho perceptíveis. A #60 com aplicação de 3g também é uma boa opção, pois além de reduzir-se a quantidade aplicada, ela não se diferencia em relação a padrão, quanto a cor e brilho. Outra opção seria a vitrosa #100 com aplicação de 3g, mais clara que o padrão (vitrosa com camada de 7g), sem variação de tonalidade, porém com uma pequena variação de brilho, mas com a vantagem da menor espessura de camada, porém possui grande reatividade das partículas o que reduz muito a espessura da camada. Finalmente, a tabela 4 apresenta as espessuras de camada para as vitrosas padrão, #60 e #100, nas gramaturas 3g, 7g e 10g determinadas por microscopia eletrônica de varredura, com 5 amostragens.

Tabela 4. Espessura de camada para as vitrosas padrão, #60 e #100, nas gramaturas 3g, 7g e 10g Gramatura (g) 3g 7g 10g Vitrosa Padrão #100 #60 Padrão #100 #60 Padrão #100 #60 Espessura (µm) 110 66 119 154 119 125 211 103 207 Fonte: Autora, 2010. Com relação às espessuras de camada em função do tamanho de partículas da vitrosa (em função das malhas) e da gramatura de aplicação, pode-se perceber que as maiores gramaturas resultam, obviamente, em maiores espessuras de camada, porém, o tamanho de partícula afeta o valor medido da espessura, pois para a malha mais fina, as espessuras de camada sempre são menores, independentemente da gramatura, mostrando o efeito do tamanho de partícula na reatividade em queima das vitrosas. A figura 5 mostra micrografias da seção transversal das amostras de vitrosa #100 com aplicação de 3g e #60 com aplicação de 7g com a medida da espessura de camada, obtidas por MEV. Estas são as melhores alternativas em termos de tonalidade, brilho e espessura de camada em relação à vitrosa padrão. Deve ser observado que das leituras de espessura de camada deve ser desconsiderada a espessura do vidrado padrão (134µm). a b Figura 5. Micrografias da seção transversal das vitrosas (a) #100 aplicação 3g e (b) #60 aplicação 7g. Fonte: Autora, 2010.

4. Considerações finais Pela análise química percebe-se que a vitrosa contratipada (#60 e #100) é diferente do padrão, o que justifica suas propriedades dilatométricas e suas características após queima tão diferentes em relação à vitrosa padrão. Percebe-se pela análise de dilatometria óptica que a composição da vitrosa padrão é diferente da composição das vitrosas #60 e #100. Todavia, a vitrosa padrão estava sendo testada, e por isso as características não são as mesmas da vitrosa padrão. Analisando-se a colorimetria, percebe-se que há condições de reduzir a gramatura de aplicação para 3g utilizando-se a vitrosa #100. Neste caso, a camada de vitrosa seria um pouco mais clara, porém com pequena redução de brilho, só que neste caso, há muito redução da espessura da camada pelo fato da reatividade das partículas. Outra opção seria o uso da vitrosa #60 com aplicação de 7g, muito similar ao padrão, servindo apenas com o intuito de trocar a vitrosa padrão pela vitrosa testada. Ainda há outra opção que pode ser considerada a mais viável de todas, que é a vitrosa #60 com aplicação de 3g, Esta possui características de cor e brilho muito similares à padrão, e não houve muita redução da camada, mesmo com aplicação menor, o que é muito interessante e útil para a empresa. Com relação à camada, percebe-se que para as vitrosas #100 para qualquer gramatura, a espessura na maioria das vezes se reduz, provavelmente devido à maior reatividade das vitrosas mais finas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALLEGRETTI, C.A.L. Qualidade, produtividade e meio ambiente: uma proposta para o desenvolvimento de um revestimento cerâmico livre de chumbo. Santa Maria: Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção), Universidade Federal de Santa Maria, 2004. 53p. AMARANTE JÚNIOR, Armando. Revestimentos cerâmicos. 48 p. AMORÓS, J.L. Vidrados para pavimentos e revestimentos cerâmicos: Evolução e perspectivas. Parte II. São Paulo: Cerâmica Industrial, v.6, n.6, p.18-27, 2001. ANFACER - ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS FABRICANTES DE CERÂMICA PARA REVESTIMENTO (São Paulo). Revestimentos cerâmicos do Brasil. Disponível em: <http://www.anfacer.org.br/>. Acesso em: 10 maio. 2010. BERTO, A.M. Adequação das propriedades de tintas e vidrados aos sistemas de aplicação e técnicas decorativas. Parte II: Decoração. São Paulo: Cerâmica Industrial, v.5, n.6, p.7-13, 2000. MARTINS, G.J.M. Influência da dureza da água em suspensões de vidrado cerâmico. Florianópolis: Dissertação (Mestrado em Ciência e Engenharia de Materiais), Universidade Federal de Santa Catarina, 2001. 96p. MELCHIADES et al. Formulação de fritas cerâmicas com auxílio da técnica de planejamento estatístico de experimentos. São Paulo: Cerâmica Industrial, v.14, n.3, p.23-29, 2009. MENEGON, G.; LUZ, G. Tendências do mercado de matérias-primas para massas de revestimentos cerâmicos. São Paulo: Cerâmica Industrial, v.2, n.9, p.16-17, 2004.