TÍTULO VII DOS CRIMES CONTRA A FAMÍLIA

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Transcrição:

TÍTULO VII DOS CRIMES CONTRA A FAMÍLIA CAPÍTULO I DOS CRIMES CONTRA O CASAMENTO 1. Bigamia Art. 235 - Contrair alguém, sendo casado, novo casamento: Pena - reclusão, de dois a seis anos. 1.1. Sujeito ativo Sujeito ativo do crime previsto no artigo 235, caput, é a pessoa casada que contrai novo matrimônio. É necessário que, em ambos os casamentos, as duas pessoas sejam de sexos diversos. É inexistente matrimônio entre pessoas do mesmo sexo. Pratica o crime previsto no 1 º aquele que, solteiro, "viúvo ou divorciado, que contrai casamento com pessoa casada, conhecendo essa circunstância. A bigamia é, pois, um crime bilateral ou de encontro: é preciso que participem dele duas pessoas, embora uma delas possa estar de boa-fé, quer porque não sabe que o outro contraente é casado, quer porque supõe, por erro, que o seu casamento anterior foi anulado ou que já está divorciado. Esclarece Bento de Faria que incidem igualmente na sanção penal, como partícipes, as testemunhas que afirmam a inexistência do impedimento (casamento anterior), sabendo ou devendo saber de sua existência, não se confundindo essa hipótese com a prevista no artigo 342. Decidiu-se, aliás, que, sabendo a testemunha do referido impedimento, participa ela da formalização do contrato matrimonial, respondendo pelo crime de bigamia. Há, porém, entendimento diverso na jurisprudência. Afirma-se que, não havendo colaboração das testemunhas para a realização do tipo penal, em uma execução tal como a contida na descrição legal, não há falar em responsabilidade criminal pelo delito de bigamia. Nessa hipótese haveria colaboração nos atos preparatórios, sendo possível reconhecer apenas um crime de falsidade ideológica. Esse fundamento, todavia, é improcedente; quem participa conscientemente do ato preparatório responde pelo crime afinal tentado ou consumado (arts. 13, 29 e 30). 1.2. Sujeito passivo Principal sujeito passivo do crime de bigamia é o Estado. Ofendido é, também, o cônjuge do primeiro casamento e, caso esteja de boa-fé, aquele que contrai matrimônio com pessoa casada 1.3. Tipo subjetivo (dolo) O dolo no crime de bigamia da primeira figura (caput) é a vontade de contrair matrimônio estando vigente casamento anterior. Sem a consciência de que existe tal impedimento não há dolo, ocorrendo erro de tipo. Casando-se o agente convencido de que praticava ato lícito, já que seu anterior matrimônio fora realizado quando não possuía idade legal para o ato, não procede com dolo, segundo já se decidiu. Há, porém, na hipótese, erro sobre a ilicitude do fato, que exclui a culpabilidade (art. 21, caput, 2ª Parte).

Não exclui o elemento subjetivo, porém, o fato de ser rústico e de pouca instrução o agente, pois está na consciência de todos a proibição de novo casamento na vigência do anterior. A dúvida a respeito da vigência do primeiro casamento constitui o dolo eventual para o contraente já casado. No tipo previsto no 1 º, o dolo é a vontade de casar-se, sabendo o agente que vige casamento anterior do outro contraente. Exigindo a lei o conhecimento do matrimônio anterior, não é bastante para a caracterização do crime o dolo eventual. 1.4. Classificação doutrinária - próprio (aquele que demanda sujeito ativo qualificado ou especial, que é o cônjuge); - formal (delito que não exige resultado naturalístico, consistente na efetiva dissolução do matrimônio por conta do erro ou do impedimento); - de forma vinculada (podendo ser cometido apenas pela indução em erro esse ocultação de impedimento, submetendo-se o agente ao processo de casamento, rigidamente previsto em lei); - comissivo ("contrair" implica em ação), e, excepcionalmente comissivo por omissão (omissivo impróprio, ou seja, é a aplicação do art. 13, 2º do Código Penal); - instantâneo (cujo resultado se dá de maneira instantânea, não se prologando no tempo); - plurissubjetivo (que somente pode ser praticado por mais de uma pessoa); - plurissubsistente (via de regra, vários atos integram a conduta); não admite tentativa porque é crime condicionado (ver parágrafo único). 2. Induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento Art. 236 - Contrair casamento, induzindo em erro essencial o outro contraente, ou ocultando-lhe impedimento que não seja casamento anterior: Pena - detenção, de seis meses a dois anos. 2.1. Sujeitos do delito Qualquer pessoa, homem ou mulher, que induza em erro o outro contraente ou lhe oculte impedimento pode cometer o crime em estudo. Não é impossível que os dois contraentes cometam o delito, iludindo um ao outro. Sujeito passivo principal ainda é o Estado, mas também é vítima o contraente de boa fé, ou seja, aquele que é enganado pelo sujeito ativo. 2.2. Tipo subjetivo (dolo) O dolo do delito previsto no artigo 236 é a vontade de contrair matrimônio iludindo o contraente por induzi-io ao erro essencial ou por ocultar o impedimento existente. 2.3. Classificação doutrinária - próprio (aquele que demanda sujei qualificado ou especial, que é o cônjuge); - formal (delito que não exige resultado naturalístico, consistente na efetiva dissolução do matrimônio por conta do erro ou do impedimento);

- de forma vinculada (podendo ser cometido apenas pela indução em erro essencial ou ocultação de impedimento, submetendo-se o agente ao processo de casamento, que é rigidamente previsto em lei); - comissivo ("contrair" implica em ação), e, excepcionalmente comissivo por omissão (omissivo impróprio, ou seja, é a aplicação do art. 13, 2º do Código Penal); - instantâneo (cujo resultado se dá de maneira instantânea, não prolongando no tempo); - plurissubjetivo (que somente pode ser praticado por mais do pessoa); - plurissubsistente (via de regra, vários atos integram a conduta); não admite tentativa porque é crime condicionado (vide parágrafo único). 3. Conhecimento prévio de impedimento Art. 237 - Contrair casamento, conhecendo a existência de impedimento que lhe cause a nulidade absoluta: Pena - detenção, de três meses a um ano. 3.1. Sujeitos do delito Qualquer pessoa que contrai casamento, sabendo existir impedimento absoluto, comete o crime em tela. Caso os dois contraentes o conheçam, ambos são autores. Sujeito passivo é o Estado e, também, o cônjuge inocente que se casa sem saber do impedimento que é do conhecimento do outro contraente. 3.2. Tipo subjetivo (dolo) Basta para a configuração do crime o dolo genérico, ou seja, a vontade de contrair matrimônio, ciente o agente da existência do impedimento. Entende-se na doutrina que ia a respeito do impedimento é suficiente para a integração do delito por haver no o menos, dolo eventual. Exigindo, porém, a lei o "conhecimento" do impedimento, conclui-se que somente a ciência efetiva dele justifica a existência do é necessário, portanto, o dolo direto. O desconhecimento do impedimento constitui o erro que exclui a tipicidade do fato (art. 20). 3.3. Classificação doutrinária - próprio (aquele que demanda sujeito ativo qualificado ou especial, ou seja, o cônjuge); - formal (delito que exige resultado naturalístico, consistente na efetiva anulação do casamento); de forma vinculada (podendo ser cometid 1" 1;lsamento, que é repleto de formalidade legais); - comissivo ("contrair" implica em ação) e,excepcionalmente, comissivo por omissão (omissivo impróprio, ou seja: é a aplicação do art. 13, 2., do Código Penal); - instantâneo (cujo resultado se dá de maneira instantânea, não se prolongando no tempo); - plurissubjetivo (que só pode ser praticado por mais de uma pessoa, ainda que a outra não seja punida); - plurissubsistente (via de regra, vários atos integram a conduta); admite tentativa. 4. Simulação de autoridade para celebração de casamento

Art. 238 - Atribuir-se falsamente autoridade para celebração de casamento: Pena - detenção, de um a três anos, se o fato não constitui crime mais grave. 4.1. Sujeitos do delito Comete delito quem se atribui autoridade para celebrar casamento, quando não a tem, pouco importando ser o agente funcionário público ou não. Possível é a participação criminosa, respondendo pelo crime quem auxilia o autor, simulando ser escrevente, por exemplo. Sujeito passivo é o Estado e também os contraentes que forem enganados pelo sujeito ativo. 4.2. Elemento subjetivo (dolo) O dolo é a vontade de atribuir-se a autoridade que não possui para celebrar casamento. Havendo o intuito da prática de outro crime, a final consumado, existirá outro delito (estelionato, posse sexual mediante fraude etc.). O erro (o agente não sabe, por exemplo, que foi exonerado) exclui o crime. Por coação moral absolveu-se a "noiva" apontada como co-autora do delito porque fora iludida por um dos co-réus, que se dizia solteiro e a engravidou. 4.2. Classificação doutrinária - comum (aquele que não demanda sujeito ativo qualificado ou especial); -formal (delito que não exige resultado naturalístico, consistente na efetiva celebração de casamento por quem não está autorizado a fazê-lo) - comissivo ( atribui-se implica em ação) e, excepcionalmente, comissivo por omissão (omissivo impróprio: seja, é a aplicação do art. 13, 2. 0, do Código Penal); - instantâneo (cujo resultado se dá de maneira instantânea, não se prolongando no tempo); - unissubjetivo (que pode ser praticado por um só agente); - unissubsistente (constituído por um único ato) ou - plurissubsistente (via de regra, vários atos integram a conduta), conforme o caso; admite tentativa na forma plurissubsistente, embora rara. 5. Simulação de casamento Art. 239 - Simular casamento mediante engano de outra pessoa: Pena - detenção, de um a três anos, se o fato não constitui elemento de crime mais grave. 5.1. Sujeito ativo Normalmente sujeito ativo do crime é um dos nubentes, mas, ao contrário do que afirmam Romão C. de Lacerda e Fragoso, o delito pode existir sem que atue um dos contraentes como agente. Afirma, corretamente, Noronha: "Podem, aliás, ser o magistrado e o oficial do registro civil do Registro Civil os autores quando então os contraentes são enganados: certamente aqueles simulam casamento, mediante engano de outra pessoa."

Poderá haver também conluio e, portanto, co-autoria, entre o magistrado e um dos nubentes. 5.2. Sujeito passivo Sujeito passivo é o Estado e o nubente que estiver de boa-fé. Também os representantes legais dos incapazes, de quem depende o consentimento, podem ser vítimas do delito. Estando os nubentes de boa-fé, ambos serão sujeitos passivos do crime. 5.3. Tipo subjetivo (dolo) Constitui dolo do crime em estudo a vontade de simular casamento para enganar alguém. Havendo o intuito da prática de outro crime mais grave, somente este será punido. 5.3. Classificação doutrinária - comum (aquele que não demanda sujeito ativo qualificado ou especial); - formal (delito que não exige resultado naturalístico, consistente na efetiva celebração de casamento por quem não esta autorizado a fazê-lo) - de forma livre (podendo ser cometido por qualquer meio eleito pelo agente) - comissivo ( atribuir-se implica em ação) e excepcionalmente, comissivo por omissão (omissivo impróprio, ou seja a aplicação do art. 13, 2., do Código Penal) - instantâneo (cujo resultado se dá de maneira instantânea, não se prolongando no tempo) - unissubjetivo (que pode ser praticado por um só agente) - unissubsitente (constituído por um único ato) - plurissubsistente (via de regra, vários atos integram a conduta), conforme o caso admite tentativa somente na forma plurissubsistente. CAPÍTULO II DOS CRIMES CONTRA O ESTADO DE FILIAÇÃO 6. Registro de nascimento inexistente Art. 241 - Promover no registro civil a inscrição de nascimento inexistente: Pena - reclusão, de dois a seis anos. 6.1. Sujeito ativo Qualquer pessoa pode cometer o crime, nada impedindo que seja o agente estranho à família dos que são apontados como pais da pessoa inexistente. Pode praticar o delito também o Oficial do Registro Civil e serão partícipes aqueles que colaborarem na práti ca da conduta do agente (médico que forneceu o atestado, testemunhas do nascimento etc.). Possível é a co-autoria quando promovem a inscrição falsa o pai e a mãe fictícios. 6.2. Sujeito passivo Sujeito passivo é o Estado, já que a regularidade da família e a dos registros públicos é de seu interesse, atingindo o fato a própria Administração Pública. Também é vítima qualquer pessoa a quem o falso registro possa, eventualmente, causar dano ou prejuízo. 6.3. Tipo subjetivo (dolo)

O dolo é a vontade de fazer a falsa declaração de nascimento, promovendo a inscrição. Não exige mais a lei atual o dolo específico de criar ou extinguir direitos em prejuízo de terceiros, ocorrendo o delito quando a inscrição é feita, levianamente, apenas para encobrir mentira. O erro exclui o dolo. Foi absolvido o agente quando se apurou que a co-ré simulara gravidez e o convencera do nascimento de gêmeos, enviando-lhe fotografias dos supostos filhos, que teriam nascido durante sua ausência da cidade. 6.4. Classificação doutrinária - comum (aquele que não demanda sujeito ativo qualificado ou especial); - formal (delito que não exige resultado naturalístico, consiste no efetivo prejuízo para alguém diante do falso registro); - comissivo ("promover" implica em ação) e excepcionalmente, comissivo por omissão (omissivo impróprio, ou seja, é a aplicação do art. 13, 2. 0, do Código Penal); - instantâneo (cujo resultado se dá de maneira instantânea, não se prolongando no tempo); -unissubjetivo (que pode ser praticadp por um só agente); - plurissubsistente (via de regra, vários atos integram a conduta) admite tentativa. 7. Parto suposto. Supressão ou alteração de direito inerente ao estado civil de recém-nascido Art. 242 - Dar parto alheio como próprio; registrar como seu o filho de outrem; ocultar recém-nascido ou substituí-lo, suprimindo ou alterando direito inerente ao estado civil: (Redação dada pela Lei nº 6.898, de 1981) Pena - reclusão, de dois a seis anos. (Redação dada pela Lei nº 6.898, de 1981) 7.1. Sujeito ativo Na primeira figura típica, de dar parto alheio como próprio, o sujeito ativo é a mulher que apresenta como sendo seu filho de outrem. Não raro, porém, há conivência da verdadeira mãe, o que não exclui a configuração do delito. Nos demais casos, é o homem e a mulher quem pratica uma das condutas (registro, ocultação ou substituição do recémnascido. 7.2. Sujeito passivo Sujeito passivo é o recém-nascido, mas nada impede que seja criança maior ou mes mo adulto no caso de registro tardio de falsidade. Nesses crimes é sujeito passivo também o Estado, titular do bem jurídico que é a fé pública dos registros. 7.3. Tipo subjetivo (dolo) O dolo é a vontade de praticar qualquer das condutas previstas no tipo. No crime de parto suposto basta apenas a consciência de que tem o agente de afirmar o fato que sabe não ser verdadeiro. Quanto ao fato de registrar como seu o filho de outrem, porém, já se decidiu pela ocorrência de erro sobre a ilicitude do fato, afastando se a culpabilidade, na

hipótese de registro de menor abandonado como filho próprio praticado por motivo de reconhecida nobreza e não ocultado pelo agente, que tinha a plena convicção de estar atuando licitamente, nos termos do art. 21 do CP. Nas modalidades de ocultação ou substituição do recém-nascido, porém, exige-se a presença do elemento subjetivo do tipo (dolo específico), ou seja, que o agente pretenda suprimir ou alterar direito inerente ao estado civil, ou ao menos tenha consciência de que está causando a supressão ou a alteração. 7.4. Classificação doutrinária - próprio (aquele que demanda sujeito especial), na 1ª figura, e comum (aquele que não demanda sujeito ativo qualificado), na 2ª e 3ª figuras - material (delito que exige resultado naturalístico, consistente na efetiva supressão ou alteração do estado civil); - comissivo (os verbos implicam em ações) e, excepcionalmente. co por omissão (omissivo impróprio, ou seja, é a aplicação do art. 13, 2. 0, do Código penal); - instantâneo (cujo resultado se dá de maneira instantânea, não se prolongando no tempo), exceto na modalidade "ocultar", que é permanente (delito de consumação prolongada no tempo); - unissubjetivo (que pode ser praticado por um só agente); - plurissubsistente (via de regra vários atos integram a mesma conduta), admite tentativa. 8. Sonegação de estado de filiação Art. 243 - Deixar em asilo de expostos ou outra instituição de assistência filho próprio ou alheio, ocultando-lhe a filiação ou atribuindo-lhe outra, com o fim de prejudicar direito inerente ao estado civil. Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa. 8.1. Sujeito ativo Pratica o crime o pai ou a mãe na primeira hipótese (filho próprio) ou qualquer pessoa, seja ou não responsável pelo menor, na segunda (filho alheio). 8.2. Sujeito passivo Sujeito passivo do crime de sonegação de estado de filiação é não só o menor prejudicado em seu estado civil, como também o próprio Estado, titular da ordem jurídica familiar. Estão protegidos inclusive os filhos havidos fora do casamento já que a lei não mais distingue quanto aos legítimos, naturais, adulterinos e incestuosos, proibindo quais quer designações discriminatórias relativas à filiação (art. 227, 6 2, da CF, e art. 20 da Lei n. 8.069, de 13-07-90 - Estatuto da Criança e do Adolescente e art. 1.596 do CC). Para a ocorrência do crime não é necessário que já se tenha lavrado o assento de nascimento da criança. 8.3. Tipo subjetivo (dolo) O dolo é a vontade de abandonar o menor nas condições previstas no artigo 234, ou seja, em uma instituição. Exige-se, porém, que a conduta tenha o fim de prejudicar direito

inerente ao estado civil, ou seja, o de causar prejuízo (dolo específico). Entendeu-se já não configurado o crime na conduta da acusada que, ao entregar menor ao Juizado de Menores, por dificuldades econômicas, ocultou sua condição de avó, inexistindo intenção de prejudicar direitos relativos ao estado civil. Na doutrina tem-se entendido, porém, que "aquele que deixa no asilo a criança, ocultando-lhe a filiação, ou atribuindo-lhe outra, já com isso prejudica o seu estado de filiação. O prejuízo está in re ipsa, e não pode deixar de estar abrangido pelo dolo do agente". Acertadamente, a nosso ver, porém, afirma Noronha que a lei exige o dolo específico: "Não se contenta ela com a alteração de filiação ou com o dano que esta possa conter, mas requer outro prejuízo além desse... Cremos que a lei teve em vista que situações há que, não obstante a ignorância da filiação são ditadas antes no interesse do menor, como no caso de impossibilidade absoluta de mãe miserável sustentar e educar o filho. Bem diferente é esse caso, em que há inegável sacrifício materno, daquele em que o agente abandona o menor para privá-io, V.g., de seus direitos hereditários." 8.4. Classificação doutrinária - comum (aquele que não demanda sujeito ativo qualificado ou especial); - material (delito que exige resultado naturalístico, consistente na efetiva ocultação ou atribuição da filiação a outrem); - comissivo (apesar de parecer omissivo por conta do verbo deixar, trata-se de ação) e, excepcionalmente, comissivo por omissivo impróprio, ou seja, é a aplicação do art. 13, 2. 0, do Código Penal); - instantâneo (cujo resultado se dá de maneira instantânea, não se prolongando no tempo); - unissubjetivo (que pode ser praticado por um só agente); - plurissubsistente (via de regra, vários atos integram a conduta); admite tentativa. 9. Abandono material CAPÍTULO III DOS CRIMES CONTRA A ASSISTÊNCIA FAMILIAR Art. 244. Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou de filho menor de 18 (dezoito) anos ou inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido ou maior de 60 (sessenta) anos, não lhes proporcionando os recursos necessários ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada; deixar, sem justa causa, de socorrer descendente ou ascendente, gravemente enfermo: (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003) Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa, de uma a dez vezes o maior salário mínimo vigente no País.(Redação dada pela Lei nº 5.478, de 1968) 9.1. Sujeito ativo O abandono material somente pode ser imputado por aquele que tem o dever legal de prover a subsistência do sujeito passivo. Ensina Fragoso: "Nas várias modalidades do crime de abandono material, podem ser sujeito ativo: a) o cônjuge que deixa de prover à subsistência do outro; b) o pai ou a mãe que deixa de prover à subsistência de filho menor de 18 anos ou inapto para o trabalho; c) o descendente (filho, neto, bisneto), que deixa de proporcionar recursos necessários a ascendente inválido ou valetudinário; d) qualquer

pessoa que deixa de socorrer ascendente ou descendente gravemente enfermo."l Diante dos artigos 5º, I e 226, 5º, da nova Constituição Federal e da vigência do novo Código Civil reforça-se a orientação de que a mulher tem os mesmos deveres que o homem com relação ao sustento do cônjuge, dos filhos, ascendentes e enfermos. 9.2. Sujeito passivo Sujeito passivo é todo aquele que, nos termos da lei penal, pode exigir a prestação do cônjuge ou parente. Refere-se o artigo, em primeiro lugar, ao cônjuge. Na vigência do Código Civil de 1916, o marido, com o casamento, assumia entre outras obrigações a de prover a mantença da família, ainda que dela separado, incumbindo à mulher o dever de assistência ao marido, colaborando nos encargos de família, razão pela qual vinha-se entendendo que as modificações introduzidas no Código Civil pela Lei nº 4.121, de 1962, não alteraram a estrutura jurídica e social da família e que permanecia entregue a chefia da sociedade conjugal ao marido, atribuindo-se a este, primordialmente, a obrigação de sustentar a mulher, salvo as exceções que a própria legislação estabelecia. Por essa razão, já se decidiu que responde pelo artigo 244 do CP o marido que deixa de prover o sustento dos filhos do casal ainda quando seja a mulher pessoa saudável e capaz de trabalhar. O Estatuto da Mulher Casada, porém, trouxe igualdade de condições quanto à manutenção do lar, não dependendo mais a mulher do varão para ganhar sua subsistência. Nesse sentido, entende Roberto de Rezende Junqueira que a obrigação de prover a subsistência entre o casal "apenas subsiste quando qualquer um dos dois, na vida em comum, por acidente ou por qualquer motivo estranho, dependa ou venha a depender, materialmente, um do outro". Decidiu-se aliás, nesse sentido: ante a promulgação da Lei nº 4.121, de 27-8-1962, forçoso é reconhecer o reflexo da alteração da situação jurídica da mulher casada no âmbito criminal, para a aplicação do artigo 244 do CP. Assim, o abandono puro e simples do lar pelo marido não mais dá à mulher o direito de socorrer-se da norma penal para imputar ao consorte abandono material, porque a reprovabilidade da conduta deste somente de ser reconhecida quando provada, de fato, a impossibilidade da vítima de sustentar-se por causas anormais ou de ordem física, e a produção de lesões reais, sendo tais circunstâncias de conhecimento do marido. Quem tem pais e a eles se recolhe em tais situações ou dispõe de instrução e saúde, não é vítima nem parte legítima para apresentar-se a Juízo criminal para exigir punição do esposo que saiu de casa". Com a entrada em vigor do novo Código Civil, instituído pela Lei nº 10.406, de 10-1- 2002, que atendeu ao disposto no art. 226, 5º, da CF, o casamento baseia-se na lealdade de direitos e deveres dos cônjuges (art. 1.511), cabendo, não mais apenas ao.- arão, mas a ambos, em conjunto, a direção da sociedade conjugal (art. 1.567). Assim, ambos os cônjuges são responsáveis por mútua assistência (art. 1.566, inciso III) e pelos encargos da família (art. 1.565), na proporção de seus bens e dos rendimentos do trabalho, independentemente do regime patrimonial (art. 1.568), sendo também recíproco o dever de prestar alimentos (art. 1.694). Diante da plena igualdade de direitos e deveres soma-se inegável que a obrigação de prover à subsistência do cônjuge compete tanto ao homem quanto à mulher, que, assim, podem assumir a posição de sujeito passivo do crime em estudo. Também são sujeitos passivos os filhos até a idade de 18 anos. Nos termos do novo estatuto civil, a plena maioridade civil agora é atingida aos 18 anos (art. 5º do CC), quan 00 cessa o poder familiar sobre o filhos (art. 1.630 do CC). Os filhos maiores de 18 anos, porém, também serão sujeitos passivos do crime quando inaptos para o trabalho, ou seja, quando são incapazes de exercer qualquer atividade lucrativa. Os filhos, ainda que adotivos, naturais ou espúrios (incestuosos ou adulterinos) estão também sob a tutela da lei. Assim já se vinha decidindo desde que provada a filiação espúria por uma das formas

previstas no artigo 305 do anterior Código Civil, ou depois de se julgar procedente a ação de alimentos permitida pelo artigo 4º da Lei nº 883, de 1949. No caso de filhos adulterinos, o pai é o marido da mãe adúltera e cumpre-lhe sustentar o filho menor havido de justas núpcias enquanto não for anulado o registro de sua paternidade (arts. 1.600 e 1.601 do CC). Hoje, a lei não mais distingue quanto aos filhos legítimos, naturais, adulterinos e incestuosos, proibindo quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação (art. 227, 6º, da CF, art. 20 da Lei nº 8.069, de 13-07-90 - Estatuto da Criança e do Adolescente, e art. 1.596 do CC). A suspensão, perda ou interdição do pátrio poder, agora denominado poder familiar, não influi na obrigação de alimentar. Também a separação judicial não afasta o dever de ambos os cônjuges separados de contribuir para a manutenção dos filhos, na proporção de seus recursos (art. 1.703 do CC). São sujeitos passivos ainda o ascendente inválido (inutilizado para o trabalho), e o maior de 60 anos. Na redação anterior do artigo previa-se como sujeito passivo o valetudinário (que sofre de doença crônica ou está incapacitado para a atividade laborativa por sua idade avançada). Com a modificação do dispositivo pelo Estatuto do Idoso, sujeito passivo é, também, diante da adoção de critério cronológico, o ascendente que tem mais de 60 anos, que se encontre privado dos recursos necessários à sua subsistência. Os descendentes (netos, bisnetos) só serão sujeitos passivos se o agente estiver obrigado ao pagamento de pensão alimentícia ou se estiverem gravemente enfermos, uma vez que a lei não os inclui na primeira figura típica do artigo 244. Não há que se observar para a aplicação da lei penal a ordem estabelecida pela lei civil na obrigação de prestar alimentos (arts. 1.696 a 1.698 do CC). Afirma Fragoso: ''A inobservância da ordem que a lei civil estabelece (Cód. Civil, arts. 397 e 298) para atribuir a obrigação de prestar alimentos é totalmente irrelevante e não constitui justa causa (ao contrário do que supõem Romão Côrtes de Lacerda e Pontes de Miranda). A obrigação que a lei penal estabelece é independente da civil, que atende aos fins do direito privado." Noronha, porém, anota que, "se no Direito Civil, não se permite ao credor de alimentos cobrá-ios de todos os obrigados ou escolher um dentre eles, mas pedi-ios do mais próximo que o possa fazer, como responsabilizar criminalmente o mais remoto?" A lei penal, todavia, criou uma responsabilidade solidária, divergindo, nesse passo, da lei civil, parecendo-nos mais correta a opinião de Fragoso. 9.3. Tipo subjetivo (dolo) O elemento subjetivo do crime é o dolo, ou seja, a vontade de praticar uma das condutas descritas na lei. É, portanto, a vontade consciente de deixar de prover a subsistência do sujeito passivo, pouco importando o fim em vista. Em qualquer das formas típicas, porém, será excluída a tipicidade do fato se a omissão decorrer de justa causa. E já se tem decidido que o crime exige dolo próprio, não podendo ser confundido com o mero inadimplemento de prestação alimentícia acordada em separação judicial. A lei somente incrimina o abandono intencional e não o culposo. É já é possível a ocorrência de erro de tipo quando o sujeito desconhece a situação de abandono ia vítima. 9.4. Classificação doutrinária - próprio (aquele que demanda sujeito ativo qualidade especial); - formal (delito que não exige resultado naturalístico, consistente no efetivo prejuízo para a vítima); - omissivo (os verbos implicam em abstenções); - permanente (cujo resultado se prolonga no tempo, em face do bem jurídico protegido que continua a ser aviltado);

- unissubjetivo (que pode ser praticado por um só agente); - unissubsistente (que pode ser praticado por um único ato); não admite tentativa. 10. Entrega de filho menor a pessoa inidônea Art. 245 - Entregar filho menor de 18 (dezoito) anos a pessoa em cuja companhia saiba ou deva saber que o menor fica moral ou materialmente em perigo: (Redação dada pela Lei nº 7.251, de 1984) Pena - detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos. (Redação dada pela Lei nº 7.251, de 1984) 10.1. Sujeito ativo Pratica crime o pai ou a mãe e pouco importa que se trate de filho legítimo, reconhecido ou adotivo, ainda que não tenham sobre eles o poder familiar. Trata-se de crime especial e por ele não responde a não ser em caso de co-autoria ou participação, o tutor, o parente ou o estranho que tem a guarda do menor. Nem mesmo o pai natural que não reconheceu como filho, ainda quando o tem em sua companhia, pode ser sujeito ativo desse delito. Não pratica esse crime a pessoa que recebe o menor, incidindo, eventual mente, em outro dispositivo. 10.2. Sujeito passivo Sujeito passivo do crime é o menor de 18 anos, filho legítimo ou não ou adotado do agente (art. 227, 6º, da CF, art. 20 da Lei nº 8.069/90 e art. 1.596 do CC). 10.3. Tipo subjetivo (dolo) O crime pode ser dolos o ou culposo. O dolo é a vontade de entregar o menor saben do que a pessoa que o recebe pode colocar a vítima em situação de perigo material ou moral. Não importa, em princípio, o fim visado pelo agente. Refere-se a lei à culpa na expressão "deve saber". Comete o delito aquele que se omite nas diligências e cautelas exigíveis a quem entrega um filho à guarda de outrem, não se apercebendo da inidoneidade do que o recebe ou do perigo que o fato encerra. Se perigo não existia por ocasião da entrega, mas se verificou posteriormente, sem possibilidade de sua previsão, não haverá como incriminar o pai. Havendo previsibilidade quanto a futuro perigo, o agente responderá por dolo eventual ou culpa. 10.4. Classificação doutrinária - próprio (aquele que exige sujeito ativo especial; - formal (delito que não exige resultado naturalístico, consistente em obter lucro), na figura, e material (delito que exige resultado naturalístico, consistente na ida do menor para o exterior); Na segunda figura; - de forma livre (podendo ser cometido por qual o eleito pelo agente) ; - comissivo ("entregar" implica em ação) e, excepcional ) omissivo por omissão (omissivo impróprio, ou seja, é a aplicação do art. 13, 2., do código Penal); - instantâneo (cujo resultado se dá de maneira instantânea, não se prolonga ) tempo); - unissubjetivo (que pode ser praticado por um só agente); - plurissubsissistente (via de regra, vários atos integram a conduta); admite tentativa.

11. Abandono intelectual Art. 246 - Deixar, sem justa causa, de prover à instrução primária de filho em idade escolar: Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa. 11.1. Sujeito ativo Sujeito ativo do delito de abandono intelectual são apenas os pais, lamentandose, a não-inclusão dos tutores, depositários etc. Não se exige, porém, que os filhos estejam em companhia dos pais para obrigá-ios a prover a educação daqueles; basta que estes ainda tenham o pátrio poder, ou, nos termos da nova lei civil, o poder familiar. 11.2. Sujeito passivo O sujeito passivo é o filho, ainda que natural ou adotivo, em idade escolar. Embora a idade escolar se entendesse dos 7 aos 14 anos, por força de alterações introduzidas pela Lei 11.114, de 16-5-2005, a Lei nº 9.394, de 20-12-1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, passou a fixar os 6 anos como a idade mínima para o ensino fundamental obrigatório (arts. 6º e 32). 11.3. Tipo subjetivo (dolo) Exige-se apenas, como dolo, a vontade de não prover a instrução de primeiro grau do filho em idade escolar, excluído o elemento subjetivo na ocorrência de justa causa. 11.4. Classificação doutrinária - próprio (aquele que demanda sujeito ativo qualificado ou especial); - formal (delito que não exige resultado naturalístico, consistente na efetiva falta de instrução da vítima); - omissivo ("deixar" implica em omissão); permanente (aquele cuja consumação se prolonga no tempo, enquanto estiver o menor em idade escolar sem qualquer instrução); - unissubjetivo (que pode ser praticado por um só agente) - unissubsistente (crime que pode ser cometido por um ato); não admite tentativa. 12. Art. 247 - Permitir alguém que menor de dezoito anos, sujeito a seu poder ou confiado à sua guarda ou vigilância: I - freqüente casa de jogo ou mal-afamada, ou conviva com pessoa viciosa ou de má vida; II - freqüente espetáculo capaz de pervertê-lo ou de ofender-lhe o pudor, ou participe de representação de igual natureza; III - resida ou trabalhe em casa de prostituição; IV - mendigue ou sirva a mendigo para excitar a comiseração pública: Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. 12.1. Sujeito ativo

Praticam o crime em estudo não só os pais e tutores, mas também todos os que exercem poder, autoridade, guarda ou vigilância sobre o menor, como os depositários, pretores, diretores de internatos, responsáveis por excursões etc. Não poderá ser incluído no art. 247 aquele que não recebeu o menor em confiança, mas o encontrou e acolheu, respondendo, eventualmente, por outro delito (corrupção de menores, por exemplo). 12.2. Sujeito passivo Sujeito passivo é o menor de 18 anos, filho legítimo, natural, adotivo ou espúrio, mo ou confiado à guarda ou vigilância do sujeito ativo (alunos internos, excursionista). 12.3. Tipo subjetivo (dolo) O dolo é a vontade de permitir ou tolerar qualquer das situações referidas no artigo em estudo. Exige-se a finalidade de excitar a comiseração pública no crime previsto no inciso IV. Não ocorre crime se o agente for impotente para impedir a conduta do filho (menores independentes, rebeldes etc.) desde que tenham tomado as providências junto às autoridades públicas. 12.4. Classificação doutrinária - próprio (aquele que demanda sujeito ativo qualificado ou especial); - formal (delito que não exige resultado naturalístico, consistente na má formação moral do menor); - comissivo (implicando em ação) ou omissivo (implicando abstenção), conforme o caso concreto; - instantâneo (cujo resultado se dá de maneira instantânea, não se prolongando no tempo); - unissubjetivo (que pode ser praticado por um só agente); - unissubsistente (praticado num único ato) ou plurissubsistente (via de regra, vários atos integram a conduta); admite tentativa, na forma plurissubsistente embora rara. CAPÍTULO IV DOS CRIMES CONTRA O PÁTRIO PODER, TUTELA CURATELA 13. Induzimento a fuga, entrega arbitrária ou sonegação de incapazes Art. 248 - Induzir menor de dezoito anos, ou interdito, a fugir do lugar em que se acha por determinação de quem sobre ele exerce autoridade, em virtude de lei ou de ordem judicial; confiar a outrem sem ordem do pai, do tutor ou do curador algum menor de dezoito anos ou interdito, ou deixar, sem justa causa, de entregá-lo a quem legitimamente o reclame: Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa. 13.1. Sujeito ativo Qualquer pessoa imputável pode ser sujeito ativo do crime, inclusive os pais quando não mais forem os titulares do poder familiar. O desquitado que não foi privado do pátria poder não pode cometer o delito em estudo, quando retém o filho menor por prazo

superior ao convencionado, mas, eventualmente, o previsto no artigo 359 (desobediência à decisão judicial sobre perda ou suspensão de direito). 13.2. Sujeito passivo Sujeitos passivos são os pais, tutores ou curadores e, também, os incapazes. Decidiu se pela justa causa para a ação penal instaurada contra quem vende recémnascido cuja guarda lhe fora confiada pela mãe. Na expressão interdito não está incluído o pródigo, uma vez que a curatela especiíl deste estende-se apenas aos seus bens materiais (art. 1.782 do CC). O alienado mental não interditado não goza, injustificadamente, da proteção legal do artigo 248. 13.3. Tipo subjetivo (dolo) Trata o artigo 248 de crime doloso, em que o elemento subjetivo é a vontade de praticar qualquer das condutas típicas: induzir à fuga, confiar o incapaz a pessoa não autorizada a recebê-io ou deixar de entregar, quando deve, o incapaz a quem o reclama. Não se exige qualquer fim especial da conduta. 13.4. Classificação doutrinária - comum (aquele que não demanda sujeito qualificado ou especial); - formal (delito que não exige resultado naturalístico, consistente em efetivo prejuízo para o menor ou interdito ou a seus pais, tutores ou curadores); - forma livre (podendo ser cometido por qualquer meio eleito pelo agente); - comissivo (implicando em ação), nas formas "induzir" e "confiar", e omissivo (implicando em abstenção), na forma "deixar de entregar". Excepcionalmente pode ser comissivo por omissão (omissivo impróprio, ou seja, é a aplicação do art. 13, 2. 0, do Código Penal); - instantâneo (cujo resultado se dá de maneira instantânea, não se prolongando no tempo) nas modalidades "induzir" e "confiar"; - podendo ser permanente (cuja consumação se arrasta no tempo) na forma "deixar de entregar"; - unissubjetivo (que pode ser praticado por um só agente); - plurissubsistente (via de regra, vários atos integram a conduta), nas duas primeiras condutas, mas - unissubsistente (um ato é suficiente para perfazer a conduta criminosa) na forma omissiva; admite tentativa na modalidade plurissubsistente. 14. Subtração de incapazes Art. 249 - Subtrair menor de dezoito anos ou interdito ao poder de quem o tem sob sua guarda em virtude de lei ou de ordem judicial: Pena - detenção, de dois meses a dois anos, se o fato não constitui elemento de outro crime. 14.1. Sujeito ativo Qualquer pessoa pode praticar o delito. Exercendo o pai o pátrio poder juntamente com a mãe, só pessoa diversa dessas duas pode ser o sujeito ativo de tal crime. Entretanto, se um deles, ou ambos, estiverem privados, definitiva ou temporariamente, do poder familiar, poderão ser responsabilizados. O fato de ser o agente pai, mãe, tutor do

menor ou curador do interdito, destituído ou temporariamente privado do pátrio poder, tutela ou curatela, não o exime de pena, como faz claro o artigo 249, 1 o.. Não ocorrendo essas hipóteses, poderá ser responsabilizado pelo crime previsto no artigo 359 do CP. A expressão "pai" do dispositivo não exclui a ilicitude da conduta praticada pela "mãe" da vítima privada da guarda do menor já que se trata de norma explicativa e não incriminadora. De qualquer forma, aplica-se à hipótese uma interpretação extensiva. 14.2. Sujeito passivo Sujeitos passivos do crime são os pais, tutores e curadores e também os próprios incapazes. A subtração de menor a quem o cria, não tendo sua guarda em virtude de lei ou de ordem judicial, não constitui o crime em estudo. Aquele que simples mente cria o menor não pode, portanto, ser sujeito passivo do delito. 14.3. Tipo subjetivo (dolo) Para a tipificação do delito é necessário apenas a vontade do agente de retirar c incapaz da guarda de seu responsável. Não se exige, portanto, o elemento subjetivo do tipo (dolo específico), já que o móvel do delito é, por regra geral, indiferente. O motivo social, o amor ou compaixão pela criança não exclui o delire. Há crime ainda que o intuito seja dar ao in capaz um futuro melhor ou de evitar o pai a convivência da menor com a mãe, por viver esta em concubinato com outro homem. Pode ocorrer o erro sobre a ilicitude do fato, como, por exemplo, na hipótese de ser a agente pessoa de pouca idade e simplesmente alfabetizada que supunha ser lícita sua conduta. 14.4. Classificação doutrinária - comum (aquele que não demanda sujeito ativo qualificado ou especial); - formal (delito que não exige resultado naturalístico, consistente em efetiva privação do pátria poder, tutela ou curatela); - comissivo ("subtrair" implica em ação) e, excepcionalmente comissivo por omissão (omissivo impróprio, ou seja, é a aplicação do art. 13, 2. 0, do Código Penal); - instantâneo (cujo resultado se dá de maneira instantânea, não se prolomgando no tempo); - unissubjetivo (que pode ser praticado por um só agente); - plussubsistente (via de regra, vários atos integram a conduta); admite tentativa.