Estudo antropométrico dos motoristas de ônibus da cidade de Campina Grande - Paraíba

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Transcrição:

Estudo antropométrico dos motoristas de ônibus da cidade de Campina Grande - Paraíba Windsor Ramos da Silva (UFCG) windsor@dem.ufcg.edu.br José de Arimatéa Ramos (UFCG) Ari.rr@bol.com.br Ivanildo Fernandes Araujo (UFCG) ivanildo@dem.ufcg.edu.br Juscelino de Farias Maribondo (UFCG) juscelino@dem.ufcg.edu.br Resumo O presente trabalho tem como objetivo estudar os padrões antropométricos dos motoristas de ônibus do município de Campina Grande estado da Paraíba a fim de compara-lo com as dimensões do seu posto de trabalho, visando diagnosticar a origem de dores pelo corpo mencionadas por integrantes desta categoria. Para tanto realizou-se o levantamento das dimensões corporais de uma amostra probabilística de 70 motoristas, determinando-se os percentis 5%, 50% e 95%, o que permitiu identificar problemas posturais estão associados às angulações envolvendo os joelhos e os pés, assim como da coluna vertebral, em virtude de uma postura curvada forçada relacionada a distância do acento aos comandos do veículo. Palavras chave: Antropometria, Ergonomia, Trabalho. 1. Introdução Sabe-se que o transporte urbano de passageiros é realizado quase que em sua totalidade por meio de transportes rodoviários, os quais geralmente não prestam bons serviços a seus usuários devido, principalmente, às más condições de trabalho do motorista de ônibus. Entre as principais queixas mencionadas envolvendo tais condições destaca-se as condições dos veículos: antigos e mal conservados, o que termina por contribuir para um posto de trabalho inadequado as atividades ali desenvolvidas - condução segura, bom atendimento ao público e saúde física e mental do motorista. Os postos de trabalho dos motoristas de ônibus são compostos, quase sempre, de um espaço mínimo destinado a realização de seus movimentos corporais necessários a manipulação e visualização de equipamentos, visando a condução dos veículos. Com relação ao dimensionamento deste espaço têm crescido a preocupação e o investimento das montadoras, das indústrias de peças e equipamentos na busca da qualidade e segurança dos veículos e com isso assegurar o conforto e bem-estar aos motoristas e passageiros. Neste sentido é importante a adequação dimensional deste espaço às medidas corporais do motorista havendo, portanto, a necessidade de se dimensionar postos de trabalho com base em medidas antropométricas cada vez mais detalhadas e confiáveis. Aparentemente medir as pessoas seria uma tarefa fácil, bastando para isso ter uma régua, trena e balança. Entretanto, isso não é tão simples assim, quando se deseja obter medidas confiáveis de uma população que contém indivíduos dos mais variados tipos, ou seja, de várias etnias, como também as condições em que essas medidas são realizadas (com roupa ou sem roupa, com ou sem calçado, ereto ou na postura relaxada), da mesma forma os tipos e precisão dos equipamentos utilizados para colher estas medidas, influem consideravelmente nos resultados do levantamento antropométrico (IIDA, 1995). Desta forma o Grupo de Pesquisa em Ergonomia da Universidade Federal de Campina Grande (GPERGO) estabeleceu como objetivo principal desta pesquisa estudar os padrões antropométricos dos motoristas de ônibus da cidade, para tanto se fez necessário realizar um levantamento das dimensões corporais, determinar os percentis 5% 50% e 95%, visando realizar um comparativo dos dados antropométricos com o ambiente de trabalho, a fim de ENEGEP 2005 ABEPRO 2619

auxiliar no diagnóstico das queixas de dores pelo corpo mencionadas por motoristas de ônibus do município, principalmente na região dos pés, pernas, costas e braço direito. 2. Antropometria Antropometria é a ciência que trata das medidas do corpo humano visando determinar as diferenças entre indivíduos e grupos, a fim de auxiliar o ergonomista no desenvolvimento de produtos e na adequação de ambientes laborais. Segundo Verdussen (1978) a Ergonomia preocupa-se com os problemas que envolvem o sistema homem-máquina, com as limitações humanas, isto é, com que o indivíduo pode fazer sem ir além de um esforço compatível com a segurança desejável. Assim, nos projetos de máquinas, equipamentos, painéis de instrumentos etc, deve-se estar atento para que os dispositivos de comando ou de controle possam ser acionados ou observados de uma maneira fácil, segura e eficiente. Para tanto lança-se mãos da antropometria dinâmica com o objetivo de conhecer os limites de movimentação das partes do corpo humano de tais profissionais. Como as dimensões dos segmentos corporais variam de individuo para individuo, variando também no mesmo individuo ao longo de sua vida, implicando dizer que não existe nenhum individuo cujas dimensões sejam totalmente harmoniosas, em função de fatores tais como: idade, sexo, o meio social como também a origem geográfica, se faz necessário a busca de dimensões por grupos de indivíduos a fim de utilizar tais dados em prol de uma qualidade de vida e trabalho melhor Assim sendo, sempre que for possível, as medidas antropométricas devem ser realizadas diretamente, tomando-se uma amostra significativa de indivíduos que serão usuários ou consumidores do objeto a ser projetado, a fim de garantir confiabilidade aos dados obtidos. Por exemplo, para se dimensionar o posto de trabalho do motorista de ônibus (cabine), deve-se medir os motoristas de ônibus envolvidos na demanda em questão. Só assim a confiabilidade dos dados mencionada anteriormente será percebida com o posto de trabalho construído. Para tanto se deve lançar mãos da antropometria estática e dinâmica no auxílio a obtenção de tais dados. Onde por antropometria estática entende-se aquela em que as medidas se referem ao corpo parado ou com poucos movimentos. Dentro deste contexto, ela deve ser aplicada ao projeto de objetos sem partes móveis ou com pouca mobilidade, sendo seus dados inadequados para projetos de máquinas ou postos de trabalho com partes que se movimentam. Nesses casos, deve-se recorrer a antropometria dinâmica. Já a antropometria dinâmica compreende aquela que auxilia a estabelecer os alcances dos movimentos, de cada parte do corpo, medidos mantendo-se o resto do corpo estático. Na prática observa-se que cada parte do corpo não se move isoladamente, mas a uma conjunção de diversos movimentos para se realizar uma função. Essas medidas antropométricas, relacionadas com a execução de tarefas especificas, estão no domínio da antropometria funcional, isto é, quando os movimentos exercidos não são isolados, e sim quando vários movimentos são realizados simultaneamente, interagindo entre si modificando os alcances em relação aos valores da antropometria dinâmica. 3. População e amostra A população investigada neste estudo foi composta por 512 motoristas de ônibus distribuídos entre as várias empresas que prestam serviço na área de transporte coletivo no município de Campina Grande estado da Paraíba. A amostra foi determinada através de uma Amostragem Probabilística por meio da equação (1), onde define-se n como o número de elementos da amostra; N o número de elementos da população; e é o erro admitido igual a 5%; p a probabilidade de ocorrência de um evento, igual a 0,9; q probabilidade de não ocorrência do evento igual a 0,1 e o coeficiente de confiabilidade Z adotou-se 95%, equação esta que resultou numa amostra de 70 motoristas. ENEGEP 2005 ABEPRO 2620

NZ n = ( N 1). e. p. q + Z. p. q Equação 1 Definição da amostra 2 2 2 4. Instrumentos de medição e métodos Inicialmente a equipe teve que desenvolver meios para realização da pesquisa tais como: definição das variáveis a serem coletadas, formulários para coleta da medição antropométrica, confecção de um estadiômetro com altura de medição máxima de 2,20m (dois metros e vinte centímetros), uma cadeira de medição antropométrica, um paquímetro de medição óssea, estes três últimos confeccionados pelo grupo GPERGO. A pesagem foi realizada com uma balança da marca Filizola com precisão de 100g (cem gramas), com o motorista descalço, o qual se punha de pé e de costas sobre a balança digital, imóvel, com o olhar fixo para frente e com os pés unidos no centro da balança. Em seguida, era realizada uma série de três medições e calculada a média das mesmas, a fim de reduzir os erros de leitura. As medições lineares do corpo, num total de 36 medidas, se destinavam a coletar informações sobre as posições em pé (11 medidas) e sentado (25 medidas). Para a coleta das medidas em pé, posicionava-se o motorista descalço e de costas para o estadiômetro, com olhar fixo para frente, braços estirados ao longo do corpo, mantendo as regiões posteriores do mesmo em contato com o aparelho. Para as medições das envergaduras de uma mão a outra e de um cotovelo a outro, fez-se uso da trena procedendo-se da seguinte maneira: posicionava-se o motorista em pé com o olhar para frente, pés juntos, na posição ereta. Em seguida, solicitava-se para o mesmo abrir os braços até uma posição que ficasse a noventa graus com relação ao corpo. Posteriormente eram coletadas as medidas da ponta de dedos de uma mão a outra e de um cotovelo a outro. Para a coleta das medidas sentadas, solicitava-se ao motorista que se sentasse na cadeira, descalço, na posição ereta, com olhar para frente. Em seguida era ajustado o apoio para os pés, fixando-o na posição de melhor conforto para o pesquisado. Posteriormente era ajustado o encosto da cadeira, assim como o suporte para altura do cotovelo. A partir de então eram coletadas as medidas lineares. Para a determinação das medidas antropométricas estáticas dos segmentos corporais com o individuo em pé utilizou-se um antropômetro de madeira e para as medidas antropométricas estáticas dos segmentos corporais com o individuo sentado, utilizou-se uma cadeira antropométrica. Na determinação das medidas dos segmentos menores do corpo como, por exemplo, largura da cabeça, profundidade da cabeça, largura e comprimento da mão, etc., foram realizadas com o auxilio de um paquímetro. Todos estes equipamentos com escala de precisão de 0,01 m. Utilizou-se o método, apresentado por Itiro Iida (1998) de coleta direta sobre o trabalhador. Para se ter melhor compreensão da relação entre a antropometria e as posturas assumidas pelos motoristas no posto de trabalho foi necessário registrar imagens de perfil e superior, por meio de câmera fotográfica. 5. Coleta de dados Na realização da coleta dos dados antropométricos foram coletadas três medições para cada indivíduo, ou seja, foram realizadas 3 medições relativas a cada uma das 36 medições dos segmentos corporais da amostra de 70 motoristas, inclusive a medida de massa corporal e o cálculo do IMC Índice de Massa Corporal. Estas medições estão dispostas no quadro 1 com ENEGEP 2005 ABEPRO 2621

os percentis 5%, 50%, 95% e o desvio padrão das médias das medidas antropométricas dos motoristas pesquisados. O tempo para realização das medições teve duração em torno de 20 a 25 minutos por motorista. O posto de trabalho analisado foi o do ônibus da marca Mercedes-Benz ano 1999 e de um ônibus da marca Agrale (Modelo Volare), Ano 2001 é composto de cabine, onde estão inseridos assento regulável tanto na altura, quanto na distância até o volante; volante; alavanca de marchas; alavanca do freio de mão; alavanca do controle do pisca-pisca; dois acionadores para abertura e fechamento das portas, todos estes componentes são de aço e revestidos com polímero; pedal do freio; pedal do acelerador; pedal de embreagem, estes revestidos com borracha; acionador da buzina conjugada com a sinaleira painel de controle. Por sua vez o painel de controle é composto por velocímetro, tacógrafo, luzes indicadoras da pressão do óleo, luzes do pisca-alerta, indicador de temperatura do motor, indicador de bateria, iluminação interna, luz da campainha de parada, acendedor de cigarros, luz do quadro, pressão do balão de ar, conta giros e vários botões de acionamento de luzes, entre outros. O posto de trabalho possui ainda janelas laterais envidraçadas na cor branca transparente. Ventilação natural proveniente das janelas laterais e forçadas proveniente de aberturas no assoalho e no teto. A iluminação é natural durante o dia e por meio de lâmpadas fluorescentes no período noturno. O piso é confeccionado em chapas de alumínio. 6. Análise dos dados A análise estatística utilizada no presente estudo foi descritiva para determinar médias, desvios padrões, percentis e gráficos. Inicialmente foram calculadas as médias aritméticas para cada medição e posteriormente calculadas as demais estatísticas. Para efeito desta publicação apresentamos no quadro 1 os dados relativos aos percentis 5%, 50% e 95%, e o desvio padrão da amostra estudada. 7. Limitações do estudo As limitações para a realização deste estudo ocorreram quanto à disponibilidade de horário para que os motoristas se submetessem às medições antropométricas. Isto se deu porque eram realizados a partir da chegada dos mesmos à sede do sindicato da categoria. Não existia, portanto, um compromisso formal por parte dos motoristas para a coleta linear de suas dimensões corpóreas. A exclusão de algum motorista desta pesquisa se dava pelo motivo dele não querer se dispor a participar da mesma. 8. Resultados e discussões Além dessas informações relativas ao levantamento antropométrico da população estudada, apresentadas no quadro 1, realizou-se a comparação com as dimensões do posto de trabalho, visando obter outras informações que auxiliassem na melhor compreensão das estatísticas apresentadas tais como: determinar os alcances horizontais que os motoristas exercem para executar os movimentos de manobras e acionamento de alguns controles no painel do ônibus, como também a altura do assento e as distâncias dos motoristas com relação aos equipamentos do posto de trabalho, visando compreender as posturas assumidas e registradas por meio de câmera fotográfica. Dentro deste contexto, elaborou-se um modelo esquemático do corpo humano na cor vermelha correspondente ao biótipo padrão pesquisado de 95% e outra figura na cor preta correspondente a postura assumida pelo motorista de ônibus para alcançar os controles e demais instrumentos das cabines dos veículos pesquisados, veja figura 1 e quadro 2. ENEGEP 2005 ABEPRO 2622

MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS ESTÁTICA (cm) HOMENS DESVIO PADRÃO "S" 1. CORPO EM PÉ 5% 50% 95% Peso 54,68 77,17 97,17 12,65 IMC - Índice de Massa Corporal 20,31 26,59 32,48 4,02 01. Estatura 159,89 167,67 179,98 6,68 02. Altura dos olhos 150,38 158,28 169,08 5,97 03. Altura dos ombros 133,72 141,34 151,35 5,52 04. Altura dos cotovelos 99,45 105,52 114,05 4,78 05. Altura dos quadris 79,02 96,15 103,32 9,81 06. Altura dos punhos 68,79 73,82 83,53 5,72 07. Altura das pontas dos dedos 58,69 64,22 69,81 4,50 08. Altura de pé (de pé) 192,53 202,77 220,44 8,81 09. Comprimento do braço 67,67 74,54 80,38 3,91 10. Comprimento do ombro-pega 58,32 64,30 69,47 4,90 11. Alcance frontal de pega 68,35 75,02 81,03 4,23 2. CORPO SENTADO 12. Altura de pega (sentado) 105,29 120,50 131,72 7,12 13. Altura do alto da cabeça (indivíduo sentado) 83,23 87,47 94,55 4,02 14. Altura dos olhos (indivíduo sentado) 73,60 78,22 83,46 3,51 15. Altura dos ombros (indivíduo sentado) 56,75 60,45 64,52 2,80 16. Altura dos cotovelos (indivíduo sentado) 21,21 24,10 27,55 1,97 17. Espessuras das coxas 11,23 13,47 16,33 2,58 18. Altura da dobra interna do joelho 42,59 46,42 50,90 2,90 19. Altura dos joelhos 48,20 52,34 57,78 3,04 20. Profundidade do tórax 20,09 24,23 27,71 2,54 21. Comprimento do ombro cotovelo 30,93 34,39 37,98 2,07 22. Comprimento cotovelo ponta dos dedos 44,25 47,03 51,85 4,26 23. Profundidade da cabeça 18,26 19,32 20,44 0,76 24. Profundidade do abdômen 19,83 26,49 32,27 4,07 25. Comprimento nádegas dobra interna do joelho 43,04 48,85 53,29 2,89 26. Comprimento nádegas-joelhos 56,18 60,19 66,17 2,99 27. Largura da cabeça 14,83 16,04 17,16 0,75 28. Largura dos ombros (crista da omoplata) 31,74 35,84 39,19 2,44 29. Largura dos ombros (deltóide) 40,76 46,33 51,47 3,23 30. Largura dos quadris 31,52 35,62 39,56 2,59 31. Comprimento da mão 18,16 19,55 21,44 1,03 32. Largura da mão 9,40 10,55 11,37 0,65 33. Comprimento do pé 23,83 25,57 28,07 1,43 34. Largura do pé 9,14 10,05 11,14 0,66 35. Envergadura 161,28 170,37 187,99 8,70 36. Envergadura dos cotovelos 83,65 90,37 97,74 4,40 Quadro 1 - Percentis 5%, 50%, 95% e o desvio padrão das medidas antropométricas dos motoristas pesquisados. ENEGEP 2005 ABEPRO 2623

27,55 XXV Encontro Nac. de Eng. de Produção Porto Alegre, RS, Brasil, 29 out a 01 de nov de 2005 30,91 150 122 38,16 18,12 32,87 20 64,3 105 5 50,62 115 52,57 90 Figura 1. Medidas antropométricas dos motoristas relativas ao percentil 95% - biótipo padrão. Fonte: Adaptado de WOODSON (1981) POSIÇÃO DO ASSENTO Distância mínima dos pedais e a altura mínima do assento POSTURAS ADOTADAS PELOS MOTORISTAS 56 30 74 40 110 36 90 16 ANÁLISE DOS RESULTADOS Nesta posição os maiores problemas podem ser visualizados no tocante as angulações envolvendo os joelhos e os pés do motorista de ônibus. A forma angulada abaixo de 90 o termina por comprimir os vasos sanguíneos, dificultando o fornecimento de nutrientes para a musculatura exigida para esta atividade, associado ao tempo de permanência nesta postura, ocasiona o surgimento de dores nesta região do corpo. Quadro 2 Discussão sobre os comparativos dimensionais entre o biótipo padrão e as dimensões do posto de trabalho pesquisado. ENEGEP 2005 ABEPRO 2624

Distância média dos pedais e a altura média do assento 63 38 84 112 43 110 40 90 20 Nesta posição os maiores problemas podem ser visualizados no tocante as angulações envolvendo os joelhos e os pés do motorista de ônibus, assim como da coluna vertebral. A forma angulada abaixo de 90 o, visualizada na região dos joelhos e pés, termina por comprimir os vasos sanguíneos, dificultando o fornecimento de nutrientes para a musculatura exigida nesta atividade, associado ao tempo de permanência nesta postura, ocasiona o surgimento de dores nesta região do corpo. Por sua vez, a inclinação do tronco para frente, por longos períodos, auxilia a entender melhor as queixas relacionadas as dores nesta região do corpo. Distância máxima dos pedais e a altura máxima do assento 70 46 115 95 46 48 110 90 25 Nesta posição os maiores problemas podem ser visualizados com relação à inclinação do tronco para frente e ângulo do pé menor que 90 o. Quanto à inclinação do tronco percebese que a acomodação do motorista junto ao encosto da cadeira se dá com uma postura curvada. E esta posição por tempo prolongado, promoverá dores na coluna, principalmente na região lombar. Já com relação ao pé, haverá dificuldade para a passagem sanguínea e tensão localizada. Tais posturas persistindo por longos períodos ocasionará as queixas das dores mencionadas na inicial. Continuação do Quadro 2 Outro ponto analisado com relação ao posto de trabalho foi quanto à inclinação do pedal do acelerador em relação ao assoalho. Estas apresentaram medidas mínimas de 15 o e máxima de 48 o, com média de 38,8 o. Segundo Stier e Meyer apud Grandjean (1998), o ângulo máximo de articulação do tornozelo é de 60 o e que a faixa mais confortável se encontra entre 25 o e 30 o. Portanto a angulação acima dessa faixa, devido a repetitividade de movimentos nos pedais, vai provocar desconforto e dores musculares no tornozelo e pé. A inclinação da cabeça também foi estudada. Quanto a este aspecto, foi constatado que alguns motoristas trabalham com a inclinação da cabeça superior a 30 o com relação a vertical e que isso é proveniente dos movimentos por eles executados durante o ato de dirigir. Em alguns momentos eles chegam a inclinar a cabeça mais para frente quando executam algumas operações como, por exemplo, o ato de passar marcha, virar a direita ou à esquerda ou manusear algum controle no painel. Sabe-se, entretanto, que a permanência por longos períodos nesta posição, desencadeia dores na região do pescoço. Iida (1998). No caso em estudo a constatação revela angulações no pescoço de 27 o a 48 o. Angulações superiores a 30 o, segundo ainda Iida (1998), começa a nuclear dores nesta região do corpo, o indicado seria angulações de até 20 o, o que seria possível fazendo-se ajustes na altura e na distância do assento. Outro fato é que a coluna vertebral suporta a compressão exercida pela sobrecarga imposta, em função da gravidade (trancos, vibrações e outro, fatores externos), e ainda é solicitada em freqüentes rotações da ENEGEP 2005 ABEPRO 2625

cabeça e do tronco. Estas ações são leves, mas em muitos casos prejudiciais para as estruturas da coluna, ombros e pescoço provocando dores nas costas (PEGORIM & BALESTIERI, 1997). Todos esses fatos ajudam a compreender melhor os fatores multicausais que estão associados ao surgimento das dores pelo corpo, nesta profissão, apresentadas nas estatísticas das Figuras 1 e Quadro 2. Outro aspecto observado neste estudo foi com relação às passagens de marchas. Dentro deste contexto ficou evidente que os movimentos para realizá-las é bastante extenso exigindo grandes deslocamentos por parte do braço direito do motorista. Neste aspecto foi observado que o motorista executa uma média de 1.468 trocas de marchas e 532 freadas, durante um turno de trabalho de 7:20 horas. Foi também registrada uma média de 203 trocas de marchas e 73 freadas por hora. Outro fato é que nenhuma postura ou movimento repetitivo deve ser mantido por um longo período. As posturas prolongadas e os movimentos repetitivos são muito fatigantes. Em longo prazo, podem produzir lesões nos músculos e articulações. Conclusões Após efetuados os levantamentos e analisados os dados é possível concluir que os problemas decorrentes das dores pelo corpo mencionadas pelos motoristas de ônibus do município de Campina Grande, estado da Paraíba, estão associados a vários fatores tipo: estresse, alta jornada de trabalho, poucas pausas, vida sedentária, não mencionados neste trabalho, mas com uma contribuição importante oriunda da inadequação dos postos de trabalho frente aos biótipos pesquisados, os quais imprimem aos mesmos posturas inadequadas e esforços em demasia, gerando as queixas da inicial. Referências DUL, J.; WEERDMEESTER, B. Ergonomia prática. São Paulo: E. Blücher, 1995. GRANDJEAN, E. Manual de ergonomia: adaptando o trabalho ao homem. 4º. ed. Porto Alegre: Bookman, 1998. INT Instituto Nacional de Tecnologia. Pesquisa antropométrica e biomêcanica dos opeadores da indústria de transformação, RJ. (Medidas para postos de Trabalho). Rio de Janeiro: Onstituto Nacional de Tecnologia, v.1 e 2, 1988. 128p. HUDSON, de A. C. Ergonomia aplicada ao trabalho O manual técnico da máquina humana, Vol. I e II Ergo Editora Ltda, Belo Horizonte, 1995 IIDA, I. Ergonomia: projeto e produto. São Paulo, Edgard Blücher, 1993. 465p. PANERO J. & ZELNIK, M. Dimensionamento humano para espaços interiores. Editorial Gustavo Gilli S.A. Barcelona, 2001. PEGORIM A. S.; BALESTIERI, W. Análise Ergonômica do posto de trabalho do motorista de ônibus urbano. Blumenau, 1997. Monografia, UFSC: Universidade Regional de Blumenau SC. SILVA, W. R. Análise de fatores ergonômicos no posto de trabalho do motorista de ônibus O caso Campina Grande PB, Campina Grande, 2001. Monografia UFPB: Universidade Federal da Paraíba. VERDUSSEN, R. Ergonomia racionalização humana do trabalho. Livros Técnicos Editora, 1978. ENEGEP 2005 ABEPRO 2626