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Transcrição:

BOL. MUS. BIOL. MELLO LEITÃO (N. SÉR.) 11/12:117-126 JUNHO DE 2000 117 Perfil da fauna de himenópteros parasitóides (Insecta, Hymenoptera) em uma área de Mata Atlântica da Reserva Biológica de Duas Bocas, Cariacica, ES, Brasil Celso O. Azevedo 1 & Hélio S. Santos 1 ABSTRACT: Outline of the Hymenoptera parasitoids (Insecta, Hymenoptera) from Reserva Biológica de Duas Bocas, Cariacica, ES, Brazil. A total of 8.305 Hymenoptera parasitoids from Biological Reserve of Duas Bocas (20º16'S, 40º28'W), Cariacica, ES, Brazil of 30 families was collected, between September 1996 and August 1997 in a trail of Atlantic rain forest. Scelionidae, Braconidae e Eucoilidae were the most common families in the survey, with 21,78%, 14,53% e 12,42% of relative abundance. Seventeen families with relative abundance lower than 1%. A preliminary list of genera and species of some families was included. Key words: abundance, Espírito Santo, Hymenoptera, parasitoids, survey. RESUMO: No período de setembro de 1996 a agosto de 1997 foi amostrado um total de 8.305 himenópteros parasitóides em uma área de Mata Atlântica, na Reserva Biológica de Duas Bocas (20º16'S, 40º28'W), Cariacica, ES, Brasil. Os himenópteros parasitóides amostrados pertencem a 30 famílias. As famílias mais abundantes foram Scelionidae, Braconidae e Eucoilidae com 21,78%, 14,53% e 12,42% do total amostrado, respectivamente. Dezessete famílias apresentaram abundância relativa inferior a 1%. É apresentada uma lista preliminar de gêneros e espécies de algumas famílias. Palavras-chave: abundância, Espírito Santo, Hymenoptera, levantamento, parasitóide. Introdução Segundo Godfray (1994), são considerados himenópteros parasitóides aquelas espécies cujas larvas se desenvolvem no corpo de outro artrópodo, usualmente um inseto, ou em uma massa única ou gregária de hospedeiros, como ootecas ou massas de larvas galhadoras, acarretando a 1 - Universidade Federal do Espírito Santo, Departamento de Biologia, Av. Marechal Campos 1468, Maruípe, 29.040-090, Vitória, Espírito Santo, Brasil.

118 AZEVEDO & SANTOS: HIMENÓPTEROS PARASITÓIDES DA REBIO DE DUAS BOCAS morte do hospedeiro ao final do desenvolvimento do parasitóide. Os Hymenoptera são extremamente abundantes na natureza e ocupam os mais diversos tipos de ambientes disponíveis. Atualmente, estão incluídas nesta ordem cerca de 115.000 espécies, mas estima-se que existam pelo menos 250.000 espécies no mundo (Hanson & Gauld, 1995). A literatura mundial sobre este grupo é vasta, principalmente no que diz respeito à sua taxonomia e biologia. Entretanto, pouco se tem estudado a respeito de sua composição faunística. Alguns autores, como Hanson & Gauld (1995), Noyes (1989) e Perioto (1991), realizaram levantamentos envolvendo este grupo, na Costa Rica, na Indonésia e no Brasil. Os himenópteros parasitóides apresentam uma grande biodiversidade (LaSalle & Gauld, 1991) e têm uma grande importância biológica, ecológica e econômica. Das famílias que possuem representantes entomófagos, cerca de 50% têm hábito alimentar estritamente parasitóide, 25% são predadores e 25% apresentam hábitos predador e parasitóide (Clausen, 1940). Os himenópteros parasitóides participam em mais de 50% das cadeias alimentares dos ambientes terrestres, como os de florestas úmidas (LaSalle & Gauld, 1991), por exemplo. Tais aspectos, aliados à quase inexistência de estudos desta natureza no estado do Espírito Santo, justificam a realização desse estudo, que teve como objetivo traçar o perfil da fauna de himenópteros parasitóides da Reserva Biológica de Duas Bocas (RBDB), reconhecendo as famílias presentes assim como sua abundância relativa. Até o presente estudo, apenas a família Stephanidae tinha sido registrada para a RBDB (Aguiar, 1998). Metodologia As amostragens foram realizadas no período de setembro de 1996 a agosto de 1997 na RBDB (20º16' S, 40º28' W), localizada no município de Cariacica, no Estado do Espírito Santo, que é administrada pelo Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (IDAF) do Estado do Espírito Santo. A reserva ocupa uma área de 2.910 ha, com altitudes que variam de 200 a 780 m acima do nível do mar, do qual dista cerca de 20 km, em linha reta. A vegetação predominante é de Mata Atlântica Ombrófila Densa, com porções de mata primária e de áreas de mata secundária com 50 anos de regeneração, onde havia culturas de cafeeiro (Coffea arabica, Rubiaceae) e, principalmente, jaqueira (Antocarpus heterophylla, Moraceae). As coletas foram realizadas mensalmente, em um trecho de

BOL. MUS. BIOL. MELLO LEITÃO (N. SÉR.) 11/12. 2000 119 aproximadamente 1,5 km de uma trilha em mata secundária, situada a cerca de 250 m de altitude. A trilha amostral encontra-se a, aproximadamente, 100 m de distância ao norte da margem de um reservatório de água, abastecido principalmente pelas bacias dos córregos Pau Amarelo, Naiaaçú e Panelas (Figura 1). Figura 1. Croqui da reserva Biológica de Duas Bocas, Cariacica, ES. A área hachurada corresponde à área de coleta. A amostragem foi limitada ao método de varredura de vegetação, por este ter se mostrado mais eficiente na coleta de himenópteros parasitóides em geral, realizada durante uma amostragem piloto. Nas amostragens utilizou-se uma rede de varredura modelo "Rose Engineering", com borda em forma de triângulo isósceles, com 36 cm de comprimento de lado.

120 AZEVEDO & SANTOS: HIMENÓPTEROS PARASITÓIDES DA REBIO DE DUAS BOCAS Em cada coleta foram realizados 24 ciclos amostrais de varredura, com duração de um minuto, desconsiderando o tempo gasto para remoção dos insetos da rede. A varredura da vegetação foi aleatória entre o nível do solo e, aproximadamente, 1,5 m acima dele, entre as 10:00 e 14:00 horas. A identificação das famílias baseou-se em Goulet & Huber (1993) e Grissell & Schauff (1990). Em razão da afinidade filogenética existente entre as famílias, foram incluídas neste estudo aquelas famílias pertencentes à série Parasítica (Terebrantia), as pertencentes à superfamília Chrysidoidea, assim como famílias de Vespoidea que apresentam hábito parasitóide, além daquelas que perderam, parcial ou totalmente, o hábito parasitóide, como os Eurytomidae, por exemplo. O material coletado foi depositado na Coleção Entomológica da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Composição das famílias Resultados e Discussão Foi amostrado um total de 8.305 exemplares de himenópteros parasitóides pertencentes a 30 famílias (Tabela 1). Considerando-se a existência de 61 famílias de himenópteros parasitóides no mundo e que várias destas são exclusivas de regiões zoogeográficas como a Australiana e a Holártica, verifica-se que a RBDB possui uma fauna de himenópteros parasitóides bastante diversificada em nível de família. As famílias Sapygidae, Stephanidae, Aulacidae, Gasteruptiidae, Cynipidae, Trigonalyidae, Tanaostigmatidae, Perilampidae, Leucospidae, Ormyridae, Heloridae, Pelecinidae, Charipidae, Liopteridae, Megalyridae, Scolebythidae, Plumariidae, Sclerogibbidae, Embolemidae e Scoliidae são relativamente escassas em coleções científicas e pouco freqüentes em amostragens de fauna de parasitóides, não tendo sido registradas neste estudo, assim como Agaonidae. Entretanto, exemplares de Agaonidae foram coletados posteriormente nesta mesma área, através da coleta de sicônios de figueiras. Tetracampidae, Mymarommatidae, Rotoitidae, Vanhornidae, Peradeniidae, Roproniidae, Austronidae, e Renyxidae são famílias para as quais não existem, até o momento, registros de suas ocorrências para o Brasil. Os Ibaliidae não tem distribuição natural no Brasil, mas uma espécie, Ibalia leucospoides, foi introduzida no Paraná para o controle da vespada-madeira Sirix noctilio, em cultura de pinheiro.

BOL. MUS. BIOL. MELLO LEITÃO (N. SÉR.) 11/12. 2000 121 Assim, foram coletadas na RBDB quase todas as famílias normalmente capturadas por meio de varredura de vegetação, o que demonstra o grande potencial de diversidade da fauna de himenópteros parasitóides nesta Reserva. Famílias muito raras e de difícil coleta como Elasmidae, Proctotrupidae e Figitidae também foram encontradas na Reserva durante nosso estudo. Outro fato relevante nas amostragens foi o registro da grande abundância de exemplares pertencentes às famílias Monomachidae e Eucharitidae, consideradas relativamente incomuns em estudos faunísticos. Noyes (1989) realizou estudos faunísticos das famílias de himenópteros parasitóides em uma área de floresta tropical úmida da Indonésia utilizando-se cinco métodos de coleta e obteve 39 famílias de parasitóides. Destas, 33 ocorreram em varredura de vegetação, demonstrando a eficiência deste método na captura destes insetos. Perioto (1991) realizou amostragem das famílias de himenópteros parasitóides em uma área de cerrado na região de São Carlos (SP) utilizandose cinco métodos de coleta (armadilha de solo, janela, Möricke e dois tipos de Malaise), e obteve 31 famílias, das quais 7 não foram registradas em nosso estudo na RBDB. De Santis (1980) catalogou, para o Brasil, 36 famílias de himenópteros da série Parasítica e Chrysidoidea, das quais 10 não foram encontrados na RBDB durante nosso estudo. Abundância relativa das famílias Os himenópteros parasitóides encontrados na RBDB pertencem a nove superfamílias com as seguintes abundâncias relativas: 26,74% para Platygasteroidea (2 famílias/2.221 indivíduos); 22,52% para Chalcidoidea (13/1.870); 18,22% para Ichneumonoidea (2/1.513); 12,62% para Cynipoidea (2/1.048); 11,28% para Proctotrupoidea (3/937); 4,18% para Chrysidoidea (3/347); 3,92% para Ceraphronoidea (2/326); 0,36% para Evanioidea (1/30) e 0,16% para Vespoidea (2/13). As famílias Scelionidae, Braconidae e Eucoilidae apresentaram a maior abundância relativa, com 1.809 indivíduos (21,78% do total), 1.207 (14,53 %) e 1.032 (12,43 %), respectivamente. A abundância de Scelionidae foi maior do que a das outras famílias em quase todos os meses, sendo superada apenas por Braconidae, nos meses de janeiro/1997, fevereiro/1997 e maio/1997 e Diapriidae em janeiro/1997 (Tabela 1). Embora muitas famílias tenham ocorrido ao longo de toda a amostragem, algumas foram

122 AZEVEDO & SANTOS: HIMENÓPTEROS PARASITÓIDES DA REBIO DE DUAS BOCAS Tabela 1. Abundância geral das famílias de himenópteros parasitóides amostradas por meio de varredura de vegetação, na Reserva Biológica de Duas Bocas, no período de setembro/1996 a agosto/1997. SUPERFAMÍLIAS Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Total % FAMÍLIAS 96 96 96 96 97 97 97 97 97 97 97 97 97 Ceraphronoidea 17 34 40 19 62 27 30 19 25 23 17 13 326 3,93 Ceraphronidae 16 34 40 19 62 27 30 18 25 23 17 13 324 3,90 Megaspilidae 1 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 2 0,02 Chalcidoidea 130 115 186 162 150 196 190 144 140 105 149 203 1.870 22,52 Aphelinidae 1 0 1 1 2 4 4 5 0 1 1 1 21 0,25 Chalcididae 5 4 2 3 0 1 5 3 1 4 1 2 31 0,37 Elasmidae 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0,01 Encyrtidae 14 12 12 33 23 16 18 19 33 31 11 21 243 2,93 Eucharitidae 1 0 0 4 8 5 15 7 4 11 2 0 57 0,69 Eulophidae 29 33 52 46 51 49 44 27 36 22 33 49 471 5,67 Eupelmidae 1 0 0 0 0 0 4 1 0 0 0 0 6 0,07 Eurytomidae 2 1 2 2 1 1 9 1 1 1 3 2 26 0,31 Mymaridae 5 7 5 12 9 11 8 8 9 9 11 17 111 1,34 Pteromalidae 70 57 112 60 56 106 81 72 56 25 86 110 891 10,73 Signiphoridae 1 1 0 0 0 1 1 0 0 0 0 1 5 0,06 Torymidae 0 0 0 0 0 0 1 1 0 0 0 0 2 0,02 Trichogrammatidae 0 0 0 1 0 2 0 0 0 1 1 0 5 0,06 Chrysidoidea 24 35 30 23 24 37 27 21 15 16 60 35 347 4,18

BOL. MUS. BIOL. MELLO LEITÃO (N. SÉR.) 11/12. 2000 123 Tabela 1 (continuação) Bethylidae 22 35 28 22 21 33 27 18 15 16 60 33 330 3,97 Chrysididae 0 0 2 1 3 4 0 3 0 0 0 1 14 0,17 Dryinidae 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 3 0,04 Cynipoidea 47 110 119 151 125 77 91 97 92 83 26 30 1.048 12,62 Eucoilidae 44 110 116 148 123 74 90 97 91 83 26 30 1.032 12,43 Figitidae 3 0 3 3 2 3 1 0 1 0 0 0 16 0,19 Evanioidea 1 4 4 3 1 4 3 0 1 2 4 3 30 0,36 Evaniidae 1 4 4 3 1 4 3 0 1 2 4 3 30 0,36 Ichneumonoidea 187 135 136 127 45 113 104 104 150 201 86 125 1513 18,22 Braconidae 172 117 90 87 36 97 76 76 118 161 74 103 1.207 14,53 Ichneumonidae 15 18 46 40 9 16 28 28 32 40 12 22 306 3,68 Platygastroidea 168 263 261 196 174 180 147 205 151 167 168 141 2.221 26,74 Platygastridae 40 46 69 33 25 38 35 29 41 26 16 14 412 4,96 Scelionidae 128 217 192 163 149 142 112 176 110 141 152 127 1.809 21,78 Proctotrupoidea 62 45 92 119 50 44 50 54 131 183 51 56 937 11,28 Diapriidae 60 44 92 119 49 44 48 53 114 131 24 29 807 9,72 Monomachidae 1 0 0 0 0 0 0 0 17 50 27 27 122 1,47 Proctotrupidae 1 1 0 0 1 0 2 1 0 2 0 0 8 0,10 Vespoidea 0 2 2 1 1 0 1 3 1 0 1 1 13 0,16 Mutillidae 0 0 0 1 0 0 1 2 1 0 0 0 5 0,06 Tiphiidae 0 2 2 0 1 0 0 1 0 0 1 1 8 0,10 Total das famílias 636 743 870 801 632 678 643 647 706 780 562 607 8.305 100,00

124 AZEVEDO & SANTOS: HIMENÓPTEROS PARASITÓIDES DA REBIO DE DUAS BOCAS mais expressivas em determinadas épocas do ano. Scelionidae esteve bem representada nos doze meses de estudo, sendo mais abundante em junhojulho/1997 (inverno), enquanto que os Braconidae foram abundantes em janeiro-fevereiro/1997 (verão) e maio-junho/1997 (outono-inverno). Os Eucoilidae foram mais abundantes nos meses de setembro/1996 (primavera) e junho-agosto/1997 (inverno), com pico de abundância em agosto/1997. No estudo de Noyes (op. cit.), quando consideradas as coletas com todas as armadilhas, os Diapriidae foram os mais abundantes, com 18,36% do total amostrado. Scelionidae, Braconidae e Eucoilidae, com 13,35%, 10,84% e 6,76% do total amostrado, foram a segunda, quarta e sexta famílias mais abundantes, respectivamente. Quando considerada somente a varredura de vegetação, Braconidae, Diapriidae, Eulophidae, Eucoilidae e Scelionidae foram, em ordem decrescente, as famílias mais abundantes. Desta forma, considerando-se apenas os dados de varredura de vegetação e os de todas as armadilhas obtidos por Noyes, não se notam alterações muito evidentes, uma vez que as três famílias mais comuns da amostragem total estão entre as cinco mais comuns na varredura de vegetação. Em nossa amostragem, foram coletados 28,84 parasitóides por minuto de varredura, o que é alto, quando comparado com os dados de varredura de vegetação de Noyes (1989), com 14,89 parasitóides coletados por minuto de varredura, No estudo de Perioto (op. cit.), os Mymaridae foram os mais abundantes, com 23,75% do total amostrado. Scelionidae, Braconidae e Eucoilidae, com 6,26%, 5,41% e 0,75% do total amostrado, foram a sexta, sétima e a décima nona famílias mais abundantes, respectivamente. As demais famílias registradas na RBDB apresentaram abundância inferior a mil espécimes, com 10,73% a 0,01% do total amostrado (Tabela 1). Dentre essas, destacam-se Pteromalidae e Diapriidae, com 10,73% e 9,72% do total amostrado, respectivamente. Já as famílias Eulophidae, Platygastridae, Bethylidae, Ceraphronidae, Ichneumonidae, Encyrtidae, Monomachidae e Mymaridae apresentaram abundâncias que variaram entre 5,67% e 1,34% do total amostrado (Tabela 1). Contribuição inferior a 60 espécimes foi registrada para as famílias Eucharitidae, Chalcididae, Evaniidae, Eurytomidae, Aphelinidae, Figitidae, Chrysididae, Proctotrupidae, Tiphiidae, Mutillidae, Eupelmidae, Signiphoridae, Trichogrammatidae, Dryinidae, Megaspilidae, Torymidae e Elasmidae, com percentuais que variaram entre 0,69% a 0,01%, o que é pouco representativo nessa área (Tabela 1). Comparando-se os resultados obtidos em nosso estudo com os de Noyes (1989) e de Perioto (1991), é possível verificar que as famílias de himenópteros

BOL. MUS. BIOL. MELLO LEITÃO (N. SÉR.) 11/12. 2000 125 parasitóides não apresentaram um padrão de abundância específico em função dos métodos utilizados, visto que algumas famílias foram mais expressivas em determinadas regiões e pouco representativas em outras. Como a presença do parasitóide num determinado ambiente está intimamente relacionada à presença de seus hospedeiros e, considerando o grau de tolerância de muitos parasitóides a ambientes bastante diversificados, acredita-se que a abundância das famílias seja dependente desses tipos de ambientes e da disponibilidade de hospedeiros. Deve-se ressaltar que a abundância relativa real das famílias de himenópteros parasitóides em uma determinada área somente pode ser obtida através do uso diversos métodos de amostragens, realizadas por um longo período e que, certamente, o estudo ora realizado foi capaz apenas de lançar uma luz sobre a potencial abundância real de himenópteros parasitóides que ocorrem na RBDB. Lista preliminar de gêneros e espécies Neste estudo foram reconhecidos os seguintes gêneros para a RBDB: Apenesia, Dissomphalus, Pseudisobrachium, Anisepyris, Aspidepyris, Cephalonomia, Epyris, Holepyris, Rhabdepyris, e Goniozus de Bethylidae; Encarsia de Aphelinidae; Conura e Brachimeria de Chalcididae; Elasmus de Elasmidae; Monomachus de Monomachidae; Palmistichus, Horismenus, Paracrias, Acrias, Apleurotopis, Closteracerus, Aprostocetus, Tetrastichus, Quadrastichus, Paralinx, Hoplocrepis, Euplectrus e Chrysocharis de Eulophidae. Azevedo (1999a) reconheceu Aspidepyris austrinus Evans e Azevedo (1999b) reconheceu as espécies Rhabdepyris vesculus Evans, R. violaceus Evans, R. septemlineatus Kieffer. Em um estudo sobre Anisepyris do Brasil, foram reconhecidas oito espécies deste gênero para o Espírito Santo, sendo três exclusivas para a RBDB (Santos & Azevedo, submetido). Além dos táxons reconhecidos neste estudo, Aguiar (1998) citou Hemistephanus cylindricus (Westwood, 1851) da família Stephanidae para a RBDB. Agradecimentos Agradecemos a J. LaSalle por sua ajuda no reconhecimento dos gêneros de Eulophidae; a Roberto Poltronieri Vieira e Maria Isabel Nascimento do IDAF pela liberação da RBDB para as coletas e à PRPPG/ UFES pelo suporte financeiro, cadastro nº074/96.

126 AZEVEDO & SANTOS: HIMENÓPTEROS PARASITÓIDES DA REBIO DE DUAS BOCAS Referências Bibliográficas AGUIAR, A. P. 1998. Revisão do gênero Hemistephanus Enderlein, 1906 (Hymenoptera, Stephanidae), com considerações metodológicas. Revta bras. Ent., 41(2-4): 343-429. AZEVEDO, C. O. 1999a. Additions to the Neotropical Epyrinae (Hymenoptera, Bethylidae), with description of a new species of Lepidosternopsis Ogloblin from Brazil. Iheringia, ser. Zool., 85: 11-18. AZEVEDO, C. O. 1999b. On the Neotropical Rhabdepyris Kieffer (Hymenoptera, Bethylidae) of the subgenus Chlorepyris. Revta bras. Zool., 16(3): 887-987. CLAUSEN, C. P. 1940. Entomophagous Insects. McGraw-Hill, New York. DE SANTIS, L. 1980. Catalogo de los Himenopteros Brasileños de la Serie Parasitica Incluyendo Bethyloidea. Editora da Universidade Federal do Paraná, Curitiba. HANSON, P. E. & GAULD, I. D. (eds.) 1995. The Hymenoptera of Costa Rica. Oxford University Press, Oxford. GODFRAY, H.C.J. 1994. Parasitoids, Behavioral and Evolutionary Ecology. Princeton University Press, Princeton. GOULET, H. & HUBER, J. T. (eds.) 1993. Hymenoptera of the World: An Identification Guide to Families. Agriculture Canada Publication, Ottawa. GRISSELL, E. E. & SCHAUFF, M. E. 1990. A Handbook of the Families of Nearctic Chalcidoidea (Hymenoptera). Entomological Society of Washington, Washington. LASALLE, J. & GAULD, I. D. 1991. Parasitic Hymenoptera and the biodiversity crisis. Redia, 74(3):315-334. NOYES, J. S. 1989. A study of five methods of sampling Hymenoptera (Insecta) in a tropical rainforest, with special reference to the Parasitica. Jour. Nat. Hist., 23:285-298. PERIOTO, N. W. 1991. Perfil da Fauna de Hymenoptera Parasitica, incluindo Chrysidoidea, do Cerrado da Fazenda Canchim (EMBRAPA, São Carlos, SP). Dissertação de Mestrado, UFSCar, São Carlos. SANTOS, H. S. & AZEVEDO, C. O. Sistemática das espécies de Anisepyris Kieffer (Hymenoptera, Bethylidae) do Brasil. Revta bras. Entomol, submetido.